5º Simposio de Ensino de Graduação

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Transcrição:

5º Simposio de Ensino de Graduação A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JUNTO A QUEIXA ESCOLAR Autor(es) LÍGIA EHMKE PASSARELLA Co-Autor(es) JOSÉ ALVES DE FARIA MARCOS ROBERTO NOGUEIRA DOS SANTOS GILMAR LOPES DE MORAES VERA LÚCIA ZOLIO LOPES Orientador(es) Maria Teresa Dondelli Paulillo Dal Pogetto Evento Talvez a queixa de indisciplina seja um dos problemas mais comuns hoje nas escolas. Muitas vezes atribui-se a ela a causa de fracasso escolar no aprendizado. Para fundamentarmos teoricamente os resultados deste trabalho, utilizaremos reflexões importantes de alguns autores como: Lígia E. Melchiori, Deisy G. de Souza, Sílvio P. Botomé e Ulisses F. Araújo. Assim diz Araújo: Os distúrbios disciplinares são um dos grandes problemas pedagógicos e morais da atualidade e, junto da violência (temas muitas vezes inter-relacionados), vêm comprometendo a busca por uma educação de qualidade. É urgente buscar o entendimento sobre esses fenômenos e procurar saídas para seu enfrentamento...(araújo, 2002). Segundo Botomé, para que possa haver uma intervenção bem sucedida, diante de uma queixa em uma instituição escolar, é preciso que o trabalho de coleta de dados, entrevistas, observação, seja executado com destreza e responsabilidade, para detectar com exatidão qual a natureza do problema. Para o início de uma intervenção, é necessário que o psicólogo procure descrever, com clareza, precisão e objetividade, qual é o problema sobre o qual é preciso intervir, a fim de que se defina ou proponha a solução mais adequada. Sendo assim deve-se procurar seguir alguns parâmetros que são fundamentais, a fim de que ela possa atender às expectativas propostas: Necessidade de definição de quais são os dados necessários para se conhecer exatamente o que é o problema; Qual a quantidade ou extensão desses dados que será suficiente; Quais os procedimentos mais adequados para se obter os dados com as características e a extensão necessárias (Melchiori, Souza e Botomé, 1983). Ainda conforme cita Botomé, após os primeiros procedimentos serem atendidos, é necessário que se prossiga subseqüentemente os requisitos descritos abaixo: A definição e a descrição do problema são essenciais, na medida em que fundamentarão 1/5

uma série de decisões profissionais que virão a seguir. Dependendo de suas características, essa etapa inicial poderá contribuir para reduzir o risco de que a intervenção se faça sob o controle de dados inadequados ou insuficientes e para aumentar, conseqüentemente, a probabilidade de que a atuação profissional esteja voltada para a obtenção de soluções adequadas e significativas para algo que se constitua, de fato, em problema para alguma parcela da população (...) Nesse sentido, uma descrição de um problema comportamental deve conter, necessariamente: a identificação de quais são os comportamentos (as variáveis que caracterizam os seus componentes) e a identificação, com a maior segurança possível, das variáveis que provavelmente estão envolvidas e que interferem com o problema existente (Melchiori et al, 1983). A partir da identificação e caracterização do problema a ser enfrentado, torna-se necessário definir com exatidão, nesse caso, a questão da indisciplina dentro da escola: Buscando o sentido do termo indisciplina em dicionários de língua portuguesa, encontramos definições como todo ato ou dito contrário à disciplina que leva à desordem, à desobediência, à rebelião. E o que seria a disciplina? Podemos encontrar definições comuns como regime de ordem imposta ou livremente consentida que convém ao funcionamento regular de uma organização (militar, escolar, etc.). Grosso modo, podemos entender, portanto, que a indisciplina relaciona-se com o não cumprimento das leis, normas e regras estabelecidas na sociedade ou por grupos organizados para determinados fins, como é o caso da escola. Nesse sentido, quando se fala de indisciplina dentro da escola, pode-se falar de desrespeito às regras estabelecidas. (Araújo, 2002). Compreendendo a questão da indisciplina segundo a ótica de alguns autores: Sob a ótica da psicologia institucional:...a desordem na relação professor-aluno tecendo críticas a dois olhares existentes sobre a indisciplina escolar: o sócio-histórico e psicológico de carência psíquica, sob a ótica da psicologia institucional. Para o autor, a primeira concepção traz uma idéia de que a indisciplina é resultante do autoritarismo historicamente subjacente à estruturação institucional escolar e trata-se de um conflito salutar entre forças sociais antagônicas. Na segunda concepção, a indisciplina seria indício de uma carência estrutural psíquica do aluno, desencadeada nas instituições familiares e que desembocaria na escola. (Araújo, 2002). Entendendo a indisciplina e o processo educativo, segundo a perspectiva vygotskyana:... um aluno indisciplinado não é entendido como aquele que questiona, pergunta, se inquieta e se movimenta na sala, mas sim como aquele que não tem limites, que não respeita a opinião e sentimentos alheios, que apresenta dificuldades em entender o ponto de vista do outro e de se auto governar (no sentido escrito por Vygotsky), que não consegue compartilhar, dialogar e conviver de modo cooperativo com seus pares. (Araújo, 2002). Ainda com relação à discussão a respeito da indisciplina, é interessante que se busque a perspectiva de um outro autor clássico na psicologia: Jean Piaget: Recorremos a esse autor e sua afirmação de que a essência de toda moralidade está no respeito que o indivíduo adquire pelas regras (1932:9), para trazer à discussão a existência de uma relação intrínseca entre moralidade quanto a disciplina e indisciplina. Isso porque, nessa perspectiva, tanto a moralidade quanto a disciplina estão vinculadas às regras sociais e às formas com que os sujeitos se relacionam com elas. (Araújo, 2002). Já, pode-se verificar, com relação à imposição de regras de forma autoritária, o que o autor Araújo diz: Outro aspecto relevante a ser observado é a forma com que a regra foi estabelecida, se imposta coercitivamente ou estabelecida com bases em princípios democráticos. Se imposta autoritariamente, o sujeito pode não sentir-se obrigado a cumpri-la e a indisciplina pode se um protesto em relação à autoridade. (Araújo, 2002). Uma das formas de enfrentamento do fenômeno da indisciplina é a capacitação docente na organização da sala de aula, por exemplo: na construção de regras e plano de ensino / contrato pedagógico. 1. Introdução Talvez a queixa de indisciplina seja um dos problemas mais comuns hoje nas escolas. Muitas vezes atribui-se a ela a causa de fracasso escolar no aprendizado. Para fundamentarmos teoricamente os resultados deste trabalho, utilizaremos reflexões importantes de alguns autores como: Lígia E. Melchiori, Deisy G. de Souza, Sílvio P. Botomé e Ulisses F. Araújo. Assim diz Araújo: Os distúrbios disciplinares são um dos grandes problemas pedagógicos e morais da atualidade e, junto da violência (temas muitas vezes inter-relacionados), vêm comprometendo a busca por uma educação de qualidade. É urgente buscar o 2/5

entendimento sobre esses fenômenos e procurar saídas para seu enfrentamento...(araújo, 2002). Segundo Botomé, para que possa haver uma intervenção bem sucedida, diante de uma queixa em uma instituição escolar, é preciso que o trabalho de coleta de dados, entrevistas, observação, seja executado com destreza e responsabilidade, para detectar com exatidão qual a natureza do problema. Para o início de uma intervenção, é necessário que o psicólogo procure descrever, com clareza, precisão e objetividade, qual é o problema sobre o qual é preciso intervir, a fim de que se defina ou proponha a solução mais adequada. Sendo assim deve-se procurar seguir alguns parâmetros que são fundamentais, a fim de que ela possa atender às expectativas propostas: Necessidade de definição de quais são os dados necessários para se conhecer exatamente o que é o problema; Qual a quantidade ou extensão desses dados que será suficiente; Quais os procedimentos mais adequados para se obter os dados com as características e a extensão necessárias (Melchiori, Souza e Botomé, 1983). Ainda conforme cita Botomé, após os primeiros procedimentos serem atendidos, é necessário que se prossiga subseqüentemente os requisitos descritos abaixo: A definição e a descrição do problema são essenciais, na medida em que fundamentarão uma série de decisões profissionais que virão a seguir. Dependendo de suas características, essa etapa inicial poderá contribuir para reduzir o risco de que a intervenção se faça sob o controle de dados inadequados ou insuficientes e para aumentar, conseqüentemente, a probabilidade de que a atuação profissional esteja voltada para a obtenção de soluções adequadas e significativas para algo que se constitua, de fato, em problema para alguma parcela da população (...) Nesse sentido, uma descrição de um problema comportamental deve conter, necessariamente: a identificação de quais são os comportamentos (as variáveis que caracterizam os seus componentes) e a identificação, com a maior segurança possível, das variáveis que provavelmente estão envolvidas e que interferem com o problema existente (Melchiori et al, 1983). A partir da identificação e caracterização do problema a ser enfrentado, torna-se necessário definir com exatidão, nesse caso, a questão da indisciplina dentro da escola: Buscando o sentido do termo indisciplina em dicionários de língua portuguesa, encontramos definições como todo ato ou dito contrário à disciplina que leva à desordem, à desobediência, à rebelião. E o que seria a disciplina? Podemos encontrar definições comuns como regime de ordem imposta ou livremente consentida que convém ao funcionamento regular de uma organização (militar, escolar, etc.). Grosso modo, podemos entender, portanto, que a indisciplina relaciona-se com o não cumprimento das leis, normas e regras estabelecidas na sociedade ou por grupos organizados para determinados fins, como é o caso da escola. Nesse sentido, quando se fala de indisciplina dentro da escola, pode-se falar de desrespeito às regras estabelecidas. (Araújo, 2002). Compreendendo a questão da indisciplina segundo a ótica de alguns autores: Sob a ótica da psicologia institucional:...a desordem na relação professor-aluno tecendo críticas a dois olhares existentes sobre a indisciplina escolar: o sócio-histórico e psicológico de carência psíquica, sob a ótica da psicologia institucional. Para o autor, a primeira concepção traz uma idéia de que a indisciplina é resultante do autoritarismo historicamente subjacente à estruturação institucional escolar e trata-se de um conflito salutar entre forças sociais antagônicas. Na segunda concepção, a indisciplina seria indício de uma carência estrutural psíquica do aluno, desencadeada nas instituições familiares e que desembocaria na escola. (Araújo, 2002). Entendendo a indisciplina e o processo educativo, segundo a perspectiva vygotskyana:... um aluno indisciplinado não é entendido como aquele que questiona, pergunta, se inquieta e se movimenta na sala, mas sim como aquele que não tem limites, que não respeita a opinião e sentimentos alheios, que apresenta dificuldades em entender o ponto de vista do outro e de se auto governar (no sentido escrito por Vygotsky), que não consegue compartilhar, dialogar e conviver de modo cooperativo com seus pares. (Araújo, 2002). Ainda com relação à discussão a respeito da indisciplina, é interessante que se busque a perspectiva de um outro autor clássico na psicologia: Jean Piaget: Recorremos a esse autor e sua afirmação de que a essência de toda moralidade está no respeito que o indivíduo adquire pelas regras (1932:9), para trazer à discussão a existência de uma relação intrínseca entre moralidade quanto a disciplina e indisciplina. Isso porque, nessa perspectiva, tanto a moralidade quanto a disciplina estão vinculadas às regras sociais e às formas com que os sujeitos se relacionam com elas. (Araújo, 2002). Já, pode-se verificar, com relação à imposição de regras de forma autoritária, o que o autor Araújo diz: Outro aspecto relevante a ser observado é a forma com que a regra foi estabelecida, se imposta coercitivamente ou estabelecida com bases em princípios democráticos. Se imposta autoritariamente, o sujeito pode não sentir-se obrigado a cumpri-la e a indisciplina pode se um protesto em relação à autoridade. (Araújo, 2002). Uma das formas de enfrentamento do fenômeno da 3/5

indisciplina é a capacitação docente na organização da sala de aula, por exemplo: na construção de regras e plano de ensino / contrato pedagógico. 2. Objetivos Este trabalho tem por objetivo capacitar o professor no planejamento das condições de ensino e organização de contingências de uma classe de 2ª série do Ensino Fundamental. 3. Desenvolvimento O trabalho foi realizado em uma escola municipal de ensino fundamental, localizada no município de Santa Bárbara D Oeste, com 352 alunos, sob a direção da professora T.M. que também é a coordenadora pedagógica. A queixa formulada pela escola foi de indisciplina de 3 alunos da classe. O trabalho foi desenvolvido numa classe de 2ª série, com 25 alunos sob a orientação da professora L.G.M, com a idade de 24 anos, tendo concluído sua graduação no curso de Pedagogia, há dois anos; que tem a responsabilidade de desenvolver todas as disciplinas básicas bem como as que são normalmente desenvolvidas por outros professores (educação artística e educação física). Esta classe foi organizada a partir da junção de alunos oriundos de outras duas classes de 2ª série. Para a compreensão da queixa, foram realizadas: 1 entrevista com a diretora; 1 entrevista com a professora e 7 observações dos alunos. Identificamos a partir das observações e entrevistas que a indisciplina não se restringiu aos 3 alunos inicialmente apontados pela escola, mas sim era visível na sala toda. Além disso, havia a necessidade de intervenção nos seguintes aspectos identificados: 1. Dificuldade, entre os alunos, em seguirem regras e identificarem a professora como figura de autoridade; 2. Dificuldade da professora na organização da sala de aula e em estabelecer-se como autoridade. Para o enfrentamento da queixa, foram realizados 7 encontros semanais com a professora L.G.M., com duração média de 50 minutos. Nesses encontros eram oferecidas orientações, sugestões. feedbacks, etc. Com os alunos foram feitos 2 encontros semanais, com duração média de 50 minutos para a construção das regras. 4. Resultados A partir das entrevistas e observações realizadas nessa classe de 2ª série, foi possível compreender o problema fundamental que gerava a indisciplina generalizada. A junção de alunos provenientes de outras classes (considerados problema ), a inexperiência da professora (24 anos de idade e 2 anos de graduação em Pedagogia) e a falta de coordenação / apoio pedagógico foram identificados como foco principal do problema. O trabalho desenvolvido pelo grupo de alunos de Psicologia, reforçando positivamente a professora no gerenciamento das atividades escolares, proporcionou uma melhora considerável do comportamento disciplinar dos alunos (passaram a permanecer sentados desenvolvendo as atividades, seguiam as instruções da professora) e conseqüentemente, o desenvolvimento favorável do processo de aprendizagem. Com relação a essa questão, faz-se necessário recorrer à colocação de Aquino (2002), que ressalta a importância da instalação de uma nova ordem pedagógica, que apresenta como quesitos principais: o investimento nos vínculos concretos, a fidelidade ao contrato pedagógico e a permeabilidade para a mudança e para a invenção. A mudança observada no comportamento dos alunos é decorrente da mudança no comportamento da professora, que durante os encontros de orientação passou a se antecipar, buscando por conta própria os recursos necessários para a melhor maneira de conduzir o processo educacional. Essa sua disponibilidade em estar aberta à assistência e orientação e a sua iniciativa em procurar soluções, a fim de obter autonomia para o desenvolvimento de seu trabalho de forma efetiva e com maior eficácia, contribuíram para a conquista dos resultados verificados. Diante das intervenções planejadas nos encontros com a professora e aplicações delas em classe, ficou claro que os alunos, de modo geral, corresponderam às contingências proporcionadas. Isso pode ser comprovado através das últimas observações. Com a alteração do quadro de indisciplina, L.G.M. pôde obter resultados significativos na aplicação dos conteúdos relativos às disciplinas. Além disso, com uma classe mais organizada, os alunos começaram a perceber a sua condição de educandos, enquanto a professora, sua figura de autoridade 4/5

como educadora. Com relação às regras, ainda na situação anterior à intervenção dos alunos de psicologia, pôde-se verificar que, apesar delas já existirem, além de não terem sido formuladas conjuntamente com os alunos, também não foram implantadas de maneira a contemplar a sua efetivação, quer seja pela professora ou pelos alunos. A partir de uma nova conduta, na qual houve parceria na construção e ampliação do novo quadro de regras, tornou-se possível uma participação mais efetiva por parte de todos os envolvidos (professora-alunos) e a criação de contingências que pudessem oferecer maiores condições de internalização dessas regras. É interessante notar que essa implantação não significa autoritarismo por parte da professora sobre os seus alunos, mas favorece a ela a possibilidade de exercer a sua figura de autoridade como educadora (Araújo, 2002). Sendo assim, o sucesso da intervenção do grupo de alunos de Psicologia pode ser verificado pela evidência que se apresenta, através da professora, que assumiu efetivamente o seu papel como a protagonista nesse cenário educativo, demonstrando possuir a capacitação e as condições necessárias para prosseguir de maneira autônoma e mais experiente. 5. Considerações Finais É importante salientar que, embora o tempo de atuação dos alunos de Psicologia tenha sido relativamente pequeno, além de não ser possível a continuidade de um acompanhamento posterior à intervenção, isso não compromete a percepção de resultados significativos que foram obtidos até o momento. Indubitavelmente, a disponibilidade e a antecipação das atitudes da professora L.G.M, aliadas ao comprometimento dos estudantes de psicologia, em estabelecerem o apoio necessário para o desenvolvimento adequado da intervenção, foram imprescindíveis para que se pudesse considerar o bom êxito do presente trabalho. Referências Bibliográficas ARAÚJO, U. Disciplina, Indisciplina e a Complexidade do Cotidiano Escolar. In: OLIVEIRA, M. K. de; REGO, T.C.; SOUZA, D.T.R. (Orgs) Psicologia, Educação e As Temáticas Da Vida Contemporânea. São Paulo, Moderna, Cap.10, 2002. MELCHIORI, L. E.; SOUZA, D. G. De; BOTOMÉ, S. P.(1983). Critérios para uma análise de prioridades para o trabalho do psicólogo em instituições. Anais Da XII Reunião Da Sociedade de Psicologia De Ribeirão Preto. 5/5