PRÁTICA DE ENSINO E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO: DESENVOLVIMENTO DE ATITUDES INVESTIGATIVAS PARA A DOCÊNCIA

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Transcrição:

PRÁTICA DE ENSINO E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO: DESENVOLVIMENTO DE ATITUDES INVESTIGATIVAS PARA A DOCÊNCIA Gislene Miotto Catolino Raymundo Professora do Instituto Federal de Santa Catarina -IFSC Resumo: O presente trabalho objetivou analisar como a Prática de Ensino e o Estágio Curricular Supervisionado são compreendidos e vivenciados nos cursos de formação inicial de docentes, especificamente verificar as possibilidades de os componentes curriculares contribuírem para o desenvolvimento de atitudes investigativas durante o processo formativo. A fundamentação teórico-prática e a reflexão envolvendo esses componentes são de fundamental importância, pois a formação inicial de professores possibilita o ensino e a investigação pedagógica como unidade do trabalho docente, objetivando a articulação reflexiva entre os conhecimentos teóricos e a prática vivenciada nas escolas, campo de estágio. Dessa forma, nesta pesquisa, busca-se analisar como o curso de Pedagogia de uma instituição de ensino superior, localizado no norte do Paraná, adequou a Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado por meio das novas Diretrizes Curriculares para a formação de professores e o quanto esses componentes curriculares contribuem para o desenvolvimento de uma prática reflexiva sobre os acontecimentos que se dão em sala de aula, de forma a buscar a sua compreensão, para possibilitar ações docentes concretas e efetivas que atendam aos inúmeros desafios do trabalho docente no cotidiano escolar. Para o desenvolvimento desta pesquisa, optou-se por uma abordagem de cunho qualitativa, sendo realizada a coleta dos dados por meio de análise documental e questionários aplicados aos docentes e acadêmicos, principalmente daqueles que já atuavam como docentes da educação básica. A análise desses documentos permite identificar o quanto a Prática de Ensino e o Estágio são concebidos como espaço e tempo que possibilitam ao acadêmico, a partir de situações reais de ensino, desenvolver um olhar investigativo sobre a realidade escolar. Palavras-chave: estágio supervisionado; prática de ensino; formação inicial. Introduzindo a questão Essa pesquisa objetivou analisar a possibilidade de o Estágio Supervisionado e a Prática de Ensino, durante o processo de formação inicial, contribuírem para desenvolver o olhar investigativo sobre o contexto de atuação profissional, especificamente dos acadêmicos do curso de Pedagogia que já atuam como professores da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, e assim, possibilitar a formação de profissionais capazes de solucionar os desafios existentes na dinâmica interna da sala de aula. Segundo Miranda e Silva (2008), os acadêmicos ao serem orientados a desenvolver um olhar atento e uma escuta sensível sobre os acontecimentos que ocorrem na escola, campo de estágio, terão possibilidade de compreender a complexidade das relações que 5247

2 se estabelecem no ambiente escolar, especificamente no processo ensino e aprendizagem. Para o desenvolvimento deste estudo optou-se por uma abordagem de cunho qualitativa, sendo realizada a coleta dos dados por meio de análise documental e questionários aplicados para quatro professores que trabalham diretamente com o Estágio Supervisionado na instituição pesquisada e catorze discentes do curso de Pedagogia que já atuam como professores regentes na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental. Para selecionar esses acadêmicos como sujeitos desta pesquisa, considerou-se o pressuposto de que, no decorrer do curso de Pedagogia, especificamente na realização do estágio supervisionado, eles tiveram a possibilidade de (re)significar seus saberes docentes, refletindo sobre as experiências que traziam da sua prática pedagógica, e assim projetar um novo conhecimento sobre o seu fazer. Dessa forma, esses sujeitos puderam confirmar ou não se a realização do Estágio Supervisionado do curso de Pedagogia contribui para desenvolver uma prática reflexiva sobre os acontecimentos que se dão em sala de aula, de forma a buscar a sua compreensão, para desenvolver uma postura investigativa que atendam aos inúmeros desafios do trabalho docente no cotidiano escolar. Prática de Ensino e Estágio Supervisionado: lócus formativo para o desenvolvimento de atitudes investigativas? Essa pesquisa não tem a pretensão de transformar a formação de professores em formação de pesquisadores, mas em refletir sobre uma formação em que o professor, especificamente o de educação básica, esteja instrumentalizado pela pesquisa, possibilitando-lhe a vivência de um processo formativo que prioriza o desenvolvimento de uma atitude investigativa, subsidiando-lhe a detectar os problemas do cotidiano escolar e procurar, na literatura pedagógica, na troca de experiências com os colegas e na utilização de diferentes recursos, soluções para responder aos diferentes desafios da prática escolar, independente de se atribuir ou não o rótulo de pesquisa a esse tipo de formação (SANTOS, 2006). Nesse sentido, Santos continua afirmando que O que está sendo enfatizado é a necessidade de se formar um docente inquiridor, questionador, investigador, reflexivo e crítico. Problematizar criticamente a realidade com a qual se defronta, adotando uma atitude ativa no enfrentamento do cotidiano escolar, torna o docente um profissional competente que, por meio de um 5248

3 trabalho autônomo, criativo e comprometido com ideais emancipa tórios, coloca-o como ator na cena pedagógica. O estágio, a partir de uma prática investigativa, possibilita ao futuro professor sair da atitude de imitação para a atitude de apreensão e elaboração própria, coincidindo com o criar, emancipar-se e dialogar com a realidade educativa, visando à sua compreensão e à construção de novos caminhos para a prática docente (BARREIRO; GEBRAN, 2006, p. 119). No relato a seguir, o acadêmico afirma que o estágio, especificamente o período de observação, constituiu um momento propício para desenvolver um olhar inquiridor sobre a prática pedagógica. No entanto, adverte que: E mais, não pode ser uma mera imitação de modelos. É preciso unir a teoria e a prática e ser capaz de analisar criticamente os prós e os contras da ação pedagógica observada, elaborando através de sua análise seu próprio modo de ser. (A-5) 1 mesmo já tendo a prática em sala, com o curso superior e o estágio, o meu trabalho passou a ter muito mais qualidade, por entender e conhecer a teoria e também o porquê e para que fazer. (A-12) O estágio supervisionado, na maioria das vezes, é o primeiro contato do futuro educador com a realidade escolar, oportunizado compartilhar construções de aprendizagem, bem como a aplicação do aprendizado teórico na prática da profissão escolhida. (A-1) Nessa perspectiva, o estágio deixa de ser um treino e aplicação de técnicas para se constituir em um dos momentos da formação do futuro professor, possibilitando-lhe a vivência de um fazer pedagógico que tenha sentido, pois lhe proporciona oportunidades educativas que articulam teoria e prática, levando-o à reflexão de sua ação profissional. Na instituição pesquisada, o acadêmico é acompanhado e orientadopelo professor orientador de estágio e também é auxiliado pelos professores das demais disciplinas do currículo. Neste sentido, o acadêmico relata: O presente trabalho teve apoio, orientação e a fundamentação teórica das docentes das disciplinas de Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Matemática, Ciências, História, Geografia e Língua Portuguesa como também da Prática da Educação Básica, de forma interdisciplinar, para desenvolver nas futuras docentes um olhar reflexivo e investigativo (Relatório de Estágio, p. 18). André (2006) em seu texto O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores, discutindo sobre o espírito investigativo na formação inicial do docente, afirma que é extremamente importante que ele aprenda a observar, a formular questões e hipóteses e a selecionar instrumentos e dados que o ajudem a elucidar seus problemas e a encontrar caminhos alternativos na sua prática docente (ANDRÉ, 2006, p. 59). 5249

4 Nesta perspecitava, percebe-se que o uso da investigação deve ocorrer desde o processo de formação inicial, promovendo o desenvolvimento de habilidades e atitudes que possibilitem o futuro professor durante a realização do estágio perceber como o aluno reage e interage frente aos desafios propostos por conteúdos novos, e também analisar de que maneira acontece a intervenção do professor (A-8). A realização do estágio supervisionado deve constituir um espaço propício à construção da atitude investigativa, possibilitando aos futuros docentes o delineamento de caminhos que lhes permitam interrogar e refletir sobre a sua futura prática profissional, constituindo um momento de estudos que tem a finalidade de colocar o aluno em contanto com situações que o aproximam da realidade de sua futura atuação profissional (P-03). O desenvolvimento da atitude investigativa pode ser constatada no relato a seguir: Esse processo investigativo que aconteceu durante o estágio de observação serviu para verificar as dificuldades dos alunos e também como ocorria a intervenção pedagógica e de que maneira eram feitas. Também buscamos verificar como a criança elabora seu conhecimento e como podemos verificar se ela aprendeu ou não aprendeu (Relatório de Estágio, p. 02). Com o desenvolvimento da capacidade investigativa dos professores, teremos a oportunidade de formar um profissional reflexivo e com domínio dos conhecimentos específicos e pedagógicos, que fará de sua prática docente um processo contínuo de investigação. Certamente, formaremos um docente que poderá problematizar a realidade com a qual irá se defrontar, adotando uma prática docente investigativa que colabore com a formação de um cidadão responsável e compromissado como seu entrono social. O relato abaixo aponta essa perspectiva formativa, pois considera: o estágio supervisionado extremamente relevante para a vida profissional dos acadêmicos, pois oportuniza a realização de observações investigativas, fazendo-os perceber quais são as necessidades, dificuldades e os progressos dos alunos, em várias situações de aprendizagem e como são estabelecidas as relações afetivas entre professor-aluno, aluno-aluno, na instituição campo de estágio. (A-3) Analisando os relatos dos acadêmicos do curso de Pedagogia do Cesumar pode-se perceber que a Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado enquanto eixos articuladores no processo de formação inicial de professores possibilitam o ensino e a investigação pedagógica como unidade do trabalho docente, objetivando a articulação reflexiva entre os conhecimentos teóricos e a prática vivenciada pelos acadêmicos nas escolas, campo de estágio. A vivência desta relação é confirmada pela professora orientadora de estágio ao testemunhar que: 5250

5 essa articulação se torna presente quando o aluno se apossa de fundamentos teóricos necessários para compreender a situação pedagógica, social, contextual para sua inserção no campo-estágio. Ao mesmo tempo em que leva as teorias para o estágio, volta com as observações investigativas para retomar as teorias e tentar compreendê-las pra mudar a realidade observada. (P-1) Fundamentado com subsídios teórico-prático e também com orientação do professor de estágio, o estagiário terá condições de realizar um diagnóstico da realidade escolar, possibilitando o desenvolvimento de um olhar investigativo sobre o processo ensino e aprendizagem. Conclusões provisórias Com a análise dos dados coletados dos questionários e dos relatórios do curso de Pedagogia se verificou a possibilidade de mobilização dos saberes teóricos e práticos capazes de propiciar aos acadêmicos do curso de Pedagogia, que já atuam como docentes na educação básica, a investigação de sua própria atividade e, a partir dela, construir seus saberes num processo contínuo, de modo a se colocar como atores partícipes de suas práticas. Dessa forma, a Prática de Ensino e o Estágio Curricular Supervisionado deixam de ser um treino e aplicação de técnicas para se constituir em um dos momentos da formação do futuro professor, possibilitando-lhe a vivência de um fazer pedagógico que tenha sentido, pois lhe proporciona condições para a formação de um profissional com domínio dos conhecimentos específicos e pedagógicos, que fará de sua prática um processo contínuo de investigação e formação. Referências:ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2005. ANDRÉ, Marli (Org.). O papel da pesquisa na formação e prática dos professores. 5. ed. Campinas, SP: Papirus, 2006. p. 11-26. BARREIRO, Iraíde Marque de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Prática de Ensino e Estágio Supervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006. MIRANDA, Maria Irene; SILVA, Lazara Cristina da. Estágio Supervisionado e Prática de Ensino. São Paulo: Junqueira&Marin, 2008. SANTOS, Lucíola P. C. P. Dilemas e perspectivas na relação entre ensino e pesquisa. In: ANDRÉ, Marli (Org.). O papel da pesquisa na formação e prática dos professores. 5. ed. Campinas, SP: Papirus, 2006. p. 11-26. 1 : Com o intuito de se manter o sigilo em relação aos participantes, denominou-se os acadêmicos pela letra A, assim, eles foram numerados de A-1 a A-14. Da mesma forma os professores foram denominados pela letra P, sendo também numerados de P-1 a P-4 5251