Hepa%te C Crônica e Doença Hematológica: Há espaço para o uso inibidores de protease?



Documentos relacionados
Hepatite C Casos Clínicos

Hepatite C Crônica e Renal Crônico: Qual a melhor estratégia na era nos inibidores de protease?

Tema: Boceprevir para tratamento da hepatite viral crônica C associada a cirrose hepática

Ainda há espaço para o uso de IPs de primeira geração na era das novas drogas?

MANIFESTAÇÕES MANIFEST E XTRA- EXTRA HEPÁTICAS NAS HEPATITES VIRAIS 2010

20/12/2012 NOTA TÉCNICA

Tratamento da co-infecção HIV-HVC Fernando L Gonçales Jr Disciplina de Infectologia-FCM-UNICAMP

Epidemiologia DIABETES MELLITUS

Forum de Debates INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA EM. Rui Toledo Barros Nefrologia - HCFMUSP rbarros@usp.br

Larissa Dias Biolcati Rodrigues INTRODUÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

TEMA: RITUXIMABE PARA A LEUCEMIA LINFOCÍTICA

TEMA: RITUXIMABE PARA LINFOMA NÃO HODGKIN DE PEQUENAS CÉLULAS

Informação pode ser o melhor remédio. Hepatite

Secretaria Municipal de Saúde. Atualização - Dengue. Situação epidemiológica e manejo clínico

Discussão de Caso Clínico. Dr. Dimas Carnaúba Junior Infectologista Centro de Referência e Treinamento de São Paulo

TREINAMENTO CLÍNICO EM MANEJO DA DENGUE Vigilância Epidemiológica Secretaria Municipal de Saúde Volta Redonda

Rejeição de Transplantes Doenças Auto-Imunes

SUMÁRIO 1. RESUMO EXECUTIVO CONTEXTUALIZAÇÃO CONCLUSÕES PERGUNTA ESTRUTURADA CONTEXTUALIZAÇÃO(1)...

QUESTÕES DE HEMATOLOGIA E SUAS RESPOSTAS

Caso Clínico. Emanuela Bezerra - S5 28/04/2014

TALIDOMIDA DOENÇA DE BEHÇET

Caso Clínico Genótipo 3

TEMA: RITUXIMABE PARA A LEUCEMIA LINFOCÍTICA. Data: 05/03/2014 NOTA TÉCNICA /2014. Medicamento x Material Procedimento Cobertura

Retratamento da hepatite C crônica: estado atual

SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEPATOLOGIA. CONSENSO SOBRE CONDUTAS NAS HEPATITES VIRAIS B e C HOTEL PESTANA, SÃO PAULO - SP 26 E 27 DE AGOSTO DE 2005

17/03/2011. Marcos K. Fleury Laboratório de Hemoglobinas Faculdade de Farmácia - UFRJ mkfleury@ufrj.br

Informações ao Paciente

Carcinoma de tireóide ide na infância

Passos para a prática de MBE Elaboração de uma pergunta clínica Passos para a prática de MBE

Resistência aos Inibidores de NS5A

Avaliação por Imagem do Pâncreas. Aula Prá8ca Abdome 4

A Importância da Causa

MabThera. rituximab. O que é o MabThera? Para que é utilizado o MabThera? Resumo do EPAR destinado ao público

TRATAM ENTO M ULTIDISCIPLINAR DO ENF. RIVALDO LIRA

Novas diretrizes para pacientes ambulatoriais HAS e Dislipidemia

PET- TC aplicações no Tórax

HEPATITES O QUE VOCÊ PRECISA SABER

DOENÇAS LINFÁTICAS NOS GRANDES ANIMAIS. Prof. Adjunto III Dr. Percilio Brasil dos Passos

LINFOMAS. Maria Otávia da Costa Negro Xavier. Maio -2013

HELMA PINCHEMEL COTRIM FACULDADE DE MEDICINA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Resposta Imune contra o Câncer

Faringoamigdalites na Criança. Thaís Fontes de Magalhães Monitoria de Pediatria 17/03/2014

Diretrizes Assistenciais

PROVA ESPECÍFICA Cargo 48. Na reação de hipersensibilidade imediata do tipo I, qual dos seguintes mediadores é neoformado nos tecidos?

Neoplasias 2. Adriano de Carvalho Nascimento

Atualização do Congresso Americano de Oncologia Fabio Kater

PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES DE DROGAS IMUNOBIOLÓGICAS EM UTILIZAÇÃO NO BRASIL

Linfomas gastrointestinais

Analise das diretrizes internacionais de tratamento da hepatite C : populações especiais

Hepatite C: Tratamento com Inibidores de Protease de 1 a Geração Manejo das Complicações: ANEMIA, MANIFESTAÇÕES ANORRETAIS E CUTÂNEAS

II Workshop Internacional de Atualização. em Hepatologia. na Hematologia. Dominique Muzzillo

Abordagem do paciente Cirrótico. Dr. Elson Vidal Martins Junior Casa da Hepatite - UNIMES

Informe Epidemiológico CHIKUNGUNYA N O 03 Atualizado em , às 11h.

Na diabetes e dislipidemia

Atuação da Acupuntura na dor articular decorrente do uso do inibidor de aromatase como parte do tratamento do câncer de mama

Hemoglobina / Glóbulos Vermelhos são as células responsáveis por carregar o oxigênio para todos os tecidos.

Mandado de segurança contra ato do Secretário Municipal de Saúde RITUXIMABE PARA LINFOMA NÃO-HODGKIN FOLICULAR TRANSFORMADO EM DIFUSO

Nefropatia por IgA. Vega Figueiredo Dourado de Azevedo. 1. Introdução

Protocolo. Transplante de células-tronco hematopoiéticas nas hemoglobinopatias

Chat com o Dr. Guilherme Perini Dia 15 de setembro de 2015

Profilaxia Pós-Exposição ao HIV. Alcyone Artioli Machado FMRP-USP

Imunologia dos Tr T ansplantes

WDS, masculino, 57 anos

CAPÍTULO 2 CÂNCER DE MAMA: AVALIAÇÃO INICIAL E ACOMPANHAMENTO. Ana Flavia Damasceno Luiz Gonzaga Porto. Introdução

predisposição a diabetes, pois Ablok Plus pode mascarar os sinais e sintomas da hipoglicemia ou causar um aumento na concentração da glicose

Avaliação pré-tratamento com os DAA

Data: 07/04/2014 NTRR 67/2014. Medicamento x Material Procedimento Cobertura

Discussão de Casos Clínicos Doença Localizada e Localmente Avançada Riad N. Younes William N. William Jr

Seminário Metástases Pulmonares

Renal problems in black South African children

Linfomas. Claudia witzel

ALTERAÇÕES METABÓLICAS NO PERFIL LIPÍDICO E GLICÊMICO DE PACIENTES HIV POSITIVOS QUE FAZEM USO DE ANTIRETROVIRAIS

INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO RS PORTARIA 13/2014

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Humana

ONCO HEMATO. anemia falciforme D57.0 Anemia falciforme com crise. D57.1 Anemia falciforme sem crise

CAMPANHA PELA INCLUSÃO DA ANÁLISE MOLECULAR DO GENE RET EM PACIENTES COM CARCINOMA MEDULAR E SEUS FAMILIARES PELO SUS.

Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina Disciplina de Cardiologia Comentários e texto final do Prof. Dr. Antonio Carlos Carvalho

Diretrizes ANS para realização do PET Scan / PET CT. Segundo diretrizes ANS

Entenda o que é o câncer de mama e os métodos de prevenção. Fonte: Instituto Nacional de Câncer (Inca)

INTRODUÇÃO. Diabetes & você

Setor de PET/CT & Medicina Nuclear PET/CT (FDG) Agradecimento a Dra. Carla Ono por ceder material científico

HEPATITES VIRAIS: EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO


DENGUE. Médico. Treinamento Rápido em Serviços de Saúde. Centro de Vigilância Epidemiológica Prof. Alexandre Vranjac

CAPÍTULO 13: PROTEÍNAS PLASMÁTICAS DE INTERESSE CLÍNICO

Acidentes Ocupacionais com Risco Biológico: O que fazer para evitar a contaminação por HIV?

Recomendações do tratamento do câncer de rim estadio T1

UNILAB no Outubro Rosa Essa luta também é nossa. CUIDAR DA SAÚDE É UM GESTO DE AMOR À VIDA. cosbem COORDENAÇÃO DE SAÚDE E BEM-ESTAR

INSTITUTO LATINO AMERICANO DE SEPSE CAMPANHA DE SOBREVIVÊNCIA A SEPSE PROTOCOLO CLÍNICO. Atendimento ao paciente com sepse grave/choque séptico

DESAFIOS NO DIAGNOSTICO LABORATORIAL DO SARAMPO NA FASE DE ELIMINAÇÃO. Marta Ferreira da Silva Rego

Instrumento Administrativo Política Institucional Nº Política de Vacinação

Doenças gengivais induzidas por placa

Hepatite C Crônica: custo dos antivirais versus custo de acompanhamento do paciente de acordo com a perspectiva do Sistema Único de Saúde.

Patologia do testículo e vias espermáticas

Diagnóstico e Tratamento das Hepatites Agudas na Gestação

DENGUE AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE SINAIS/SINTOMAS CLÁSSICOS SINAIS/SINTOMAS CLÁSSICOS MANIFESTAÇÕES HEMORRÁGICAS MANIFESTAÇÕES HEMORRÁGICAS

ÇÃO O DE EXAMES LABORATORIAIS

PROVA TEÓRICO-PRÁTICA

Transcrição:

Hepa%te C Crônica e Doença Hematológica: Há espaço para o uso inibidores de protease? UFRJ Prof Cristiane Alves Villela Nogueira! Universidade Federal do Rio de Janeiro!

Hepa%te C e Manifestações extrahepá%cas ü a introdução desses medicamentos está recomendada para pacientes que apresentem os seguintes critérios... ü... incluindo aqueles com manifestações extrahepá%cas. Min Saúde, 2013

Crioglobulinemia mista (CM) ü Presença de imunoglobulinas (IgG) presentes no soro (policlonal ou monoclonal) que precipitam em temperaturas < 37 C. ü Formação de imunocomplexos entre anjgeno HCV, IgG an% HCV e fator reumatóide IgM policlonal depósito na parede dos vasos resposta inflamatória (vasculite) síndrome clínica ü Artralgia, púrpura palpável, neuropa%a e glomerulonefrite (membranosa) ü Crio iden%ficada em cerca de 50% dos pacientes com hepa%te C crônica ü CM sintomá%ca aumenta em 35 x o risco de desenvolver linfoma não Hodgkin Agnello et al, NEJM 1992; Agnello et al,clin Experim Rheumatol 1995; Monti et al, Arch Int Med 2005

Crioglobulinemia mista

Crioglobulinemia mista Diagnós%co: ü Presença de crioglobulinemia ü Fator reumatóide posi%vo ü Complemento baixo ( C1 e C4) ü Sinais de glomerulopa%a presentes ou não (hematúria, clindrúria hemá%ca, proteinúria) ü VHS elevado ü Disfunção renal

Crioglobulinemia mista Tratamento: ü A maioria dos pacientes respondem ao tratamento com erradicação viral (RVS) ü A ausência de RVS associa- se com recidiva do quadro ü Pacientes com quadro grave com doença renal progressiva ou doença neurológica (plasmaferese, rituximab, cor%cóide em altas doses)

Linfomas não Hodgking (LNH) ü EsJmulo an%gênico con%nuo sobre células B (associada a reservatório viral em células mononucleares periféricas) ü Pode levar à proliferação maligna de células B ü Pode ou não estar associado à síndrome crioglobulinêmica Dal Maso et al, 2004

HCV e LNH - Patogênese Oberhag et al; J Hepatol 2013: 59:169

Linfomas não Hodgking (LNH) Mais comumente associados a HCV: ü Linfoma B difuso de grandes céls ü Linfoma de zona marginal (MALT) ü Linfoma linfoplasmocí%co ü Linfoma B Folicular ü Leucemia linfocí%ca crônica de cesl B ü Linfoma de pequenos linfócitos Nieters et al, Gastroeterol 2006; Libra et al, Int J Oncol 2010

Manejo dos LNH ü Racional para terapia an%viral no contexto de HCV (+) NHL independente do sub%po histológico. ü Correlação clara entre a redução da carga viral e resposta clínica (resolução do LNH em 75% dos casos). ü Nos LNH de grau intermediário/alto grau, QT deve ser considerada antes do lo an%viral monitorar hepatotoxicidade ü tratamento de manutenção após o término da QT Valissa et al, J Clin Onc 2005

Manifestações hematológicas IP? Caso Clínico (1): Paciente 54 anos, branca, diabé%ca, portadora de hepa%te crônica C, virgem de lo. Dá entrada no HUCFF com quadro de dor em joelho E de forte intensidade há 2 dias associado a manchas na pele.

Caso Clínico (1)

Exames laboratoriais: ü Albumina= 3,3 g/l ü Crea%nina= 2 mg/dl ü Plaquetas = 90.000 cels ü Carga viral = 1500.000 UI/ml ü FR = (+) 1:320 ü C4 diminuído ü EAS: hematúria ü Impressão: Cirrose descompensada + Crioglobulinemia ü Discussão: Contra indicado o uso de terapia tripla ou dupla ü Tentado RBV isoladamente rash ü Paciente tratada com rituximab ( 1g 15/15 d)e cor%coterapia ( 60 mg)

Con%nuação ( caso 1) ü Discussão: Contra indicado o uso de terapia tripla ou dupla ü Tentado RBV isoladamente rash ü Paciente tratada com rituximab ( 1g 15/15 d)e cor%coterapia ( 60 mg) ü Em acompanhamento no ambulatório

ü abril 2014) com melhora do laboratório e regressão das lesões cutâneas. Con%nuação ( caso 1)

Con%nuação ( caso 1) ü Iniciado PEG monoterapia ü Na 4ª semana de lo com PEG : queda de 2 log CV ü Reintroduzido RBV 500 mg ü Plano: Iniciar telaprevir

Caso clínico (2): Masc, 52 anos, nat Macaé, an%- HCV (+). BH A1F1, gen 1. Diagnós%co de linfoma B de zona marginal (lesão dermatológica em dorso). Carga viral:5.154.352 (6,71 log) Iniciado lo em Macaé (RJ) com PEG alfa 2a+RBV PET- scan (2 sem pós início de lo)revelando novas áreas de captação em linfonodos intercavais

Evolução: Man%do lo. Vem para con%nuação de lo no RJ na semana 11. Tolerando bem, sem nenhum lo adjuvante para o LNH. CV pré (08/2013) CV sem 12 (11/2013) CV sem 28 (02/2014) 5.154.352 2.248.851 3.227.284 6,71 log 6,35 6,51 PET scan sem 24: Involução metabólica completa das lesões, sem novas lesões. O que fazer?? Não respondedor nulo a IP. Involução das lesões com terapia dupla somente com queda da viremia sem critério de resposta virológica.

Em resumo... ü É jus%ficado o uso de IP (terapia tripla) nas manifestações hematológicas da hepa%te crônica C ü No entanto, é possível que alguns pacientes não tolerem o tratamento avaliar caso a caso ü O retratamento de pacientes previamente nulos de resposta com IP deve ser avaliado ü Com a chegada das terapias IFN- Free é possível que pacientes com manifestações extrahepá%cas tenham substancial chance de cura dessas manifestações.

OBRIGADA OBRIGADA!!