O DEBATE SOBRE A OMC NOS ESTADOS UNIDOS E O SISTEMA MULTILATERAL DE COMÉRCIO.



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Transcrição:

O DEBATE SOBRE A OMC NOS ESTADOS UNIDOS E O SISTEMA MULTILATERAL DE COMÉRCIO. PRETO, Carolina Cristina Loução Mestranda em Relações Internacionais PPGRI- San Tiago Dantas (UNESP-UNICAMP-PUC/SP) Bolsista CAPES Uma contextualização do debate sobre a OMC. Depois de mais de seis anos de negociações, em julho de 2008 o impasse entre Índia (secundada pela China) e Estados Unidos em torno da questão da liberalização agrícola frustrou as expectativas de conclusão da Rodada Doha da OMC ainda durante a administração Bush e lançou muitas dúvidas sobre o futuro do sistema multilateral de comércio. Em publicação de 30 de Julho de 2008 intitulada After 7 Years, Talks Collapse on World Trade, Susan C. Schwab, representante comercial dos EUA, referindo-se aos resultados da Reunião Ministerial da OMC, fez o seguinte comentário ao The New York Times: It is unconscionable that we could have come out with an outcome that rolled the global trading system back not by one year or 5 years but by 30 years. (Castle 2008). Essas palavras refletem a percepção de que as recentes negociações comerciais multilaterais teriam fracassado significativamente. Analistas temiam que uma conseqüente multiplicação de disputas comerciais entre Estados tornasse mais difícil a obtenção de consensos e aumentasse o risco de fragmentação do sistema multilateral de comércio. Previsões negativas sugeriam que poderia levar muito tempo para que surgisse novamente a oportunidade de se negociar outro acordo desse tipo entre os atuais 153 membros da OMC. Alguns chegaram até mesmo a questionar a real necessidade de se estabelecer um acordo global em face da recente proliferação de acordos comerciais bilaterais. O pessimismo dos observadores aumentou muito pela coincidência aziaga do fracasso das negociações e da eclosão da crise financeira internacional, reforçando temores de que medidas protecionistas pudessem ser empregadas em Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 1

diversos Estados como tentativas de reativação de suas economias. Mas os obstáculos que dificultaram o avanço da rodada Doha não surgiram com a crise. Na realidade, eles já estavam expressos no período de pré-negociação da Rodada. Em Seattle, 1999, não foi possível atingir o consenso necessário para que uma nova Rodada de Negociações fosse aberta. De um lado os países emergentes se opunham a inclusão dos chamados Temas de Cingapura na agenda de negociação, e de outro, EUA e UE apresentavam divergências importantes. Além disso, o episódio se desenrolou em um clima de tensão especial, dada a presença de milhares de manifestantes de movimentos sociais e ONGs que, com repercussão em toda a mídia internacional, protestavam contra a reunião. O acordo para a abertura da Rodada só foi atingido em 2001 na Conferência de Doha no Catar, já no contexto do pós 11 de Setembro. Ainda assim, o consenso não foi construído facilmente, tendo sido possível apenas mediante diversas concessões, dentre elas, a criação de uma Agenda do Desenvolvimento. Apesar do progresso obtido com o lançamento da Rodada em Doha, logo em seguida, a Ministerial de Cancun, em 2003, deixou claro novamente que as diferenças e dificuldades eram profundas e algumas delas insuperáveis. Depois de intensas gestões, a Conferência foi suspensa pela intervenção incisiva do recémcriado Grupo dos 20 e pela recusa de muitos países em desenvolvimento de incluir na agenda os temas de Cingapura -- compras governamentais, facilitação de comércio, investimentos e política de concorrência -- em meio a fortes trocas de acusações, de lado a lado. Superada a atmosfera pesada que se seguiu ao fracasso de Cancun, as negociações da rodada foram retomadas, agora com foco em uma pauta mais modesta. Mas, mesmo diante de uma agenda mais restrita, as dificuldades persistiam e (...) quatro anos decorridos desde então não corresponderam às expectativas de uma superação das divergências quanto a prioridades de temas entre os membros da OMC. ( Piani: Miranda 2006) Com efeito, a Conferência de Hong Kong, realizada em dezembro de 2005, chegou perto do colapso e o tema do comércio agrícola dividiu países desenvolvidos e emergentes, estimulando a formação de alianças. Nesse momento, constitui-se em torno dos países emergentes o chamado G-20, grupo que defendia maior abertura dos mercados agrícolas e redução dos subsídios no setor por parte dos Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 2

países desenvolvidos. A reunião (...) ficou estigmatizada pela ausência de progressos concretos uma situação que permaneceu, a despeito de algumas iniciativas que reuniram grupos menores de participantes. ( Piani: Miranda 2006) O fracasso na conclusão da Rodada Doha em 2008 reforçou a preocupação já existente em relação aos obstáculos que a OMC e o Sistema Multilateral de Comércio enfrentaram e terão de enfrentar. O colapso da tentativa de concluir a Rodada foi atribuído a diversos fatores. Alguns se focavam fundamentalmente na estrutura da OMC e na complexidade das negociações, citando a diversidade temática -- na qual se incluíam questões sensíveis como a agricultura -- e a grande quantidade de membros. Outros buscavam motivações mais amplas tais como a redistribuição de poder na economia mundial e o aumento da influência dos países em desenvolvimento no conflito com os países desenvolvidos. Este breve relato nos sugere a idéia, ainda imprecisa, de que as dificuldades de negociação não se derivam apenas do comportamento, mais ou menos intransigente/flexível, das partes envolvidas em determinados momentos, mas de elementos mais gerais e mais profundos que têm a ver com a própria natureza da OMC como organização internacional sui generis que ela é. Para compreensão desses elementos mais gerais é antes necessário retomar parte da trajetória da OMC: Em abril de 1994, a Ata Final da Rodada Uruguai do GATT estabeleceu a criação da Organização Mundial do Comércio com a finalidade de administrar dentro de uma moldura institucional única todos os acordos e arranjos realizados anteriormente sob os auspícios do GATT, assim como, as mudanças que a recém-encerrada Rodada acabava de instituir. Oficialmente, o GATT não era uma organização internacional, mas sim um acordo formal entre Estados. A criação da OMC modificou essa situação ao estabelecer uma organização internacional com personalidade jurídica própria para supervisionar os acordos comerciais. The WTO is a regulator of the regulatory actions of governments that affect trade and the conditions of competition facing the imported products on the domestic markets. In this it is no different from the old GATT. (Hoeckman: Kostecki 1995) Nesse sentido, a OMC está muito próxima do GATT e preserva muito de sua estrutura e resultados, tendo a Rodada Uruguai determinado pontos centrais para seu funcionamento. Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 3

Iniciada oficialmente em 1986 a Rodada Uruguai foi marcada pelas cerradas discussões sobre o tema dos subsídios agrícolas -- onde, com apoio de vários aliados, os Estados Unidos opunham-se à União Européia e ao Japão -- e sobre os novos temas. (Oliveira 2007), em que o grupo dos países em desenvolvimento fazia oposição ao bloco dos países centrais. A chamada Rodada Uruguai marca a tendência de expansão do GATT que culmina na criação da OMC e estabelece modificações determinantes, sendo, portanto, considerada por alguns analistas como origem de parte considerável dos elementos de tensão da recém-nascida organização. Dentre outras mudanças ocorridas nesta Rodada cabe aqui ressaltar algumas daquelas que especialistas apontam como fontes de conflitos políticos: a ampliação temática; a orientação para a redução de barreiras não-tarifárias; a consolidação do princípio do single-undertaking; as modificações referentes ao Órgão de Solução de Controvérsias (OSG), e o crescimento da quantidade de membros. Durante a Rodada Uruguai foram incorporados os temas relativos à Investimento, Serviços e Propriedade Intelectual e códigos de regulamentação desses setores foram estabelecidos através dos Acordos GATS e TRIPS. Além disso, houve um aprimoramento dos mecanismos de defesa comercial, por meio do Acordo sobre Salvaguardas e do Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias (Oliveira 2007) e, a reintegração do tema da agricultura e dos têxteis ao GATT. Para Hoeckman e Kostecki (1995) enquanto o GATT apresentou sucesso em promover a desgravação tarifária, no âmbito da OMC, negociar regras tornou-se crescentemente difícil ao longo do tempo. As barreiras tarifárias ao comércio tornaram-se relativamente menos importantes na medida em que foram sendo reduzidas. Dessa forma, a agenda multilateral de negociação foi gradualmente se expandindo em direção às barreiras não-tarifárias e às políticas domésticas com impacto no comércio. Hoeckman e Kostecki (1995) argumentam que esse movimento tornou o cenário ainda mais complexo, tendo em vista que o desafio de negociar a eliminação ou redução de barreiras não-tarifárias é muito maior do que o de negociar reduções tarifárias. Isso porque é muito menos claro que essas medidas sejam prejudiciais ao comércio internacional e ao bem-estar de países. Além disso, entende-se que Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 4

negociações nessas áreas, em contraste aos cortes de tarifas, representam jogos de soma-zero para os Estados. Diante da mesma questão Velasco (2005) afirma que: Na medida em que expande sua jurisdição e passa a legislar sobre matérias tradicionalmente situadas na esfera da política doméstica, a importância da OMC cresce exponencialmente no cálculo dos mais diversos atores (estatais e não estatais), que fazem o possível para atuar em seu âmbito com máxima efetividade. A contrapartida desse movimento é que a OMC tende a absorver os conflitos multidimensionais, superpostos e cruzados, em que esses atores se encontram lançados.(velasco 2005) Como explicita Odell esse processo gera problemas para a obtenção de consenso : The member states make decisions by consensus, but achieving consensus has become a much more demanding requirement than in the GATT s day. An analysis of the causes of paralysis identifies what will need to change to permit a resumption of movement toward new agreements to improve world trade. (Odell 2001) Segundo Velasco (2005), em princípio, dada a interdependência social e a mobilidade das fronteiras da instituição, os mais diferentes temas poderiam ser trazidos para a jurisdição da OMC. E isso efetivamente teria se concretizado na história da organização através dos novos temas e das discussões sobre a possibilidade de inserção em Doha dos controversos temas de Cingapura. Para Bhagwati (2001) esse processo de expansão temática representou a inclusão de temas não relacionados ao comércio e estimulou o acirramento do conflito entre países desenvolvidos e em desenvolvimento na OMC. Nesse sentido, a introdução de regras de proteção da Propriedade Intelectual foi bastante criticada por ser compreendida como uma imposição indevida aos países em desenvolvimento. Ademais, ao incorporar algo que, segundo o autor, não faria parte da essência da OMC abriu-se precedentes para outras propostas desse tipo. Dessa forma, ambientalistas, movimentos trabalhistas, ONGs, e outros lobbies teriam tido espaço para defender a incorporação de temas não relativos ao comércio, tais como cláusulas sociais ou ambientais. Essa tendência resultaria na desaceleração do processo de liberalização comercial. Por isso, Bagwhati defende a aplicação de um Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 5

critério mais estreito na definição do que deve ou não ser incorporado à OMC, propondo uma limitação maior da atuação da organização. The WTO will not get off to start with a new round until these tradeunrelated issues are shifted to other arenas; and indeed, as have argued above, that is exactly what the basic principles of international trade theory suggest should happen. (Bhagwati 2001) Outro aspecto importante da discussão e também resultante das mudanças ocorridas na Rodada Uruguai é a consolidação do princípio do single-undertaking no comércio de bens. A adoção desse princípio marca uma diferença substancial em relação às outras rodadas do GATT, essencialmente porque deixou de ser possível que um Estado, em função de suas preferências, aceitasse apenas parcialmente os resultados acordados. Ainda que tenha sido pensado como forma de incrementar a adesão dos Estados aos compromissos assumidos multilateralmente e possa, portanto, ser interpretado como um avanço no modelo de negociação, o princípio do singleundertaking vem sendo questionado e citado como fator contribuinte para o emperramento das negociações. Como expõem Tarasofsky e Palmer (2006), quando associado à diversidade temática, o single-undertaking tornaria mais complicado negociar questões sensíveis tais como a agricultura. O argumento do crescimento das tensões políticas atrelado à diversificação dos temas passa pela constatação de que, dessa forma, áreas sensíveis aos Estados são atingidas dentro de uma cruzada e complexa rede de negociação. O argumento de que entraves e impasses já faziam parte do sistema multilateral de comércio nos tempos do GATT e se repetiram outras vezes sob os auspícios da OMC refuta a idéia de que haja um nível crescente de dificuldade de negociação ou que, devido a diversos fatores, essas dificuldades possam ter mudado de natureza. Segundo essas avaliações, este tipo de acontecimento é compreendido como simples conseqüência da impossibilidade de se obter um acordo sobre questões pontuais entre os diversos Estados. De fato, reconhece-se a presença de tensões e conflitos políticos em vários outros momentos da história do GATT e posteriormente da OMC. Contudo, reconhecer tais problemas está longe de justificar o argumento de que nenhum tipo Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 6

de modificação qualitativa ocorreu. A simples comparação entre o tempo levado pelas sucessivas rodadas de negociação do GATT reforça o argumento das dificuldades crescentes: Se algumas das primeiras Rodadas do GATT duraram apenas alguns meses como, por exemplo, a Rodada Annecy, em Doha, as negociações já superam os 7 anos e estão bem longe do êxito. As dificuldades sempre existiram, mas não é disso que se trata aqui. O que afirmamos nesse trabalho é que elas aumentam e assumem nova forma na medida em que a agenda de negociação se amplia e a organização passa a assumir novas funções. Uma das novas funções adquiridas pela organização, como também, umas das distinções fundamentais entre o GATT e a OMC está na reforma do Órgão de Solução de Controvérsias. Essa mudança tinha como objetivo reforçar as bases legais da resolução de disputas e aumentar a capacidade de enforcement da organização. O mecanismo judicial presente na OMC, diferentemente do que existia no GATT, impede que Estados bloqueiem o estabelecimento de painéis. Assim, a resolução de controvérsias através da diplomacia e da barganha política, que até então favorecia os Estados de maior poder, apesar de ainda ser possível, perdeu espaço para um modelo de resolução mais legalista. Contudo, muitos autores defendem que a tentativa de aperfeiçoamento do sistema de resolução de disputas contraditoriamente ocasionou a exacerbação dos conflitos. Disputas que antes eram bloqueadas agora são resolvidas, apresentando muitas vezes resultados impopulares para certos Estados e motivando, até mesmo, críticas domésticas à participação dos mesmos em fóruns multilaterais. Alter (2003) sugere que ao mesmo tempo em que mais controvérsias são resolvidas, há evidências de que as disputas geram ainda mais disputas mesmo quando solucionadas: Estados derrotados em algum caso tendem a buscar abrir novas controvérsias contra seus acusadores para mostrar aos atores domésticos que há vantagens em ser membro da organização, como também, para adquirir moeda de barganha no campo do cumprimento das regras. O mecanismo de retaliação baseado na elevação de tarifas de importação gera restrição de comércio, indo no sentido contrário à liberalização. Ademais, questiona-se até que ponto membros como a UE acumulando bilhões em direitos de retaliação a serem despejados nos EUA pode beneficiar o comércio internacional. Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 7

Nessa linha de argumentação parece haver uma tensão entre ampliar o escopo e a capacidade de enforcement da organização ou manter a flexibilidade do sistema eliminando problemas. Ironically the greater ability to enforce WTO rules has contributed directly to the political difficulties that the WTO currently faces. (Alter 2003) A dinâmica que associa ampliação do papel regulador e aumento da demanda por decisões vinculantes sobre questões controversas esteve normalmente atrelada ao fortalecimento da instituição que a desenvolve. (Velasco 2005) Contudo, a condição de organização internacional faz com que na OMC esse movimento seja substancialmente diferente. Na medida em que passa a internalizar conflitos em dose crescente, ela tende a enfrentar problemas de legitimidade cada vez mais graves... e não tem meios para enfrentá-los. (Velasco 2005) As mudanças no sentido do fortalecimento e expansão do sistema multilateral de comércio resultaram na criação da OMC, mas, ao mesmo tempo, produziram inúmeros desafios a serem respondidos pela instituição. Como afirma Velasco (2005), as propostas de resposta apresentadas podem variar entre defesas da ampliação da organização e do estreitamento de sua atuação. Seja qual for a direção da mudança nesse domínio, a produção de normas econômicas internacionais tende a se dar no futuro mediante um processo cada vez mais politizado. Será tanto mais assim quanto maior for a redistribuição de poder operada no âmbito da economia internacional, e quanto mais graves forem os problemas por ela enfrentados. (Velasco 2005) A necessidade de se explorar sobre a Organização Mundial do Comercio nos Estados Unidos. O argumento construído neste trabalho parte da hipótese provisória de que as regras, formais e informais, de funcionamento da OMC (que incluem o voto paritário e a decisão por consenso), o aumento do corpo de afiliados e a expansão da agenda conduziram a uma maior politização das negociações comerciais e tornaram o processo decisório mais complexo e custoso, elevando a probabilidade de ocorrência de impasses. Dessa forma, à medida que se torna mais clara a percepção de tais problemas, tende a se intensificar o debate sobre a natureza e os procedimentos Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 8

internos da organização, dando origem a propostas de mudança ou reforma, de orientação diversa. Partindo desses pressupostos, este trabalho defende a importância de se examinar o debate sobre a OMC em um país específico, os EUA, em dois planos interligados -- o debate no meio acadêmico, e no universo da política comercial nos EUA --, e em duas de suas vertentes: na formulação de diagnósticos e na proposição de mudanças para sanar os problemas identificados. A ênfase no debate norte-americano como campo privilegiado de observação é certamente contestável já que a discussão em torno da OMC ocorre em todo o mundo. Entretanto, argumentos diversos podem ser apresentados em defesa da importância de se pensar especificamente a discussão nos EUA. O primeiro deles baseia-se essencialmente no peso da histórica influência política dos EUA na determinação dos rumos da organização: O país exerceu e segue exercendo um papel central em relação ao regime de comércio internacional. Como potência hegemônica, responsável por cerca de 49% do comércio global e de aproximadamente dois terços das reservas mundiais de ouro, os Estados Unidos foram os arquitetos do sistema multilateral de comércio na década de 40, como também, os principais protagonistas de todas as mudanças nele ocorridas desde então (com ênfase para a mudança constitucional produzida no curso da rodada Uruguai do GATT, a partir da qual se constitui a própria OMC), e pesarão de forma decisiva nas transformações que este sistema venha a sofrer em um futuro previsível. Vale ressaltar aqui a capacidade dos arquitetos de regimes internacionais de se beneficiarem mais do que outros Estados das instituições que criaram. A própria política comercial e posições negociadoras dos EUA têm impacto no funcionamento do sistema multilateral de comércio, sendo capaz de impor constrangimentos diretos aos processos de negociação. Wilkinson (2006) argumenta que, assim como as Rodadas Tóquio e Uruguai explicitaram, a maior parte das negociações GATT/OMC tem como verdadeiro prazo as datas de expiração da chamada Autoridade Presidencial dos EUA autoridade temporária concedida ao Presidente pelo Congresso norte-americano para negociar internacionalmente o tema do comércio - especialmente quando é improvável que essa autoridade seja renovada. Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 9

Ainda que o debate sobre a OMC seja mundial, mais do que qualquer outro país, ou grupo de países, são os Estados Unidos que dispõem de "meta-poder" (segundo Krasner (1985), capacidade de refazer as regras do jogo para adaptá-las a seus interesses e às suas circunstâncias), necessário para levar a cabo reformas da organização. Para os demais países, detentores de "poder relacional", o horizonte tende a ser dominado pelas disputas por ganhos no contexto das normas e das regras existentes. Por isso, o debate norte-americano, quando comparado aos que se desenvolvem em outros Estados, ocupa uma posição de destaque para quem se interessa pelos cenários alternativos de mudanças na OMC. O segundo conjunto de argumentos a ser apresentado em defesa da escolha que se faz neste trabalho refere-se às características e especificidades inerentes ao próprio debate norte-americano e à forma como ele é organizado. O aglomerado das manifestações sobre as negociações comerciais e sobre o papel da OMC em um país como os Estados Unidos é enorme. Trata-se de um debate rico e consideravelmente acessível em que podem ser encontrados os mais diversos entendimentos, consistindo, assim, uma amostra bastante adequada para uma análise que se pretende abrangente. Alguns aspectos do ambiente político norte-americano, como também, certos acontecimentos históricos favoreceram a emergência e a diversidade do atual debate. No campo da política comercial, a extensão da estrutura administrativa e da competição entre os atores burocráticos são elementos importantes para a diversificação das perspectivas expressas nesse debate. A quantidade de atores burocráticos que participam da formulação da política econômica internacional dos Estados Unidos é muito grande. São diversas agências, departamentos, conselhos, White House Offices e comitês do Congresso com algum tipo de jurisdição ou influência sobre a condução da política comercial. Esses atores burocráticos empregam, tanto no poder executivo como no poder legislativo, um grande número de funcionários os quais oferecem apoio técnico à tomada de decisões, através da coleta de informações, enumeração de opções de política, aconselhamento em assuntos variados e produção regular de relatórios e estudos diversos sobre temas de política e estratégia comercial, assim como, de economia em geral. Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 10

Cabe ressaltar que esse quadro nem sempre foi o mesmo. Cohen (2000) argumenta que organização e procedimentos para planejar, implementar e administrar a política econômica internacional dos EUA não foram necessários até depois da Segunda Guerra Mundial. Prior to 1934, trade policy consisted of little more than Congress passing laws changing tariff levels. (Cohen, 2000) Segundo Cohen (2000), mudanças estruturais na balança de poder econômico e o crescimento da interdependência e da competitividade externa na economia norte-americana, exigiram decisões de política mais intricadas e uma infra-estrutura de decision-making mais complexa. Dessa forma, o grau de relevância da política econômica internacional - até então pesadamente submetida ao controle do Departamento de Estado, tido como agência líder na área, e às necessidades da política de segurança nacional foi sendo gradualmente elevado. Mudanças administrativas aumentaram o número de agências nacionais envolvidas com a formulação da política econômica internacional, e dissolveram a partir dos anos 60 o antigo predomínio do Departamento de Estado. O aumento do número de atores burocráticos envolvidos em alguma medida com o tema do comércio acirrou a competição entre eles e estimulou a disputa de idéias dentro do debate no universo da política comercial do país, já que muitas vezes as necessidades e preferências políticas de tais atores divergem significativamente devido a suas prerrogativas, metas e interesses constituintes. Além disso, Cohen (2000) sugere que a definição da política de comércio internacional é muito mais imbricada do que a de outros campos da política econômica internacional, isso porque os centros de poder competidores participam de sua formulação de forma mais intensa do que participam, por exemplo, da formulação da política financeira internacional, tradicionalmente conduzida pelo Departamento de Estado. Apesar disso, as posições oficiais são apenas parte das manifestações que compõem o debate sobre a OMC nos EUA, sendo o setor privado uma fonte importantíssima de contribuições. As posições desse setor não são capazes de interferir diretamente na condução da política comercial dos EUA, tal como fazem os poderes executivo e legislativo, mas, segundo Cohen (2000) através de diversos meios de comunicação e de organização são capazes de transmitir ao governo uma Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 11

corrente constante de pontos de vista, representando, assim, uma terceira força com impacto no curso das decisões. Como define Cohen (2000) o termo setor privado nos EUA se refere a uma grande comunidade que inclui grupos nacionais e estrangeiros, setores da economia (setor manufatureiro; agrícola e de serviços), sindicatos, associações de consumidores, empresas e governos estrangeiros, think tanks, organizações nãogovernamentais ambientais, de direitos trabalhistas, de direitos humanos e de desenvolvimento. A atuação de lobbies e o ativismo de associações e organizações não governamentais no tema do comércio internacional são características marcantes do cenário político norte-americano. Washington está repleta de lobistas representando clientes diversos, inclusive companhias e Estados estrangeiros. The United States prides itself on pluralism and participatory government. Therefore, it is not surprising that so many senior economic and national security policy officials, elected politicians, candidates for public office, economists and political scientists, businessperson, labor leaders, consumers, lawyers and demagogues have collectively contributed to the inclusive debate about how the government should regulate trade flows. (Blecker, Cohen, Whitney 2006) O país conta com uma grande quantidade associações cobrindo as mais diversas temáticas. Cohen (2000) enfatiza, contudo, que as associações e grupos do setor privado voltados para outras questões de economia internacional como finanças, assistência econômica a países em desenvolvimento ou investimento externo, não atuam com tanta freqüência, nem são tão bem financiados como aqueles que se dedicam ao tema do comércio internacional. Segundo (Blecker, Cohen, Whitney 2006) existem mais de 20 mil associações comerciais, profissionais e sem fins lucrativos atuando hoje nos Estados Unidos com o objetivo de promover opinião pública e ações governamentais compatíveis com seus interesses e entendimentos. Contudo, também as contribuições do setor privado para o debate parecem ter se intensificado ao longo do tempo e em decorrência de alguns contextos específicos. (Blecker, Cohen, Whitney 2006) destacam como centenas de ONGs passaram recentemente a se interessar pelo tema do comércio internacional. Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 12

O USTR (United States Trade Representative), principal conselheiro, negociador e porta-voz do presidente em questões comerciais, em documento oficial, referiu-se, também a um recente crescimento do interesse sobre tais questões: Aditionally, an increase in national interest in US trade agenda has brought an increase in inquiries and requests from the press and public for USTR to provide information about US trade policy. (USTR 2007) (Blecker, Cohen, Whitney 2006) apontam como as negociações do NAFTA e o fracasso de parte do movimento trabalhista e de ONGs ambientais em barrá-las estimulou uma aliança entre os dois grupos que antes atuavam separadamente e reforçou o interesse pela política comercial. Ambientalistas acreditavam que o acordo elevaria a poluição na fronteira com o México, enquanto, associações trabalhistas temiam que ele resultasse em perda de empregos e em precarização das condições de trabalho. Ainda de acordo com (Blecker, Cohen, Whitney 2006) assim como o NAFTA, a criação da OMC e algumas das resoluções de seu mecanismo judicial de resolução de disputas foram uma espécie de catalisador do debate e das controvérsias em torno do comércio internacional nos EUA. Em 1998, uma conhecida decisão do Órgão de Solução de Controvérsias da OMC, contrariando a iniciativa dos Estados Unidos de restringir a importação de camarões pescados por meio de métodos danosos para espécies em extinção como tartarugas marinhas, foi percebida por ambientalistas como uma ameaça clara à implementação de medidas de proteção ambiental nacionalmente. O temor em relação à perda de empregos, e ingerências da OMC em temas como segurança nacional, saúde, meio-ambiente e direitos humanos motivou outros grupos a atuarem ao lado de associações trabalhistas e ONGs ambientais. Os protestos ocorridos na Reunião Ministerial da OMC em Seattle, 1999, marcam a consolidação desses movimentos voltados para a contestação da organização e a efervescência e diversificação do debate sobre a OMC nos Estados Unidos. Mais recentemente, em 2000, as discussões sobre a ascensão da China à OMC e sobre a normalização de relações comerciais com esse país deram novo fôlego ao debate e chamaram a atenção de associações comerciais, ativistas de direitos humanos e meio-ambiente, movimentos trabalhistas, acadêmicos e outros grupos de pressão. Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 13

Considerações Finais: II Simpósio de Pós-Graduação em Relações Internacionais do Ao olharmos superficialmente para este debate um conjunto imenso de visões e propostas de mudança em relação à Organização Mundial do Comércio é revelado. Opiniões extremadas coexistem no interior do ambiente político norteamericano, incluindo desde aqueles que se opõem à própria existência da OMC aos defensores incondicionais do livre comércio e do avanço da instituição. Acadêmicos, ONGs de desenvolvimento e Think Tanks apresentam propostas de reforma que variam entre enfoques nos procedimentos de funcionamento da organização - defendendo maior igualdade formal entre membros e maior transparência nos processos decisórios - e propostas de mudanças mais substanciais em torno do próprio conteúdo das negociações e das concessões que determinados países deveriam realizar. Parte do movimento trabalhista defende a inclusão de cláusulas sociais na instituição, ao mesmo tempo em que ambientalistas reivindicam a incorporação de preocupações efetivas com a defesa do meio-ambiente. Associações de consumidores e grupos preocupados com questões de saúde pública questionam a qualidade e a segurança de produtos importados, tais como alimentos, cosméticos, brinquedos e outros, defendendo a necessidade de consideração mais efetiva desses aspectos pela organização. Setores econômicos com tendências protecionistas pressionam para a redução da competição externa, por vezes tentando qualificá-la como injusta. Por outro lado, setores mais competitivos internacionalmente defendem o aprofundamento do processo de liberalização comercial, exigem o cumprimento das regras de comércio internacional por parte de outros Estados, e criticam medidas nacionais de restrição de importação que elevam o custo das importações utilizadas em seus processos produtivos. Trata-se de uma discussão extremamente complexa, em que diferentes argumentos e forças se cruzam sem que seja possível falar de antemão em um sentido pré-determinado. Longe de ser neutro, esse debate tem influência sobre a formulação da política comercial e sobre as posições negociadoras dos Estados Unidos no sistema multilateral de comércio. As diferentes visões nela contidas refletem, sobretudo, as disputas entre os diversos grupos de pressão para que a Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 14

condução das ações oficiais seja favorável aos seus interesses e crenças, ou seja, uma disputa pelo convencimento de que sua política é a melhor opção ou a própria definição do que se entende por interesse nacional. Em resumo, este trabalho chama a atenção para a necessidade de se compreender o debate norte-americano sobre a OMC, especialmente no atual contexto de dificuldades de avanço das negociações comerciais na arena multilateral. Cabe ressaltar que o esforço aqui realizado foi apenas no sentido de justificar a importância de se explorar esse debate, tendo sido necessário para tanto uma rápida apresentação de suas características mais gerais e que uma tentativa satisfatória de compreensão desse assunto exige uma investigação muito mais longa e aprofundada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALTER, K. Resolving or exacerbating disputes? The WTO s new dispute resolution system. International Affairs. v. 79, n.4, p. 783-800, 2003. BHAGWATI, J. After Seattle: Free Trade and the WTO. International Affairs. v.77, n.1, p. 15-29, 2001. BLECKER, R. A.; COHEN, S. D.; WHITNEY, P. D. Fundamentals of U.S foreign trade policy: Economics, Politics, Laws and Issues. Boulder: Westview press, 2003. CARVALHO, M. I. Condicionantes institucionais e políticos e poder de barganha nas negociações internacionais sobre agricultura: o caso da União Européia. Revista Brasileira de Política Internacional. Brasília, v. 49, n.2, jul./dez. 2006. Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php>. Acesso em 2 set. 2008 CASTLE, S. For Global Trade Talks, the Stakes Have Risen. The New York Times. 19 jul. 2008. Disponível em : <http://www.nytimes.com>.acesso em 8 set. 2008. COHEN, S. D. The making of US International Economic Policy: Principles, Problems, and Proposals for Reform. Greenwood Publishing, 2000. GOLDESTEIN, J.L.; RIVERS. D.; TOMZ, M. Institutions in International Relations: Understanding the Effects of the GATT and the WTO on World Trade. International Organization. v.61, p. 37-67, 2007. HOECKMAN, B.; KOSTECKI, M. The Political Economy of the World Trading System: From GATT to WTO. Oxford: Oxford University, 1995. Disponível em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 15

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