MANUAL DE GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS da estratégia à prática. Helena de Almeida



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MANUAL DE GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS da estratégia à prática Helena de Almeida

EDIÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E VENDAS SÍLABAS & DESAFIOS - UNIPESSOAL LDA. NIF: 510212891 www.silabas-e-desafios.pt info@silabas-e-desafios.pt Sede: Rua Dorilia Carmona, nº 4, 4 Dt 8000-316 Faro Telefone: 289805399 Fax: 289805399 Encomendas: encomendar@silabas-e-desafios.pt TÍTULO MANUAL DE GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS da estratégia à prática AUTOR Helena de Almeida 2ª edição (revista e aumentada) 500 Exemplares Copyright @ Março 2014 Sílabas & Desafios, Unipessoal Lda. ISBN: 978-989-98122-6-0 Depósito legal: Pré-edição, edição, composição gráfica e revisão: Sílabas & Desafios Unipessoal, Lda. Pré-impressão, impressão e acabamentos: Gráfica Comercial, Loulé Capa: Joana Guita Pinto; http://www.ladybug-ctrlc.com/ Reservados todos os direitos. Reprodução proibida. A utilização de todo, ou partes, do texto, figuras, quadros, ilustrações e gráficos, deverá ter a autorização expressa do autor. 2

Índice A GESTÃO ESTRATÉGICA DE RECURSOS HUMANOS... 9 Novas tendências... 9 Escolas da estratégia... 12 As dez escolas da Gestão Estratégica... 12 A Escola do Design... 12 Escola do Planeamento... 13 Escola de Posicionamento... 13 Escola Empreendedora... 14 Escola Cognitiva... 14 Escola do Conhecimento... 15 Escola do Poder... 16 Escola Cultural... 16 Escola Ambiental... 17 Escola da Configuração... 17 Súmula... 18 ANÁLISE DO AMBIENTE... 19 Análise do Ambiente Externo... 19 Análise do macro ambiente... 19 Análise do micro ambiente... 21 Análise do ambiente interno... 29 Súmula... 34 FORMULAÇÃO ESTRATÉGICA... 35 Missão, visão e estratégia... 35 Missão... 35 Valores... 36 Visão... 37 Estratégia... 37 A Matriz SWOT de Michael Porter... 37 Estratégia de posicionamento de Michael Porter... 42 Variedade de produtos... 43 Segmentação das necessidades dos clientes... 44 O acesso ao cliente... 45 Boston Consulting Group (BCG)... 48 A matriz McKinsey da GE... 55 A Matriz de Ansoff... 60 O Ciclo de Vida do Produto (CVP)... 61 Direção Estratégica... 65 Estratégia de Crescimento... 66 Estratégias de Estabilidade... 68 Estratégias de Redução... 68 Súmula... 69 EXECUÇÃO ESTRATÉGICA... 71 Origem do Balanced Scorecard... 71 Conceito de Balanced Scorecard... 72 3

Alinhamento do Sistema de Recursos Humanos... 80 Diagnóstico do entrosamento interno da área da Stiwell... 82 Teste do alinhamento dos produtos de RH dentro do mapa estratégico... 84 Teste de alinhamento do Sistema de RH com os produtos de RH... 86 Súmula... 87 PLANEAMENTO ESTRATÉGICO DE RECURSOS HUMANOS... 89 Importância do planeamento de recursos humanos... 89 Planeamento de recursos humanos a curto e médio prazo e estratégias de empregabilidade... 91 Adaptação a curto prazo... 91 Adaptação a médio prazo...107 Súmula...112 AS PRÁTICAS DE RECURSOS HUMANOS...117 Novas tendências da GRH...117 ANÁLISE DA FUNÇÃO...121 A prática da análise da função...122 Técnicas de análise de funções...123 Descrição da função...123 Perfil psicoprofissional da função...124 Competências profissionais...125 Características pessoais...125 Motivações...125 Súmula...126 O RECRUTAMENTO...127 Novas tendências do recrutamento...127 Pessoas e organizações não nascem juntas...127 Tipos de recrutamento...128 Recrutamento interno...131 Recrutamento externo...134 Recrutamento misto...141 Avaliação dos resultados do recrutamento...142 E-recruitment...144 Súmula...146 O PROCESSO DE SELEÇÃO...147 Tendências da seleção de pessoas...147 Os testes de seleção mais correntes...148 Origem...148 Classificação...149 A conceção da inteligência como fator geral...150 A conceção pluralista de Thurstone...152 Compreensão verbal (v)...153 Fator Numérico (N)...158 Fator Espacial (S)...159 Fator Memória (M)...159 Fator Velocidade Percetiva (P)...160 Fator Raciocínio ( R)...161 4

Questionários de personalidade...162 Testes projetivos de personalidade...166 Outras Avaliações Psicológicas...169 Assessment Centre (AC)...170 A Entrevista...174 Interpretação quantitativa dos resultados das provas psicológicas (ou psicotécnicos)...183 Proposta final do candidato escolhido...188 Como tratar os candidatos com parecer desfavorável...189 Súmula...189 ACOLHIMENTO, INTEGRAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO...191 Novas tendências da socialização...191 O processo de socialização organizacional...192 As fases do processo de socialização...198 Programa de acolhimento...200 O Manual de acolhimento...204 O Tutor ou Orientador de estágio...206 Avaliação do acolhimento...206 Empowerment...207 Súmula...208 DESCRIÇÃO, ANÁLISE E QUALIFICAÇÃO DE FUNÇÕES...209 Descrição e análise de funções...209 Novas tendências da análise, descrição e qualificação de funções...209 Descrição de funções...210 Técnicas de análise da função...212 Redação da descrição da função...213 Qualificação de funções...216 O Método do escalonamento...216 O método das categorias pré-determinadas...216 O Método de comparação de fatores...217 Método de avaliação por pontos (point rating)...221 Delineamento da reta salarial...225 Súmula...232 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO...233 Métodos tradicionais de avaliação...233 Métodos Modernos da Avaliação de desempenho...236 Feedback de 360º...236 Avaliação participativa por objetivos (APPO)...237 Sistema integrado de avaliação do desempenho para a administração pública (SIADAP) - Lei Nº 10/2004, de 22 Março...237 Consequências do processo de avaliação...244 Súmula...245 INCENTIVOS E BENEFÍCIOS SOCIAIS...247 Introdução...247 Programas de incentivos...247 Recompensas e sanções...249 Benefícios sociais...254 5

Novas tendências dos benefícios sociais...254 Classes de benefícios sociais...255 Súmula...258 O TREINO E DESENVOLVIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES...259 Novas tendências do treino...259 Mudanças e qualificação nas Empresas...259 Conceito de treino nas organizações...260 O treino enquanto processo...262 Quanto gastam as empresas de treino...263 Diagnóstico das necessidades de treino...263 Desenho do programa de treino...265 Condução do programa de treino...265 Avaliação do treino...268 Consequências do treino...270 Desenvolvimento nas organizações...271 Súmula...273 COACHING...275 O Coaching como Recurso Estratégico nas Organizações...275 Breve história do Coaching...276 Fases do Coaching...279 Entendimento da necessidade da empresa/cliente...279 Comprometimento...279 Avaliação (Assessment e Feedback)...280 Metas e Objetivos...280 Plano de ação/obstáculos...280 Implementação do plano de ação...281 Monitorização do programa...281 Feedback de encerramento...281 Os diferentes tipos de Coaching...285 Coaching Executivo...285 Coaching de Negócios...285 Coaching de Equipa...285 Coaching de Vida...285 Coaching de Carreira...286 Coaching para Desporto...286 Retorno do Investimento do Coaching...286 Súmula...287 O POTENCIAL MOTIVADOR DO TRABALHO...289 Súmula...302 ANEXO A...305 ANEXO B...307 ANEXO C...317 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...321 6

PARTE I Gestão Estratégica de Recursos Humanos 7

8

A GESTÃO ESTRATÉGICA DE RECURSOS HUMANOS Novas tendências No contexto em que mudanças ocorrem a todo o momento, a organização necessita de estar alinhada em torno de definições estratégicas claras, sustentadas por uma gestão com um amplo envolvimento e participação. É preciso estabelecer um compromisso com a força de trabalho, baseado no respeito mútuo, numa comunicação aberta que se estende ao envolvimento com todos os stakeholders. De acordo com Zaccarelli (2002), estratégia é como pensar nas decisões sobre ações interativas, onde os oponentes têm reações imprevisíveis e não há envolvimento puro da lógica. É um guia para decisão e ação quando existe uma situação de conflito repleta de vontades, que envolve agentes inteligentes e criativos e no qual a previsibilidade é nula. Se o conflito for evitável, transforma-se em negociação. Se houver previsibilidade, a lógica é suficiente para resolver o problema. Por esta mesma razão, Henderson (1989) afirma que nem sempre o que se espera da estratégia é o que de facto acontece. A imprevisibilidade impede que se possa antecipar o resultado final de uma ação, tornando as decisões dependentes de julgamentos subjetivos. Toda esta mise em scène global, advinda de severas e súbitas transformações no ambiente externo e interno das organizações, tem causado profundo impacto no ambiente empresarial, constituindo um conjunto de elementos de pressão que as impele para uma busca de alternativas e novas oportunidades de negócio. Exige um extremo exercício de criatividade, inovação, rapidez na tomada de decisão e na maximização dos serviços e competências da empresa (Moreno 2002). As estratégias são responsáveis por gerar lucros, crescimento e são ainda garantia da sobrevivência organizacional. Para a estratégia funcionar é pois necessário o alinhamento de toda a organização para o alcance dos objetivos. Ninguém melhor do que a unidade de Recursos Humanos (RH), por se 9

responsabilizar pelo alinhamento de toda a organização aos objetivos através de uma arquitetura apropriada, para exercer este papel. No entanto, o órgão de RH ainda tem muito que evoluir, uma vez que se encontra apenas num número bastante reduzido de organizações em que desenvolve um papel estratégico. Infelizmente, para a grande maioria das empresas, as atividades e tarefas de RH ainda continuam limitadas ao recrutamento, treino e remuneração de pessoas, mostrando ainda resistência às novas tendências da gestão moderna, ficando assim, muito longe de atender às necessidades dos novos sistemas de gestão por competências e à formação e desenvolvimento de equipas. Acaba por deixar de lado a utilização de instrumentos capazes de medir o desempenho do setor de RH e da sua real contribuição para os resultados e metas da empresa. Diante deste contexto, mudanças culturais e novas práticas se fazem necessárias e, por isso, duas dimensões se impõem progressivamente: 1. A visão da função Pessoal como é vista atualmente, indicando a necessidade de se levar em consideração os grupos humanos que formam a empresa e que são frequentemente ignorados pelos seus responsáveis. A atenção dada ao fator humano tornou-se essencial, uma vez que se compreende que a eficácia organizacional depende principalmente dos indivíduos e não somente da qualidade do serviço e da organização do trabalho. Neste sentido, torna-se cada vez mais imperativo os cuidados com o indivíduo, pois ele é a base de todas as renovações e práticas que se queira implantar (Thevenet, 1994, p.62). 2. Participação na elaboração (ou formulação) e implementação da estratégia empresarial a par das outras grandes funções: técnica, financeira e económica. O reconhecimento da importância do social na batalha pela competitividade, constitui uma oportunidade histórica para a função pessoal se afirmar, cada vez mais, como uma das grandes funções estratégicas da empresa, ao lado de outras funções maiores como finanças ou marketing (Besseyre dos Horts,1988). Defender a ideia de que a função pessoal tem um papel essencial a interpre- 10

tar na estratégia da empresa, não é suficiente para considerá-la como uma função estratégica. É necessário que ela adote nas suas práticas, um procedimento estratégico que inclua desde o diagnóstico, até ao controlo, assegurando a coerência global do sistema de Gestão de Recursos Humanos. Isso implica que a função deva ser capaz de planear e implementar ações, coerentes entre si, e claro, de controlar os seus resultados. Essas ações correspondem às missões de aquisição, de estimulação e de desenvolvimento de competências. Os recursos humanos devem, portanto, fazer parte da estratégia da organização como um todo, buscando inovação, levando em conta a dinâmica da modernidade, a aceleração das descobertas científicas e tecnológicas e a veloz obsolescência do conhecimento e da informação. Por outro lado, as organizações buscam a sobrevivência e a perpetuação, que são aspetos diretamente ligados ao potencial e ao desempenho humano na condução de estratégias e operações, no estabelecimento de relações oportunas e legítimas, na regeneração de competências e capacidades, na mobilização de recursos e na aprendizagem contínua. Nesse contexto, o Balanced Scorecard (BSC) surge como uma ferramenta organizacional que pode ser utilizada para apoiar importantes processos de gestão: estabelecimento de metas individuais e de equipa, remuneração, alocação de recursos, planeamento e orçamento, feedback e aprendizagem estratégicas. Esta ferramenta traduz a missão e a estratégia da organização em objetivos e medidas tangíveis. As medidas representam o equilíbrio entre indicadores externos, voltados para acionistas e clientes, e medidas internas dos processos críticos de negócios, inovação, aprendizagem e crescimento. Uma das principais diferenças entre o BSC e os sistemas tradicionais de medição de desempenho é que estes últimos visam apenas o controlo dos processos internos existentes e são mais limitados, pois dependem exclusivamente de medidas financeiras. Felizmente, algumas empresas já estão cientes da importância de complementar as medidas financeiras com medidas de qualidade, produção e produtividade. Estes sistemas de medição são mais abrangentes e representam um avanço na gestão das empresas. 11

Escolas da estratégia Segundo Mintzberg, a formação da estratégia de uma empresa é de vital importância, sendo que a estratégia adotada num determinado momento deverá ser a que melhor atende à realidade e necessidade da empresa. Na perspetiva de apresentar as escolas que estão na base do corpo de conhecimentos da Gestão Estratégica relatadas por Mintzberg no seu livro intitulado Safari de Estratégia, apresenta-se uma síntese de cada uma das dez escolas de estratégia, a fim de perceber quais as principais contribuições destas na Gestão das organizações: As dez escolas da Gestão Estratégica Mintzberg compilou as diferentes vertentes e pensadores num único livro e divide as dez escolas de estratégia em três categorias: Escola do Design Escola do Planeamento Escola do Posicionamento Escola Empreendedora Escola Cognitiva Escola do Conhecimento Escola do Poder Escola Cultural Escola Ambienta Escola da Configuração Apresenta-se a seguir, a filosofia de cada uma das escolas identificadas em relação à formação da estratégia, bem como alguns exemplos concretos de como esta formação pode ser visualizada no quotidiano das organizações. A Escola do Design A formação da estratégia é vista como um processo de conceção. Busca uma 12

adequação entre as capacidades internas e as possibilidades externas, a fim de posicionar a empresa no seu ambiente. A responsabilidade pela perceção e controlo da conceção estratégica é do executivo principal da organização, situação esta que é criticada, pois a plena participação de outros atores enriquece a análise e escolha da melhor estratégia. Exemplo: Fazer uma análise do ambiente utilizando a ferramenta Matriz SWOT, a fim de avaliar os pontos fortes e fracos da situação interna da empresa e as ameaças e oportunidades da situação externa, para criar/gerar a base da estratégia da empresa. Escola do Planeamento A formação da estratégia é vista como um processo formal, sustentado por técnicas, programas e planos. É feito um estudo formal para pensar a estratégia. A escola do Planeamento deriva da escola de Design, mas é mais elaborada, com planos mais complexos e controlos específicos. Exemplo: As atividades de controlo desenvolvidas pelo setor de Planeamento e Controle de Produção (PCP) de uma empresa. A partir de uma análise destas atividades é possível verificar os aspetos a melhorar na empresa, como por exemplo, melhorar a programação da produção do seu setor químico. Escola de Posicionamento A formação da estratégia é vista como um processo analítico. O gestor é mais um analista, que faz uma análise dos factos passados e dos dados estatísticos, a fim de planear o futuro. Michael Porter foi o impulsionador desta escola contribuindo com ferramentas como as cinco forças de Porter, que influenciam a concorrência e as estratégias genéricas de Porter que buscam alcançar um desempenho acima da média numa empresa. O papel desta escola é apoiar o processo de formulação da estratégia e não o de criar estratégias, pois a análise de dados é um processo estático e ordenado e não dinâmico, rico e confuso como o da formulação da estratégia. 13

Exemplo: Fazer análise da atratividade/competitividade de um setor, descrevendo as 5 forças de Porter referente ao negócio, a fim de analisar a rivalidade dos concorrentes, as ameaças de novos entrantes, a ameaça de produtos substitutos, o poder de negociação dos fornecedores e dos clientes. A partir da análise dos resultados, é possível pensar numa estratégia competitiva para a empresa entrar ou se manter no mercado. Escola Empreendedora A formação da estratégia é vista como um processo visionário. Este processo está na mente do líder, o empreendedor que tem uma visão de futuro da organização e um sentido de direção a longo prazo. Assim, a visão estratégica é maleável, deliberada (foco no controlo) e emergente (foco no conhecimento). As estratégias visionárias são pró-ativas, com liderança personalizada, o que possibilita inovações e diferenciação na organização. Contudo, por ser dependente de um único indivíduo o líder a estratégia possui um processo obscuro, enterrado na cognição humana. Exemplo: Pequenas empresas que são geridas pelo próprio dono e criador do negócio são dependentes das ideias e visões deste para formular estratégias de concorrência. Por exemplo, um posto de combustível num bairro, para aumentar as suas vendas ou manter os seus clientes, o líder/empreendedor passa a comercializar GPL, visto que é uma tendência do novo combustível que os clientes estão a aderir e não há nenhum posto na região que ofereça este produto. Escola Cognitiva A formação da estratégia é vista como um processo mental. É o estudo de como os indivíduos processam as informações vindas do ambiente e formulam uma estratégia na mente, a fim de categorizar o processo em mapas, modelos, conceitos e esquemas. Assim, o mundo visto pode ser modelado, emoldurado e construído. Compreender a mente humana e como as várias áreas de conhecimento interagem na mente do estratega, é 14

uma grande contribuição para a psicologia cognitiva. Apesar deste mapeamento ainda não ser possível, esta escola reconhece o processo criativo mental do estratega e o quanto esta subjetividade cognitiva é uma incógnita interessante a ser desvendada. Exemplo: Perante um ambiente de crise económica, como por exemplo, a crise mundial vivida em consequência do não pagamento das hipotecas nos EUA, o estratega de uma empresa utiliza o seu conhecimento inconsciente e/ou consciente, relacionando-o com a perceção do ambiente, e formula uma estratégia de sobrevivência financeira para a empresa. Escola do Conhecimento A formação da estratégia é vista como um processo emergente, que procede do comportamento que estimula o pensamento retrospetivo para que se possa compreender a ação. A estratégia realiza-se ao longo do tempo, através dos seus membros, de forma individual ou coletivamente. Assim, o papel da liderança passa a ser não o de pré-conceber estratégias deliberadas, mas sim o de gerir o processo de conhecimento estratégico, pelo qual novas estratégias podem surgir. A contribuição desta escola é importante, pois nem sempre as empresas possuem um empreendedor visionário que saiba como construir estratégias que tomem em consideração os diferentes conhecimentos, individuais e coletivos, para enfrentar ambientes dinâmicos e imprevisíveis. Exemplo: O conhecimento tácito de um indivíduo pode visualizar situações não evidentes e formular ideias e estratégias que só pelo conhecimento explícito não seria possível. Por exemplo, os operários que trabalhavam no processo de fabrico de um determinado dentífrico possuíam uma solução mais simples e barata do que os engenheiros, uma vez que detinham conhecimento tácito do processo. 15

Escola do Poder A formação da estratégia é vista como um processo de negociação que utiliza a influência do poder e da política. As estratégias tendem a ser emergentes e assumem mais a forma de posições e meios de iludir do que perspetivas. É subdividida em micropoder (formação da estratégia pela persuasão, negociação ou confronto direto entre os atores que dividem o poder na empresa) e macropoder (utiliza o seu poder sobre outros e parceiros de alianças para negociar estratégias coletivas do seu interesse). A dimensão política pode ter um papel positivo na organização, uma vez que possibilita mudanças necessárias bloqueadas pelas formas mais estabelecidas e legítimas de influência. Por outro lado, também pode ser fonte de muito desperdício e distorção, uma vez que as forças integradoras de liderança e cultura são desprezadas pela escola. Exemplo: Vários municípios solicitam recursos governamentais para financiar obras de saneamento para a população. Todos se enquadram nos pré-requisitos definidos pelo governo, porém os recursos são limitados e não será possível atender a todos. Os presidentes de câmaras que possuem influência política sobre os governantes, por serem da mesma esfera partidária, poderão eventualmente ter uma maior facilidade em conseguir os recursos para a sua instituição. Escola Cultural A formação da estratégia é vista como um processo coletivo, de interação social, baseado nas crenças e nas interpretações comuns aos membros de uma organização, adquiridas através de um processo de aculturação ou socialização. Assim, a estratégia assume a forma de uma perspetiva inconsciente e de interação social. Nesta visão, é difícil criar novas estratégias, uma vez que dependem da aceitação cultural e consenso das expectativas. Exemplo: Uma estratégia de fusão de empresas pode acarretar o confronto de diferentes culturas. As diferenças culturais menos evidentes podem servir para desfazer a união. 16

Escola Ambiental A formação da estratégia é vista como um processo reativo. A organização é passiva, reage ao ambiente, isto é, cria estratégias a partir do que o ambiente apresenta. As organizações não se visam umas às outras diretamente; em vez disso, é o ambiente que estabelece os critérios de adequação. Nesta escola, ambiente significa tudo o que não é a organização. Assim, os processos de estratégias são desenvolvidos pela perceção que se tem do ambiente. Exemplo: Um pequeno mercado num determinado bairro trabalha há anos ao mesmo ritmo e forma. Não se preocupa em melhorar processos ou em inovar em produtos e serviços. Num determinado momento, abre um novo empreendimento no bairro, outro mercado concorrente, com uma maior diversidade de produtos e promoções atraentes. Ao perceber que o ambiente mudou e que está a perder clientes, o mercado antigo reage com o lançamento de novas promoções e procura adequar-se à nova realidade, através da melhoria do seu empreendimento. Escola da Configuração A estratégia é vista como um processo de transformação, através de mudanças estruturais e inovações. As organizações são percebidas como configurações, ou seja, agrupamentos coerentes de características e comportamentos. Para haver uma mudança estratégica, a organização tem que mudar de configuração, ocorrendo assim, uma transformação da organização. Exemplo: A empresa Fuji trabalhava com películas fotográficas e mudou radicalmente a sua estratégia a fim de se adaptar às novas tecnologias do mercado fotográfico: passou a comercializar máquinas digitais ao invés de filmes fotográficos. 17

Súmula Segundo Mintzberg, qualquer processo de formulação estratégica no mundo real poderá incluir uma ou mais escolas de pensamento estratégico, dependendo da atual conjuntura em que vive a empresa. Assim, as dez escolas de estratégia (Design, Planeamento, Posicionamento, Empreendedora, Cognitiva, Conhecimento, Poder, Cultural, Ambiental e Configuração) contribuem para o corpo de conhecimentos da Gestão Estratégica das organizações, uma vez que, se misturam e complementam, sendo que a estratégia adotada num determinado momento ou situação deverá ser a que melhor atende à realidade da empresa. 18

ANÁLISE DO AMBIENTE Análise do Ambiente Externo O estudo do Ambiente Externo tem como objetivo a identificação de oportunidades e ameaças externas para a empresa em estudo. De acordo com Hitt, Ireland e Hoskisson (2002) as oportunidades são representadas por uma condição no ambiente geral que pode auxiliar a empresa a alcançar a competitividade estratégica enquanto as ameaças são representadas por qualquer condição no ambiente geral que possa vir a prejudicar os esforços para alcançar a competitividade estratégica. O ambiente externo pode ainda ser subdividido em macro ambiente e micro ambiente. Análise do macro ambiente Nenhuma organização opera em vão, uma vez que está inserida num ambiente rico e complexo. Segundo Wight (2000) a empresa integra-se numa rede de forças ambientais complexas, afetadas por tendências e sistemas político-legais, económicos, tecnológicos e sociais, os quais, integram o macro ambiente das organizações, também conhecido por ambiente global. O sucesso de qualquer empresa reside, em grande medida, na sua capacidade de compatibilizar e de se adequar a este macro ambiente em constante mudança e transformação, uma vez que terá de se transformar para criar uma maior e melhor sinergia com este ambiente. Para uma melhor estruturação dos mecanismos de análise, os gestores segmentam o macro ambiente em modelos em que agrupam as variáveis referidas de acordo com as características da sua influência em blocos diferenciados. Segundo Hitt e colaboradores (2002) o modelo adequado para esta análise é composto por seis segmentos ambientais: demográfico, económico, político-legal, sociocultural, tecnológico e global (Quadro 1). A nível demográfico o tamanho da população, o seu nível educacional e a taxa de crescimento são alguns dos muitos fatores que podem obrigar a empresa a ter de mudar. No contexto económico faz-se necessário a análise 19

de indicadores económicos, níveis de inflação, taxas de juro, crescimento/declínio económico, mercados potenciais, entre outros fatores que podem pressionar a empresa a ter de se adaptar. No contexto políticolegal torna-se necessário analisar se a política vigente encoraja ou inibe a liberdade de ação da empresa mas também se existe estabilidade/instabilidade política. Em suma, conhecer o enquadramento legal da sociedade no aspeto de ponderar as perspetivas, as restrições e imposições que possam influenciar o desempenho da empresa. Quadro 1. Fatores de análise do ambiente externo global (macro ambiente). Fonte: Hitt et al. (2002) SEGMENTO DEMOGRÁFICO ECONÓMICO POLÍTICO-LEGAL SOCIOCULTURAL TECNOLÓGICO GLOBAL ELEMENTOS CRÍTICOS Tamanho da população, estrutura etária, distribuição geográfica, componente étnica. Taxas de inflação, taxas de juro, défices no balanço comercial, taxa de poupança individual, taxa de poupança comercial, Produto Interno Bruto (PIB). Leis, filosofia de desregulamentação, leis coletivas de trabalho, de treino, filosofia e políticas educacionais. A mulher na força de trabalho, diversidade da força de trabalho, atitudes em relação à qualidade da vida profissional, questões ambientais, mudanças nas preferências de trabalho e carreira, ou relacionadas com características dos produtos e serviços. Inovações do produto, aplicações dos conhecimentos, enfoque das despesas em (I&D) do governo e da iniciativa privada, novas tecnologias de comunicações. Eventos políticos importantes, mercados globalizados críticos, países recém-industrializados, atributos culturais e institucionais diferentes. A nível sociocultural é decisivo analisar os estilos de vida, valores sociais e outros condicionantes que, de alguma forma, possam influenciar os produtos e serviços produzidos e comercializados pela empresa e, consequentemente a estratégia seguida. O contexto tecnológico traduz o progresso técnico da sociedade. Mudanças nos processos de produção, comercialização, expedição, distribuição podem obrigar a atualizações constantes por parte da empresa. Uma análise do contexto global pode ser decisivo para a definição de planos de contingência e de comportamentos ética e socialmente responsáveis por parte da empresa em relação aos seus 20