DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO EM MATÉRIA DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR EM CONFLITOS ORIUNDOS DE RELAÇÃO DE TRABALHO



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Transcrição:

CALVO e FRAGOAS ADVOGADOS DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO EM MATÉRIA DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR EM CONFLITOS ORIUNDOS DE RELAÇÃO DE TRABALHO Autores: Adriana Calvo e José Carlos Fragoas 1

INDAGAÇÕES PRELIMINARES Inicialmente, a questão que deve ser abordada é qual seria o ÓRGÃO COMPETENTE para julgar conflitos oriundos da relação de previdência complementar. No segundo momento, a questão seria analisar se este conflito foi oriundo de uma relação de trabalho. Seria a Justiça do Trabalho o órgão competente? 2

Existe regulamentação jurídica a respeito do órgão competente para julgar conflitos oriundos de relação de previdência complementar? A Justiça do Trabalho tem competência para julgar conflitos de previdência complementar oriundos de relação de trabalho? 3

Quando empregado adquire um plano de previdência privada corporativo, este benefício integra o contrato de trabalho? Pode o empregador cancelar ou alterar o referido plano a qualquer momento? 4

Portanto, seria a relação de previdência complementar totalmente distinta da relação trabalhista? Ou Deve se aplicar a CLT ao empregado que adquire um plano de previdência complementar dentro de uma relação de emprego? 5

Os conceitos trabalhistas de salário, vínculo de emprego, término da relação de trabalho, grupo econômico, justa causa, entre outros, poderiam ser aplicados na relação de Previdência Complementar? 6

1. Implicações da Emenda Constitucional nº 20/98 Com a edição da Emenda Constitucional nº 20/98, que modificou o sistema de previdência social, estabeleceu normas de transição e trouxe nova redação para art. 202 da CF e nele inseriu, entre outros, o 2º, transcrito a seguir: 7

Art. 202 - O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar. 8

"Art. 202 da CF: 2º - As contribuições do empregador, os benefícios e as condições contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios das entidades de previdência privada não integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios concedidos, não integram a remuneração dos participantes, nos termos da lei. 9

A importância da Emenda Constitucional nº 20/1998 é a seguinte: Ponto 1. passou a ser obrigatória a regulamentação jurídica da relação de previdência complementar por lei complementar. Até então, a Previdência Privada Complementar era regulada por lei ordinária alei 6.435/77. Esta lei complementar somente foi aprovada em 2001: a Lei Complementar 109/2001 que revogou a referida Lei ordinária 6.435/77. 10

Ponto 2. Declarou expressamente que a relação de previdência complementar não integra o contrato de trabalho dos participantes e não integra a remuneração dos participantes. Logo, a partir desta E.C. passou a ficar expresso que o benefício de previdência privada concedido por empregadores não é direito trabalhista, pois não integra o contrato e a remuneração dos empregados. 11

Portanto, a relação de previdência complementar passou a ser tratada de forma totalmente distinta da relação trabalhista, não se devendo aplicar acltao empregado que adquire um plano de previdência complementar dentro de uma relação de emprego. 12

2. A Competência em matéria de previdência complementar O que é jurisdição? A jurisdição é afunção estatal de resolver conflitos de interesses concorrentes, literalmente dizendo o Direito, de forma a assegurar a ordem jurídica e proteger os interesses tutelados pela lei. 13

O que é competência? A competência é, portanto, a medida da jurisdição, ao tempo em que estabelece o âmbito dentro do qual o magistrado poderá exercer sua função jurisdicional. 14

A distribuição da competência é feita em diversos níveis: a) na Constituição Federal, especialmente a determinação da competência de cada uma das Justiças e dos Tribunais Superiores da União; b) na lei federal (Código de Processo Civil, Código de Processo Penal etc.), principalmente as regras sobre o foro competente (comarcas); 15

c) nas Constituições estaduais, a competência originária dos tribunais locais; d) nas leis de organização judiciária, as regras sobre competência de juízo (varas especializadas etc.). Não há regulamentação jurídica em nenhum nível acima do órgão competente para julgar conflitos de previdência complementar. 16

Os conflitos de previdência complementar podem ser oriundos de diversas relações jurídicas: 1. de relação de trabalho (relação trilateral empregado empregador e entidade de previdência) - Plano de previdência corporativo: entidades fechadas (fundos de pensão) ou de entidade aberta (seguradoras). Exemplos: João empregado da Petrobrás participante do fundo de pensão Petros (plano corporativo de entidade fechada) ou João empregado da Nestlé participante do Itaú Vida e Previdência (plano corporativo de entidade aberta). 17

2. de relação de consumo relação bilateral (consumidor e entidade aberta) - Plano de previdência complementar individual: o consumidor contrata diretamente com uma entidade aberta (seguradora). Ex: João pessoafísica contratacomoitaúvidae Previdência um plano de previdência complementar individual. - * As entidades fechadas não comercializam planos individuais para terceiros, somente para empregados. 18

Portanto, o principal aspecto a ser apontado é que a Emenda Constitucional nº 20/98 e a Lei Complementar nº 109/2001 é o seguinte: * não afirmam em nenhum momento qual seria o órgão competente para julgar os conflitos de previdência complementar oriundos de relação de emprego. 19

Não se pode confundir competência matéria de direito processual com natureza da relação jurídica matéria de direito material. O Direito do Trabalho é exemplo típico de um ramo do Direito, cuja competência de seus órgãos jurisdicionais extrapola os limites do direito material trabalhista, principalmente após a E.C. 45/2004. 20

3. A Competência da Justiça do Trabalho Conforme a nova redação do art. 114 da CLT alterada pela E.C. 45-2004: Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: inciso I - as ações oriundas da relação de trabalho... Inciso IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. 21

Primeiro aspecto a salientar é que a Constituição Federal não estabeleceu a Competência da Justiça do Trabalho em razãodamatéria,mas sim em razão da relação jurídica: relação de trabalho (inciso 1). Não são somente os litígios que envolvendo direito trabalhista são da competência da Justiça Obreira, o importante é que o conflito seja oriundo de uma relação de trabalho. 22

Exemplo 1: Se o representante comercial é pessoa física (Lei nº 4.886/65), a competência é da Justiça do Trabalho, mesmo que ele pleiteie o pagamento da indenização de rescisão do contrato de representação comercial. 23

Exemplo 2: Se o transportador autônomo (pessoa física), mantiver uma relação jurídica não-eventual e remunerada com uma empresa de transporte de forma habitual, a competência será da Justiça do Trabalho (Lei nº 7.290/84). 24

Exemplo 3: Se o corretor autônomo (pessoa física) presta serviços a imobiliária, a competência será da Justiça do Trabalho. 25

4. Competência em conflitos oriundos de relação de trabalho: Justiça do Trabalho ou Justiça Comum? Inicialmente, em caso de relação de consumo relação bilateral (consumidor e entidade aberta) não há dúvidas que a competência é da JUSTIÇA COMUM. Ex. Plano de previdência complementar individual: o consumidor contrata diretamente com uma entidade aberta (seguradora). 26

E como fica a competência em caso de conflitos de previdência complementar oriundos de relação de trabalho (relação trilateral empregado empregador e entidade de previdência)? Exemplo: João ajuiza ação trabalhista contra a Petrobrás (empregadora) e a Petros (entidade fechada) pleiteando diferença de complementação de aposentadoria. 27

Previdência privada: STF discute competência para apreciar causa Fonte: COAD - 03 de Março de 2010 Ministros discutem se é da Justiça do Trabalho a competência para apreciar a causa relativa à previdência privada como decorrência do contrato de trabalho O Plenário do Supremo Tribunal Federal discutem se é da Justiça do Trabalho a competência para apreciar a causa, relativa à previdência privada, como decorrência do contrato de trabalho (REs 586453 e 583050), no qual foi reconhecida repercussão geral. 28

Ementa: PREVIDÊNCIA PRIVADA. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. COMPETÊNCIA. EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. (RE 586453 RG, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, julgado em 10/09/2009, DJe-186 DIVULG 01-10- 2009 PUBLIC 02-10-2009 EMENT VOL-02376-04 PP-00716 LEXSTF v. 31, n. 370, 2009, p. 278-283). 29

Correntes jurisprudenciais (assunto de repercussão geral no STF) Atualmente, há 2 (duas) correntes quanto a questão da competência oriundos de relação de trabalho: Corrente 1: defendem que a Justiça do Trabalho não é competente para julgar conflitos de previdência complementar, se apóiam nos textos da E.C. 20/95 e na Lei 109/2001 pois ambas afirmam que a previdência complementar NÃO integra o contrato de trabalho. 30

"Art. 202 da CF: 2º - As contribuições do empregador, os benefícios e as condições contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios das entidades de previdência privada não integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios concedidos, não integram a remuneração dos participantes, nos termos da lei. 31

1) EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRARODINÁRIO. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA E/OU PENSÃO. ENTIDADE DE PREVIDÊNCIA PRIVADA. COMPETÊNCIA. REEXAME DE PROVAS E DE CLÁUSULA CONTRATUAL. IMPOSSIBILIDADE EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. EMBARGOS ACOLHIDOS. 1. É certo que esta Corte fixou entendimento no sentido de que compete à Justiça Comum o julgamento das ações que envolvam complementação de aposentadoria paga por entidade de previdência privada, "por não decorrer essa complementação pretendida de contrato de trabalho... [RE n. 470.169, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 5.5.06]. 2. O Tribunal de origem afirmou que a questão decorre do contrato de trabalho.(re 594440 AgR-ED, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 15/12/2009, DJe- 027 DIVULG 11-02-2010 PUBLIC 12-02-2010 EMENT VOL- 02389-04 PP-00816). 32

2) PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PREVIDÊNCIA PRIVADA. REAJUSTE DE BENEFÍCIO. RELAÇÃO JURÍDICA. NATUREZA CIVIL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.- Compete à Justiça Estadual processar e julgar ação que visa a complementação de benefício previdenciário, uma vez que o pedido da autora não se baseia em extinto contrato de trabalho, mas sim decorre do pacto associativo firmado com a instituição de previdência privada, demonstrando, assim, a natureza civil da relação. - Competência do Juízo de Direito da 5ª Vara Cível de Goiânia-GO, o suscitante. (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - SEGUNDA SEÇÃO. Relator Ministro CÉSAR ASFOR ROCHA. CC 17.466/GO. Julgado em 23.04.97 - Acórdão unânime publicado no DJU-1 de 23.06.97). 33

3) Complementação de aposentadoria privada não é competência da Justiça do Trabalho Fonte: TST data: 7/6/2010 A Justiça do Trabalho não é competente para julgar questões relativas à complementação de aposentadoria privada. Por isso, a Quarta Turma do Tribunal Superior do Trabalho acatou recurso do Unibanco AIG Vida e Previdência S/A e reverteu decisão do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região (RJ), que havia condenado a empresa a liberar parcelas de plano de aposentadoria pagas por trabalhador. 34

... O ministro Barros Levenhagen, relator do processo, citou decisão da ministra Ellen Gracie do STF no sentido de que compete à Justiça Comum o julgamento das ações que envolvam complementação de aposentadoria paga por entidade de previdência privada. Para o relator, como a questão não envolve diferença de complementação de aposentadoria, inclusive porque o autor da ação nem sequer está aposentado, mas de (..) liberação de valores (...) de previdência complementar, agiganta-se a convicção de ela não ter nenhuma relação mesmo remota com o contrato de trabalho (RR-134000-66.2007.5.01.0024) (Augusto Fontenele) 35

Corrente 2: defendem que a Justiça do Trabalho é competente para julgar conflitos de previdência complementar, em face do art. 114, inciso 1, da CF conflito decorrente de relação de trabalho. 36

Argumento 1: Para se determinar a competência da Justiça do Trabalho, não interesse se o direito objeto da lide integra ou não integra o contrato de trabalho, e sim se o conflito é originado de uma relação de trabalho (art. 114, inciso I, da CF). 37

Argumento 2: A Lei 10.101/2001 que regulamenta a PLR prevê em seu art. 3º : A participação de que trata o art. 2o não substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da habitualidade. Contudo, mesmo não tendo natureza salarial, litígios envolvendo PLR são apreciados pela Justiça do Trabalho, uma vez que decorrem de relação de emprego (espécie de relação de trabalho). 38

OJ-SDI1-390 do TST. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. RESCISÃO CONTRATUAL ANTERIOR À DATA DA DISTRIBUIÇÃO DOS LUCROS. PAGAMENTO PROPORCIONAL AOS MESES TRABALHADOS. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. (DEJT divulgado em 09, 10 e 11.06.2010). Fere o princípio da isonomia instituir vantagem mediante acordo coletivo ou norma regulamentar que condiciona a percepção da parcela participação nos lucros e resultados ao fato de estar o contrato de trabalho em vigor na data prevista para a distribuição dos lucros. Assim, inclusive na rescisão contratual antecipada, é devido o pagamento da parcela de forma proporcional aos meses trabalhados, pois o ex-empregado concorreu para os resultados positivos da empresa. 39

Portanto, em caso de pedido de diferença de complementação de aposentadoria prevista em regulamento interno, originado de contrato de trabalho (principalmente planos de entidade fechada, nos quais a condição de empregado é exigida para vinculação ao plano), esta corrente defende a competência da Justiça do Trabalho, conforme juris a seguir: 40

1) APOSENTADORIA. COMPLEMENTAÇÃO (CAPEF). JUSTIÇA DO TRABALHO. COMPETÊNCIA. A Justiça do Trabalho tem competência para julgar ação cujo objeto é o pagamento de diferença de complementação de aposentadoria decorrente de reajuste de salário e pagamento de abono para empregado ativo, uma vez que tal benefício era previsto no regulamentointernodaempresaeodireitoem conflito origina-se do contrato de trabalho. Acórdão Número: 5487/00 Data de Julgamento: 27/11/2000 Processo Número: 2312/00 Data de Publicação: DOJT/7ª RG: 18/12/2005. Relator: Antônio Carlos Chaves Antero. 41

2) JT é competente para julgar complementação de aposentadoria em previdência privada 11/12/2009 Compete à Justiça Trabalhista decidir sobre verbas relativas à complementação de aposentadoria decorrentes de contrato de trabalho que envolve entidade de previdência privada. Esse foi o entendimento da Quarta Turma do Tribunal Superior do Trabalho ao rejeitar recurso da Previsc Sociedade de Previdência Complementar do Sistema Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina que se insurgiu contra decisão regional favorável a um empregado do Serviço Social do Comércio Sesc. O trabalhador era funcionário do Sesc, onde foi admitido em abril de 90 e alguns anos depois passou a ser beneficiário do plano de aposentadoria. A questão refere-se a saber qual regra se aplicaria a ele, para deferir-lhe a aposentadoria integral, tendo em vista que a idade mínima exigida mudou ao longo do tempo de 55 para 57 anos e, depois, para 60. No caso, o empregado contava com 55 anos, e era o que as regras permitiam... 42

... Informou o Tribunal Regional da 12ª Regional (SC) que o empregado aderiu ao plano de aposentadoria em 1994, mediante ato jurídico perfeito e acabado, que passou a integrar seu contrato de trabalho. Assim caberia aplicar a legislação trabalhista vigente, em especial o artigo 468 da CLT, que veda alterações contratuais que venham a prejudicar o empregado. Tal como o TRT, a Quarta Turma não acatou a tese defendida pela instituição de que o caso seria da esfera da Justiça Comum e não da Justiça do Trabalho. O pedido e a causa de pedir têm origem no contrato de trabalho, daí por que é esta justiça especializada competente para apreciar e julgar a lide, manifestou a relatora na Quarta Turma, ministra Maria de Assis Calsing. (RR-1491-2003-014-12-00.4) (RR-1491-2003- 014-12-01.7) Fonte: TST 43

3) SDI-2 declara competência da JT em ação contra entidade de previdência Fonte: TST - 14/04/2009 A Seção Especializada em Dissídios Individuais 2 (SDI-2) do Tribunal Superior do Trabalho afirmou a competência da Justiça do Trabalho para julgar ações que envolvem entidades de previdência privada ligadas a empresas como Petrobras, Portobras, Vale do Rio Doce e Cemig, entre outras, nas quais empregados aposentados pedem correção monetária da reserva de poupança em razão da incidência de expurgos inflacionários decorrentes de planos econômicos. No Supremo Tribunal Federal, não há consenso sobre qual o ramo do Poder Judiciário é competente para julgar tais ações, se a Justiça Comum (estadual) ou a Justiça do Trabalho. Há decisões nos dois sentidos. Os ministros que afirmam a competência da Justiça Comum entendem que matéria é de natureza civil, e não trabalhista, ainda que tenha relação com o contrato de trabalho.... 44

... A decisão tomada hoje (14), por maioria de votos, pelos ministros da SDI-2 unifica a posição das duas Seções Especializadas em Dissídios Individuais do TST sobre a matéria, uma vez que a SDI-1 já vinha afirmando a competência da Justiça do Trabalho para julgar tais ações. As recentes decisões do STF, nas quais foi declarada incompetência da Justiça do Trabalho, foram proferidas justamente em recursos extraordinários contra decisões da SDI-1 do TST. O caso julgado pela SDI-2 envolve a Portus - entidade fechada de previdência complementar criada pela Portobras, extinta em 1990. O ministro relator, Antonio de Barros Levenhagen, votou pela incompetência da Justiça do Trabalho e foi vencido. Osdemais ministros da SDI-2 acompanharam a divergência aberta pelo ministro Pedro Paulo Manus, que detectou decisões do STF reconhecendo a competência da Justiça do Trabalho mesmo nas ações movidas pelo trabalhador contra a entidade de previdência exclusivamente. ( ROAR 2.704/2006-000-01-00.5) 45

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