Deficiência Auditiva Formadora: Elisa de Castro Carvalho 1 O ouvido O ouvido, o órgão da audição e do equilíbrio, é formado pelo ouvido externo, pelo médio e pelo interno. O ouvido externo capta as ondas sonoras, que o ouvido médio se encarrega de converter em energia mecânica. O ouvido interno converte a energia mecânica em impulsos nervosos, que em seguida são levados até ao cérebro. O ouvido médio ajuda a manter o equilíbrio. 2
A audição A audição começa no útero materno e aperfeiçoa-se pouco antes do nascimento. Imediatamente depois de nascer, a audição pode desequilibrar-se devido ao fluido que enche o ouvido interno, como resultado do processo de parto. Ao fim de um dia ou dois, quando o fluido desaparece, a audição torna a ser eficiente. Comprovou-se que o feto reage aos diferentes sons e que, em geral, prefere um tipo de música em vez de outra. A voz é o som que os seres humanos produzem na laringe por efeito da passagem do ar e que pode ser modulada, originando a linguagem verbal. Os primeiros sons do bebé são choros que expressam, sobretudo, incómodo. Entre as 8 e as 20 semanas, já podem emitir sons que expressam prazer. A partir das 16 semanas começa um jogo com sílabas que o levará a balbuciar. Esta aprendizagem está intimamente ligada à percepção auditiva da sua própria voz e das vozes que o rodeiam. 3 A importância do som No berço, os bebés não podem ver muitas coisas mas sim escutar um fluxo contínuo de sons. Assim, o mundo de uma criança pode estar mais integrado por zumbidos e canções que por aromas e sorrisos. As palavras carinhosas, murmuradas junto ao ouvido, exercem sobre os bebés um efeito tranquilizador, especialmente notável quando choram ou quando estão agitados e, mesmo que sejam incapazes de compreender o que lhes dizem através das inflexões e matizes da voz humana, captam uma mensagem de afecto e segurança. 4
Efeitos positivos da música Estudou-se os efeitos positivos da música nos bebés antes e depois do nascimento, assim como em crianças de todas as idades. Aconselha-se pô-la como fundo, não muito alta, acompanhando as actividades quotidianas. A música pode servir como estímulo relaxante quando os pais percebem uma sobrecarga de tensão ou como estímulo enérgico quando acompanha actividades de movimento pela manhã. 5 Se a criança não ouvir bem Se os pais ou educadores detectarem que a criança não ouve bem, deve consultar-se um especialista quanto antes e prevenir os efeitos deste défice no desenvolvimento global. O sentido da audição tem uma importância essencial para as relações com o mundo exterior, pois dele depende uma função tão vital como a linguagem. Também tem grande importância no domínio da percepção das coordenadas espaço-temporais. 6
Surdez - definição -perspectiva clínica: surdez significa uma deficiência auditiva que resulta de uma lesão no aparelho auditivo, e por esse motivo, a pessoa fica impossibilitada de ouvir; -perspectiva cultural: alguém que é surdo pertence a uma comunidade minoritária linguística e culturalmente. 7 Graus e tipos de surdez O grau de surdez é definido em: ligeiro (perda média entre 20 e 39 db), moderado ou médio (perda média entre 40 e 69 db); severo (perda média de 70 a 99 db); profundo (perda superior a 100 db). Além disso, existem três tipos de surdez: -de transmissão, referente a um problema do ouvido médio e/ou externo, na maioria dos casos temporária; -neurosensorial, referente a um problema do ouvido interno e/ou nervo auditivo, de carácter definitivo; -mista, referente a uma conjugação dos dois tipos de perda. 8
Linguagem e surdez A linguagem refere-se ao conjunto de sinais com os quais os humanos comunicam e expressam os seus sentimentos e ideias. Ela permite-nos estruturar o nosso pensamento e é fundamental na construção da nossa identidade. A palavra configura e é veículo de transmissão do pensamento. As crianças ouvintes aprendem a língua de forma semelhante e num curto espaço de tempo. Algumas crianças apresentam, no entanto, dificuldades na aquisição da linguagem oral, e esta tem a ver sobretudo com problemas de percepção auditiva. A criança adquire competências comunicativas por estar exposta a ambientes comunicativos e não porque as mesmas lhes sejam ensinadas. 9 Sinais Devemos estar atentos a alguns sinais manifestados pela criança: -Não reagir a barulhos fortes; -Não procurar, com os olhos, a origem de um determinado som; -Não responder à fala dos pais ou não atender a solicitações; -Não imitar sons e palavras simples; -Gesticular para obter a satisfação das suas necessidades; - 10
A criança surda na escola -Ao falarmos com a criança devemos estabelecer o contacto ocular e esperar que a criança olhe para nós, devendo o rosto da criança estar ao nível do nosso rosto; -A criança surda deverá ser, sempre que possível, estimulada por um professor surdo e por outro ouvinte, em fases diferentes; -É essencial consciencializar as crianças que o colega da turma não ouve nem fala como eles, mas que com o tempo é possível vir a estabelecer com ele uma comunicação efectiva; -Na sala de aula, a criança deverá estar sentada num local em que possa ver bem o professor, condição fundamental para poder fazer a leitura orofacial do mesmo; -A utilização de recursos visuais pelo professor será uma mais-valia com vista a facilitar a compreensão e as aprendizagens da criança. Este deverá, sempre que possível, traduzir para as crianças ouvintes aquilo que a criança surda quis transmitir através da língua gestual; -Ao utilizar a fala, o professor deverá ter movimentos labiais bem definidos, ao mesmo tempo que usa expressões faciais ou movimentos corporais. 11 O ambiente auditivo Um ambiente ruidoso causa dificuldades de atenção e de percepção. Um espaço com condições acústicas inadequadas traduz-se em desvantagens para todos os alunos que apresentam dificuldades de discriminação de sons, de compreensão do discurso e imaturidade linguística. Para uma boa organização da sala de aula deve-se ter em conta: - Evitar sons não desejados (ruídos exteriores); - Reduzir os níveis de ruído no seu interior através da utilização de materiais absorventes. - As filas laterais possibilitam uma maior facilidade de identificação dos colegas que usam da palavra ; - Proximidade de contacto com o emissor; - Redução das fontes de ruído e de distracção visual. Regra geral, uma criança aparelhada não ouvirá com clareza a distâncias superiores a dois/três metros do emissor. - A maiores distâncias outros sons podem ser amplificados tornando-se perturbadores ou incómodos; - Sons irrelevantes para o ouvinte como um termoventilador, projector de diapositivos, ou caixa de lápis podem ser motivo de perturbação para o aluno deficiente auditivo; - As ajudas auditivas não seleccionam os sons mais importantes que o aluno deve ouvir; - Aumentar o volume do aparelho implica a amplificação de todos os sons, mesmo os indesejáveis, não resultando daqui uma maior discriminação auditiva. 12
Língua gestual Nos dias que correm é comum ouvirmos erradamente nos mais diversos contextos a expressão linguagem gestual. Em Portugal, o termo correcto é Língua Gestual e refere-se à língua materna de uma comunidade de surdos. É igualmente comum pensarse que a língua gestual é universal; no entanto, existem diferenças entre as várias línguas gestuais, cada qual com o seu vocabulário e gramática próprios. No Brasil, por exemplo, a língua gestual é a Língua Brasileira de Sinais (Libras). A Constituição Portuguesa, na sua 4.º Revisão (1997) reconhece o direito da Comunidade Surda a usufruir da LP no âmbito da educação e da igualdade de oportunidades: Proteger e valorizar a língua gestual portuguesa enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade de oportunidades (Art. 74.º, n.º 2, alínea h). 13 Língua Gestual Portuguesa A LGP utiliza as mãos, os braços e a expressão facial e corporal para transmitir toda a riqueza do pensamento. Esta língua pode usar cada uma das mãos para dar uma parte diferente da informação, acrescentando-lhes uma expressão facial/corporal determinada, que transforma esse Gesto numa pergunta ou negação, usando assim o recurso da simultaneidade para, no tempo de duração de um único Gesto, produzir uma frase completa. Estanqueiro (2006, p. 196) 14
Ensino Bilingue: LGP + LP Para as crianças ouvintes, a língua portuguesa é considerada a sua língua materna e a língua de escolarização. No caso das crianças surdas, a LGP será a primeira língua a ser-lhes ensinada. Pensamos que a criança surda deverá ter direito a crescer num ambiente bilingue. O bilinguismo pressupõe que a LGP seja adoptada como primeira língua, devendo a criança aprender igualmente: a língua da comunidade maioritária, a Língua Portuguesa, para que possa ser bilingue e aceder à riqueza cultural e linguística que as duas línguas e as duas comunidades lhe oferecem. Estanqueiro (2006, p. 200) A educação das crianças e jovens surdos deve ser feita em ambientes bilingues que possibilitem o domínio da LGP, o domínio do português escrito e, eventualmente, falado, competindo à escola contribuir para o crescimento linguístico dos alunos surdos, para a adequação do processo de acesso ao currículo e para a inclusão escolar e social. Decreto-Lei 3/2008 15 Proposta de actividade Serão as pessoas surdas deficientes? Enquanto as pessoas com deficiência procuram a integração total, na sociedade em geral, as pessoas surdas apreciam a sua identidade única e procuram uma integração que honre a sua língua e cultura distintas. ( ) Assim, de um modo geral, as pessoas surdas não se consideram a si próprias deficientes nem reivindicam o mesmo que reivindicam as pessoas que o dizem ser. Repudiar o rótulo de deficiência é, por isso, o mais prudente a fazer, já que as medidas tomadas pela sociedade, em prol das pessoas com deficiência, muitas vezes não servem os interesses das pessoas surdas e podem mesmo ir contra elas. Harlan Lane Comente o excerto que acabou de ler e responda à questão colocada no título. 16
Proposta de actividade "Se a cegueira afasta as pessoas das coisas, a surdez afasta as pessoas das pessoas". Comente a dureza das afirmações de Helen Keller salientando a importância da LGP na vida dos surdos. 17