APELAÇÃO COM REVISÃO Nº /0 - Araçatuba Apelante: Erta Indústria, Comércio e Representações Ltda. Apelado : Bernardo Paulo Gehrke

Transcrição

1 APELAÇÃO COM REVISÃO Nº /0 - Araçatuba Apelante: Erta Indústria, Comércio e Representações Ltda. Apelado : Bernardo Paulo Gehrke AÇÃO DE EXECUÇÃO. EMBARGOS DE TERCEIRO OPOSTOS PELO ADQUIRENTE DE TODAS AS AÇÕES DA EMPRESA EXECUTADA. ILEGITIMIDADE DE PARTE. A tutela dos Embargos de Terceiro tem por finalidade principal evitar os efeitos da apreensão judicial sobre os bens de quem não é parte no processo. Sendo a Apelante adquirente de todas as ações da empresa executada, como admitiu e comprovou, portanto, sucessora da executada em direitos e obrigações, (ela) não detém legitimidade ativa para postular na qualidade de terceiro a exclusão do bem da constrição judicial. PENHORA. POÇO ARTESIANO. RECURSO MINERAL. PROPRIEDADE DA UNIÃO. INADMISSIBILIDADE. Considerando que a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, conforme dispõe o art do Código Civil, a penhora não poderia incidir sobre o poço artesiano que canaliza a água de um lençol freático de águas quentes, que nasce na serra de Botucatu (...) e termina na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso. A executada, eventualmente, teria tão somente o direito de exploração do poço, desde que expressamente autorizada por concessão outorgada pelo Ministério das Minas e Energia. Os bens minerais, inclusive do subsolo, pertencem à União (inc. IX, do art. 20 da Constituição Federal). Voto nº Visto, ERTA INDÚSTRIA COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA. ingressou com Ação de Embargos de Terceiro contra BERNARDO PAULO GEHRKE, caracteres e qualificação das partes nos autos, afirmando que na Ação de Execução promovida pelo Embargado contra NOROESTE MINERAÇÕES E EMPREENDIMENTOS S. A.: - 1 -

2 "... A penhora se fez como se o referido bem fosse de propriedade da Noroeste Minerações e Empreendimentos S. A....". "... é certo que a EMBARGANTE adquiriu a área de terras, primeiramente, por instrumento de venda e compra da empresa Sol de Verão (...) esta vendeu a referida área para a EMBARGANTE, que com a finalidade de garantir a solidez de uma transação completa, adquiriu as benfeitorias e instalações por contrato de venda e compra, da empresa Hotel Aldeia das Águas Quentes Ltda. (...) e, em seguida, veio a adquirir a empresa mineradora Noroeste Minerações e Empreendimentos S. A. (...) com todos os direitos de propriedade e exploração da jazida de águas minerais naturais, um poço profundo perfurado na área pertencente ao Hotel Aldeia das Águas Quentes Ltda....". "... a propriedade das instalações e dos componentes do POÇO PROFUNDO incontestavelmente são da EMBARGANTE e já a sua posse vem sendo exercitada, desde o início do ato contratual, pelo próprio EMBARGANTE ou por interposta terceira pessoa...". Requereu: "... Considerando-se que A PENHORA SOMENTE SE REALIZOU EM FACE DO DESCONHECIMENTO DO EMBARGADO E DO JUÍZO DO PROCESSO, DA COMPRA DA ÁREA DO HOTEL E DAS INSTALAÇÕES E DIREITOS DO POÇO PROFUNDO, BEM COMO, DA AQUISIÇÃO TAMBÉM DA EMPRESA NOROESTE MINERAÇÕES E EMPREENDIMENTOS S. A., pela ERTA INDÚSTRIA COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA...." (folha 8 - destaques do original). "... sejam os presentes embargos julgados procedentes..." (folhas 10). Deferida a liminar e formalizada a angularidade, a Requerida fez encarte de contestação. Seguiu-se a entrega da prestação jurisdicional: - 2 -

3 "... Os embargos foram opostos pela sucessora em direitos e obrigações da executada, razão pela qual é parte ilegítima para atuar no pólo ativo da presente ação, faltando, portanto, aos autos, uma das condições da ação. De rigor a decretação da carência da ação. "... JULGO A EMBARGANTE CARECEDORA DA AÇÃO e JULGO EXTINTO o presente feito, sem julgamento do mérito, com fundamento nos artigos 267, inciso VI e artigos e seguintes do Código de Processo Civil..." (folha 71 - destaque do original). ERTA INDÚSTRIA, COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA. recorreu. Persegue a reforma da decisão enfatizando que: "... A cessão das ações é anterior a constituição do crédito, razão por que deve-se considerar que a constrição judicial não pode alcançar os bens da apelante porquanto não responde pela dívida. Não sendo devedora, logo, deve-se reconhecer que não é parte legítima para responder a ação de execução, porquanto efetivamente, não recepcionou nenhuma obrigação para a qual seus bens houvessem de responder. Dessa forma, resta demonstrado que a apelante é parte legítima, então, para a propositura dos embargos de terceiro..." (folha 77). BERNARDO PAULO GEHRKE apresentou contra-razões defendendo o acerto da decisão (folhas 84/86). É o relatório, adotando-se no mais o da r. sentença. Não foi encartada cópia da inicial da Ação de Cobrança que BERNARDO PAULO GERKE move contra NOROESTE MINERAÇÕES E EMPREENDIMENTOS S. A., em fase de execução. Consta dos autos que: - 3 -

4 "... A ação de execução de dívida tem como título executivo a sentença proferida nos mencionados autos de n. 481/95 (Ação de cobrança ajuizada em ) acostada às fls. 140/142, publicada em , transitada em julgado em , por força do acórdão de fls. 177/181 que a manteve em recurso de apelação, reconhecendo o crédito do apelado - Bernardo Paulo Gehrke, originários de contrato de prestação de serviço advocatício..." (folha 76 - grifou-se). No "Auto de Penhora e Depósito" lavrado nos autos da Execução foi consignado: "... Aos Vinte seis dias do mês de maio do ano de um mil novecentos e noventa e nove, nesta cidade e comarca de Araçatuba à Rua Keisaburo Fugihara, nº 8 (...) procedemos a penhora (1) um poço Artesiano azul claro com 970 metros de profundidade instalado e em funcionamento..." (folha 29). Afirma a Embargante: "... A PENHORA SOMENTE SE REALIZOU EM FACE DO DESCONHECIMENTO DO EMBARGADO E DO JUÍZO DO PROCESSO, DA COMPRA DA ÁREA DO HOTEL E DAS INSTALAÇÕES E DIREITOS DO POÇO PROFUNDO, BEM COMO, DA AQUISIÇÃO TAMBÉM DA EMPRESA NOROESTE MINERAÇÕES E EMPREENDIMENTOS S. A., pela ERTA INDÚSTRIA COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA...." (folha 8 - destaque do original). Para propor ou responder ação é necessário ter interesse e legitimidade 1. Legitimidade é o consentimento dado pelo ordenamento jurídico para que alguém se afirme, em juízo, como titular de um direito material. O interesse processual reflete-se na necessidade do pedido da sentença de mérito e na utilidade dessa prestação jurisdicional. 1 - Código de Processo Civil, artigo 3º

5 As "condições da ação" apresentam-se como matéria de ordem pública que pode e deve ser apreciada em qualquer época e grau de jurisdição. O Requerente será considerado carecedor da ação quando não estiverem presentes todas as suas condições (legitimidade, interesse e possibilidade jurídica do pedido). O Código de Processo Civil dispõe: Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de penhora, depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento, inventário, partilha, poderá requerer lhes sejam manutenidos ou restituídos por meio de embargos 2. Formalizada a penhora em 26/5/1999, foi intimado como representante da Executada Noroeste Minerações e Empreendimentos S. A., o Sr. Ary Jacomossi que, em 10/1/1995 assinou o contrato de transferência de ações da empresa em favor da Embargante, sendo, inclusive, nomeado depositário do bem (folha 29). A Apelante adquiriu todas as ações da empresa executada, Noroeste Minerações e Empreendimentos S. A. em 10/1/1995, antes da propositura da ação de cobrança (17/4/1995) que originou a execução, como ela própria admitiu e comprovou nos autos (folhas 22/26). Sendo a sucessora da executada em todos os direitos e obrigações, ela não detém legitimidade ativa, para postular na qualidade de terceiro, a exclusão do bem da constrição judicial. Os recursos minerais, inclusive os do subsolo, são bens da União (inc. IX, do art. 20 da Constituição Federal). 2 - Art

6 Considerando que a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, conforme dispõe o art do Código Civil, a penhora não poderia incidir sobre o poço artesiano que canaliza a água de um lençol freático de águas quentes, que nasce na serra de Botucatu (...) e termina na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso (folha 30). A executada, eventualmente, teria tão somente o direito de exploração do poço, desde que expressamente autorizada por concessão outorgada pelo Ministério das Minas e Energia. O proprietário do solo não é titular de jazida, por disposição, inclusive, constitucional. 3 Em tema de exploração de jazidas e similares não se sobrepõe interesse de particulares sobre o público. 4 Em face ao exposto, nega-se provimento ao recurso e, ex officio anula-se a ação de execução a partir da penhora, inclusive. IRINEU PEDROTTI Desembargador Relator. 3-2ºTACivSP - Ap. s/ Rev , 8ª Câm., Rel. Juiz MILTON GORDO, j. em ºTACivSP - Ap. s/ rev , 2ª Câm., Rel. Juiz VIANNA COTRIM, j. em