Tribunal de Contas da União. Número do documento: AC /99-1. Identidade do documento: Acórdão 360/ Primeira Câmara

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1 Tribunal de Contas da União Número do documento: AC /99-1 Identidade do documento: Acórdão 360/ Primeira Câmara Ementa: Tomada de Contas Especial. Convênio. FNS. Prefeitura Municipal de Guapimirim RJ. Prestação de contas incompleta. Contrapartida não integralizada. Ausência de licitação. Contas irregulares. Multa. Grupo/Classe/Colegiado: Grupo II - CLASSE II - 1ª Câmara Processo: / Natureza: Tomada de Contas Especial Entidade: Unidade: Prefeitura de Guapimirim/RJ Interessados: RESPONSÁVEL: Nelson Costa Mello, ex-prefeito Dados materiais: DOU de 06/10/1999 Sumário: Tomada de Contas Especial. Irregularidades na prestação de contas de recursos federais transferidos mediante convênio. Citação. Descaracterização do débito, persistindo a irregularidade decorrente da indevida dispensa de licitação na aquisição de equipamentos médico-hospitalares. Contas irregulares, com aplicação de multa ao responsável. Autorização para a cobrança judicial da dívida, caso não atendida a notificação. Relatório: Trata-se de Tomada de Contas Especial, instaurada contra o sr. Nelson Costa Mello, ex-prefeito de Guapimirim/RJ, atualmente Prefeito de Magé/RJ, devido a irregularidades na execução e prestação de contas de recursos, nos valores de CR$ ,00 e CR$ ,00 (fl. 17),

2 concedidos, respectivamente, em e , e creditados na conta daquela Prefeitura em , em razão do Convênio 176/93 (Siafi ) e 1º Termo Aditivo, celebrados com o Fundo Nacional de Saúde MS (fls. 9/21), objetivando a aquisição de equipamentos para o Pronto Socorro do Hospital Municipal de Guapimirim, visando a integrá-lo ao Sistema Único de Saúde SUS. Os documentados apresentados pelo responsável à guisa de prestação de contas (fls. 27/45), examinados pela Coordenação de Prestação de Contas do Fundo Nacional de Saúde, evidenciaram, dentre outras impropriedades, que (Relatório fl. 21 e Parecer fl. 25): a) "a contrapartida dos recursos repassados, no valor de CR$ ,00, conforme avençado na cláusula 3ª do instrumento pactuado, não foi investida na despesa objeto do Convênio"; b) não foram apresentados documentos comprovando os resultados mensais das aplicações financeiras e dos extratos bancários da movimentação da conta corrente específica do Convênio; e c) não houve a formalização do processo licitatório para a compra dos equipamentos, com indevida justificativa fundamentada no art. 24, inciso IV, da Lei 8.666/93, restrita aos casos de emergência e/ou calamidade. Devido a isso, a referida unidade informou ao responsável que sua prestação de contas não foi aprovada e dele solicitou a restituição dos valores transferidos (fls. 23/4 e 26). A Secretaria de Controle Interno do Ministério da Saúde Ciset/MS certificou a irregularidade das contas (fl. 56) e a autoridade ministerial pronunciou-se de acordo (fl. 59). Regularmente citado (fl. 66), o ex-prefeito de Guapimirim/RJ, por seu procurador, obteve vista e cópia dos autos, ocasião em que tomou ciência das razões que levaram o Controle Interno a rejeitar a prestação de contas do responsável e instaurar a presente Tomada de Contas Especial. Em seguida, encaminhou o responsável o expediente fls. 76/83, acompanhado dos documentos e fotos fls. 84/122, no qual alegou, em preliminar, cerceamento de defesa e, no mérito, as seguintes razões: a) somente duas condições implicariam a obrigação de restituir todo o valor acrescido de juros e correção monetária: a prestação de contas a

3 destempo e a aplicação dos recursos em finalidade diversa do estabelecido; b) a ausência da contrapartida do município foi suprida com a transformação de um imóvel para funcionamento do Posto de Saúde e a aquisição de uma UTI móvel e duas ambulâncias às expensas da Prefeitura; c) o Banco do Brasil não entregou os demonstrativos de resultados mensais das aplicações financeiras e os extratos bancários alegando não estar o responsável hoje legitimado a movimentar a conta, solicitando que tais demonstrativos sejam obtidos pelo Tribunal; e d) é subjetiva a interpretação de que a aquisição de equipamento para o Pronto Socorro não se enquadra na hipótese de dispensa de licitação. A instrução da Secex/RJ fls. 125/7 assim analisou, em síntese, tais alegações: a) a prestação de contas encaminhada pela Prefeitura às fls. 27/46 não observou os requisitos estabelecidos no Convênio 176/93, e a documentação fls. 84/122 enviada em resposta ao expediente de citação do Tribunal contém os mesmos elementos já verificados e rejeitados pelo Fundo Nacional de Saúde; b) não foi anexado nenhum comprovante dos valores gastos pela Prefeitura que supririam a sua contrapartida no convênio; c) a solicitação de que o Tribunal obtenha os demonstrativos junto ao Banco do Brasil configura inversão do ônus da prova; e d) a Coordenação de Prestação de Contas do Fundo Nacional de Saúde já se havia pronunciado às fls. 21/2 quanto à licitação dispensada com base no art. 24, inciso IV, da Lei 8.666/93, afirmando que o aspecto emergencial ali previsto não se aplica a este processo, pois a população do município já era usuária dos serviços de saúde ofertados pela rede pública da região e continuaria buscando tais serviços até que o Posto de Saúde fosse completado. Ao final, a instrução propôs a rejeição das alegações de defesa e a fixação de novo prazo para o recolhimento do débito. A srª Secretária da Secex/RJ manifestou-se pela regularidade, com ressalva, destas contas, dando-se quitação ao responsável (fls. 128/30), por considerar que:

4 a) não há indícios de ocorrência que se enquadre nas hipóteses previstas no art. 16, inciso III, da Lei 8.443/92; b) a documentação apresentada pelo responsável comprovou a utilização da totalidade dos recursos repassados no objeto do convênio, redundando em benefício para a comunidade; e c) a ausência da contrapartida do município não prejudicou a execução do objeto do convênio à vista da aplicação de recursos da Prefeitura na transformação de um imóvel para funcionamento do Posto de Saúde e na aquisição da UTI móvel e das ambulâncias. O Ministério Público, no parecer da lavra do Subprocurador-Geral Dr. Ubaldo Alves Caldas, assim se pronunciou (fls. 131/2): "Tomada de Contas Especial de Nelson Costa Mello, instaurada em decorrência da constatação de impropriedades na execução e prestação de contas de recursos do Convênio 176/93, celebrado entre o Município de Guapimirim/RJ e o Fundo Nacional de Saúde, destinados à aquisição de equipamentos para o Pronto Socorro. As falhas que ensejaram a instauração da Tomada de Contas Especial, em resumo, são as seguintes: a) não utilização da contrapartida do Município; b) não apresentação de documentos que demonstrem os resultados mensais das aplicações financeiras e do extrato bancário da movimentação da conta específica; c) não formalização de processo licitatório para a compra de equipamentos. O responsável foi devidamente citado, apresentando as alegações de defesa de fls. 72/73 e 76/122. Pelas razões expendidas na instrução de fls. 125 a 127, as preliminares de 'VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA' e de 'NULIDADE DO PROCESSO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS', aduzidas pelo responsável (fls. 76 a 82), não merecem prosperar. Entendemos inexistir débito, visto que: a) a não utilização da contrapartida não impediu o atingimento do

5 objeto pactuado; b) os rendimentos das aplicações financeiras eram creditados na própria conta específica, não restando configurado locupletamento; c) não ficou demonstrado que a não realização do certame licitatório causou dano ao Erário. Não obstante, a compra dos equipamentos sem a realização de licitação, neste caso, constitui infringência a norma legal, eis que não restou caracterizada a situação emergencial que fundamentou a dispensa. Embora não se tenha provado que a indevida dispensa de licitação causou dano ao Erário, que decorreria, por exemplo, da compra por valores acima dos preços de mercado, o ato caracteriza-se como grave infração a norma legal. Ademais, o ato irregular em questão, além de atentar contra a moralidade pública, traz em seu bojo indícios de má-fé decorrente da tentativa de simulação de uma situação emergencial que não existiu. Em sua defesa, o responsável sustenta que os cidadãos 'eram atendidos, precariamente, pela Unidade de Saúde ali existente, mas isto porque tinham como suporte os Hospitais, centrais, localizados no Município-Mãe, do qual se divorciara o novel Município' (fl. 83). Note-se, portanto, que se as pessoas eram atendidas por uma Unidade de Saúde, e, quando se decide pela construção de uma nova unidade de saúde, é porque ocorreu um aumento de demanda não suportado pela unidade existente. Tal fato não se constitui, exatamente, uma situação de emergência, senão, as licitações para compra de equipamentos para postos de saúde ou para hospitais poderiam ser, de regra, dispensadas em razão de uma situação de emergência. Assim sendo, o responsável não logrou demonstrar a situação emergencial, que derivaria da existência de risco à saúde ou à vida das pessoas. Dessarte, este representante do Ministério Público manifesta-se por que, com fundamento no art. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea 'b', 19, e 23, inciso III, da Lei 8.443/92, sejam julgadas irregulares as presentes contas, aplicando-se ao responsável, Sr. Nelson Costa Mello, a multa prevista no art. 58, inciso I, c/c art. 19, parágrafo único, da

6 mesma Lei." É o relatório. Voto: Preliminarmente, na hipótese dos autos, não vejo como se poderia falar em cerceamento do direito de defesa do responsável. Ele foi regularmente citado e obteve, por meio de seu procurador, vista e cópia dos autos, com toda a oportunidade de apresentar ao Tribunal os elementos que desejasse para comprovar a boa e regular aplicação dos recursos públicos que teve sob sua gestão, podendo refutar, item por item, os fundamentos que levaram o Controle Interno a rejeitar sua prestação de contas. No mérito, verifico assistir razão ao Ministério Público, ao considerar que, apesar da inexistência de débito, dados os motivos expostos em seu parecer supra transcrito, houve grave violação a norma legal na compra dos equipamentos sem a realização de licitação, pois não restou caracterizada a situação emergencial que fundamentou a dispensa, apesar da ausência de provas de dano ao Erário conformando débito. Como bem frisou o parecer, "quando se decide pela construção de uma nova unidade de saúde, é porque ocorreu um aumento de demanda não suportado pela unidade existente", sendo esse um fato previsível, que não constitui situação de emergência para a dispensa de licitação, mesmo no caso de aquisição de equipamentos médico-hospitalares, sob pena de todas as demais aquisições do gênero serem passíveis de liberação do certame licitatório, o que não se coaduna com a moralidade pública nem com o Estatuto das Licitações. Estando caracterizada a irregularidade decorrente de ato de gestão ilegal e havendo o responsável se defendido especificamente quanto à prática deste ato, ensejando a aplicação de multa, acolho o parecer do Ministério Público e VOTO por que o Tribunal aprove o ACÓRDÃO que ora submeto à apreciação desta Primeira Câmara. Sala das Sessões, em 28 de setembro de WALTON ALENCAR RODRIGUES Ministro-Relator Assunto: II - Tomada de Contas Especial.

7 Relator: WALTON ALENCAR Representante do Ministério Público: UBALDO CALDAS Unidade técnica: SECEX-RJ Acórdão: VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Tomada de Contas Especial, instaurada contra o sr. Nelson Costa Mello, ex-prefeito de Guapimirim/RJ, devido a irregularidades na execução e prestação de contas de recursos, nos valores de CR$ ,00 e CR$ ,00, concedidos respectivamente em e e creditados na conta daquela Prefeitura em , em razão do Convênio 176/93 (Siafi ) e 1º Termo Aditivo celebrados com o Fundo Nacional de Saúde MS, objetivando a aquisição de equipamentos para o Pronto Socorro do Hospital Municipal de Guapimirim, visando a integrá-lo ao Sistema Único de Saúde SUS. Considerando que, apesar de não configurada a existência de débito, não houve observância da norma legal na compra dos equipamentos sem a realização de licitação pois não restou caracterizada a situação emergencial que fundamentou a dispensa, caracterizando grave irregularidade decorrente de prática de ato de gestão ilegal; e Considerando que o parecer do Ministério Público é no sentido de julgar irregulares as presentes contas, com aplicação de multa ao responsável, ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da Primeira Câmara, ante as razões expostas pelo Relator e com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea b, e art. 19, parágrafo único, da Lei 8.443/92, c/c o art. 220, inciso I, do Regimento Interno, em: 8.1. julgar irregulares as contas do sr. Nelson Costa Mello e aplicar-lhe a multa prevista no art. 58, inciso I, da Lei 8.443/92, no valor de R$5.000,00 (cinco mil reais), fixando-lhe o prazo de quinze dias, a contar das notificações, para que comprove, perante o Tribunal (art. 165, inciso III, alínea a do Regimento Interno), o recolhimento da dívida, com recursos próprios, aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente, a partir do dia seguinte ao término do prazo estabelecido até a data do efetivo recolhimento, na forma da legislação

8 em vigor; e 8.2. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/92, a cobrança judicial da dívida, caso não atendida a notificação. Quórum: Ministros presentes: Humberto Guimarães Souto (Presidente), Walton Alencar Rodrigues (Relator) e Guilherme Palmeira. Sessão: T.C.U., Sala de Sessões, em 28 de setembro de 1999