SURGICAL CENTER ADMISSIONS CLASSIFIED BY SPECIALTY FOR PATIENTS IN EMERGENCY SITUATIONS: A BRIEF OBSERVATIONAL STUDY

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Transcrição:

Science in Health set-dez 2013; 4(3): 164-8 ADMISSÕES EM CENTRO CIRÚRGICO CLASSIFICADAS POR ESPECIALIDADE DE PACIENTES EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA: UM BREVE ESTUDO OBSERVACIONAL SURGICAL CENTER ADMISSIONS CLASSIFIED BY SPECIALTY FOR PATIENTS IN EMERGENCY SITUATIONS: A BRIEF OBSERVATIONAL STUDY José Roberto Souza Pereira 1 Evanilza Borges Alves 2 João Victor Fornari 3 Anderson Sena Barnabé 4 Renato Ribeiro Nogueira Ferraz 5 RESUMO Este estudo observacional foi realizado em um hospital municipal da Zona Sul da capital paulista com o objetivo de identificar os motivos das admissões dos pacientes em situações de emergência, agrupando-os por especialidade no centro cirúrgico, bem como o destino dos mesmos após a cirurgia. Os dados obtidos são provenientes do acompanhamento de 20 indivíduos atendidos em um período determinado. Os resultados mostraram que os traumas foram os motivos mais comuns para a admissão de pacientes no setor descrito, principalmente os encaminhados para a neurocirurgia. Todavia, boa parte dos pacientes permaneceu internada na recuperação pós-anestésica ao invés de serem encaminhados para a unidade de terapia intensiva (na maioria dos casos por falta de leitos na unidade), privando-os do atendimento por profissionais mais bem treinados para esse tipo de situação. Novos estudos que acompanhassem pacientes nas mesmas condições por um tempo maior após a cirurgia e durante o período de recuperação poderiam dizer se a não transferência para o setor mais indicado influenciaria no prognóstico. Palavras-chave: Medicina de Emergência Cirurgia Geral Unidades de Terapia Intensiva ABSTRACT This observational study was conducted in a municipal hospital located in the southern São Paulo city with the aim of identifying the reasons for admissions of patients in emergency situations, grouping them by specialty in the surgical center, as well as by their destination after surgery. The data are obtained from the monitoring of 20 patients seen in a given period. The results showed that trauma was the most common reason for admission of patients described in the sector, mainly referred for neurosurgery. However, many patients remained hospitalized in the post-anesthetic recovery instead of being sent to the intensive care unit (in most cases for lack of beds in the unit), depriving them of specialized care by professionals trained for this type situation. New studies to accompany patients under the same conditions for a longer period of time after surgery and during the recovery period could tell if the lack of on time transfer to the most appropriate sector would influence the prognosis. Key words: Emergency Medicine General Surgery Intensive Care Units 1 Graduado em Enfermagem pela Universidade Ítalo Brasileira. Especialista em Saúde Coletiva com ênfase em Programa de Saúde da Família pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE) SP. robertospereira2006@ig.com.br 2 Graduada em Enfermagem pela Faculdade de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos. Especialista em Saúde Coletiva com ênfase em Programa de Saúde da Família pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE) SP evaboral@ig.com.br 3 Enfermeiro e Nutricionista, Mestre em Farmacologia pela UNIFESP. Docente do Departamento de Saúde da UNINOVE. Professor dos cursos de Pós-graduação da Universidade Gama Filho UGF joaovictor@uninove.br 4 Biólogo, Mestre e Doutor em Saúde Pública pela USP SP. Docente do Departamento de Saúde da UNINOVE. Professor dos cursos de Pós-graduação da Universidade Gama Filho UGF anderson@uninove.br 5 Biólogo, Mestre e Doutor em Nefrologia pela Universidade Federal de São Paulo SP. Professor do Mestrado Profissional em Gestão em Sistemas de Saúde da UNINOVE - SP. Professor dos cursos de Pós-graduação da Universidade Gama Filho UGF. renatoferraz@uninove.br 164

INTRODUÇÃO Os acidentes e as situações violentas, assim denominados pela Classificação Internacional de Doenças (CID) na sua décima revisão, como causas externas de lesões e envenenamento, têm sido motivos constantes de atendimentos e de internações no Brasil, resultando em alta demanda aos serviços de saúde, além do inerente sofrimento das vítimas. Ainda, elevados custos diretos e indiretos, com respeito ao próprio evento e também a suas sequelas, comprometem a qualidade de vida dos que por eles foram acometidos 1. O atendimento adequado e o tempo decorrido entre o acidente e a admissão hospitalar é um fator extremamente relevante para reduzir a mortalidade das vítimas de lesões produzidas por acidentes e violência. A primeira hora após a ocorrência de uma lesão traumática é considerada o tempo crítico para a instituição do tratamento que modificará o prognóstico 2. Após o atendimento na emergência hospitalar, os pacientes vítimas de acidentes e violência, ou até mesmo acometidos por doenças com diagnósticos desconhecidos e que correm risco de morte, são encaminhados ao centro cirúrgico para a equipe especializada, com o intuito de serem submetidos a procedimentos cirúrgicos variados 3 Clavreul 4 (1983) ressalta que o estudante de medicina é submetido a um discurso que tem como finalidade desenvolver um saber absoluto e positivo. Tal discurso considera a doença e não o ser humano, além de excluir a subjetividade, tanto de quem fala como de quem escuta. O corpo é tido como local da doença e nunca sede de desejo. Assim, o médico é obrigado a pesquisar a causalidade da doença em fatos materiais. As cirurgias de emergência não são planejadas e ocorrem com pouco tempo para a preparação. A natureza imprevisível do trauma e da cirurgia de emergência gera desafios únicos para a equipe de atendimento durante todo o período perioperatório 5. Todos os fatores previamente discutidos que afetam os pacientes na preparação para a cirurgia aplicam-se a esses pacientes, em geral em um intervalo de tempo muito condensado. Na realidade, a avaliação pré-operatória pode coincidir com os esforços de reanimação no departamento de emergência. Para o paciente inconsciente, o consentimento informado e as informações essenciais, como as alergias e a história clínica pregressa pertinente precisam ser obtidos a partir de um membro da família, quando a cirurgia de emergência decorre do trauma 5. O estado psicológico do paciente que se submete a cirurgia de emergência deve ser rapidamente examinado quando ele está acordado. O paciente pode ter sofrido uma experiência muito ameaçadora e precisar de suporte e explicações adicionais sobre a cirurgia 5. Perante as informações aqui apresentadas, julga-se importante a realização da quantificação dos motivos de admissão em um centro cirúrgico com o intuito de, conhecendo-se melhor as características da população atendida, sistematizar o atendimento e melhorar o desempenho dos profissionais envolvidos. OBJETIVO Identificar os motivos das admissões dos pacientes em situações de emergência no centro cirúrgico, categorizando-os por especialidade, bem como verificar o destino deles após o atendimento, visando conhecer a realidade da unidade e buscando criar programas de sistematização do atendimento. MÉTODO Trata-se de um estudo prospectivo, quantitativo e observacional, realizado no período de agosto de 2011, nos dias ímpares, horário noturno, em um hospital municipal localizado na Zona Sul da Cidade de São Paulo - SP, considerado referência em 165

atendimento de emergência. Foram incluídos neste estudo todos os pacientes encaminhados em caráter de emergência e que foram conduzidos de imediato ao centro cirúrgico da Instituição. Dos indivíduos atendidos foram observados dados como sexo, idade, etnia, motivos da admissão, especialidades cirúrgicas às quais foram encaminhados, bem como o seu destino. Os dados foram apresentados por suas frequências absoluta e relativa ao total da amostra, sem a aplicação de testes estatísticos específicos. Todos os pacientes arrolados neste estudo (ou seus responsáveis) consentiram na utilização de tais informações através da assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Nenhuma informação que pudesse identificar os pacientes ou a Instituição onde este trabalho foi realizado foi divulgada. Esta pesquisa foi registrada no Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e aprovada pela instituição onde foi realizada por estar de acordo com as diretrizes previstas na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde quanto aos seus aspectos éticos e legais. RESULTADOS No período descrito, foram admitidos 20 pacientes, sendo 65% do sexo masculino (13 indivíduos) e 35% do sexo feminino (07 indivíduos), com média de idade de 33 ± 21 anos. Quanto à etnia, observou-se que 45% (09 indivíduos) eram pardos, 35% (07 indivíduos) eram brancos, e 20% (04 indivíduos) negros. Ao se avaliar os motivos de admissão, foram identificadas as seguintes incidências: TCE (Traumatismo Crânio Encéfalo) = 35% (07 indivíduos); fratura de membros superiores = 15% (03 indivíduos); fratura de membros inferiores = 15% (03 indivíduos); dor abdominal = 10% (02 indivíduos); fratura de mandíbula = 5% (01 indivíduo); HDA (Hemorragia Digestiva Alta) = 5% (01 indivíduo); ingestão de corpo estranho = 5% (01 indivíduo); abdome perfurado = 5% (01 indivíduo) e ferimento abdominal = 5% (01 indivíduo). Em relação à especialidade cirúrgica, 35% (07 indivíduos) foram encaminhados para a neurocirurgia; 30% (06 indivíduos) para a ortopedia; 20% (04 indivíduos) para a cirurgia geral; 10% (02 indivíduos) para a endoscopia e 5% (01 indivíduo) para a buco-maxilo. Quanto ao destino dos pacientes no pós-operatório, 85% (17 indivíduos) foram encaminhados à recuperação anestésica, 10% (02 indivíduos) para UTI adulto e 5% (01 indivíduo) para UTI pediátrica. DISCUSSÃO Identificar os motivos das admissões hospitalares em condições de emergência é essencial, pois, conhecendo-se as causas dessas admissões, podem ser criados protocolos de atendimento compatíveis com cada tipo de necessidade, reduzindo o tempo de espera, contribuindo para um melhor prognóstico do indivíduo afetado. Os resultados deste trabalho mostram que o número de admissões é maior em relação ao sexo masculino. Isso se justifica pelo fato destes indivíduos estarem mais expostos às violências e acidentes, o que contribui, na maior parte das indicações, para atendimento de emergência pelas equipes do trauma 2. Embora tenhamos trabalhado com um número pequeno de admissões, oriundo de doze dias de observação, os percentuais apresentados nas admissões de negros e pardos contrariam a pesquisa populacional realizada por Campante 6, cujos resultados mostram um índice de acometimento menor dessas duas populações na região Sudeste do Brasil, local onde o estudo foi realizado. Acreditamos que, para relacionar o número de admissões por etnia com a frequência da etnia na população, pesquisas 166

arrolando uma quantidade bem maior de indivíduos são imprescindíveis. Discutindo-se os motivos das admissões dos pacientes deste estudo, nota-se que são compatíveis com o perfil de um hospital de referência nos atendimentos de emergência, sejam tais atendimentos decorrentes de violência, acidentes ou até mesmo doenças com diagnósticos desconhecidos, prevalecendo os traumas com os percentuais maiores 2. Com respeito às especialidades cirúrgicas mais solicitadas, os resultados obtidos mostram uma incidência maior das admissões relacionadas com as especialidades envolvidas nos atendimentos de emergências de traumas, sendo as três primeiras a neurocirurgia com 35%, a ortopedia com 30% e a cirurgia geral com 20% dos atendimentos. Martins 1 (2005)apresentou resultados diferenciados com relação aos percentuais de atendimentos de traumas, estando estes envolvidas com boa parte dos atendimentos cirúrgicos. Em seu estudo, TCE significou 33% dos atendimentos, realizados pela neurocirurgia. As fraturas representaram 9,2%, dos atendimentos direcionados para a ortopedia. Ainda, 4,8% dos atendimentos do trauma foram direcionados para cirurgia geral. Por fim, foi observado neste trabalho o alto percentual de encaminhamento para recuperação anestésica após o atendimento cirúrgico. É sabido que a sala de recuperação anestésica é o setor de destino do maior número dos pacientes que são submetidos à cirurgia. Todavia, os resultados deste estudo não demonstraram que todos os pacientes tinham indicação de recuperação nesse setor. Alguns deles apresentavam necessidade de encaminhamento para as Unidades de Terapia Intensiva, que na ocasião encontravam-se com sua lotação esgotada. Por esse motivo, os resultados apontam o baixo percentual no destino dos pacientes para as UTIs adulto e pediátrica. O não encaminhamento desses pacientes, após a cirurgia, para uma unidade de recuperação compatível com suas necessidades põe em risco a sua recuperação, devido aos perigos que podem ocorrer por falta de profissionais capacitados, equipamentos e materiais insuficientes para a sua recuperação. Vale lembrar a necessidade de cada unidade hospitalar conhecer a clientela à qual presta serviço, visando fornecer atendimento imediato dentro das necessidades de cada paciente. Para isso, levantamentos periódicos das admissões por especialidade cirúrgica, das características dos pacientes atendidos e do desfecho dos casos seriam uma importante ferramenta para a melhora contínua dos serviços prestados. Reconhecemos que este é apenas um estudo piloto, realizado com uma amostra populacional muito reduzida, e que levantou apenas a prevalência pontual de um fenômeno específico. Todavia, chamamos a atenção para a necessidade da realização de trabalhos controlados, com amostra significativa, e que comparem resultados de vários centros, com o intuito de averiguar se o fenômeno aqui observado poderá se repetir quando estudado em maior escala. CONCLUSÃO Os dados deste breve levantamento categorizaram as admissões de emergência por especialidade, prevalecendo os maiores percentuais nas admissões de traumas, em indivíduos do sexo masculino, na especialidade de neurocirurgia. Quanto ao destino no pós-operatório, a recuperação anestésica prevaleceu com maior percentual. A falta de vagas nas UTIs fez com que muitos pacientes acabassem sendo encaminhados para a recuperação anestésica. Estudos realizados num maior período de tempo, com maior número de pacientes, e com um acompanhamento mais prolongado no pós-operatório, poderiam elucidar se a transferência para a recuperação pós-anestésica e não para a UTI influenciou no prognóstico dos pacientes. 167

REFERÊNCIAS 1. Martins CBG, Andrade SM. Causas externas entre menores de 15 anos em cidade do sul do Brasil: atendimentos em pronto-socorro, internações e óbitos. Rev Bras Epidemiol 2005 jun;8(2):194-204. 2. Ladeira RM, Barreto SM. Fatores associados ao uso de serviço de atenção pré-hospitalar por vítimas de acidentes de trânsito. Cadernos de Saúde Pública 2008 24(2):287-94. 3. Rezende JM. Cirurgia e patologia. Acta Cirurgica Brasileira 2005 set/out;20(5):346. 4. Clavreul J. A ordem médica: poder e impotência do discurso médico. São Paulo: Brasiliense; 1983. 5. Meeker MH RJ. Alexander: cuidados de enfermagem ao paciente cirúrgico. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. 6. Campante FR, Crespo ARV, Leite PGPG. Desigualdade salarial entre raças no mercado de trabalho urbano brasileiro: aspectos regionais. Revista Brasileira de Economia 2004 jan/jun;58(2):185-210. 168