APELAÇÃO COM REVISÃO Nº 563.854-0/5 RIBEIRÃO PIRES Apelantes: LE Rouge Comércio e Importação Ltda. DJ Boys Comércio e Importação Ltda. Apelados : Agostinho Barreiros Dias Maria Ernestina Garcia Dias LOCAÇÃO. AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO C.C. REPARAÇÃO DE DANOS. Responsabilidade civil. Ônus da prova. Impossibilidade jurídica da pretensão. CERCEAMENTO DE DEFESA. A verificação da necessidade ou não da produção de qualquer prova está a cargo do julgador. Somente ele (Juiz), pelo livre convencimento diante dos elementos existentes nos autos, pode estabelecer se é o caso de instrução ou de julgamento antecipado. FÉRIAS FORENSES. Dispõe o art. 58 da Lei nº 8.245/91, que as ações de despejo, consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação, revisionais de aluguel e renovatórias de locação tramitam nas férias forenses e não se suspendem pela superveniência delas. Trata-se de regra especial e sua interpretação só pode ser restritiva. Quisesse o legislador que as ações de indenização decorrentes do contrato de locação tivessem trâmite nas férias forenses, teria inserido a hipótese no meio das que anteviu. Voto nº 3.868 Visto. - 1 -
LE ROUGE COMÉRCIO E IMPORTAÇÃO LTDA. e DJ BOYS COMÉRCIO E IMPORTAÇÃO LTDA. ingressaram com Ação de Rescisão de Contrato c. c. Reparação de Danos contra AGOSTINHO BARREIROS DIAS e MARIA ERNESTINA GARCIA DIAS, partes com caracteres e qualificação nos autos, perseguindo a rescisão do contrato de locação entre eles existente, pelos motivos ali indicados que teriam inviabilizado o exercício de suas atividades, responsáveis pelos danos sofridos. Formalizada a angularidade os Requeridos apresentaram contestação, que foi impugnada. Seguiu-se a entrega antecipada da prestação jurisdicional, julgando improcedente a pretensão e condenando as Requerentes ao pagamento dos ônus da sucumbência e dos honorários advocatícios de 15% sobre o valor da causa, corrigido desde a propositura (folhas 75/77v). LE ROUGE COMÉRCIO E IMPORTAÇÃO LTDA. e DJ BOYS COMÉRCIO E IMPORTAÇÃO LTDA. interpuseram recurso. Argüiram preliminar de nulidade da sentença porque não foi considerado o pedido de produção de prova, pois pretendiam demonstrar o descaso dos empreendedores com a promoção do Shopping Center Garden, em destaque a falta de propaganda, não podendo a conjuntura econômica ser a única responsável pelo insucesso. Sustentam que... a resposta dos apelados veio aos autos intempestivamente, o que exigia a decretação de sua revelia (...), os requeridos deram-se por citados em 19 de dezembro de 1997 e a contestação, somente foi protocolizada em 16 de fevereiro de 1998... (folha 84).... Desta forma, a r. sentença foi omissa nesse ponto, deixando de decretar a revelia... (folha 85). No mérito afirmam que a sentença julgou improcedente a pretensão com fundamento... na estrutura social da cidade de Ribeirão - 2 -
Pires, na atual conjuntura econômica e na responsabilidade exclusiva dos lojistas de arregimentar clientes, promovendo campanhas para isso... (folha 85).... o interesse em atrair o público consumidor para os centros de compra de shopping centers é atributo dos lojistas. Na verdade, deve haver uma cooperação entre empreendedor e lojista neste sentido, o que não houve no caso vertente... (folha 87). AGOSTINHO BARREIROS DIAS e MARIA ERNESTINA GARCIA DIAS enfatizaram que o julgamento deu-se por antecipação por se tratar de matéria apenas de direito, e que a contestação encontra apoio no art. 58 da Lei do Inquilinato. É o relatório, adotado no mais o da r. sentença. Agostinho Barreiro Dias e Maria Ernestina Barreiros Dias firmaram contrato de locação comercial com Le Rouge Comércio e Importação Ltda. em 1º de dezembro de 1995, do salão comercial com os característicos ali descritos, pelo prazo de 24 meses (1º/12/95 a 30/11/97), pelo aluguel mensal de R$15,00 por metro quadrado, encerrando R$90,00, com reajuste de acordo com o INPC, ou IGP-M, ou pelo critério que melhor refletisse sobre a desvalorização da moeda, e com acréscimo de 50% do valor vigente no mês de dezembro de cada ano. As razões do recurso estão em coerência com o pedido:... os requeridos não proporcionaram às locatárias as necessárias condições de prosperar com os seus negócios, ou seja, em momento algum procuraram atrair clientes para as lojas, sendo público e notório a baixa freqüência de consumidores (...). Não obstante, (...), a sócia de ambas autoras, por iniciativa própria, tentou apresentar à administração um projeto de atrativos de clientela, o qual foi de pronto rejeitado....... o desprestígio do Garden Shopping junto à outros empreendedores é tamanho, em decorrência da falta de incentivo ao - 3 -
comércio, bem como, da completa ausência de segurança no local, que as autoras não conseguem transferir a sua locação... (folha 4). Os locatários se comprometeram sobre a realização de obras de acabamento interno do salão de uso comercial, ou módulo, instalações dos ramais internos de força, telefone, água e esgoto, e outros necessários à atividade comercial. Reservou-lhes o contrato o direito de acrescer ao módulo comercial um mezanino, que... na parte superior do Módulo de Uso Comercial não será considerada, para efeitos locatícios, como acréscimo de área... (folhas 30/31). Os Locadores (Agostinho Barreiro Dias e Maria Ernestina Barreiros Dias) firmaram contrato de locação comercial com DJ Boys Comércio e Importação Ltda. em 20 de abril de 1996, do salão comercial com os característicos ali descritos, pelo prazo de 24 meses (20/4/96 a 20/4/98), pelo aluguel mensal de R$12,50 por metro quadrado, encerrando R$350,00, com reajuste no décimo terceiro mês, de acordo com o IPCr, ou IGP-M, ou pelo critério que melhor refletisse sobre a desvalorização da moeda, e com acréscimo de 50% do valor vigente no mês de dezembro de cada ano. Os demais termos, mutatis mutandis, encontram ressonância e igualdade com o contrato anterior (folhas 25 e segs.). A cláusula 40 de cada contrato estabelece o compromisso das partes contratantes, considerados como obrigações complementares das partes todas aquelas constantes da Escritura Declaratória de Normas Regedoras das Locações do Garden Shopping (...), que deste instrumento faz parte integrante... (folhas 35 e 47). A inicial (das Apelantes) não trouxe cópia desse instrumento. Vê-se que a responsabilidade assumida pelos Apelados difere dos compromissos que a inicial e as razões dizem que lhes estavam afetas. É possível que nos documentos que não acompanharam o pedido estivesse consignada situação ou - 4 -
compromisso diverso. A sustentação de cerceamento de defesa pelo julgamento antecipado sem indicação da fonte, ou de forma genérica das provas que, naturalmente, pela natureza jurídica dos contratos deveriam fazer parte integrante deles, não pode ser acolhida. A verificação da necessidade ou não da produção de qualquer prova está a cargo do Magistrado. Somente ele (Juiz), pelo livre convencimento diante dos elementos existentes nos autos, pode estabelecer se é o caso de instrução ou de julgamento antecipado. O julgamento antecipado e/ou no estado da lide atendeu ao prudente arbítrio do julgador. Não houve cerceamento de defesa de qualquer ordem. Sentiu-se habilitado à entrega da prestação jurisdicional diante das provas existentes. Cumpriu a norma do artigo 330, do Código de Processo Civil. Trata-se de ação instruída com robusta prova material que lhe ofereceu elementos de convicção e a possibilidade do julgamento no estado da lide. "Julgamento antecipado da lide. Presentes os requisitos legais (artigo 330 do Código de Processo Civil) e as condições que ensejam o julgamento antecipado da causa, é dever do juiz, e não mera faculdade de assim proceder. Procedente Jurisprudencial. Presença de elementos hábeis a possibilitar o julgamento da matéria no estado em que se encontrava. Inexistência de Cerceamento de Defesa. Recurso desprovido 1 ". Resta a questão da intempestividade ou não da contestação. Em primeiro plano pondera-se que não tendo a sentença feito nenhuma referência ao fato, como afirmam as razões do apelo, deveriam as Apelantes ter utilizado do recurso adequado Embargos de Declaração, para evitar a preclusão. Acresce que há disposição de lei especial para o caso. 1 - TJSP - Ap. Cív. nº 1.271-4 - 7ª Câm. Direito Privado - Rel. Júlio Vidal J. 18.6.97, v.u. - 5 -
Dispõe o art. 58 da Lei nº 8.245/91 que as ações de despejo, consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação, revisionais de aluguel e renovatórias de locação tramitam nas férias forenses e não se suspendem pela superveniência delas. Trata-se de regra especial e sua interpretação só pode ser restritiva. Quisesse o legislador que as ações de indenização decorrentes do contrato de locação tivessem trâmite nas férias forenses teria inserido a hipótese no meio das que anteviu. Esse processo não tramita durante as férias. O mandado de citação foi juntado em 17/12/97 (folha 57 vº). Computadas as suspensões de 21 a 31 de dezembro 2 e de 2 a 31 de janeiro 3, o prazo para contestação começou a fluir em 18/12/97 e terminou em 14/2/98 (sábado), prorrogando-se até o primeiro dia útil seguinte. É tempestiva, pois, a defesa apresentada em 16/2/98. As ações relativas a locação predial urbana, que não se enquadram nas hipóteses arroladas no artigo 58 da Lei do Inquilinato, têm o curso suspenso nas férias forenses 4. Em face ao exposto, rejeita-se a matéria preliminar e nega-se provimento ao recurso. IRINEU PEDROTTI Relator 2 - Provimento nº 553/96 do TJESP. 3 - Férias forenses em primeiro grau. 4-2º TACivSP - EI 528.964-9ª Câm. - Rel. Juiz MARCIAL HOLLANDA - J. 5.5.99. - 6 -