DISLEXIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS



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Transcrição:

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Cleusa Maria Kaluzny da Silva DISLEXIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS CURITIBA 2007

CLEUSA MARIA KALUZNY DA SILVA DISLEXIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Psicopedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito para obtenção do título de especialista. Orientadora: Laura Bianca Monti CURITIBA 2007

RESUMO Este artigo tem como questão central à dislexia, apresentará o conceito, as classificações e considerações gerais sobre a dislexia. Todos os dias, muitas crianças e adolescentes são encaminhados às clínicas psicopedagógicas por apresentarem problemas de aprendizagem. Tendo em vista as dificuldades de aprendizagem de alguns alunos, em especial da criança disléxica é necessário que possamos refletir sobre a colaboração do psicopedagogo a estas crianças buscando formas de levá-las a um aprendizado efetivo. O objetivo básico é fazer uma revisão teórica sobre o que é a dislexia e qual o papel do psicopedagogo em relação ao disléxico buscando respostas em literaturas da área. Como resultado podem-se destacar algumas questões importantes tais como: as características do disléxico e diferenciar a dislexia de outros problemas relacionados à leitura e escrita. A dislexia surge como um desafio aos professores, pedagogos, psicólogos, neurologistas, fonoaudiólogos e psicopedagogos. È uma dificuldade e precisa de estímulos para os limites individuais do disléxico. Palavras-chaves: dislexia; aprendizagem e psicopedagogia.

ABSTRACT This article has as central issue dyslexia; will present the concept, the classifications and considerations about dyslexia. Every day, many children and adolescents are referred to clinics psicopedagógicas to have "problems of learning. In view of the difficulties of learning of some students, especially the child dyslexic is necessary that we reflect on the collaboration of psicopedagogo to these children looking for ways to take them to an effective learning the basic goal is to review theoretical about what dyslexia is and what the role of psicopedagogo on dyslexic seeking answers in literature of the area. As a result you can highlight some important issues such as the characteristics of dyslexic and differentiate the dyslexia of other problems related to reading and writing. The dyslexia is a challenge for teachers, educators, psychologists, neurologists, fonoaudiologists and psicopedagogos. It is a problem and needs incentives for individual limits of dyslexic. Keywords: dyslexia; Learning and Psicopedagogia

1. INTRODUÇÃO Desde o século XIX vem sendo dado mais atenção aos problemas relacionados à leitura e escrita em crianças que não apresentam deficiências que possam explicar tais dificuldades. Em 1896 James Kerr descreveu distúrbios de leitura e a partir daí foram formuladas muitas definições de acordo com bases teóricas e experiências de cada autor. Foi Hinshelwood que propôs o termo dislexia, em 1917. E muitas vezes era usado sob a designação de dislexia especifica ou dislexia de evolução (Ritzen & Debray, 1981, p.22). A dislexia é um termo que se refere às crianças que apresentam sérias dificuldades de leitura e, conseqüentemente de escrita, apesar de seu nível de inteligência ser normal ou estar acima da média.(antonio M.Pamplona de Morais, 2007, p.81). Em 1950, Halgreen após realizar uma pesquisa chega à conclusão de que é também uma condição hereditária com alterações genéticas, apresentando ainda alterações no padrão neurológico. Por outro lado, em alguns casos de dislexia, não existe evidência alguma de antecedentes familiares que possam sugerir uma influência genética. A dislexia é um problema isolado e duradouro do aprendizado na área da leitura, escrita. Ao contrário do que muitos pensam a dislexia não é o resultado de má alfabetização, desatenção, desmotivação, condição socioeconômica ou baixa inteligência. Aprender a ler e escrever é um complexo processo, segundo Antonio M. Pamplona de Morais sua aquisição envolve vários sistemas e habilidades (lingüísticas, perceptuais, motoras e cognitivas). O desenvolvimento da linguagem passa por um processo evolutivo. De acordo com Condemarin e Blomquist (1970) o desenvolvimento da linguagem acontece em cinco etapas interdependentes e sequencializadas.

2. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM Para Condemarin (1980), a linguagem oral (fala) é uma característica biologicamente determinada que se desenvolve de forma natural e espontânea se existir um ambiente estimulante e, se a criança não apresentar nenhum distúrbio a nível fonoarticulatório, o mesmo não acontece com a leitura e a escrita. De acordo com Condemarin e Blomquist (1970) o desenvolvimento da linguagem acontece em cinco etapas interdependentes e sequencializadas do desenvolvimento da linguagem. Interdependentes porque cada uma depende da anterior para se desenvolver e, sequencializadas, pois obedecem a uma seqüência de desenvolvimento. a) aquisição do significado: a criança adquire a noção e a função dos objetos que rodeiam atribuindo-lhes um significado social. Através da observação e da experimentação a criança relaciona os objetos aos seus respectivos significados. b) compreensão da linguagem falada: os objetos que adquiram significado são associados aos seus nomes. c) expressão da palavra falada: é a partir dessa fase, que o comportamento vocal (fala) da criança começa a se assemelhar à fala do adulto, pois a criança compara os sons que emite aos sons falados pelos adultos e imita-os. d) compreensão da palavra impressa: leitura. e) expressão da palavra impressa: escrita. Observamos que as etapas que envolvem a compreensão são anteriores às que envolvem a expressão. Assim, as crianças compreendem o que os pais falam para depois expressarem-se através dela (escrita). Primeiro a criança aprende a ler para depois aprender a escrever. Crianças que não compreendem a palavra impressa podem até realizar a cópia das palavras e frases, mas, dificilmente, conseguirão realizar um ditado ou uma redação. Neste caso, a cópia não pode ser considerada escrita, mas, a mera reprodução de letras e de palavras já que estas crianças não entendem o que estão escrevendo.

Caso uma criança apresente dificuldades para expressar-se verbalmente, a leitura e a escrita também serão afetadas; uma criança que apresente dificuldades para ler, sua escrita também será comprometida; uma criança que não tenha adquirido a aquisição dos significados, dificilmente compreenderá a palavra falada, dificilmente se expressará oralmente e, apresentará sérias dificuldades para ler e escrever. No início do processo de aprendizagem da leitura, a criança tem que diferenciar visualmente cada letra impressa e, perceber que cada símbolo gráfico tem um correspondente sonoro. A criança deverá discriminar visualmente cada letra que forma a palavra, a forma global da palavra e, associá-la ao seu respectivo som, formado uma unidade lingüística significativa. A criança que não consegue fazer associação entre a palavra impressa e som, quando se depara com a palavra escrita, esta não passa de um desenho porque não tem correspondência com sua linguagem falada. Este processo é chamado decodificação e é essencial para que a criança aprenda a ler. Não basta apenas realizar a decodificação dos símbolos impressos, é necessário que exista também, a compreensão e a análise crítica do material lido. Se na leitura se estabelece uma relação entre palavra impressa som - significado, na escrita a relação estabelecida é entre o som significado - palavra impressa (que é o que se escreve). Quando copiamos fazemos uma discriminação visual de todos os detalhes das letras e do formato da palavra que está servindo como modelo. Daí relacionamos os símbolos impressos (a letra e a palavra) aos respectivos sons, aos movimentos articulatórios (mesmo que a criança não pronuncie em voz alta), aos movimentos gráficos (traçado gráfico a ser executado), aos significados(conceitos) e, só então, reproduzimos graficamente a palavra modelo. É através do processo da leitura que a forma gráfica das palavras vai ficando registrada na memória visual. Assim escrevo casa, caça e exemplo e não escrevo caza, cassa e ezemplo porque li essas palavras em algum lugar e retive suas formas gráficas. Na escrita, as palavras são elaboradas mentalmente, associadas aos respectivos sons, aos significados, à forma gráfica e escrita. É através da leitura de textos, frases,

palavras, que se aprendem palavras novas, diferentes daquelas usadas em nosso linguajar corriqueiro. É através da leitura que se percebe como se articulam as regras gramaticais e se aprendem novos estilos de escrita. A criança precisa saber ler para poder escrever. Para Antônio M. P. de Moraes quando se fala em Distúrbios de Aprendizagem envolvendo leitura e escrita, é indispensável que se analise a leitura oral e silenciosa antes de se avaliar a escrita (cópia, ditado e redação), visto serem as dificuldades de escrita, decorrentes de uma leitura lenta, analítica, impregnada de trocas de sílabas ou palavras, sem pontuação nem ritmo e, incompreensível.

3. CONCEITO E CLASSIFICAÇÕES DE DISLEXIA Dislexia é uma dificuldade específica de linguagem, que se apresenta na língua escrita. A dislexia vai emergir nos momentos iniciais da aprendizagem da leitura e da escrita, mas já se encontrava subjacente a este processo. É uma dificuldade específica nos processamentos da linguagem para reconhecer, reproduzir, identificar, associar e ordenar os sons e as formas das letras, organizando-os corretamente. Johnson e Myklebust (1983) classificam a dislexia em dois tipos: dislexia auditiva e dislexia visual. Para eles a dislexia auditiva é caracterizada pela dificuldade em distinguir semelhanças e diferenças entre os sons acusticamente próximos; em perceber sons no meio de palavras; em análise - síntese, memória e seqüência auditivas e apesar de terem uma acuidade auditiva normal, não conseguem discriminar e relacionar os sons que constituem a palavra, ou seja, elas visualizam a palavra, mas não decodificam, pois o som que representam as letras não são recordadas. Na dislexia visual, o paciente apresenta dificuldades em diferenciar, interpretar e recordar palavras observadas visualmente. A criança disléxica tem dificuldade em memória e analise - síntese visual, em respeitar as seqüências viso - espaciais e os distúrbios de leitura se dão pelas trocas entre palavras que apresentam configurações semelhantes. Boder (in Nieto, 1975) classifica a dislexia em 3 grupos: a dislexia disfonética (corresponde à dislexia auditiva); a dislexia diseidética, a qual pode ser considerada a dislexia visual mencionada por Johnson e Myklebust e a dislexia mista que é a junção dos dois tipos de dislexia. Neste as crianças apresentam dificuldades tanto a nível visual quanto o nível auditivo. Nieto (1975) propõe uma classificação da dislexia baseada nos diferentes níveis do processo de ler e de escrever e ressalta como vantagem a possibilidade de reforçar a etapa da leitura e da escrita que esteja defasada.

Para ela o processo de ler e de escrever é dividido em três níveis: 1. O nível dos processos mecânicos, onde acontecem as associações entre sons e letras. Neste nível ocorrem os automatismos unitários e os automatismos seqüenciais. No automatismo unitário (refere-se a cada letra) encontram-se os erros do tipo disfonéticas (trocas do tipo auditiva), disortográficas (trocas visuais entre letras que diferem quanto à orientação espacial; omissões do h ; trocas entre ç e ss (caça cassa); entre g e j (gelo e jelo) entre outras e os erros do tipo mistos (ocorrem trocas, tanto disfonéticas quanto disortográficas). No automatismo seqüencial ocorre à de sucessão dos sons e das letras nas palavras (seqüência auditiva e visual). 2) O nível dos processos de integração: caracterizando-se pela existência de trocas entre palavras com o mesmo significado, problemas de separação de palavras ao escrever; dificuldades em compreender o que se leu e ausência de vocabulário. 3) O terceiro nível é o da desintegração total fonêmico-gráfica, neste nível ocorre à impossibilidade de ler e de escrever. Neste nível encontramos a alexia e a agrafia. A alexia é a incapacidade total para ler e a grafia é a incapacidade total para escrever o que normalmente ocorre devido a uma lesão cerebral.

3. CARACTERÍSTICAS DO DISLÉXICO Fazer o diagnóstico de dislexia requer o trabalho de uma equipe multidisciplinar para que não ocorram erros neste diagnóstico. Segundo Antônio M. P. de Moraes (2007).Alguns pontos podem ser observados sempre em um paciente disléxico: dificuldades com a linguagem e escrita; dificuldades em escrever; dificuldades com a ortografia e lentidão na aprendizagem da leitura. Com freqüência pode-se observar em pacientes disléxicos que estes apresentam: disgrafia (letra feia); discalculia, dificuldade com a matemática, sobretudo na assimilação de símbolos e de decorar tabuada; dificuldades com a memória de curto prazo e com a organização ; dificuldades em seguir indicações de caminhos e em executar seqüências de tarefas complexas; dificuldades para compreender textos escritos; dificuldades em aprender uma segunda língua. Estes sintomas não indicam necessariamente que a criança seja disléxica; há outros fatores que devem ser observados. O que caracteriza os disléxicos é a persistência do problema (com atenuações) até a vida adulta. Os disléxicos podem chegar até a universidade, mas isto exige um considerável esforço próprio. Para caracterizar os disléxicos, deve-se ainda observar alguns critérios: Não são portadores de problemas psíquicos ou neurológicos graves; Não apresentam deficiência intelectual ou sensorial; Não trocaram de escola (língua materna) mais de 2 vezes nos três Primeiros anos escolares e não faltaram mais de 10% de aulas nessa época.

4. PROGNÓSTICO DA DISLEXIA É importante compreender que a dislexia é uma dificuldade de linguagem que deve ser tratada por profissionais especializados. Procedimentos didáticos adequados possibilitam a criança vir a desenvolver todas as suas múltiplas aptidões. Podemos citar alguns disléxicos famosos: Leonardo da Vinci, Tom Cruise, Einstein; Nelson Rockefeller, Hans Christian Andersen e Agatha Christie, entre muitos outros. Normalmente o disléxico consegue dominar as habilidades e destrezas para ler e escrever através de uma reeducação psicopedagógica, mas é importante que haja uma equipe multidisciplinar para seu diagnóstico e tratamento. A equipe que trabalha com o disléxico, sejam neurologistas, fonoaudiólogos, psicopedagogos, psicólogos tem que ter uma formação específica nesta área, complementando um sólido conhecimento teórico com uma prática refletida sobre este tema, pois sem uma atenção especializada, raramente a criança disléxica consegue, por si só, superar suas dificuldades e, quase sempre, acaba se excluindo das atividades escolares ou de profissões que exijam a realização de processos gráficos. É consenso de todos os estudiosos que os problemas emocionais que geralmente a criança disléxica apresenta, não são a causa das dificuldades para ler, mas sua conseqüência. A dislexia como também as demais dificuldades escolares (independentes da causa), deve ser motivo de preocupação de pais e professores na tentativa de se fazer um diagnóstico precoce para que possa ser desenvolvido uma estratégia de ajuda, que auxilie a criança a superar os obstáculos que vão tornando impossível o ato de aprender a ler e a escrever.

5. O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO A intervenção do psicopedagogo vai variar conforme o tipo de dislexia disfonéticas (trocas do tipo auditiva), disortográficas ou mista. Sanchez (1995) fala de dois tipos de intervenção. O primeiro, mais global, que devem ser trabalhados com o disléxico: 1. Através de mudanças no sistema motivacional, favorecer um controle emocional durante a leitura e auxiliar para que tenha uma boa imagem de si mesmo e consiga conviver com as dificuldades. 2. Partindo de textos curtos, interessantes e lidos de forma conjunta, possibilitar que a leitura desperte, no disléxico, sentimentos positivos. 3. Criar redes com a escola e a família O segundo tipo de intervenção refere-se aos déficits específicos do disléxico, colaborando na melhoraria da sua capacidade para operar com as regras que relacionam fonologia ortografia e trabalhando a compreensão de textos. É importante que o psicopedagogo saiba que o disléxico deve ser considerado como um todo e que as dificuldades que ele apresenta é apenas um detalhe de uma paisagem exuberante e complexa. A aprendizagem deve levar em conta os processos neurológicos e os fatores envolvidos na educação quer sejam sociais, biológicos, emocionais ou outro qualquer, pois somente desta forma será possível intervir nas dificuldades do disléxico resultando na melhoria da qualidade de vida dos que apresentam esta dificuldades de aprendizagem.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS. O objetivo deste artigo foi de fazer uma revisão bibliográfica para auxiliar na aprendizagem e no conhecimento, tendo em vista o que é a realidade em sala de aula, posição de professor, metodologias pedagógicas, o aluno e seu aprendizado, nos preparando para um trabalho efetivo em sala de aula. Foi desenvolvido através de leituras de literaturas nas áreas de psicopedagogia, psicologia e lingüística. É necessário compreender que numa avaliação psicopedagógica, além do contexto escolar, é importante durante a anamnese observar a origem da queixa e todos os sintomas ; da criança. Os sintomas citados não indicam necessariamente que a criança seja disléxica; todos os fatores devem ser observados e questionados.

REFERÊNCIAS FONSECA, Vitor da. Introdução às dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. GERBER, Adele.Problemas de aprendizagem relacionados à linguagem. Sua natureza e tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. LYONS, John. Linguagem e lingüística. Rio de Janeiro: LTC livros técnicos, 1981. MORAIS, A.M.P. Distúrbios da Aprendizagem: uma abordagem Psicopedagógica. 12ª ed. São Paulo: Edicon, p. 162-164, 2007. NUNES, Terezinha; BUARQUE, Lair; BRYANT, Peter. Dificuldades na aprendizagem da leitura: teoria e prática. São Paulo: Cortez, 1997. PALACIOS, MARCHESI (Org). Desenvolvimento Psicológico e Educação. Porto Alegre, Artes Médicas: 1995. PIAGET, Jean. A linguagem e o pensamento da criança. São Paulo: Martins Fontes, 1993. RITZEN, Pierre Debray; DEBRAY, Flora. Como despistar uma dislexia num jovem estudante. Portugal: Moraes Editores1981. SANCHEZ, Emilio. A Aprendizagem da leitura e seus problemas. In COLL, VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2003.