FGV/EESP 28 de setembro de Ajuste fiscal. Contribuições para o debate sobre as saídas para a crise. Felipe Salto

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META DA TAXA SELIC 14,5% 14,25% 13,75% 13,75% 13,5% 13,00% 13,25% 12,75% 12,25% 11,75% 12,75% 12,25% 12,75% 12,50% 12,5% 12,00%

META DA TAXA SELIC 14,5% 13,75% 14,25% 13,75% 13,5% 13,25% 12,75% 13,00% 12,75% 12,50% 12,00% 12,25% 11,75% 12,5% 11,25% 11,00% 10,50% 11,25% 11,5%

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META DA TAXA SELIC 14,5% 14,25% 13,75% 13,75% 13,5% 13,00% 13,25% 12,75% 12,25% 11,75% 12,75% 12,25% 12,75% 12,50% 12,5% 12,00%

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META DA TAXA SELIC 14,5% 13,75% 14,25% 13,75% 13,5% 13,25% 12,75% 13,00% 12,75% 12,50% 12,00% 12,25% 11,75% 12,5% 11,25% 11,00% 10,50% 11,25% 11,25%

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Transcrição:

FGV/EESP 28 de setembro de 2016 Ajuste fiscal Contribuições para o debate sobre as saídas para a crise Felipe Salto Assessor parlamentar no Senado e professor dos cursos Master da FGV/EESP

Visão geral Quadro fiscal é alarmante e requer uma mescla de ações - A chamada PEC do Teto, sozinha, não resolve o problema fiscal - Não há condições econômicas, sociais e políticas de manter o atual padrão de gasto com pessoal em nível local e federal - Mudanças legais e uso de dispositivos já existentes devem ser buscados. A crise é o momento mais oportuno - Recuperar a capacidade de crescer é a prioridade zero do Brasil -Uma série de medidas pode servir ao propósito de apagar o incêndio e, assim, ajudar o governo ganhar tempo e espaço no Congresso

Contexto econômico

Evolução comparada do PIB 60.000 PIB per capita em paridade do poder de compra em dólares de 2015 55.904 50.000 40.000 30.000 34.539 1980: Brasil = 2,2 x a Coréia 2015: Coréia = 2,3 x o Brasil 36.528 20.000 10.000 5.998 13.253 849 15.690 14.190 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Brasil China Coreia do Sul Estados Unidos Fonte: Fundo Monetário Internacional World Economic Outlook.

Hiato do produto 0.5% 1.1% 2.7% 1.7% 1.7% 2.8% 0.9% 0.8% 0.1% 1.9% 1.2% 3.1% 4.2% 2.9% 2.0% 1.2% 1.7% 0.2% 0.3% 4% 3% 2% 1% 0% 1% 2% 3% 4% 5% Elaboração própria.

Termos de troca (2006 = 100) 140,0 130,0 out/2011 132,5 120,0 110,0 100,0 90,0 80,0 dez/02: 89,4 out/15 98,3 out/99 jul/00 abr/01 jan/02 out/02 jul/03 abr/04 jan/05 out/05 jul/06 abr/07 jan/08 out/08 jul/09 abr/10 jan/11 out/11 jul/12 abr/13 jan/14 out/14 jul/15 50% de aumento entre 2002 e 2011 Queda de mais de 25% entre 2011 e 2015 Fonte: IpeaData. Elaboração própria.

PIB per capita em paridade do poder de compra (US$)

Taxa de câmbio nominal e índice real 250 jan/16: 4,05 4,5 4,0 200 3,5 150 jul/14: 2,22 jan/16: 122 3,0 2,5 100 50 jul/14: 78 2,0 1,5 1,0 0,5 0 0,0 ago/16: 3,21 ago/16: 95 ago/94 jun/95 abr/96 fev/97 dez/97 out/98 ago/99 jun/00 abr/01 fev/02 dez/02 out/03 ago/04 jun/05 abr/06 fev/07 dez/07 out/08 ago/09 jun/10 abr/11 fev/12 dez/12 out/13 ago/14 jun/15 abr/16 Câmbio real (jun/1994 = 100) (eixo da esquerda) Câmbio nominal (eixo da direita) Fonte: Banco Central. Elaboração própria.

Juros reais estão subindo rapidamente

Juros reais XXXX

Contas públicas

Dívida bruta em países selecionados Juros reais Dívida bruta Japão -1,1% 246% EUA -1,5% 105% Reino Unido -1,2% 91% Canadá -1,5% 87% Hungria -1,3% 76% Islândia 1,6% 74% Israel -0,9% 69% Brasil 8,7% 69% Índia 1,8% 64% México -0,1% 51% Polônia 0,2% 49% África do Sul 0,3% 48% Suíça -1,2% 46% Dinamarca -1,1% 44% China 2,6% 44% Suécia -1,7% 41% Colômbia 1,3% 41% Austrália -0,4% 38% Coreia do Sul -0,3% 37% Turquia 0,8% 33% Nova Zelândia 1,0% 33% Noruega -1,2% 30% Indonésia 2,4% 26% Rússia 3,7% 19% Chile 0,4% 16%

Dívida e déficit do setor público XXXX

Projeções para a dívida pública bruta Dívida pública bruta como % do PIB 90,0% 85,0% 80,0% dez/18 85% 75,0% 70,0% 65,0% 60,0% 55,0% 50,0% 45,0% dez/06 55,5% out/09 61,1% dez/10 51,8% fev/14 52,1% dez/15 66,2% dez/16 72% dez/17 79% 40,0% jun/18 dez/18 dez/06 jun/07 dez/07 jun/08 dez/08 jun/09 dez/09 jun/10 dez/10 jun/11 dez/11 jun/12 dez/12 jun/13 dez/13 jun/14 dez/14 jun/15 dez/15 jun/16 dez/16 jun/17 dez/17 Fonte: Banco Central do Brasil.

Quadro geral do gasto federal Fonte: Elaboração própria com dados do Tesouro.

Evolução das receitas e despesas primárias 25,0% 24,0% 23,0% 22,0% 21,0% 20,0% 19,0% 18,0% 17,0% 16,0% 15,0% Receitas e despesas primárias totais % do PIB Receitas primárias Despesas primárias (inclusive transferências)

Taxa de crescimento real Gastos primários Receita líquida 1999 2002 3,2% 5,2% 2003 2006 7,4% 7,1% 2007 2010 9,3% 9,1% 2011 2014 3,8% 0,6% Fonte: Elaboração própria com dados do Tesouro.

Estados gastos com pessoal alarmantes Fonte: Pedro Jucá Maciel.

PEC do teto Os quatro (pelo menos) problemas da PEC:

PEC do teto *Ver estudo com J.R.Afonso http://portalibre.fgv.br/lumis/portal/file/filedownload.jsp?fileid=8a7c82c5557f25f201560967ea3d652d

Vinculações/ indexações Fonte: Elaboração própria.

Vinculações/ indexações Fonte: Elaboração própria.

PEC do teto Premissas comuns aos dois cenários (I e II): O PIB real crescerá em média 2,6% ao ano entre 2017 e 2035 Em ambos cenários, em 2016, a despesa cresce perto de 1% em termos reais Premissa do cenário I: As despesas crescem pela inflação passada. Premissas do cenário II: Os gastos têm dois padrões de crescimento em dois períodos distintos: Entre 2017 e 2025, o gasto cresce pelo centro da meta de inflação (4,5%) Entre 2026 e 2035, o gasto cresce pela meta de inflação + o PIB previsto para o ano pela pesquisa Focus

PEC do teto *Ver artigo publicado pelo ITV: http://itv.org.br/pensando-o-brasil/economia/os-quatro-problemas-da-pec-do-teto

Regras fiscais em outros países Mais uma jabuticaba? *Análise contida no artigo A PEC do teto e o resto do mundo (Afonso, Salto e Ribeiro) Revista Conjuntura Econômica da FGV (NO PRELO NÃO CITAR)

O ajuste não se restringe ao primário Lucro cambial do Banco Central tem sido repassado ao Tesouro para cobertura de gastos primários Legislação de 2008 abriu essa brecha... Risco: financiamento inflacionário do déficit público É preciso urgentemente limitar a dívida da União (PRS 84/2007 nos termos do substitutivo de José Serra) Operações compromissadas: R$ 1,0 trilhão com remuneração equivalente à Selic

O ajuste não se restringe ao primário Dívida curta (inclusive compromissadas) x dívida longa (%) 2013 120% 100% 90% 97% 92% 93% 95% 80% 60% 40% 39% 61% 20% 10% 3% 8% 7% 5% 0% Curto prazo Longo prazo Curto prazo Longo prazo Curto prazo Longo prazo Curto prazo Longo prazo Curto prazo Longo prazo Curto prazo Longo prazo EUA Austrália Itália Portugal Alemanha Brasil

Como desatar o nó??? Interromper todos os reajustes salariais previstos: R$ 100 bilhões a menos ao final de quatro anos (considerando-se desdobramentos sobre estados e municípios) Cortar os subsídios e subvenções econômicas à metade: R$ 20 bilhões Revisão de todos os contratos da administração pública com o setor privado: R$ 12 bilhões/ano (próxima tela) Elevação da CIDE: mais de R$ 40 bilhões (incluindo estados e municípios) Securitizar a dívida ativa (PLS 204/2016 Serra): R$ 85 bilhões/ano Reverter parte das desonerações concedidas nos últimos anos (folha, IPI e outras): R$ 30 bilhões/ano Alterar a Lei nº 11.803/2008 para cortar os laços incestuosos entre Tesouro e Bacen Limitar a dívida da união (PRS Serra) Mudança na gestão de pessoal do setor público (próximas telas)

Gestão importa... *Ver estudo publicado na Folha/Ilustríssima (Salto e Marconi): http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2015/08/1674874-ajuste-pode-ser-feito-sem-cortar-conquistas-sociais-importantes.shtml

Medidas** para melhorar a gestão de pessoal ** Fonte: estudo do especialista Luiz Arnaldo Cunha

Disponibilidade: decreto n. 3151/1999 "Art. 4o Autorizada por lei, a extinção de cargo público far se á mediante ato privativo do Presidente da República. Art. 5o Extinto o cargo ou declarada sua desnecessidade, o servidor estável nele investido será imediatamente posto em disponibilidade, com remuneração proporcional ao respectivo tempo de serviço. Art. 6o A remuneração do servidor em disponibilidade será proporcional a seu tempo de serviço, considerando se, para o respectivo cálculo, um trinta e cinco avos da respectiva remuneração mensal, por ano de serviço, se homem, e um trinta avos, se mulher."

Medidas** para melhorar a gestão de pessoal ** Fonte: estudo do especialista Luiz Arnaldo Cunha

OBRIGADO! Felipe Salto https://blogdosalto.wordpress.com/