PROCESSO Nº 200438007055379 ORIGEM: SEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS REQUERENTE: UNIÃO FEDERAL REQUERIDO: David dos Reis Madeira RELATOR: HERMES SIEDLER DA CONCEIÇÃO JUNIOR RELATÓRIO O presente incidente de uniformização foi instaurado pela União Federal, com o fito de sanar possível divergência entre o julgado da 1ª Turma Recursal de Minas Gerais e enunciado da Turma Recursal do Rio de Janeiro. O autor ajuizou o feito buscando a revisão de sua conta vinculada do PASEP em relação aos meses de julho de 1987, janeiro de 1989, março, maio, junho e julho de 1990 e fevereiro e março de 1991 devido à alegada ocorrência de expurgos inflacionários. A sentença (fls. 71-5) julgou procedente o pedido, para condenar a União a incluir no saldo da conta vinculada ao PASEP os percentuais referentes aos expurgos não computados de julho de 1987, fevereiro de 1989, maio e junho de 1990 e março de 1991. A União recorreu, alegando, preliminarmente, nulidade da sentença, por ilíquida, ilegitimidade passiva, nulidade da citação, litisconsórcio passivo necessário e prescrição. No mérito, argüiu que os índices aplicados pela Administração na correção das contas vinculadas são os corretos. O acórdão vencedor (fls. 106-8) da 1ª Turma Recursal de Minas Gerais entendeu que o prazo prescricional a ser aplicado é trintenário, por analogia ao FGTS, rejeitando, assim, a prejudicial de prescrição. No mérito, deu parcial provimento ao recurso da União, para condená-la a reajustar os percentuais expurgados da conta vinculada do autor relativos aos meses de janeiro de 1989 e abril de 1990.
Na petição do incidente (fls. 123/130), o requerente alega que o acórdão recorrido vai de encontro ao enunciado 40 da Turma Recursal do Rio de Janeiro, que considera prescrita a pretensão de perdas sofridas na atualização monetária da conta de PIS, em virtude dos expurgos referidos no aresto impugnado. Em contra-razões, autora sustentou que a prescrição de sua pretensão é trintenária, pugnando pela manutenção da decisão recorrida. O incidente foi admitido pela 1ª Turma Recursal de Minas Gerais (fl. 150). É o relatório.
VOTO O art. 14, 2º, da Lei n. 10259/01 admite pedido de uniformização de jurisprudência quando fundado em divergência entre decisões de turmas de diferentes regiões. Na situação em comento, o aresto impugnado entendeu que, por analogia ao regime do FGTS, o prazo prescricional a ser aplicado é trintenário. Por seu turno, o enunciado 40 da Turma Recursal do Rio de Janeiro considera prescrita a pretensão de perdas sofridas na atualização monetária da conta de PIS em virtude dos expurgos ocorridos por ocasião dos Planos Verão e Collor I. Destarte, constata-se a propriedade do incidente de uniformização ora interposto. Anoto que a discussão vertente nos autos refere-se às supostas diferenças remuneratórias de duas competências específicas, quais sejam, janeiro de 1989 e abril de 1990 e não parcelas que venceram e continuaram a vencer periodicamente, projetando-se no tempo, de tal sorte que o marco do lapso prescricional é o momento em que ocorrida a omissão na aplicação dos índices solicitados. O PIS foi instituído pela Lei Complementar nº 7, de 7 de setembro de 1970 e o PASEP pela Lei Complementar nº 8 de 3 de dezembro de 1970. Houve a unificação, sob a denominação PIS-PASEP desses fundos, através da Lei Complementar nº 26, de 11 de setembro de 1975. A partir da Constituição de 1988, as contribuições em tela foram constitucionalizadas, com sensíveis modificações na destinação conferida ao produto da arrecadação, como se vê do art. 239 da Carta Magna: Art. 239. A arrecadação decorrente das contribuições para o Programa de Integração Social, criado pela Lei Complementar nº 7, de 7 de
Setembro de 1970, e para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público, criado pela Lei Complementar nº 8, de 3 de dezembro de 1970, passa, a partir da promulgação desta Constituição, a financiar, nos termos que a lei dispuser, o programa do seguro-desemprego e o abono de que trata o 3º deste artigo. 1º Dos recursos mencionados no caput deste artigo, pelo menos quarenta por cento serão destinados a financiar programas de desenvolvimento econômico, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, com critérios de remuneração que lhes preservem o valor. 2º Os patrimônios acumulados do Programa de Integração Social e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público são preservados, mantendo-se os critérios de saque nas situações previstas nas leis específicas, com exceção da retirada por motivo de casamento, ficando vedada a distribuição da arrecadação de que trata o caput deste artigo, para depósito nas contas individuais dos participantes. 3º Aos empregados que percebam de empregadores que contribuem para o Programa de Integração Social ou para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Publico até dois salários mínimos de remuneração mensal, é assegurado o pagamento de um salário mínimo anual, computado neste valor o rendimento das contas individuais, no caso daqueles que já participavam dos referidos programas, até a data da promulgação desta Constituição. 4º O financiamento do seguro-desemprego receberá uma contribuição adicional da empresa cujo índice de rotatividade da força de trabalho superar o índice médio da rotatividade do setor, na forma estabelecida por lei. Indeclinável que, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, em que pese a índole eminentemente social do PIS/PASEP, ocorreu a modificação da natureza das contribuições a ele destinadas, que passaram, sem sobra de dúvidas, à categoria de tributo, enquanto que sob a égide da Constituição de 1967, mesmo antes da EC 8/77, detinham natureza não-tributária. Como passaram a titularizar natureza de tributo, aplicam-se-lhes as normas concernentes a tal espécie. Impossível, a propósito, manifestar-se qualquer estranheza com a inserção do PIS/PASEP na qualidade de tributo. Veja-se, assim, que o Supremo Tribunal Federal, ao
concluir, em 11 de abril de 2002, o julgamento da Ação Civil Originária nº 471, Relator o Ministro Sydney Sanches, em que o Estado do Paraná pretendia ver reconhecida a inexigibilidade da contribuição do PASEP, considerou que, com o advento da CF/88, o PASEP tornou-se uma contribuição tributária e, portanto, obrigatória, deixando de ter caráter voluntário (cfe. INFORMATIVO STF nº 263). Para melhor ilustrar tal posição, impõe-se transcrever excerto do voto proferido pelo Ministro Maurício Corrêa, relator da Ação Civil Originária nº 580-6MG, DJU de 25.10.2002, em situação análoga do acima citado: 5. É certo que o PASEP, a exemplo do PID, não possuía natureza tributária, entendimento claramente explicitado no julgado do RE 148754, Rezek, DJ 04.03.94. Por essa razão, os Estados e Municípios podiam abster-se da contribuição ou mesmo desvincular-se do Programa, como ora pretende o autor. 6. Com o advento da nova ordem constitucional, sensíveis alterações foram introduzidas nos programas sociais PIS e PASEP, cuja receita passou a financiar o seguro-desemprego e o abono devido as empregados menos favorecidos de que trata o 3º do artigo 239 da Carta de 1988. 7. Dessume-se daí que a Lei Complementar 8/70 foi constitucionalizada, pois a Carta da República transmudou a natureza da contribuição, que passou à categoria de tributo, fazendo remissão à lei que a criou (cf. ADI 1417, Pertence, j. em 02.08.99).... 19. Impõe ressaltar que (...) a contribuição para o PIS, na forma estabelecida pela Lei Complementar nº 7/70, foi recepcionada pela nova ordem constitucional, sendo que o preceito consagrado no art. 239 do Texto
Fundamental condicionou à disciplina de lei futura apenas os termos em que a arrecadação dela decorrente seria utilizada no financiamento do programa do seguro-desemprego e do abono instituído no seu 3º, e não a continuidade da cobrança da exação (...) (REED 214229, de que fui relator, DJ 17.04.98). 11. Relevante assinalar que o PIS/PASEP, malgrado sejam contribuições de evidente conteúdo social, não se confundem com aquelas outras que a União pode instituir na forma dos artigos 149 e 195 da Carta Federal, pois, como dito antes, cuida-se de tributo instituído por ela própria e não por lei. Assim, não se lhes aplicam quaisquer dos princípios ou restrições constitucionais que regulam as contribuições em geral. Resta cristalino, pois, a inarredável natureza jurídica tributária das contribuições destinadas ao PIS/PASEP, após a promulgação da Constituição de 1988 e, via de conseqüência, absolutamente inviável atender a pretensão da parte autora de aplicarlhes, por analogia ou simetria, o prazo prescricional trintenário, aplicável às contribuições do FGTS. De fato, a ação de cobrança das contas vinculadas ao PIS/PASEP sujeitase ao lapso prescricional qüinqüenal estabelecido no Decreto-lei nº 20.910/32, mesmo prazo conferido para cobrança do crédito tributário inerente à dita contribuição (art. 174 do Código Tributário Nacional). Acresce notar, outrossim, que a cobrança em tela não se trata propriamente de uma relação jurídica de natureza tributária, eis que o titular da conta individualizada de PIS/PASEP busca o pagamento de diferenças de correção monetária creditada a menor, de sorte que mais presente a necessidade de aplicação do Decreto-lei 20.910/32, no que tange ao lapso prescricional.
Para melhor ilustrar a questão, impõe-se repetir as judiciosas observações do eminente Ministro Teori Zavascki: ADMINISTRATIVO. FUNDO PIS/PASEP. DIFERENÇA DE CORREÇÃO MONETÁRIA. DEMANDA PROPOSTA PELO TITULAR DA CONTA INDIVIDUAL. RELAÇÃO JURÍDICA LITIGIOSA SEM NATUREZA TRIBUTÁRIA. REPRESENTAÇÃO DA UNIÃO PELA ADVOCACIA-GERAL. PRAZO PRESCRICIONAL QUINQUENAL (DECRETO 20.919/32). 1. Relativamente ao Fundo PIS/PASEP cumpre distinguir duas espécies de relações jurídicas: uma, (a) a que vincula o Fundo (como sujeito ativo) e as empresas contribuintes (como sujeitos passivos), que tem por objeto uma prestação de natureza tributária (contribuição social CF, art. 239); e outra, (b) a que vincula o PIS/PASEP (como sujeito passivo) e os trabalhadores titulares da conta individuais (como sujeitos ativos), que tem por objeto prestações de natureza não-tributária. 2. Versando a demanda sobre diferenças na prestação devida pelo PIS/PASEP ao titular da conta, é certo que não se tem presente relação jurídica de natureza tributária, razão pela qual a representação da União em juízo se dá pela sua Advocacia-Geral, e não pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. 3. Pela mesma razão, tratando-se de demanda em que a União figura como ré, o prazo prescricional é o de cinco anos, estabelecido no art. 1º do Decreto 20.919/32. 4. Recurso especial provido. (...)
Coerente com essa mesma linha de entendimento, é de se restabelecer a sentença de primeiro grau no que se refere ao lapso prescricional. Realmente, aqui não está em questão a relação tributária que envolve as empresas (devedoras da contribuição) e o Fundo PIS/PASEP (seu credor). Não tem pertinência, portanto, invocar o prazo prescricional das obrigações decorrentes dessa relação. Aqui, o que se tem é uma demanda promovida pelo titular da conta individual do PIS/PASEP contra a União de natureza indenizatória, segundo salientado na inicial em que se pede o pagamento de diferenças de prestação creditada a menor. Ora, tratando-se de demanda promovida contra a União, o prazo prescricional rege-se pelo Decreto 20.910/32, cujo art. 1º estabelece as dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda Federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originaram. Quanto ao termo inicial desse prazo, aplica-se o princípio da actio nata: é marcado pela data a partir da qual o demandante poderia ter intentado a demanda. No caso, a data em que ocorreu o alegado creditamento em valor menor que o pretendido. Conforme salientou a sentença, o titular da conta era devidamente informado do valor da sua conta em cada oportunidade em que se realizava o crédito (os extratos respectivos foram, aliás, juntados com a inicial). À luz desses parâmetros, verifica-se que, no caso dos autos, encontram-se prescritas as parcelas pleiteadas no que se refere às diferenças correspondentes aos meses de junho de 1987 a abril de 1990, já que a presente ação foi proposta em 15.02.1996. Pelas razões expostas, acompanho o entendimento do Ministro José Delgado, razão pela qual dou provimento ao recurso especial para reconhecer a prescrição qüinqüenal.
É como voto. O processo em que o eminente Ministro proferiu esse voto-vista RESP 424867, publicado no DJU 21.02.2005, p. 110, restou assim ementado: TRIBUTÁRIO. PIS/PASEP. AÇÃO INTENTADA PRA MODIFICAR CRITÉRIO DE CORREÇÃO MONETÁRIA. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. NATUREZA JURÍDICA DE TRIBUTO. 1. A natureza jurídica das contribuições para o PIS/PASEP é tributária, não se assemelhando, portanto, ao FGTS relativamente à contagem do prazo prescricional. 2. Reconhecimento da prescrição qüinqüenal alegada. 3. Recurso especial provido. Isso posto, conheço e dou provimento ao incidente suscitado, no sentido de que o prazo prescricional a ser aplicado à correção das contas vinculadas do PIS/PASEP é qüinqüenal, nos termos do Decreto-lei nº 20.910/32. Brasília, 21 de novembro de 2005. HERMES SIEDLER DA CONCEIÇÃO JUNIOR Juiz Federal Relator
PROCESSO Nº 200438007055379 ORIGEM: SEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS REQUERENTE: UNIÃO FEDERAL REQUERIDO: David dos Reis Madeira RELATOR: HERMES SIEDLER DA CONCEIÇÃO JUNIOR EMENTA ADMINISTRATIVO - PIS/PASEP - CORREÇÃO MONETÁRIA DAS CONTAS VINCULADAS - PRESCRIÇÃO. I É qüinqüenal o prazo prescricional para a dedução em juízo de pretensão referente à correção monetária dos saldos das contas individuais vinculadas ao PIS/PASEP por força do Decreto nº 20.910/32. II Pedido de uniformização conhecido e provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da Turma de Uniformização de Jurisprudência, por unanimidade, nos termos do voto do Relator, em conhecer e dar provimento ao Incidente de Uniformização. Brasília, 21 de novembro de 2005. HERMES SIEDLER DA CONCEIÇÃO JUNIOR Juiz Federal Relator