FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO

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Palavras-chave: Formação de professores; Educação de jovens e adultos; Políticas públicas.

Transcrição:

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO Raimunda Lucena Melo Soares Doutora em Educação Universidade Federal do Pará, e-mail: rlvida@hotmail.com Resumo Este texto investiga como o problema da produção de conhecimento é tratado por Antônio Joaquim Severino em seus artigos publicados em periódicos nacionais? Tem como objetivo geral apresentar uma pequena amostra da produção teórica de Antônio Joaquim Severino, destacando o debate que ele vem desenvolvendo sobre produção de conhecimento, como objetivos específicos: analisar o papel atribuído à filosofia da educação; e compreender a relevância da contribuição da produção teórica de Severino para a constituição da filosofia da educação como conhecimento imprescindível à educação. As fontes do estudo que deram azo a este texto consistem em artigos publicados por Severino em Periódicos Nacionais no período de 1974 a 2016. Dentre os resultados pode-se ressaltar a diversidade de temáticas que se pode situar nesses artigos e a relação da temática da produção do conhecimento com outros temas. Palavras-chave: Filosofia da Educação. Produção do Conhecimento. Formação do Educador. 1 Introdução A filosofia da educação consiste em um conjunto de conhecimentos produzidos a partir de questões investigativas relativas à educação, dentre elas as concernentes à produção de conhecimento filosófico na educação e às relacionadas ao processo de formação de educadores e pesquisadores. Dentre os autores que têm dedicado seus estudos a essas questões e dirigem suas pesquisas à filosofia da educação encontra-se Antônio Joaquim Severino que tem mais de 40 anos de atividade teórico-prática na educação superior. Suas atividades teóricas abrangem a publicação de livros, artigos, capítulos de livros e estudos apresentados em eventos. O montante dessa produção constitui um indício da pertinência e da relevância da obra desse autor para a discussão de questões relacionadas à educação e, em especial, à filosofia da educação. Por isso, a decisão de estudar a produção do conhecimento filosófico em educação no âmbito dos seus livros e artigos. Considerando a importância desse autor para a produção do conhecimento em filosofia da educação, a pesquisa que deu oportunidade a este texto, e ora em desenvolvimento assume como objeto de investigação a produção do conhecimento filosófico em educação, no espaço bibliográfico dos livros e artigos publicados em periódicos por Antônio Joaquim Severino e tem como objetivo geral compreender a contribuição das reflexões filosóficas desse autor para a Educação em suas relações com a Filosofia, no processo de constituição da filosofia da educação. Os objetivos específicos do estudo são: a) Verificar que temáticas interessam a Severino e qual o posicionamento desse autor em relação a manutenção da concepção de filosofia como reflexão; b) Compreender a

lógica de construção do conhecimento no que diz respeito aos problemas\objetos estudados por Severino em seus livros; c) Examinar os conceitos priorizados nas análises sobre educação expressas no livros de Severino; d) Reunir elementos para compreender a importância atribuída à educação na produção do conhecimento em livros e artigos de Antônio Joaquim Severino e a contribuição dessa obra para a educação. De modo que este texto tem a finalidade de apresentar uma pequena amostra da produção teórica desse autor. O estudo tem importância institucional e relevância social e educacional, pois traz uma significativa contribuição tanto à produção do conhecimento no espaço da filosofia da educação como ao ensino filosófico no contexto do curso de Pedagogia, assim como possibilita examinar a produção intelectual de Severino, os indícios que ela carrega do que se pensa sobre filosofia da educação no Brasil e as implicações dessa obra sobre a educação, o que significa uma oportunidade de ampliação e aprofundamento da compreensão de ações e de conceitos essenciais à teorização relativa à produção do conhecimento em filosofia da educação e a prática educacional. 2 O papel atribuído à Filosofia da Educação no Brasil. A Filosofia da Educação seja considerada em sua radicalidade e rigorosidade reflexiva como indica Saviani (1996), seja como criação de conceitos como entende Gallo (2007; 2003), seja compreendida como conhecimento que não se produz sem a reflexão filosófica e a criação de conceitos própria da filosofia como a compreendo, é de grande importância para a formação humana, sobretudo do educador e pesquisador. A filosofia concebida como reflexão, como um repensar do próprio pensamento, visa realizar uma análise profunda da realidade. Nessa concepção, a formação da consciência crítica é essencial à superação do pensamento ingênuo, e a filosofia da educação tem o seu sentido no cumprimento desse papel formativo. Saviani (1996, p.20) a compreende como reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a educação apresenta. Trata-se de uma reflexão que segue o rigor de um método e busca a raiz do problema para conhecê-lo em profundidade, superá-lo e colaborar para a transformação social. Dessa compreensão compartilham ainda vários autores, dentre eles encontram-se Antônio J. Severino, Marilena Chauí, Durmeval T. Mendes, Carlos Jamil Cury e Moacir Gadotti. Essa concepção é contestada por Sílvio Gallo que, seguindo a compreensão de Gilles Deleuze e Félix Gatarri, entende que a noção de reflexão como tarefa precípua da filosofia despotencializa o conhecimento filosófico. Na interpretação de Gallo (2003;) e de Deleuze e Guatarri (1992), a função fundamental da filosofia é criar conceitos.

Um meio termo entre esses dois entendimentos é encontrado em Luckesi (1990, p. 42 ) quando ao explicar sobre o método filosófico une reflexão e criação de conceitos ao afirmar que: [...] a prática do filosofar vai de um inventário dos conceitos e valores que no momento explicam a vida humana, passando por sua crítica e chegando a uma proposição de novos conceitos e valores, que incorporam os anteriores, por superação. Para Severino (1990) a contribuição da filosofia para a educação ocorre por meio de três dimensões da realidade que estão interligadas entre si, são elas: a antropológica, a axiológica e a epistemológica. Essa tarefa tridimensional da reflexão filosófica atende a necessidade de analisar: o homem em sua existência histórica e social; a educação como prática social, eivada de diferentes valores; e questões relacionadas, acordo com Severino (1990, p. 22), ao processo de produção, de sistematização e de transmissão do conhecimento presente no processo específico da educação. Pode-se concluir, pois, que a produção do conhecimento filosófico tanto constitui uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas da educação, como consiste na criação de conceitos para essa área da atividade humana, teórico-prática. 3 Filosofia da Educação: produção de conhecimento. A filosofia da educação, consiste fundamentalmente em um conjunto de conhecimentos referentes aos diferentes aspectos relativos à educação e em um conjunto de práticas de caráter formativo. O reconhecimento da sua importância implica à compreensão da relevância de sua produção e efetivação prática no âmbito da educação. No contexto da produção teórica de Antonio Joaquim Severino, conforme indica o currículo lattes desse autor, foram publicados 59 artigos em Periódicos Nacionais, no período de 1975 a 2016, que discutem diversas temáticas e analisam diferentes problemas. Dentre estes, 9 artigos versam sobre a produção de conhecimento, temática priorizada neste texto. No tratamento dado por Severino ao problema em questão, sobretudo às questões epistemológicas da pesquisa educacional, nas fontes analisadas neste estudo, é notável a inquietação epistêmica do autor a respeito da produção do conhecimento na pós-graduação e sobre as relações que essa produção estabelece com outras atividades humanas como: o ensino, a pesquisa, a extensão, a formação docente, a subjetividade, a ideologia e a ética, por exemplo. A compreensão da relação entre a produção de conhecimento e a pesquisa em educação requer levar em consideração a especificidade desta. Em função disso, Severino (2001) observa que é necessário uma certa reserva em relação ao paradigma científico das ciências naturais, não para

rejeitá-lo, mas tão somente e necessariamente mostrar uma outra maneira de se falar do conhecimento, uma vez que se trata de uma prática histórico-social. Com essa perspectiva, o autor investiga a respeito da abordagem crítico-dialética na pesquisa em educação e indica a relevância dessa abordagem no processo de elaboração de conhecimento em educação. Para Severino (2001, p.19) a epistemologia dialética é o paradigma epistemológico que se tem revelado mais fecundo para dar conta da especificidade dos problemas políticos e pedagógicos. A partir de uma perspectiva filosófica, Severino (1998, p.12) analis as relações entre o processo epistemológico específico da produção do conhecimento, o processo propriamente pedagógico que ocorre na situação de ensino/aprendizagem e o processo antropológico de formação do sujeito, observando que a prática produtiva dos homens é expressão necessária de um sujeito coletivo, pois é este que nutre toda e qualquer atividade posta pelos sujeitos individuais. Pode-se dizer, então, que a produção do conhecimento, o ensino e a aprendizagem e a formação humana do sujeito consistem em um único processo. Ao realizar sua análises sobre a pós-graduação em educação no Brasil, Severino (2009) versa sobre o processo histórico dessa atividade, considera a pós-graduação em seu processo de gênese, formação e desenvolvimento, e relaciona os desafios políticos e científicos que ainda precisam ser enfrentados apesar da qualidade e da contribuição da pós-graduação na produção de conhecimento. O autor destaca o que precisa ser explorado nesse contexto, afirma a pós-graduação como lugar de produção de conhecimento e explica sobre as exigências epistemológicas, metodológicas e técnicas do processo investigativo, relacionando esse nível de estudo e pesquisa no processo de produção e de sistematização do conhecimento. Todavia, a pesquisa não se confina ao estudos de pós-graduação, afinal a docência não se faz sem a pesquisa. Por isso ao relacionar esse assunto com formação de professores, Severino (2001, p.19) complementa afirmando que os currículos devem configurar a pesquisa como princípio formativo na docência. De modo que todos os momentos e espaços do ensino superior deveriam estar perpassados pela postura e pelas práticas investigativas. Essa assertiva contribui para um olhar mais profundo ao processo de formação nos cursos de licenciatura, posto que nesses cursos o docente inicia sua formação. E se a pesquisa deve constituir um princípio formativo não deve ser resumida à atividade constitutiva do trabalho de conclusão de curso, mas ampliar-se por meio das atividades das diferentes disciplinas e, neste sentido, sobretudo com incentivo à pesquisa e a elaboração de trabalhos em nível de artigo, como estratégia de sistematização dos resultados alcansados na pesquisa. Mas, no geral, essa é uma

grande dificuldade nos curso de pedagogia, em decorrência do entendimento desse curso como formação geral em que o discente é orientado a entender o que dizem os professores e os autores das obras sugeridas para leitura no curso, sob a visão de diferentes ciências voltadas para a educação. Ao discutir pós-graduação e pesquisa e considerando a especificidade da educação como prática histórico-social, Severino (2007) indica a necessidade de aceitação de três pressupostos condicionantes relativos: à relevância social, a natureza construtiva do conhecimento e à pós-graduação como lugar da pesquisa. Assim como o enfrentamento de três desafios: tomar o sujeito como objeto de conhecimento; tornar científico o conhecimento educacional; e superar o enviesamento ideológico no âmbito da educação. O autor entende que sob essas condiçõe, é possível instaurar a cientificidade no campo educacional. Sobre a produção do conhecimento em educação Severino (2010) entende que toda ela precisa ser necessária e competentemente técnica, crítica, criativa, pois essa é uma condição prévia intrínseca ao processo de construção do conhecimento científico. Mesmo quando o interesse investigativo é direcionado à ética, por exemplo, a produção de conhecimento continua central. Nesse sentido, Severino une produção do conhecimento e Etica para falar da relação desta com a pesquisa e de sua importância para a investigação científica, para o processo de construção da cidadania e para a formação dos professores. 4 Conclusão A filosofia da educação investiga a educação a partir de questões relativas aos mais diferentes aspectos da formação de educadores e pesquisadorese e da produção de conhecimento, em especial os aspectos éticos, políticos, sociais, metodológicos e epistemológicos. Essa diversidade de aspectos e as diferentes abordagens filosóficas que fundamentam essas investigações contribuem para a riqueza teórica sobre educação. As diversas temáticas investigadas por Severino, os problemas nelas implicados e analisados pelo autor demonstram a importância de seus estudos sobre a filosofia da educação e a produção do conhecimento filosófico em educação no Brasil, reforçam a compreensão da importância da contribuição das reflexões filosóficas desse autor para a educação, especialmente para a produção do conhecimento e para a formação de pesquisadores. A forma como Antonio Joaquim Severino lida com o problema da produção do conhecimento implica em destacar a relação entre este e diferentes temas ligados à educação.

Principais Referências LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia, exercício do filosofar e prática educativa. In: Em Aberto. Brasília. Ano 9. nº 45. jan. Mar 1990. SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência Filosófica. 9 ed. São Paulo: Cortez, 1996. SEVERINO, Antônio Joaquim. A contribuição da filosofia para a educação. Em aberto, Brasília, ano 9, n. 45, p. 18-25, jan/mar., 1990.. Produção do Conhecimento, ensino/aprendizagem e educação. Revista Interface Comunicação, Saúde, Educação. v.2, n.3, 1998.. A Pesquisa em Educação: a abordagem crítico-dialética e suas implicações na formação do educador. Revista Contra Pontos - Ano 1 - nº 1- Itajaí, jan/jun de 2001.. A Pesquisa na Pós-Graduação em Educação. Revista Eletrônica de Educação, v. 1, n. 1, set. 2007. Artigos. ISSN 1982-7199.. Questões epistemológicas da pesquisa educacional. Miolo _ Revista de Educação Pública. Cuiabá, v. 19, n. 41, p. 397-421, set./dez., 2010