PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR (PNAE) EM DOIS IRMÃOS-RS

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Transcrição:

PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR (PNAE) EM DOIS IRMÃOS-RS B. BERWIAN 1, S. WESCHENFELDER 2 1- Nutricionista - Universidade Feevale CEP 93525-075 Novo Hamburgo RS BRASIL, Telefone (51) 35868800 E-mail: barbaraberwian@feevale.br 2- Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Docente do curso de Nutrição Universidade Feevale - CEP 93525-075 Novo Hamburgo RS BRASIL, Telefone (51) 35868800 E-mail: simoneweschenfelder@hotmail.com RESUMO O objetivo deste trabalho foi apresentar o panorama da aquisição de alimentos da agricultura familiar (AF) através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), no município de Dois Irmãos, Rio Grande do Sul. O PNAE é gerenciado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que destina os recursos financeiros aos municípios destinados a suprir, parcialmente, as necessidades nutricionais dos alunos. O trabalho foi realizado através de entrevistas semiestruturadas com quinze agricultores familiares através de visitas in loco e a houve a participação da nutricionista do município. Os resultados encontrados foram satisfatórios, considerando que o município de Dois Irmãos atingiu, nos últimos cinco anos, o mínimo de 30% do valor repassado com a aquisição de alimentos da AF, encontrando uma variedade de gêneros alimentícios que respeitam a sazonalidade e o contexto local; contribuindo para geração de renda e garantindo uma maior Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) das famílias envolvidas. ABSTRACT The objective was to present the panorama of family farming food acquisition through the Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), in the city of Dois Irmãos, Rio Grande do Sul. PNAE is managed by Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) - National Fund for Education Development that allocates financial resources to the counties to partially meet the nutritional needs of students. This research was performed by semi-structured interviews with fifteen family farmers through on-site visits and the participation of the county nutritionist. The Research Ethics Committee of Feevale University (RS) approved this study under notion number: 2,086,787. The results obtained were satisfactory considering that Dois Irmãos county reached, in the last five years, the minimum of 30% of the received amount for the acquisition of food from family farming, finding a variety of food kinds that respect seasonality and the local context; contributing to income generation, and ensuring higher Nutritional Food Safety (SAN) of the families involved. PALAVRAS-CHAVE: PNAE; Agricultura Familiar; Alimentação Escolar; Produção de alimentos em pequena escala. KEYWORDS: PNAE; Family Farming; School Feeding; Small-scale food production. 1. INTRODUÇÃO O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) foi instituído inicialmente, pelo decreto nº 37.106, como Campanha de Merenda Escolar em 1955, pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) (Brasil, 1955), com o objetivo de reduzir a desnutrição escolar e melhorar hábitos alimentares dos alunos. Passou efetivamente a se denominar PNAE em

1979, sendo que, desde sua criação até o ano de 1993, a execução era realizada de forma centralizada, isto é, o órgão gerenciador se responsabilizava por todo o processo de aquisição e distribuição dos alimentos através de processos licitatórios (Fnde, 2017). Em 1994, mediante a Lei nº 8.913, delegou-se esta administração às Secretarias de Educação dos municípios, com envolvimento dos Estados e do Distrito Federal, como forma descentralizada, em que se determinou que o repasse fosse direto às Entidades Executoras (EE), tendo estas a responsabilidade da regulamentação, assessoramento financeiro, coordenação, supervisão, cooperação técnica e fiscalização na execução das ações do programa (Rodrigues, 2013). Historicamente, o PNAE passou por importantes mudanças, uma delas, em especial, trouxe muitos benefícios e refere-se à forma como os gêneros alimentícios passaram a ser adquiridos para a alimentação escolar. Apesar da existência de outros Programas Públicos, como, por exemplo, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), instituído em 2003 (Lei n.º 10.696), que já vinha beneficiando o público alvo deste trabalho, os agricultores familiares, tendo como objetivo garantir o acesso a alimentos de qualidade para população em insegurança alimentar (Turpin, 2009). A promoção da agricultura familiar, ligada diretamente ao PNAE, passou a ter forma de Lei n.º 11.947 em 16 de junho de 2009 (Brasil, 2009), estipulando a obrigatoriedade da utilização de no mínimo 30% do total de recursos repassados pelo Governo Federal à compra de gêneros alimentícios oriundos da AF local ou regional. Esta iniciativa colaborou para a consolidação da importância do papel social do Programa para atender a alimentação escolar com alimentos que sejam de qualidade, pois a aquisição de um percentual mínimo de gêneros alimentícios fortalece a produção dos AF e contempla a proposta do programa, que é gerenciado pelo Ministério da Educação (Saraiva et al. 2013). As chamadas públicas são os instrumentos administrativos usados pelas prefeituras para proporcionar o contato inicial com os agricultores familiares, no âmbito de estratégias para compras públicas sustentáveis. Os órgãos responsáveis devem oferecer as informações necessárias integrantes da AF com interesse em fornecer os gêneros alimentícios para a alimentação escolar e realizar a divulgação dessas chamadas (Aguiar e Calil, 2016). O fortalecimento do programa PNAE evoluiu nos últimos anos, frente às novas proposições das políticas alimentares brasileiras (Peixinho, 2013), seja pela concretização de mudanças na forma de aquisição dos recursos para a compra dos alimentos básicos, para a elaboração de cardápios, que devem ser diversificados, respeitando hábitos alimentares de cada região, havendo um grande estímulo e apoio à produção da AF e dos Empreendedores Rurais, devendo ser priorizada, sempre que possível, a compra dos alimentos orgânicos e/ou agroecológicos (Santos et al. 2014). Isso é relevante para a formulação e a implementação de ações de políticas públicas objetivando Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e de desenvolvimento local, por meio de geração de renda, que visem promover o Direito Humano à Alimentação (Saraiva et al. 2013; Fao, 2014). O objetivo deste estudo foi apresentar o panorama da aquisição de alimentos da agricultura familiar, através do PNAE, no município de Dois Irmãos - RS, e relacioná-lo à SAN das famílias de agricultores envolvidas. 2. MATERIAL E MÉTODOS

Para verificar se o município de Dois Irmãos atingiu o mínimo de 30% do valor de repasse pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Escolar (FNDE) para aquisição de alimentos da agricultura familiar, foi acessado o site do FNDE e foram tabulados os dados relativos ao período de 2011 a 2015, de acordo com o percentual médio dos valores investidos na aquisição de gêneros alimentícios da AF. Para entrevista com a nutricionista, foi elaborado um questionário semiestruturado para verificar se existem dificuldades para a compra de alimentos da agricultura familiar. Os agricultores familiares que forneceram alimentos para o PNAE foram acessados através da colaboração do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, a partir de contato com o presidente. Como critério de inclusão para participação do estudo, os agricultores familiares precisavam fornecer alimentos para o PNAE desde 2011, residir no município de Dois Irmãos e aceitar participar da pesquisa. As entrevistas foram realizadas no período de maio a junho de 2017. Para verificar o que a comercialização de alimentos para o PNAE representa na SAN das famílias envolvidas, foi utilizado um questionário semiestruturado, constituído de perguntas fechadas e abertas. As entrevistas foram realizadas através de visitas in loco, nas propriedades rurais dos agricultores. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Feevale (RS), sob número de parecer: 2.086.787, sendo que a coleta de dados foi iniciada somente após a aprovação pelo referido comitê. Os cuidados éticos deste estudo foram fundamentados nas definições da resolução n 466/12, do Conselho Nacional de Saúde (Brasil, 2012). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O município adquiriu respectivamente ao longo dos anos de 2011 a 2015 68,95; 48,71; 82,81; 34,08; 71,21% de alimentos da AF. Considerando que os municípios devem destinar pelo menos 30% do valor repassado pelo FNDE com a aquisição de alimentos da AF, percebe-se que em Dois Irmãos estes valores foram atingidos, destacando-se o ano de 2013, no qual o percentual chegou a 82,81%. Estes resultados sinalizam a qualidade dos alimentos ofertados às crianças, principalmente no que se refere ao consumo de alimentos sazonais e à redução do consumo de alimentos processados e ultraprocessados. De acordo com o Guia Alimentar da População Brasileira, essa prática orienta o consumo, preferencialmente de alimentos in natura e/ou minimamente processados e destaca a importância do consumo de alimentos regionais (Brasil, 2014), por serem de baixa densidade energética, que se inserem na dieta e em combinações com outros alimentos, compondo preparações culinárias e refeições adequadas e saudáveis, tais como alguns grupos de frutas e hortaliças, verduras reconhecidas como marcadores de um padrão saudável de alimentação (Jaime et al. 2015). Respeita-se, dessa forma, a resolução CD/FNDE nº 26/2013, que restringe a compra de alimentos embutidos, semiprontos ou prontos, com elevada concentração de sódio (Szinwelski et al. 2015). Triches e Schneider (2010) já discutiam a relação entre produção e consumo e a aquisição de produtos da agricultura familiar sobre o programa no município de Dois Irmãos, afirmando que a compra de alimentos de agricultores para a merenda escolar vinha promovendo mudanças na prática alimentar das crianças. Perceberam, nos depoimentos das merendeiras, que os alimentos vinham mais frescos, eram de melhor qualidade e eram melhor aceitos por parte dos alunos.

Quando questionada se existem dificuldades em adquirir alimentos pela agricultura familiar a nutricionista declarou que existem, apesar de o município ser inovador na compra de alimentos da AF. Também afirmou que, com o passar dos anos, o processo de aquisição dos gêneros alimentícios foi se desenvolvendo cada vez mais, pois os agricultores contam com a participação de entidades articuladoras como o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a Associação Rio-grandense Empresa Assistência Técnica Extensão Rural EMATER em Dois Irmãos, que contribuem para mediar o processo e facilitar as barreiras burocráticas encontradas. Os dados coletados junto ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Dois Irmãos remeteram à 15 agricultores familiares, que foram entrevistados, pois se adequavam aos critérios de inclusão no estudo, ou seja, forneciam alimentos de 2011 a 2015 para o PNAE. Existem mais agricultores familiares cadastrados no PNAE do município, assim como outros moradores de cidades vizinhas, que fornecem alguns gêneros alimentícios para o PNAE, porém estes não se enquadravam nos critérios de inclusão do estudo. Foram contabilizadas 50 pessoas que residem nas propriedades; e destas, 28 (56%) estão envolvidas diretamente com a produção de alimentos. Estes agricultores contam com o serviço de outras 14 pessoas que não residem na mesma propriedade, sendo que algumas têm algum vínculo familiar próximo com o agricultor entrevistado, e outras, não. Foi verificado se a renda da família dependia exclusivamente da AF, considerando que mais pessoas poderiam residir na propriedade, obtendo renda de outras fontes. Verificouse que 11 famílias (73,33%) não dependem exclusivamente da renda da AF e 04 (26,66%) dependem. A totalidade dos entrevistados responderam que a comercialização de alimentos para o PNAE contribui para a geração de renda e a permanência da família no campo. A comercialização de alimentos para o PNAE é mencionada como uma venda garantida, com valor acima do mercado. Para Szinwelski et al. (2015), em estudo realizado com 10 agricultores familiares, em Seara Santa Catarina, que forneciam alimentos para o PNAE, o programa contribui para manter as famílias no campo, apesar de a renda não ser exclusiva da venda de gêneros alimentícios. Os agricultores familiares permaneciam confiantes e dispostos a continuar fornecendo gêneros alimentícios para as escolas, por receberem preços mais justos pelo seu trabalho. Assim, percebe-se uma semelhança entre a fala dos agricultores de Seara e a dos agricultores familiares de Dois Irmãos, o que mostra como o PNAE contribui para a SAN dos envolvidos. Os agricultores familiares entrevistados relatam preocupação para oferecer uma alimentação mais saudável às crianças, todos os entrevistados consideram que os alimentos que estão fornecendo são: sem/ou com menos uso de agrotóxicos, in natura, orgânico, mais saudáveis (menos processados) e com inspeção sanitária anual, além de oferecerem vitaminas e nutrientes importantes para alimentação das crianças. Conforme salientam Szinwelski et al. (2015), alimentos frescos, que vêm direto da AF, com certeza serão mais saudáveis, e o produto sempre será melhor. Além disso, fomentam o gosto pelas coisas de sua terra e levam a conhecer e respeitar quem os produz (Boog, 2004). Todos os entrevistados dizem estar 100% satisfeitos em participarem do PNAE. Isso lhes proporciona uma garantia de renda, tendo estes maior certeza de que os gêneros alimentícios que estão produzindo serão comercializados e, além disso, referiram receber pagamento em dia pelos produtos fornecidos. A participação dos agricultores familiares

também lhes proporciona oportunidades de socialização, e alguns já pensam em novas possibilidades comerciais de fornecerem outros gêneros alimentícios. Os agricultores entrevistados para o estudo de Szinwelski et al. (2015) foram unânimes em responder que estão satisfeitos em participar do Programa, por acharem-no positivo em virtude da renda ser garantida, complementando outras rendas e melhorando o orçamento da família. 4. CONCLUSÕES Constatou-se neste estudo que, no município de Dois Irmãos, o processo de aquisição de alimentos da agricultura familiar para a alimentação escolar está em consonância com as recomendações governamentais para execução do programa, apresentando em todos os anos analisados o percentual mínimo de 30%, chegando a 82,81% em 2013. O principal aspecto considerado na fala dos agricultores familiares é que os gêneros alimentícios comercializados geram renda, e, garantem a permanência deles no campo. Por fim, que o PNAE, além de contribuir para geração de renda, proporciona alimentos saudáveis para as crianças. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aguiar, J. A.; Calil, R. M. (2016). Análise e avaliação das especificações dos alimentos contidas em editais de chamadas públicas do PNAE. Vigilância Sanitária em Debate: Sociedade, Ciência & Tecnologia. 4(2), 79-87. Disponível em: <https://visaemdebate.incqs.fiocruz.br/index.php/visaemdebate/article/view/580/309>. Boog, M. C. (2004). Contribuições da educação nutricional à construção da segurança alimentar. Saúde em Revista. 6(13), 17-23. Disponível em: <http://educacaoemnutricao.com.br/documentos/contribuicaesdaeducacaonutricionalaconstruc aodasegurancaalimentar22127.pdf>. Brasil, Câmara dos Deputados. (1995). Institui a Campanha de Merenda Escolar. (Decreto n. 37.106, de 31 de março de 1955). Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasil, Presidência da República Federativa do Brasil. (2009). Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica. (Lei n 11.947 de junho de 2009). Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasil, Conselho Nacional de Saúde. (2012). (Resolução no. 466, de 12 de dezembro de 2012). Brasil, Ministério da Saúde. (2014). Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. 2. ed., 1. Reimpressa Brasília: Ministério da Saúde, 2014, p. 8 e 11. Fao, (2014). Estado da segurança alimentar e nutricional no Brasil: Um retrato multidimensional. Brasília: FAO, 2014. Disponível em: <https://www.fao.org.br/download/sofi_p.pdf>. Fnde, (2017). Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Programa Nacional de Alimentação Escolar. Histórico. Brasília: FNDE; 2017. Disponível em: <http://www. fnde.gov.br/programas/alimentacao-escolar/alimentacao-escolar-historico>. Acesso em: 07 mar. 2017.

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