1 TRABALHANDO A QUÍMICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS, COM A CONFECÇÃO DE PRODUTOS DE LIMPEZA. Maria Amélia de Mello Silva 1 RESUMO Atualmente consumimos uma enorme quantidade de produtos derivados de sabões e detergentes em nosso cotidiano.por esse motivo, saber como essas substâncias são produzidas, como agem e como são degradadas pela natureza, torna-se fator importante para que nossa interação com o meio seja mais madura e consciente. Ao trabalhar na Educação de Jovens e Adultos (EJA) é necessário desenvolver propostas de ações pertinentes, a partir da troca de vivências com seus educandos, é de suma importância que se estabeleça um diálogo entre sua atuação em sala de aula e suas experiências pessoais, práticas culturais,comunitárias e sociais ao longo do tempo. Palavras Chaves : saberes populares, práticas coletivas, cultura científica. INTRODUÇÃO Tornam-se cada dia mais indispensável o ensino científico destinado a formar cidadãos, para que tenham informações suficientes a fim de acompanhar os progressos da ciência e o impacto das novas tecnologias sobre sua vida diária, avaliando-os de forma cr tica.faz-se necessário que o desenvolvimento dos conteúdos, sejam orientados por uma prática integrada, isto é, trabalhar química como um campo de conhecimento, que se preocupa em explicar e entender os diferentes fenômenos que ocorram na natureza, de forma a possibilitar a compreensão de que, no planeta em que vivemos, tudo está interligado e que o homem faz parte desta natureza assim como os outros seres. Nesse sentido Favero (1999) nos diz que : O educador que tem interesse em trabalhar na formação de jovens e adultos precisa não só conhecer os conteúdos que perpassam a realidade, mas também compreender as estratégias utilizadas em sua construção e 1 Especialista Química UNIJUI Professora do Departamento de Ciências Exatas e da terra Curso de Química Licenciatura EJA - UNICRUZ
transmissão.só assim estará aberto para entender como esses processos constituídos fora da escola, interferem na forma de aprender. O educador da EJA não poderá utilizar somente transmissão de conteúdos prontos e estanques pois estes geram um conhecimento abstrato pouco prático e desvinculado da vivência e dos problemas sociais do educando.a relação de conteúdos deverá ter uma visão integrada com o cotidiano dos alunos, dando significado aos conceitos, explicando fatos e objetos que lhe são próximos, o que aumenta a curiosidade e incentiva a aprendizagem cientifica. A apropriação pelo educando, desta cultura científica básica deve oportunizar a formação de um indivíduo com capacidade de entender as limitações da atuação do homem sobre a natureza e favorecer o desenvolvimento de um raciocínio capaz de prever alternativas satisfatórias para o bom aproveitamento dos recursos naturais. É fundamental desenvolver atividades que despertem a observação, estimulem o espírito crítico e promovam o conhecimento do Jovem e Adulto, incorporando as práticas coletivas associando-as aos saberes populares.essa abordagem situa o educando como centro do processo de aprendizagem, dando respostas significativas ao seu viver. Freire (2002, p 77) afirma que : Aprender é uma aventura criadora,algo, por isso mesmo muito mais rico do que meramente repetir a lição dada.aprender para nós é construir,constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito. A Educação de Jovens e Adultos é o resultado do empenho coletivo entre os educadores em organizar ações que, respeitem os diferentes níveis de conhecimento dos educandos e experiências de vida como seres humanos e trabalhadores, buscando sua interação com o meio sociocultural, oportunizando-se experiências educativas que incentivem o gosto pelo conhecimento.
É preciso que a química seja percebida como algo útil e significativo e isso ocorrerá na medida que o educador mantiver uma relação recíproca dos conhecimentos científicos com o mundo atual e vivido pelos alunos. Nesse contexto, o educador, não pode limitar-se à condição de simples transmissor de conhecimentos presentes em programas, muitas vezes, fora da realidade de atuação..este deve constituir-se como mediador do processo de ensino- aprendizagem, desencadeando um programa de ensino, partindo das vivências de seus alunos, possibilitando que os mesmos criem e aperfeiçoem instrumentos práticos e teóricos específicos da química, permitindo-lhes o inicio da compreensão do fato químico ligando a natureza e a ação humana específica e que possam participar ativamente do contexto cultural a que estão inseridos. A partir da análise realizada, buscou-se aliar a teoria com a prática no sentido de enriquecer os conteúdos tradicionais e fazer com que o educando perceba que estudar química não é só decorar fórmulas, memorizar fatos,símbolos e nomes, mas sim que a vida cotidiana é relacionada com esta Ciência e perceba as relações existentes entre aquilo que estuda na sala de aula com a natureza e a sua própria vida. METODOLOGIA Proporcionaram-se práticas coletivas, com material alternativo na confecção de produtos de limpeza, de modo que o educando pode realizar tais atividades como meio de educação para a vida,relacionando conteúdos discutidos, com o cotidiano da sua vida, onde todos tiveram oportunidade de participar ativamente no seu aprendizado. Num primeiro momento os 25 alunos da EJA,noturno, totalidade 8, dirigiram-se ao laboratório de Química Geral localizado no Campus da UNICRUZ e divididos em grupos realizaram a confecção dos produtos de limpeza, por eles escolhidos, como: sabão glicerinado, sabão comum, detergente, desinfetante e amaciante de roupa.
Houve muito interesse e curiosidade e observou-se que neste processo coletivo,que o educador realizou seu papel de mediador na articulação entre os saberes vividos e os saberes escolares, oportunizando a construção de novos significados de conhecimentos. Com esta proposta apresentada foi possível ajudar aos alunos da EJA,a perceberem o papel importante que a Química desempenha em sua vida pessoal e profissional, mostrando também como o conhecimento de certo número de princípios desta disciplina pode ajuda-los a compreender muitos problemas relacionados com a tecnologia de que ouvem falar nos meios de comunicação. Na seqüência em sala de aula, os grupos de alunos relataram como realizaram suas experiências,e a partir daí com a ajuda da professora, foram levantando hipóteses sobre o tema em foco e reelaborando o conhecimento químico, vinculado com a sua realidade e vivencia, e junto ofereceu-se possibilidades de situarem-se conforme os níveis de conhecimento em que se encontram. Dentro deste contexto a metodologia adotada serviu para que os educandos percebessem que a química como todas as ciências naturais,funciona à base de experiências e análise de dados, através do que é possível formular teorias e enunciar leis cada vez mais precisas a respeito do funcionamento do universo. Para tanto, acredita-se numa metodológica que parta do concreto, do vivido, possibilitando teorizar esta prática para voltar a ela através de novos conhecimentos construídos dialeticamente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Partindo do pressuposto de que a Educação de Jovens e Adultos deve oferecer um aprendizado relevante para a vivência do educando, é imprescindível que o educador recrie constantemente sua prática curricular, em busca de abordagens cada vez mais contextualizadas e dinâmicas, nos processos do conhecimento e da educação. Um dos fatos mais interessantes a ser relatado neste projeto, é como os alunos após a experimentação começaram a destacar pontos relevantes sobre por exemplo: como a gordura mancha o tecido, e como é então que a água e o sabão limpam? Sendo que o sabão é feito de gordura.
Nesta concepção de educação de jovens e adultos, rompe-se com a simples decodificação de símbolos ou simplesmente repasse de informações com conteúdos mínimos preestabelecidos, e assegura-se ao educando através de vivências pessoais, familiares, comunitárias a construção de novos conhecimentos, transformando o saber popular em saber elaborado, através da ação-reflexão-ação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS; ARROYO,Miguel. A Educação de JOVENS E Adultos em tempos de exclusão. Alfabetização e Cidadania nº 11, Abril 2001. CHASSOT,Attico Inácio. A Educação no Ensino de Química,Ijui :Ed UNIJUI,1990 ESPÓ SITO,Breno Pannia.Química em casa. Projeto Ciência.Atual Editora,2003. FREIRE,Paulo.Pedagogia da autonomia :ensinar exige apreensão da realidade. 23ª ed.rio de Janeiro ;Paz e Terra,2002. MALDANER,Otávio A A formação inicial e continuada de professores de química:professor/pesquisador/.ijui:ed.unijui,2000. RIO GRANDE DO SUL.Secretaria de Educação Política Pública de Jovens e Adultos do RS.Cadernos Pedagógicos EJA :Abril,200l.