ANÁLISE E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE A UTILIZAÇÃO DE FONTES PRIMÁRIAS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA RESUMO Andreza Xavier de Lima Sousa (andrezasoul@hotmail.com) Dr. Carlo Guimarães Monti (carlogmonti@unifesspa.edu.br) Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará Esta pesquisa se propõe a propiciar ao futuro professor/pesquisador o domínio dos conhecimentos teórico-epistemológicos do campo da História e no desenvolvimento da reflexão crítica sobre as bases de organização e análise de fontes documentais. Os objetivos específicos são acerca da iniciação à pesquisa sobre temas relacionados a atuação profissional como o ensino de história e a pesquisa, presente ao longo da vida acadêmica do aluno, constitui o eixo articulador das dimensões teóricas e práticas de sua formação. Da reflexão crítica sobre a produção e a socialização de conhecimentos na área de História e sobre a realidade observada nos diversos espaços educativos, poderão emergir problematizações e proposições de novas abordagens das fontes que poderão servir como metodologias e objetos de ensino e de pesquisa para o futuro profissional que poderá tirar desse contato com as fontes problematizações e projetos de pesquisa ou programas de estudos para serem utilizados em seu futuro profissional, além de tomar ciências de novas formas e modelos de pesquisa. O material gerado será um instrumento básicos que propiciará o desenvolvimento da dimensão teórica e prática na formação acadêmica do aluno. Tendo em vista que a pesquisa ainda encontra-se em desenvolvimento, passado seis meses, alguns objetivos já foram alcançados como aqueles que tinham por função trabalhar o domínio dos conhecimentos teóricoepistemológicos, bem como as reflexões críticas sobre as bases de organização estrutural da pesquisa também já estão sendo praticadas. O desenvolvimento desse conjunto de objetivos pode ser observado por meio do texto que está sendo apresentado neste trabalho. Palavras-chave: Fontes; Ensino de História; Sala de Aula. 1. INTRODUÇÃO A história enquanto disciplina escolar está imersa em uma imensa trama de disputas, tendo recebido influências de contextos políticos, sociais, econômicos e culturais. Correntes como a Escola dos Annales e História Social Inglesa, surgidas no século XX,
modificaram concepções do fazer historiográfico, como na ampliação de uso de fontes e na diversidade nos sujeitos estudados que antes, dentro da história dita positivista do século XIX, a restringia somente a documentos oficiais escritos e aos considerados grandes homens, sejam políticos ou militares (GUERRA; DINIZ, 2007). A partir de tais mudanças, a profissionalização do historiador enquanto professor foi assumindo papel cada vez mais fundamental dentro da educação. No que se refere especificamente ao ensino de História, as mudanças são concernentes ao caráter relativo do mesmo enquanto conhecimento, que não é produto de uma verdade irrevogável, mas sim do processo de seleção de fontes e metodologias propostas pelo historiador; novas noções de organicidade temporal, influenciadas por Fernand Braudel (1978), entendendo as diferentes temporalidades; quebra na ideia de que se pode ensinar a história da humanidade em sua totalidade, sendo a partir de então necessário fazer recortes temáticos; o entendimento da memória histórica enquanto luta e emancipação nas transformações da sociedade, objetivando a desnaturalização e questionamentos acerca do passado; chegada de novas e diferenciadas linguagens para o ensino, como, por exemplo, uso de imagens e documentos históricos; esforço em substituir o simples memorizar pela prática reflexiva dos acontecimentos; produção de um conhecimento que utilize fontes, como documentos arquivísticos, entre outros (CAIMI, 2008). Tal ampliação nos conteúdos históricos tratados em aula se reflete na grande mudança que a concepção de fonte sofreu durante o século XX. O historiador construiu novas relações com seu objeto de pesquisa, atribuindo ao mesmo ressignificações teóricas e problemáticas antes não tratadas, além de desenvolver novas técnicas de tratamento desses documentos. Posto isto, este trabalho se preocupou em discutir as linhas teóricas que ampliam as questões necessárias à construção de um ensino de história. Em um primeiro momento, a pesquisa busca dialogar com obras que versam sobre o uso e a aplicação de fontes para o ensino de história em substituição aos manuais e livros didáticos que trazem uma série de faltas, representações e definições ideológicas que acabam por comprometer o estudo e o ensino de história. 2. DESENVOLVIMENTO A parte inicial do trabalho foi organizada em áreas identificadas em pesquisas bibliográficas sobre as temáticas de ensino de história; ensino de história e fontes materiais; documentos e usos de fontes em sala de aula; o historiador e suas fontes; didática da história; entre outras que abrangem a temática do ensino de história. Considera-se relevante que, para o 2
início desta pesquisa, se busque um suporte teórico-metodológico, que tem embasado as linhas de estudo anteriormente indicadas. O material bibliográfico em questão foi levantado em artigos acadêmicos e capítulos de livros, por apresentarem resultados de produções atuais. Este momento da pesquisa se efetivou durante um mês. Realizou-se um amplo levantamento de revistas acadêmicas que tratem do ensino de história, onde foram encontradas 20 revistas acadêmicas, que dão conta desse perfil de produção, sendo elas: Revista História Hoje, Cadernos de História da Educação, História Revista, Educar em Revista, Revista História: Debates e Tendências, Revista Maracanã, História e Ensino, Revista de História, Periódicos Capes, Educação UFSM, Revista Brasileira de História da Educação, Revista Tempo, Históriae, Revista de Ensino do Laboratório de Ensino da UFRGS, Revista História e Perspectivas, Historia, historias, Revista Brasileira de História da Educação, Anos 90, Momento e Antíteses. Feito isso, selecionamos artigos dentro das linhas acima indicadas, gerando um conjunto de trabalhos, que foram publicados principalmente nas revistas História Hoje, da ANPUH; Cadernos de História da Educação, da UFU; História & Ensino, da UEL. Na grande maioria das revistas encontramos números reduzidos de artigos ou nenhum. Ver tabela 1. Revistas Artigos História & Ensino 21 Revista História Hoje 17 Anos 90 4 Cadernos de História da Educação 4 Historiae 2 Educação 1 Momento 1 Revista do Lhiste 1 Revista Tempo 1 Tabela 1: Revistas e Artigos Selecionados Fonte: Ver bibliografia. Deste modo, com o levantamento bibliográfico realizado nas revistas, foram encontrados um total de 70 artigos que se relacionam à temática, desses ficamos com 52 artigos, pois estão diretamente ligados ao tema. Além da pesquisa em periódicos, outro conjunto de 30 obras foi selecionado para a leitura e análise por serem textos clássicos. Chegando a um total de 82 obras, compostas por artigos e capítulos de livros que foram lidos. Desse conjunto acabamos por escolher 58 textos, que foram fichados, devido a possibilidade de afinidade teórica com esta pesquisa. 3
Com o fichamento dos artigos, elaboramos uma estrutura de coletas das informações que teve por função desconstruir os trabalhos lidos e reorganizá-los em um modelo homogeneizador, composto pelas entradas que seguem: Teoria, Problemática, Hipótese, Objetivos, Objeto, Metodologia, Fontes e Didática. Depois de fichados, os artigos foram agrupados em campos de análises em que se articulam. Optou-se por repetir alguns artigos em diferentes categorias, pois abrangem mais de uma temática. Ver tabela 2. Grupos Temáticos Artigos e Capítulos de Livros Didática da História, Prática Didática e Ensino de História 22 Fontes iconográficas e sua utilização para o Ensino de História 4 Jornal e Imprensa como fonte para o Ensino de História 4 A Utilização de Fonte Judicial na Pesquisa Histórica 2 O Patrimônio e a Educação Patrimonial no Ensino de História 5 História do Ensino de História 11 O Uso de Fontes em Sala de Aula 6 Os Documentos na Pesquisa Histórica 11 As perspectivas de Tempo no Ensino de História 3 Metodologia para Utilização das Fontes 7 Tabela 2 Grupos Temáticos e Artigos Relacionados Fonte: Ver bibliografia A divisão dos artigos nesse agrupamento teve por fim perceber questões atreladas ao ensino de história e as possíveis variações temáticas que encontramos. Como os ambientes educacionais no geral não proporcionam estruturas para o desenvolvimento de um ensino que utilize novas metodologias, muitos professores não aplicam para sua prática escolar os estudos epistemológicos, promovendo um hiato entre as produções e as ações cotidianas em sala de aula. (PINTO, 2014). Contudo, Adriana Aparecida Pinto ressalta que: Para minimizar o hiato entre a formação dos professores nos cursos de licenciatura e sua atuação nas instituições de ensino regular, aliam-se investimentos potenciais em Laboratórios de Ensino de História em Universidades Públicas no país, muitos dos quais com produção de material bibliográfico e periódicos que versam sobre as 4
relações entre ensino e aprendizagem histórica. A título de exemplo citam-se as iniciativas em andamento: UFGRS (LHISTE), UFMG (LABEPHE), FGV (LEH) e UFU (LEAH), LAPEDUH (UFPR), UDESC (LEH) e UEL (Laboratório de Ensino de História). (PINTO, 2014, p. 347) Trabalhos desenvolvidos atualmente buscam a integração da vida prática do aluno para dentro do processo de ensino e aprendizagem, buscando maior entendimento e presença ativa deste, conferindo sentido a tal processo (SOUSA, 2010 apud PIROLA, 2016). Para que se fuja de uma história que preze somente os fatos, precisa-se de profissionais que desconsiderem fórmulas prontas e participem da produção de conhecimento: A aula de História é antes de tudo uma tomada de consciência do professor, daquilo que ele entende como seu fazer. É o lugar da constituição permanente da identidade de uma área de saber, do seu profissional e também dos alunos, que buscam ali sentidos e significados diversos para a sua vida. A sala de aula é a tradução para o professor de História da sua formação, vivências, experiências e, principalmente, escolhas. (RIBEIRO, 2015, p. 174) Considera-se que a história enquanto disciplina escolar é histórica e acaba por sofrer modificações e transformações que a apresenta como produto do seu tempo. Nessa perspectiva, compreende-se o caráter de mudança a partir das recentes abordagens, objetos, fontes e linguagens que apresentam inovações no campo das relações de ensinoaprendizagem. Com isso, a didática da história e sua prática sofreu uma reestruturação nos processos que as constitui (ABUD, 2013). Tendo em vista tal afirmação, as discussões aí alocadas são relevantes para serem apontadas e discutidas neste trabalho. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A finalidade do trabalho está ligada à construção de uma base teórica e metodológica que ajude no momento de análise das fontes que serão selecionadas para esta pesquisa. Deste modo, foi levantado um importante material bibliográfico de pesquisadores da área que se debruçam na análise de fontes, os desafios metodológicos que tal caminho impõe, bem como a utilização para os conteúdos históricos ensinados. Desta maneira, os conteúdos apresentados neste trabalho são capazes de fornecer caminhos metodológicos para o próximo momento da pesquisa que se constituirá no trabalho direto com as fontes. Assim, ao entrar em contato com um acervo documental, propomo-nos a organizar, separar e selecionar quais realmente são necessários para responder nossas questões enquanto pesquisadores. Além disso, temos como objetivo maior destacar as fontes a serem trabalhadas no ensino de história. Ao partir de princípios teóricos já obtidos como o de entender o documento como produto de seu tempo, da sociedade que o produziu, compreender como ele se apresenta e que caminho percorreu até chegar nos dias de hoje, devemos selecionar os que podem responder 5
os questionamentos que perpassam este pesquisa. Assim, o que se configura como resultado deste primeiro momento do estudo está relacionado à busca por diferentes maneiras a partir da ótica de diferentes pesquisadores da área no momento do tratamento das fontes e em como utilizá-las para o ensino de história. Toda a etapa descrita acima só foi possível em função da leitura e fichamento de 80 obras, que tiveram seus resultados alocados em 10 grupos específicos, e terão por fim ser um indicativo das formas distintas de fontes primárias com as quais pretendemos trabalhar no segundo momento da pesquisa. Ou seja, os documentos históricos que darão base a segunda etapa da pesquisa deverão estar alocados e incorporados em grupos temáticos próximos, possibilitando criar um diálogo com os textos que proporcione base teórica-metodológica para este estudo. REFERÊNCIAS ABUD, Kátia Maria. A construção de uma didática da história: algumas ideias sobre a utilização de filmes no ensino. HISTÓRIA, São Paulo. V. 22, n. 1, p. 183-193, 2003. CAIMI, Flávia Eloisa. Fontes históricas na sala de aula: uma possibilidade de produção de conhecimento histórico escolar? Anos 90, Porto Alegre, v. 15, n. 28, p. 129-150, dez. 2008. GUERRA, Fabiana de Paula; DINIZ, Leudjane Michelle Viegas. A incorporação de outras linguagens ao ensino de história. História & Ensino, Londrina, v. 13, p. 127-140, set. 2007. PINTO, Adriana Aparecida. A imprensa em Mato Grosso: subsídios para o ensino da História Regional no século XIX (1880-1890). Revista História Hoje, v. 3, n. 6, p. 343-369. 2014. PIROLA, André Luiz Bis; LEITE, Juçara Luzia. Barro na mão do oleiro : materialidades e sensibilidades na interface entre ensino de História e educação profissional. Revista História Hoje, v. 5, n. 10, p. 8-25. 2016. RIBEIRO, Renilson Rosa. Entre textos e práticas: ensino de história, instituição escolar e formação docente. História & Ensino, Londrina, v. 21, n. 2, p. 151-179, jul./dez. 2015. 6