Tribunal de Contas da União Representante do Ministério Público: JATIR BATISTA DA CUNHA Assunto: Tomada de Contas Especial Acórdão: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Tomada de Contas Especial instaurada pela Caixa Econômica Federal, em razão de irregularidade na concessão de empréstimo na Agência Higienópolis/SP. Considerando que o Sr. Wilson da Rosa Ferreira, na condição de gerente da referida agência bancária, forjou a concessão de empréstimo á empresa Felina Modas Ltda., no valor de Cz$ 1.000.000,00, Considerando que tal montante terminou por ser transferido às empresas Sitafer S/A Comércio e Indústria de Ferro, Sitasteel Center Produtos Siderúrgicos Ltda. e ao Sr. Antônio Luiz Quiliconi; Considerando que esse último beneficiário devolveu à Caixa Econômica Federal a totalidade dos valores recebidos; Considerando que ficou demonstrado o conluio entre o ex-gerente e as referidas empresas; Considerando que a Caixa Econômica Federal já se ressarciu de parte do empréstimo concedido; Considerando que, devidamente citados, Wilson da Rosa Ferreira, Sitafer S/A Comércio e Indústria de Ferro, Sitasteel Center Produtos Siderúrgicos Ltda., não recolheram o débito nem apresentaram alegações de defesa; Considerando os pareceres da Unidade Técnica e do Ministério Público/TCU; ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da 2ª Câmara, ante as razões expostas pelo Relator, em: a) com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea "d", 19 e 23, inciso III, alínea "a", todos da Lei 8.443/92, c/c o art. 165, inciso III, alínea "a", do Regimento Interno, julgar irregulares as presentes Contas e condenar o Sr. Wilson da Rosa Ferreira e as empresas Sitafer S/A Comércio e Indústria de Ferro, Sitasteel Center Produtos Siderúrgicos Ltda.,
solidariamente, ao pagamento do débito apurado no processo, no valor original de Cz$ 797.000,00 (setecentos e noventa e sete mil cruzados), fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que efetuem, e comprovem perante este Tribunal, o recolhimento da referida dívida aos cofres da Caixa Econômica Federal, atualizada monetariamente e acrescida de juros de mora calculados a partir de 16/07/86, até a data do efetivo recolhimento, na forma da legislação em vigor; b) aplicar ao Sr. Wilson da Rosa Ferreira e às empresas Sitafer S/A Comércio e Indústria de Ferro, Sitasteel Center Produtos Siderúrgicos Ltda a multa prevista no art. 57 da Lei nº 8.443/92 c/c o art. 219 do Regimento Interno deste Tribunal, no valor individual de R$ 3.000,00 (três mil reais), fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante o TCU (art. 165, III, alínea a, do RI/TCU), o recolhimento das dívidas aos cofres do Tesouro Nacional; c) autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei nº 8.443/92, a cobrança judicial da dívida, caso não atendida a notificação; Colegiado: Segunda Câmara Classe: Classe II Sumário: Tomada de Contas Especial. Concessão irregular de empréstimo. Agência Higienópolis/SP da Caixa Econômica Federal. Citação do ex-gerente dessa agência bancária, em solidariedade com os beneficiários finais do empréstimo irregular. Apresentação de defesa por um dos beneficiários. Revelia dos demais. Verificação de que parte dos recursos do foi devolvida por esse beneficiário do empréstimo. Acatamento da defesa apresentada. Julgamento pela irregularidade das presentes contas, com imputação de débito ao exgerente e às empresas beneficiadas acima relacionadas. Natureza: Tomada de Contas Especial. Data da Sessão: 22/11/2001 Relatório do Ministro Relator:
Trata-se de Tomada de Contas Especial instaurada pela CEF contra o ex-gerente Sr. Wilson da Rosa Ferreira, em razão de irregularidades praticadas na Agência Higienópolis/SP, da Filial de São Paulo da Caixa Econômica Federal, na concessão de empréstimos irregulares, que terminaram por beneficiar as empresas Sitafer S/A Comércio e Indústria de Ferro e Sitastel Center Produtos Siderúrgicos Ltda. e o Sr. Antônio Luiz Quiliconi. 2.Verificou-se a ocorrência de concessão de empréstimo, sem formalização do respectivo processo e fora dos limites permitidos; falsificação de documentos; abertura de conta com assinatura fabricada pelo próprio responsável; concessão de empréstimo a empresa fictícia. Observou-se, ainda, que o financiamento que deu origem à presente tomada de contas especial foi concedido à empresa Felina Modas Ltda. A Caixa Econômica Federal, por meio de Sindicância interna, concluiu, porém, que o Sr. Wilson da Rosa Ferreira, ex- Gerente da Agência Higienópolis/SP forjou a concessão de crédito no valor de CZ$ 300.000,00, que foi alterado, em 28/11/86, para CZ$ 1.000.000,00. 3.Consoante anotado em Relatório da dessa instituição bancária, o crédito foi concedido sem que houvesse sequer assinatura de contratos e de notas promissórias. Verificou-se, conforme explicitado no respectivo ofício de citação que as assinaturas de abertura dessa conta haviam sido fabricadas por aquele ex-gerente. Conforme anotado nesse Relatório, imediatamente após a liberação dos respectivos recursos, foram os valores retirados da conta da empresa Felina Modas Ltda. e depositados nas contas dos seguintes beneficiários: - CZ$ 203.000,00, a Antônio Luiz Quiliconi; - CZ$ 96.500,00, à empresa Sitafer S/A Comércio e Indústria de Ferro; e - CZ$ 700.000,00, à empresa Sitasteel Center Produtos Siderúrgicos LTDA. 4.Em razão dessas ocorrências, determinou o Exmo. Sr. Ministro-Relator Iram Saraiva a citação solidária do responsável principal e dos beneficiários do referido empréstimo. 5.O Sr. Analista que instruiu o feito, assim pronunciou-se, quando do exame alegações de defesa apresentadas: O supra nominado responsável Sr. Antônio Luiz Quiliconi requereu (fls. 239), em 01.06.98, vista e cópia dos autos, concedidas em 04.06.98 (fls. 241), obtendo-as, o mesmo, em 17.06.98 (fls. 242).
Em retorno ao referido Ofício Citatório nº 426 (fls. 233), encaminhou o Sr. Antônio Luiz Quiliconi o documental de defesa de fls. 252/314 onde relata que: - com relação à sua pessoa, nunca deixou de faltar a um único compromisso junto à CEF, judicialmente ou não, justificando as dúvidas que lhe foram apresentadas e honrando as dívidas que lhe cabiam (fls. 311/313); - não é verdade o constante nas fls. 10/11 destes autos, que informa a existência de irregularidades na formalização dos processos de empréstimos, como por exemplo a ausência da supra referida alteração contratual junto aos mesmos, tendo, inclusive, incluindo a mesma na documentação de defesa apresentada; - o subscritor nunca fugiu de sua responsabilidades junto à CEF, tendo honrado todos os seus compromissos, não tendo se utilizado indevidamente de um único centavo da instituição financeira em questão, seja em benefício próprio, ou de terceiros a ele ligados, tendo quitado o débito a ele imputado pela CEF (fls 310), dando esta instituição como quitada a dívida (fls. 314). Conforme verificamos nos autos em momento algum o recorrente, ao ser chamado a se pronunciar, demonstrou má-fé ou desinteresse, ao contrário, sempre se mostrou pronto a elucidar quaisquer falhas ou irregularidades a ele imputadas. Também não nos pareceu ter se locupletado da quantia depositada em sua conta corrente, no valor de Cz$ 203.000,00 (fls. 12), quitando, inclusive, tal dívida junto ao Banco (fls. 311/313). Ressalva-se, também, que a própria Caixa Econômica Federal deu a recorrente a quitação de seu débito, ao requerer ao Exmo. Sr. Juiz Federal da 15ª Vara da Seção Judiciária de São Paulo a extinção da Execução nº 90.9229-9 que tinha o nominado recorrente como devedor (fls. 314). Ora, se o credor dá quitação ao devedor não há que se questionar a existência de débito por parte deste último. Decorrido o prazo regulamentar, os responsáveis Wilson da Rosa Ferreira e as empresas Sitafer S/A Com. e Ind. de Ferro e Sitasteel Center Prod. Siderúrgicos Ltda, estas nas pessoas de seus representantes legais Sr. José Manuel Varela Vidal e Sr. Manuel Varela Louro não se manifestaram quanto ao feito aqui analisado, consubstanciado nos Editais de Citação de que trata o item 02 do presente relatório. Ante o exposto, opinamos pelo envio dos autos ao Douto Ministério Público junto a esta Corte, propondo: a) conhecer dos elementos de defesa apresentados pelo responsável Sr. Antônio Luiz Quiliconi, nos termos do art. 31 da Lei 8.443/92, c/c art. 228 do R.I./TCU, acatando-a e,
consequentemente, excluindo-o do rol de responsáveis; b) sejam os responsáveis Wilson da Rosa Ferreira e as empresas Sitafer S/A Com. e Ind. de Ferro e Sitasteel Center Prod. Siderúrgicos Ltda, estas nas pessoas de seus representantes legais Sr. José Manuel Varela Vidal e Sr. Manuel Varela Louro, considerados revéis, nos termos do art. 12, 3º, da Lei 8.443/92; c) sejam as presentes contas julgadas irregulares, nos termos dos artigos 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea "d", 16, 2º, alínea "b" e 19, caput, da Lei 8.443/92, e em débito os responsáveis solidários Wilson da Rosa Ferreira e as empresas Sitafer S/A Com. e Ind. de Ferro e Sitasteel Center Prod. Siderúrgicos Ltda, estas nas pessoas de seus representantes legais Sr. José Manuel Varela Vidal e Sr. Manuel Varela Louro, pela quantia original de Cz$ 1.000.000,00 (hum milhão de cruzados), nos termos dos artigos 12, inciso I, 19 e 23, inciso III, da Lei 8.443/92, c/c art. 153, inciso I, do R.I./TCU, para, nos termos do artigo 153, inciso IV, 6º, do R.I./TCU, recolher, no prazo de 15 (quinze) dias contados da notificação, a importância supramencionada, acrescida dos encargos legais, calculados a partir de 16.07.86, até a data de recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor; d) autorizar, desde logo, nos termos do artigo 28, inciso II, da Lei 8.443/92, a cobrança judicial da dívida, caso não atendida a notificação; e e) encaminhar cópia dos presentes autos ao Ministério Público Federal, nos termos do art. 16, 3º, da Lei 8.443/92. 6.O Sr. Diretor e o Sr. Secretário manifestaram-se de acordo com as propostas de encaminhamento apresentadas pelo Sr. Analista. 7.O Ministério Público pôs-se de acordo com a proposta de encaminhamento apresentada pela Unidade Técnica. Voto do Ministro Relator: Conforme ressaltado no Relatório supra o ex-gerente da Caixa Econômica Federal, Sr. Wilson da Rosa Ferreira, ex-gerente da Agência Higienópolis/SP forjou a concessão de crédito no CZ$ 1.000.000,00, para a empresa Felina Modas Ltda. Manipulou, em seguida, a conta dessa empresa, transferindo os valores aos beneficiários finais relacionados no item 3 do Relatório supra. 2.Os sócios controladores das empresas beneficiadas com os valores acima mencionados são os mesmos (Srs. José Manuel Varela Vidal e Manuel Varela Louro). Além disso, essas empresas, a despeito de haverem sido citadas por esta Corte, não apresentaram defesa,
nem recolheram a quantia que lhes foi transferida. Considero, em face desses elementos, que tiveram participação no desvio dos mencionados recursos. 3.Há de se concluir, portanto, que teria havido conluio entre o mencionado ex-gerente e as empresas, especialmente porque foram a elas transferidos recursos sem motivo que justificasse tal repasse. Há de se presumir que tiveram participação ativa na fraude de que se cuida nos presentes autos. Por isso, justifica-se a imputação de débito ao Sr. Wilson Ferreira e às mencionadas empresas, em solidariedade. 4.Considero, ainda, na mesma linha de argumentação apresentada pela Unidade que não se pode imputar responsabilidade ao Sr. Antônio Luiz Quiliconi, pois não se beneficiou da quantia que lhe fora transferida. Restou comprovado que devolveu ele o montante correspondente ao valor que foi depositado em sua conta corrente, conforme reconheceu a própria CEF, nos autos de ação judicial que havia sido movida contra esse beneficiário do empréstimo. Considero, ainda, digna de ser acatada a alegação desse beneficiário, no sentido que desconhecia a origem ilícita dos valores depositados em sua conta. Demonstrou, também, que mantinha, na oportunidade relacionamento comercial com o mencionado Sr. José Manuel Varela Vidal e que os valores recebidos guardavam relação com a aquisição de empresa denominada SCOTH - Comércio de Veículos e Motocicletas Ltda. Por esses motivos, considero que o Sr. Antônio Luiz Quiliconi não participou ativamente da fraude sob exame. 5.A Unidade Técnica, a despeito de ter sido comprovada a devolução de parte dos recursos impugnados, por meio de pronunciamentos uniformes, forneceu a proposta de encaminhamento constante da instrução de fl. 318/319, no sentido de que os responsáveis lá arrolados tivessem suas contas julgadas irregulares e de que fossem condenados ao pagamento do valor integral pelo qual haviam sido citados. Considero, entretanto, em razão de parte dos recursos já ter sido devolvida à Caixa Econômica por um dos beneficiários arrolados no respectivo ofício de citação e em razão de não se poder admitir que teria esse beneficiário atuado de forma ativa na consumação da irregularidade de que ora se cuida, que o débito imputável ao ex-gerente e às mencionada empresas deve ser abatido desse montante. 6.Considero, também, que a gravidade da conduta dos agentes envolvidos no desvio dos recursos oriundos do mencionado empréstimo, conforme acima descrito, justifica a imputação de multa do art. 57 da Lei nº 8.443/92, no valor de R$ 3.000,00 a cada um deles. 7.Com essas considerações e tendo em vista os pronunciamentos da Unidade Técnica e do Ministério Público, VOTO no sentido de que o Tribunal adote o Acórdão que ora submeto à apreciação desta Segunda Câmara.
Sala das Sessões, em 22 de novembro de 2001. BENJAMIN ZYMLER Interessados: RESPONSÁVEIS: Wilson da Rosa Ferreira, Sitafer S/A Comércio e Indústria de Ferro, Sitasteel Center Produtos Siderúrgicos Ltda Grupo: Grupo I Indexação: Tomada de Contas Especial; CEF; Empréstimo; Operação de Crédito; Documentação Fraudulenta; Fraude; Empresa; Recolhimento Parcial; Multa; Responsável em Débito; Responsabilidade Solidária; Data da Aprovação: 04/12/2001 Unidade Técnica: SECEX-GO - Secretaria de Controle Externo - GO Quorum: Ministros presentes: Valmir Campelo (Presidente), Adylson Motta, Ubiratan Aguiar e Benjamin Zymler (Relator). Ementa: Tomada de Contas Especial. CEF. Concessão de empréstimo sem formalização do processo e fora dos limites permitidos. Falsificação de documentos. Abertura de conta com fraude em assinatura. Concessão de empréstimo a empresa fictícia. Apresentação de defesa por um dos beneficiários. Constatação de que parte dos recursos foi restituída por esse responsável. Acolhimento da defesa apresentada. Demais responsáveis revéis. Contas irregulares. Débito do ex-gerente e das empresas beneficiadas. Multa. Remessa de cópia ao MPU. Data DOU: 18/01/2002
Número da Ata: 43/2001 Entidade: ENTIDADE: Caixa Econômica Federal - CEF Processo: 016.778/1992-8 Ministro Relator: BENJAMIN ZYMLER