Gestão das farmácias hospitalares através da padronização de medicamentos e utilização da curva ABC



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XIII SIMPEP Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 Gestão das farmácias hospitalares através da padronização de medicamentos e utilização da curva ABC Mario Lucio de Oliveira Novaes (MADE/UNESA) vaciclin@powerline.com.br Antonio Augusto Gonçalves (MADE/UNESA) antonio.gonçalves@estacio.br Vera Maria Medina Simonetti (MADE/UNESA) vera.simonetti@estacio.br Resumo: Insumos básicos à vida, os medicamentos abrigados nos estoques das farmácias hospitalares possuem custos significativos. Estes custos mostram-se crescentes, diretamente relacionados ao aumento da sobrevida média dos indivíduos, ao surgimento de novas doenças e à complexidade dos tratamentos médicos. Nesse cenário, no setor saúde, os recursos estão cada vez mais escassos, o que impõe aos administradores destas organizações a busca de novas metodologias de controle. No caso das farmácias hospitalares, almeja-se a redução dos custos dos estoques de medicamentos, permitindo que o capital neles imobilizado possa ser aplicado em outros setores das instituições de saúde, onde exista a necessidade de investimentos. Este trabalho tem como foco apresentar uma proposta de abordagem voltada à gestão dos estoques de uma farmácia hospitalar, através da utilização do método ABC e da padronização de medicamentos. A conclusão do estudo é que o emprego dessas ferramentas traz benefícios às organizações de saúde, com redução do custo final do estoque. Palavras-chave: Farmácia; Estoques; Padronização. 1. Introdução A descoberta de novas doenças, o ressurgimento de outras e as concomitantes inovações tecnológicas emergentes no setor saúde, produzem uma alteração no binômio eficácia/complexidade dos tratamentos médicos. O aumento desta complexidade implica na utilização de equipamentos, exames e medicamentos onerosos, o que gera a necessidade de novos aportes financeiros para o setor. Na atualidade, os recursos econômicos destinados à saúde são, freqüentemente, inferiores às necessidades demandadas, e tornam-se mais escassos com o aumento da sobrevida da população e com a descoberta de novas opções terapêuticas (FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2005). As restrições orçamentárias, nesse cenário, conduzem os administradores da saúde à procura de novas medidas gerenciais, como o controle de recursos escassos aliado à eficiência de sua utilização, e a redução dos custos operacionais concomitante com a melhoria da qualidade da assistência médica. Com relação ao aspecto assistencial, na medicina, todo cidadão utilizará um dos componentes do sistema de saúde, durante seu ciclo de vida e para manter sua vitalidade, sendo um deles o serviço das unidades hospitalares (CAVALLINI; BISSON, 2002). A instituição hospitalar abriga a farmácia hospitalar, cujo objetivo é garantir o uso seguro e racional dos remédios prescritos pelo profissional médico, além de responder à demanda das necessidades de medicamentos dos pacientes hospitalizados. Para tanto, a 1

farmácia hospitalar mantém sob sua guarda os estoques desses produtos. Os estoques da farmácia hospitalar são caracterizados por ciclos de demandas e de ressuprimentos, com flutuações significativas e altos graus de incerteza, fatores críticos diante da necessidade de manter medicamentos em disponibilidade na mesma proporção da sua utilização. Estes remédios significam custos, e medicamentos/materiais são itens que chegam a representar, financeiramente, até 75% do que se consome em um hospital geral (CAVALLINI; BISSON, 2002). De acordo com dados divulgados no boletim de indicadores do PROAHSA - Programa de Estudos Avançados em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde, trinta hospitais dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro foram analisados quanto aos seus custos. Essa análise mostrou os custos médios hospitalares do ano de 2002 em percentuais, divididos em: custos gerais, 23%; custos com consumo de materiais, 28%; e 49% dos custos com pessoal (PROAHSA, 2003), conforme Gráfico 1. 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 23% Custos gerais 28% Consumo de materiais 49% Custos com pessoal Gráfico 1- Custos médios hospitalares Adaptado (PROHASA, 2003). Os estoques são considerados itens primordiais quando o objetivo é a redução de custos, devido a sua relevância no ciclo operacional das organizações. No Brasil, a taxa básica de juros fixada pelo governo e os juros de mercado são significativos, fazendo com que os custos de manutenção dos estoques sejam mais elevados em relação aos países desenvolvidos. Portanto, altas taxas de juros sinalizam a urgência na busca de níveis de estoques mais baixos (LIMA, 2005). Observa-se que variáveis como a quantidade de medicamentos armazenados e o tempo de permanência nos estoques estão entre as responsáveis diretas pelo aumento do custo dos produtos abrigados nas farmácias hospitalares. O custo dos medicamentos destinados aos pacientes hospitalizados apresenta um crescimento significativo e mais expressivo do que a inflação dimensionada para a saúde. Nos Estados Unidos, observou-se que o custo das drogas/leito ocupado/ano subiu de US$6,744 em 1989 para US$9,850 em 1992, US$13,350 em 1995 e US$21,677 em 1998; isto representa 221% de aumento, ou 25% de aumento/ano em um período de 9 anos (ANGARAN, 1999). Esses índices mostram que os custos operacionais crescentes da saúde são insustentáveis, tanto aos cofres públicos quanto às organizações de saúde privadas. 2

Planejar e controlar custos são mecanismos que podem garantir a sobrevivência das instituições hospitalares uma vez que, os tratamentos médicos onerosos, inviabilizam o exercício profissional da medicina. Neste contexto, surge a importância do gerenciamento dos estoques de medicamentos. Diferentes técnicas de administração da produção e da gestão dos estoques foram desenvolvidas a fim de solucionar os problemas originados no ambiente de manufatura, mostrando eficiência na gerência de operações de uma indústria. Estas técnicas podem ser adaptadas às novas necessidades presentes na gestão de serviços, tendo aplicação nas farmácias das instituições hospitalares, buscando a otimização do controle dos itens dos estoques. 2. A gestão dos estoques da farmácia hospitalar Dentre as estratégias ligadas à gestão dos estoques da farmácia hospitalar estão aquelas envolvendo a seleção dos produtos mais adequados ao perfil de utilização dos mesmos por cada organização de saúde, incluída a padronização de medicamentos (BOND; RAEHL; FRANKE, 1999). 2.1 Padronização de medicamentos A farmácia hospitalar, no âmbito de sua atuação, comporta-se como uma unidade de negócios, dados os seus relacionamentos comerciais com os laboratórios farmacêuticos, com os fabricantes dos diferentes produtos, com distribuidores e com os representantes comerciais. Gerir medicamentos na área hospitalar é deparar-se com uma grande variedade de produtos (cerca de 50000 itens diferentes se encontram à disposição dos profissionais médicos), com o compromisso de não permitir a ocorrência de stockout, sinônimo de morte, perdas ou fracasso organizacional (PORTELA, 2001). Quanto maior a habilidade da farmácia hospitalar em administrar seus produtos de forma racional, maior será sua capacidade de oferecer à clientela bens e serviços de qualidade e com baixos custos operacionais. Se, em cada ala ou setor do hospital, as equipes médicas e de enfermagem adotarem rotinas diferentes para o uso destes produtos (como diluições diferentes, concentrações diferentes e métodos de conservação diferentes), as medidas terapêuticas implicarão em maior ônus para a instituição (com desperdícios e obsolescências). O emprego racional dos medicamentos, incluindo sua padronização, é traduzido, portanto, em redução dos custos das organizações hospitalares (KLÜGL, 1999). Padronizar produtos abrigados em estoques é uma forma de normalização e auxilia na racionalização dos custos. Dentre as formas de racionalização, a padronização de medicamentos é uma das soluções mais viáveis, pois procura definir o quê se deve manter em estoques. Racionalizar custos com medicamentos implica em seguir normas técnicas que regulamentam o processo de formulação e aplicação de regras para o tratamento ordenado de uma atividade específica, segundo a International Organization for Standardization (ISO) (CUNHA, 1979). A redução do custo dos estoques da farmácia hospitalar é conseguida através do adequado abastecimento em produtos e serviços utilizando, se possível, processos que permitam sua padronização. Padronizar medicamentos significa escolher, dentre uma relação de produtos e de acordo com determinadas especificações, aqueles que atendam às necessidades de cobertura terapêutica da população-alvo que se deseja tratar (ANGARAN, 1999). 3

Dentre os objetivos primários que se deseja alcançar com a padronização de medicamentos estão a redução dos custos de aquisição dos produtos, a remoção de diferentes obstáculos durante os processos de compras, o estabelecimento de maiores interações com os fornecedores, a redução dos custos de produção, a diminuição dos custos de manutenção dos produtos em estoques e a facilitação dos procedimentos de armazenagem e manuseio dos medicamentos, propiciando vantagens à instituição hospitalar como um todo (BARBIERI; MACHLINE, 2006). Dentre as vantagens advindas da padronização de medicamentos, encontram-se: a) Para os pacientes - existe a confiança do uso do medicamento correto e a satisfação psíquica por não necessitar adquirir quaisquer outros remédios pertinentes ao seu tratamento, dos quais o hospital não disponha; b) Para os médicos e para a enfermagem - ter a certeza de que os medicamentos disponíveis na farmácia hospitalar são adequados aos tratamentos propostos, garantindo aos pacientes a fidelidade em atender as prescrições e maior interação entre as equipes; c) Para a farmácia hospitalar e para o hospital - melhor controle dos produtos abrigados em estoques, através da menor diversidade de itens e benefício através da redução do custo dos estoques, da diminuição de pessoal ligado às estratégias de controle e redução do espaço físico destinado à farmácia (PATERNO, 1990). Contudo, os profissionais médicos muitas vezes se opõem à padronização de medicamentos, em função de interesses pessoais, sem a preocupação com a gestão dos custos hospitalares (MCKEE; HEALY, 2000). 2.2 Estratégia para a padronização de medicamentos Para atingir uma padronização dos produtos da farmácia que contemple adequadamente as necessidades dos pacientes, determinados parâmetros são seguidos. Dentre estes, formar uma comissão de padronização de medicamentos (para estabelecer os critérios para inclusão/exclusão de produtos e revisar continuamente os itens padronizados); considerar o perfil epidemiológico das doenças prevalentes e/ou incidentes na população assistida pela instituição hospitalar; adotar o nome farmacológico para relacionar os medicamentos (mencionando, junto a este, a concentração e a forma de apresentação); selecionar fármacos com valor terapêutico comprovado, de menor toxicidade e de fácil aquisição no mercado; reunir os produtos em grupos farmacológicos semelhantes (classificação), reduzindo a variedade desnecessária de materiais (simplificação) e adotando uma codificação (para facilitar a identificação dos remédios); e, finalmente, criar um manual impresso ou virtual, que possa ser consultado facilmente pelos profissionais envolvidos (CAVALLINI; BISSON, 2002). Contudo, devemos lembrar que preferências por um determinado medicamento ou grupo de produtos, por parte dos médicos, e as pressões exercidas pela indústria farmacêutica sobre os responsáveis pelas aquisições de remédios, são as maiores barreiras encontradas para a padronização de medicamentos em hospitais, ocasiões em que, nem sempre, são respeitados os princípios éticos vigentes (MCKEE; HEALY, 2000). Diferentes técnicas gerenciais facilitam o processo de padronização. Um desses métodos seria a classificação ABC, utilizado para a administração de estoques, para a definição de políticas de vendas, para estabelecimento de prioridades, para a programação da produção e uma série de outros problemas usuais nas empresas (DIAS, 1994). 4

2.3 Classificação ABC Os estoques das farmácias hospitalares abrigam uma grande diversidade de produtos, dificultando o planejamento de seu ressuprimento. Como cada grupo de medicamentos tem determinadas peculiaridades gerenciais (como giro, preço, consumo, prazos de entrega) e suas demandas incorporam alta aleatoriedade, é interessante que o gestor dos estoques separe os produtos em grupos que possuam características gerenciais semelhantes (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2001). Esta separação possibilita ao administrador dos estoques individualizar a atenção para cada grupo de medicamentos, pois um tipo de controle eficaz para um produto pode não o ser para outro (BARBIERI; MACHLINE, 2006). Método ABC, Curva de Pareto, Curva ABC ou Classificação ABC, é um procedimento que visa separar os produtos em grupos com características semelhantes, em função de seus valores e consumos, a fim de proceder a um processo de gestão apropriado a cada grupo. Esta metodologia é um importante instrumento para o administrador que trabalha com a organização de medicamentos. Segundo este procedimento, os materiais de consumo podem ser divididos em três classes (DIAS, 1994): Classe A: abriga o grupo de itens mais importantes, que devem receber uma atenção especial da administração, correspondendo a um pequeno número de medicamentos, cerca de 20% dos itens, representando cerca de 80% do valor total do estoque. Estes itens devem receber do administrador um controle mais rigoroso, individualmente, sendo responsáveis pelo maior faturamento organizacional. Classe B: representa um grupo de itens em situação intermediária entre as classes A e C. Seu controle pode ser menos rigoroso que os itens de classe A. Representam um valor intermediário no faturamento das empresas. Classe C: engloba itens menos importantes, que justificam pouca atenção por parte da administração. Agrupa cerca de 70% dos itens, cuja importância em valor é pequena, representando cerca de 20% do valor do estoque. Neste grupo, não é necessário considerar cada item individualmente, pois são produtos de pouca importância no faturamento das instituições. Cabe ressaltar que o estabelecimento da divisão em três classes (A, B, C) é uma questão de conveniência. É possível estabelecer tantas classes quanto necessárias para os controles que se deseja alcançar. Após a classificação dos produtos e adotados os critérios operacionais, é importante a utilização de indicadores para o acompanhamento dos resultados. 3. Metodologia da pesquisa a) Local da Pesquisa O estudo foi desenvolvido numa instituição hospitalar, com sede na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, de caráter privado.a organização possui 80 leitos destinados à hospitalização de pacientes particulares e de operadoras de saúde, atendendo a diversas especialidades clínicas e cirúrgicas. b) Planejamento da pesquisa A metodologia da pesquisa baseou-se na abordagem quantitativa e numa tipologia de pesquisa de Estudo de Caso, in loco. O pesquisador exerceu a função de observador 5

direto entre os períodos de janeiro de 2003 a junho de 2003. c) Coleta de dados A coleta de dados obedeceu ao Roteiro de Análise de indicadores; nesse caso específico, indicadores de custo (nível dos estoques e valor do estoque) e indicador de qualidade (tempo de inventário), nos momentos pré e pós implementação da padronização e classificação ABC. d) Amostragem A amostra consistiu da análise pré e pós padronização e utilização da classificação ABC aos produtos abrigados no estoque da farmácia hospitalar. e) Apresentação dos resultados - Indicadores de custo: a) Nível dos estoques: representa o número de itens depositados em estoque. Nesta dimensão, em janeiro de 2003 havia 1807 itens diferentes no estoque e, após a padronização, em junho de 2003, havia 1295 itens, com redução de 28,33%. Vide Gráfico 2. 2000 1500 1000 500 0 Janeiro Junho 2003 2003 GRÁFICO 2 Nível dos estoques. b) Valor do estoque: indica o valor dos produtos em estoque, representado pelo número de unidades de cada produto da mesma espécie multiplicado pelo valor unitário relacionado a cada um deles. Nesta dimensão, o valor do estoque de medicamentos situava-se, em janeiro de 2003, em R$ 878.000,00 e, em junho de 2003, em R$ 288.000,00. Vide Gráfico 3. 6

1000 800 600 400 200 0 Janeiro Junho 2003 2003 GRÁFICO 3 Valor do estoque (em R$ 1000,00). - Indicadores de qualidade (Gráfico 4): a) Tempo de inventário: significa o tempo dispendido para se fazer o inventário dos produtos abrigados no estoque, de acordo com ciclos pré-determinados pela organização. Quando foi utilizado este indicador, o tempo de inventário foi reduzido de 21 horas, em janeiro de 2003, para 10,4 horas de inventário em junho de 2003, após a implementação das medidas de padronização. 25 20 15 10 5 0 Janeiro Junho 2003 2003 GRÁFICO 4 Tempo de inventário. 4. Comentários finais Este estudo, desenvolvido numa organização hospitalar privada da cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, no período de janeiro de 2003 a junho de 2003, teve como objetivo observar os impactos advindos do emprego do método ABC e da padronização dos medicamentos abrigados no estoque de uma farmácia hospitalar, com o acompanhamento através da utilização de indicadores específicos. Os dados analisados mostram que o processo de gestão facilita a otimização dos serviços prestados pela unidade de farmácia hospitalar. 7

O trabalho demonstra a viabilidade e os aspectos favoráveis da utilização de processos gerenciais específicos na administração da farmácia hospitalar. Observou-se que os processos descritos são implementados rapidamente, caso estejam disponíveis elementos facilitadores, como sistemas computacionais, a tecnologia da informação e pessoas comprometidas com o sucesso do projeto. A gestão dos estoques é um dos fatores críticos neste setor, pois os produtos armazenados, além de representarem altos custos, ainda possuem sua demanda caracterizada pela grande flutuação. Os resultados indicaram a importância da otimização da padronização de medicamentos no que diz respeito à redução dos custos hospitalares, em um setor onde os recursos tornam-se mais escassos ao longo do tempo. Menores estoques significam menores custos e a redução dos estoques das farmácias hospitalares, através da utilização de técnicas gerenciais inovadoras, agrega benefícios às organizações de saúde. 5. Referências ANGARAN, D.M. Clinical pharmacy saves money and lives So what s new? Pharmacotherapy, Boston, v. 19, n. 12, p. 1352-1353, jul. 1999. BARBIERI, J.C.; MACHLINE, C. Logística hospitalar: teoria e prática. São Paulo: Saraiva, 2006. 326 p. BOND, C.A.; RAEHL, C.L.; FRANKE, T. Clinical pharmacy services, pharmacist staffing, and drug costs in United States hospitals. Pharmacotherapy, Boston, v. 19, n. 12, p. 1349-1351, dez. 1999. CORRÊA, H.L.; GIANESI, I.G.N.; CAON, M. Planejamento, programação e controle da produção: MRP II/ERP: Conceitos, uso e implantação. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001. 449 p. CAVALLINI, M.E.; BISSON, M.P. Farmácia hospitalar: um enfoque em sistemas de saúde. Barueri: Manole, 2002. 218 p. CUNHA, G.W.B. Padronização de medicamentos na área hospitalar. In: CONGRESSO DE ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR, 1979, São Paulo. DIAS, M.A.P. Administração de materiais: uma abordagem logística. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1993. 399 p. FITZSIMMONS, J.A.; FITZSIMMONS, M.J. Administração de serviços: operações, estratégia e tecnologia da informação. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. 564 p. LIMA, M.P. Estoque: custo de oportunidade e impactos sobre os indicadores financeiros. Centro de Estudos em Logística - CEL - COPPEAD UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, 2003. Disponível em: <http://www.cel.coppead.ufrj.br/fs-busca.htm?fr-monitor>. Acesso em 20/02/2006. KLÜGL, F., et al. Multi-agent simulation of diagnostic and logistic processes in hospitals. TU Ilmenau, Wirtschaftsinformatik 2, Arbeitsbericht, n. 14, p. 151-159, jul. 1999. MCKEE, M.; HEALY, J. The role of the hospital in a changing environment. Bulletin of the World Health Organization, Geneva, v. 78, n. 6, p. 803-810, mai. 2000. PATERNO, D. A administração de materiais no hospital: compras, almoxarifado e farmácia. 2. ed. São Paulo: CEDAS, 1990. 628 p. PROAHSA - Programa de estudos avançados em administração hospitalar e de sistemas de saúde do Hospital das clínicas da Faculdade de medicina da Universidade de São Paulo e Fundação Getúlio Vargas. Indicadores PROAHSA, São Paulo, v. 6, n. 30, p. 1-4, abr/jun. 2003. Disponível em: <http://www.hcnet.usp.br/proahsa/indicadores>. Acesso em: 15 de abril de 2006. PORTELLA, A. Padronização e custos: uma questão de logística hospitalar. [2001]. Disponível em: <http://www.guiadelogistica.com.br>. Acesso em: 20 março 2006. 8