Adequação de um sistema de picking no armazém de produtos acabados de uma empresa de produtos elétricos



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Transcrição:

Adequação de um sistema de picking no armazém de produtos acabados de uma empresa de produtos elétricos Renato Soares de Aguilar (UFMG) renatoaguilare@ig.com.br Resumo A alta concorrência que existe no setor industrial, o aumento crescente da variedade de produtos, o sistema de entregas cada vez mais freqüente, a redução no tempo de atendimento, a menor tolerância a erros de separação de pedidos e a pressão para a redução dos níveis de estoque são alguns dos pontos que demonstram a importância de pesquisar sobre armazenagem e coleta (picking) de produtos acabados em uma indústria que atua na produção de equipamentos elétricos de segurança, justificando a necessidade de desenvolver técnicas de redução de custo. A melhora de desempenho em relação à coleta e separação de pedidos na área do armazém de produtos acabados é viabilizada, neste estudo, pela definição de picking (coleta e separação de produtos em estoque) mais adequada ao Armazém de produtos acabados de uma empresa, mediante a análise das estratégias mais adotadas. Posteriormente, a definição do melhor método de distribuição de pedidos a ser adotado será demonstrada por meio de uma simulação utilizando o software ARENA para avaliar a entrega de determinados pedidos. A performance é mensurada pelo número de pedidos e de itens entregues, empregando o número de operadores disponíveis no turno de trabalho e com alternativa de estratégias de picking. Palavras-chave: Picking 1. Introdução A intensa competitividade gerada pela busca de novos clientes e pela na melhoria dos seus processos para satisfazer os atuais tem levado as empresas a avaliar as estratégias adotadas e a pesquisar sobre as técnicas mais adequadas para assegurar ganhos de performance. Uma das conseqüências desse fenômeno de procura de ganho de performance refere-se à atenção que passaram a merecer os componentes do custo logístico, como o de armazenagem, os quais, até então pouco significativos, já tem uma participação importante nos custos operacionais. Tudo isto tem provocado um contínuo processo de modernização das empresas. Tanto tecnológico quanto gerencial. Como resultado dessas transformações, ocorre de imediato um aumento do número de pedidos processados, assim como mudança no seu perfil. Em um centro de distribuição, uma das tarefas mais cruciais refere-se à coleta de produtos acabados (picking), sistema que consome cerca de 60% de mão-de-obra direta. Neste contexto, o presente trabalho teve a finalidade de propor uma técnica/método para otimizar o desempenho da empresa na coleta e separação de pedidos encaminhados ao Armazém de Produtos Acabados. O Armazém recebe as solicitações dos clientes por intermédio da Logística, que, por sua vez, analisa-as com o Departamento Comercial. A atividade de coleta (picking) é destacada e são descritos modelos de decisão relacionados à atividade. Descreve-se, então, o problema gerado pela falta de uma estratégia de picking e, em seguida, apresenta-se um modelo de simulação segundo os recursos disponíveis no Armazém. ENEGEP 2005 ABEPRO 731

2. Gerenciamento do armazém Segundo Petersen II (1999), nos dias de hoje é essencial que as empresas tenham tempos de processamento e tempos de entrega curtos na sua cadeia de suprimentos, fatores que podem servir como arma competitiva, desde que respondam imediatamente às mudanças na demanda do cliente. Armazéns formam uma importante ligação na cadeia de suprimentos, em que produtos podem ser armazenados temporariamente e os pedidos dos clientes podem ser atendidos com maior rapidez. Diminuir o tempo de movimentação com os pedidos em um armazém é extremamente crucial para reduzir o tempo de atendimento aos clientes. 3. Picking no armazém De acordo com Choe (1991), o procedimento de formatação para a estratégia de picking revela aspectos cruciais para o sucesso da sua estrutura: determinação da estratégia requerida; especificação da estrutura de coleta; seleção dos equipamentos; operação da estratégia; e determinação das dimensões do leiaute. A especificação da estratégia e dos tipos de equipamentos, usualmente, envolve os seguintes passos: classificação dos itens e ordens com base nos similares perfis; especificação das regras de armazenagem de cada classe de itens; e especificação das estratégias de cada tipo de pedido. 4. Estratégias de picking A coleta de produtos é uma das atividades que mais demandam tempo e intensiva mão-deobra. Por conseguinte, estão sendo usadas várias estratégias para melhorar a produtividade do processo de coleta, como: picking por lote, picking por zonas, picking discreto e picking por onda. Bozer (1985) identifica as seguintes estratégias de coleta de itens: a) coleta de acordo com uma única ordem, em que todos os itens são coletados na mesma viagem, uma ordem por viagem; b) coleta por lote, pela qual várias ordens são coletadas simultaneamente na mesma viagem, dependendo da capacidade do veículo, mas uma ordem deve ser completada em uma única viagem; e c) coleta por zona, em que cada apanhador opera dentro de limites geográficos específicos do armazém. Segundo Rodrigues (1999), as estratégias de picking (separação e preparação) das requisições de materiais empregadas nas atividades de armazenagem estão relacionadas principalmente com o número de operadores designados para a execução da operação, o número de produtos coletados e a frequência de coletas (scheduling) por turno. Os procedimentos mais utilizados são: - Picking discreto - Cada operador é responsável por uma requisição de material por vez e coleta apenas um produto de cada vez. Existe apenas uma janela de programação por turno. - Picking por zona - As áreas de armazenagem são divididas em zonas de produtos. Cada operador da atividade de picking está relacionado com uma dessas zonas. É mais utilizado quando ocorrem diferenças de produtividade entre os trabalhadores ou diferenças de ENEGEP 2005 ABEPRO 732

equipamentos/tecnologias utilizadas na área de picking. Com isso, as zonas de picking são determinadas de tal forma até obter-se um balanceamento da carga de trabalho entre as zonas. Existe apenas um período para o agendamento da atividade de picking. - Picking por lote - O operador espera o acúmulo de um certo número de requisições de materiais. Em seguida, são observados os produtos comuns entre as listas. Por trabalhar com várias requisições por coleta, este tipo de procedimento possui um ganho de produtividade em relação aos demais. No entanto, é indicado apenas quando os produtos são coletados, na maioria, em quantidades fracionadas e quando as listas de materiais possuem poucos produtos diferentes (1 a 4) e pequenos volumes. Novamente, temos apenas um período para a programação da atividade de picking. Segundo Lin (1999), a coleta de itens é um processo pelo qual são recolhidos itens de prateleiras em um armazém. Tipicamente, esta tarefa começa com a conversão da ordem de um cliente em uma lista, escolhendo o local de cada tipo de item, o número de itens de cada tipo e a seqüência na qual serão coletados os itens. O apanhador viaja então pelo armazém, enquanto os itens são escolhidos e transportados para um local específico, onde será empacotada a remessa. 5. Primeira intervenção (estabelecimento das principais causas do problema) O objetivo aqui foi conhecer as causas do problema e confrontar as opiniões das diversas áreas envolvidas. Realizou-se um seminário com a participação do pesquisador e da equipe de trabalho para investigar como o problema impactava cada área envolvida e para sugerir as medidas necessárias para solucionar o problema a partir de suas causas. Num processo de discussão e síntese, obtiveram-se a formalização do conhecimento das pessoas e, principalmente, a formação de um consenso entre elas. Nesse seminário, elaborou-se um formulário em que os participantes pudessem apontar as causas que estariam impactando o atraso na coleta de produtos e estabelecer notas de prioridade de importância dessas causas de acordo com o esforço que a empresa teria que fazer para soluciona-las e o impacto que a solução de tais causas teria no problema de atraso nas entregas de pedidos. O Quadro 1 apresenta a matriz (Esforço x Impacto) é composta por quatro quadrantes: - Primeiro quadrante - significa que a causa requer um baixo esforço por parte da empresa para a sua solução e que tem um alto impacto no problema. - Segundo quadrante - significa que a causa requer um alto esforço por parte da empresa para a sua solução e que tem um alto impacto no problema. - Terceiro quadrante - significa que a causa requer um baixo esforço por parte da empresa para a sua solução e que tem um baixo impacto no problema. - Quarto quadrante - significa que a causa requer um alto esforço por parte da empresa para a sua solução e que tem um baixo impacto no problema. ENEGEP 2005 ABEPRO 733

MATRIZ IMPACTO Alto Baixo ESFORÇO Pouco Muito 1 3 2 4 Quadro 1 Matriz Esforço versus Impacto Após a primeira hora de observações e dos pontos apresentados, os membros da equipe apresentaram as causas pertinentes do problema e seus valores de acordo com a matriz (Esforço x Impacto). O Quadro 2 apresenta as causas do problema. Matriz (Esforço Causas do Problema x Impacto) 1- Códigos Semelhantes das peças 4 2- Falta de identificação nas estandes 1 3- Interrupção no momento da separação dos materiais 1 4- Elevado número de Notas Fiscais urgentes fora do horário pela logística 1 5- Transportadoras fora do horário especificado de coleta 1 6- Poucos Funcionários 4 7- Falta de um método de separação e coleta de Notas Fiscais. 2 Quadro 2 Pontuação das causas do problema Após o preenchimento do formulário, a equipe focou as causas do problema. O índice da matriz foi classificado no primeiro quadrante, onde a causa requer um baixo esforço por parte da empresa para a sua solução e tem um alto impacto no problema, e no segundo quadrante, onde a causa requer um alto esforço por parte da empresa para a sua solução e tem um alto impacto no problema. As ações estabelecidas como Esforço x Impacto do quarto quadrante foram descartadas pela equipe e pelo pesquisador pelos seguintes motivos: - Os códigos semelhantes da peças não seriam uma causa importante para o problema desde que o armazém estivesse organizado e os estandes estivessem bem identificados. - O número de funcionários também não seria um ponto a atacar no primeiro momento, devido à falta de um método de trabalho e de uma medição do desempenho do funcionário que fossem capazes de impactar muito neste ponto. Com relação às causas estabelecidas como Esforço x Impacto do primeiro quadrante (falta de identificação nos estandes, interrupções no momento da separação dos materiais, elevado número de notas fiscais urgentes fora do horário pela logística e transportadoras fora do horário especificado de coleta), não houve a necessidade de uma análise mais aprofundada, e sim de um plano de ação imediato. A ação estabelecida como Esforço x Impacto do segundo quadrante levou à constatação da necessidade de uma pesquisa cientifica, pelo fato de o tema ser bem amplo, complexo e de alto impacto no problema e pelo motivo de o setor não ter um método de coleta de materiais e não conhecer o desempenho dos seus funcionários em relação a esta operação. ENEGEP 2005 ABEPRO 734

6. A segunda intervenção (Plano de Ação) A segunda intervenção (teve por objetivo) estabelecer as ações que seriam tomadas para os itens do primeiro e do segundo quadrante da matriz de Esforço x Impacto e definir um plano de trabalho para cumprir-las. O pesquisador contou com o apoio da equipe do projeto para apresentar as causas que seriam discutidas nesta intervenção. Nesta intervenção foi elaborado um modelo em que os participantes apontariam as ações necessárias e indicariam os responsáveis para eliminar as causas apresentadas na primeira intervenção. O processo de preenchimento do formulário teve a participação do pesquisador e da equipe do projeto. Cada um explicitou as suas opiniões e, após discussões, chegaram a um consenso, que está formalizado no Quadro 3. Dessa forma, procurou-se sugerir uma solução para as causas do primeiro e do segundo quadrante. Causas do Problema Matriz (Esforço x Impacto) Falta de identificação nas estandes 1 Ações estabelecidas no segundo seminário Identificar os corredores e Pallets de forma contínua para facilitar a coleta e localização das peças. Responsáveis Líder e operadores do armazém. Interrupção no momento de separação dos materiais 1 Elevado número de notas fiscais urgentes enviadas pela logística fora do horário. 1 Transportadoras fora do horário especificado de coleta 1 Determinar que qualquer interrupção aos operadores logísticos devem ser comunicadas ao líder do armazém. Determinar que o envio de pedidos da logística deverá acontecer até as 17:00 horas e se eventualmente precisar enviar alguma nota após este horário, deverá ser anexado um documento com o motivo e a assinatura do coordenador da logística. A portaria não permitirá a entrada de caminhões das transportadoras após 16:00 horas. Gerente de Fabrica. Coordenador logístico. Gerente Comercial Falta de um método de separação e coleta de Notas Fiscais. 2 Estabelecer um plano para coleta dos dados e montar a simulação da coleta com a estratégia mais adequada. Pesquisador e equipe do projeto Quadro 3 Plano de Ação para as causas apresentadas no Primeiro Seminário 7. Definição das estratégias de picking As estratégias simples de picking mais conhecidas classificam-se em: picking discreto, picking por lote, picking por zona e picking por onda. Entretanto, é comum a combinação de uma e outra, de modo a se obter uma estratégia específica para cada ambiente de manufatura. Em geral, cada estratégia está relacionada à localização e disposição dos produtos no depósito de materiais, ao número de requisições por turno de trabalho, ao número de operadores engajados em cada requisição, à semelhança dos itens, etc. Foram utilizadas duas estratégias de picking neste artigo: a) picking discreto (PD); e b) picking por lote e zona (PBZ). O picking discreto estabelece que cada operador deve se responsabilizar por um pedido por vez e pela coleta de apenas um produto de cada vez. O ENEGEP 2005 ABEPRO 735

picking por lote e zona estabelece que o operador deve primeiro combinar algumas ordens em um lote e então separar estes lotes em subordens por diferentes zonas. Os pontos determinantes para a escolha de uma ou outra estratégia são: - A estratégia de picking discreto é o método de coleta existente no armazém e servirá como comparação com a estratégia de lote e zona na simulação dos dados. - O principal critério para o sistema de lote é a proximidade de locais de coleta e a possibilidade de agrupar ordens de um mesmo cliente. O armazém em estudo tem apenas dois corredores e a área é de 400 m 2, o que possibilita o desenvolvimento da estratégia de lote. O grande número de ordens fracionadas por cliente também gera uma grande oportunidade para trabalhar com lotes. A estratégia de lote atribui cada ordem a um grupo com base na proximidade de seus locais de armazenamento/coleta. - As vantagens principais de dividir em zonas são: a familiaridade do apanhador com a zona de trabalho que será atribuída a ele e a redução da distância percorrida quando se limita a área de coleta em zonas. 8. Resultados obtidos com a simulação Os resultados obtidos da simulação para análise foram baseados nos índices de desempenhos estabelecidos pela empresa. - tamanho da fila: quantidade de pedidos em espera no armazém para coleta; - tempo de processamento da atividade de picking: tempo médio medido desde o recebimento do pedido até a sua coleta por completo; e - número de reclamações de clientes em relação aos pedidos em atraso: quantidade de pedidos em atraso devido ao armazém de produtos acabados. A Tabela 1 seguinte apresenta as estatísticas de tempo de ordens na fila comparando os dois modelos e os seus apanhadores. Tempo em horas que uma ordem permanece no sistema Média Valor Mínimo Valor Máximo Modelo1 0,04748 0,015 0,371 Modelo 2 0,03952 0,011 0,284 Tempo em horas que uma ordem permanece na fila Média Valor Mínimo Valor Máximo Modelo1 0,01732 0 0,32 Modelo 2 0,00888 0 0,25 Tempo em horas que uma ordem permanece na fila por apanhador Média Valor Mínimo Tabela 1 Tempo médio de fila Valor Máximo Apanhador 1 - Modelo 1 0,01638 0 0,302 Apanhador 2 - Modelo 1 0,01694 0 0,32 Apanhador 3 - Modelo 1 0,0186 0 0,317 Apanhador 1 e 2 - Modelo 2 0,00795 0 0,194 Apanhador 3 - Modelo 2 0,01086 0 0,25 ENEGEP 2005 ABEPRO 736

A Tabela 2 mostra que o tempo médio que uma ordem permanece no sistema no modelo 2 implantado pelo pesquisador obteve um ganho de 17% e que o tempo médio em que uma ordem permanece na fila no modelo 2 também obteve uma redução de 48% em relação ao modelo de trabalho anterior à pesquisa. Outra análise realizada foi sobre o tempo em que uma ordem permanece na fila por apanhador, como apresentado na Tabela 2. Esses dados demonstram um ganho de redução de 45% no tempo médio de permanência na fila por modelos. A Tabela 2 apresenta as estatísticas do tempo de coleta dos apanhadores por modelo. Nota-se que o tempo médio de coleta de uma ordem dos apanhadores no modelo 2, implantado pelo pesquisador com a estratégia adotada de picking, obteve um ganho de 18% em relação ao modelo 1. Tempo em horas de coleta de uma ordem por apanhador Média Valor Mínimo Valor Máximo Apanhador 1 - Modelo 1 0,04623 0,015 0,347 Apanhador 2 - Modelo 1 0,04712 0,015 0,356 Apanhador 3 - Modelo 1 0,04906 0,015 0,371 Apanhador 1 e 2 - Modelo 2 0,04068 0,017 0,236 Apanhador 3 - Modelo 2 0,03706 0,011 0,284 Tabela 2 Tempo médio de coleta de ordens por apanhador 9. Conclusão Conclui-se deste trabalho que o armazém de produtos acabados da empresa, por não se preocupar com a implantação de um método de trabalho e não conhecer a performance dos seus funcionários, desperdiçou muitas oportunidades de melhoria. A atual estratégia de picking pesquisada e implantada em conjunto com algumas ações da equipe do projeto demonstrou-se capaz de obter ganhos de produtividade dos funcionários e, desta forma, reduzir o atraso nas entregas dos produtos. O resultado baseou-se em uma metodologia de construção e avaliação de matrizes de direcionadores da estratégia de picking. Ao longo desta dissertação, foram apontadas características relacionadas ao tipo de produto, demandas de cada produto e aspectos internos relacionados ao trabalho no armazém. Entretanto, não se pode afirmar definitivamente que a estratégia de picking adotada é a melhor estratégia para a coleta de ordens em geral. É claro que uma estratégia de picking pode se mostrar compatível com o processo de trabalho estudado quando se analisam algumas características específicas, e disto pode se concluir apenas que tal estratégia pode se adequar bem ao cenário que foi objeto da pesquisa-ação. Isto quer dizer que as conclusões deste artigo são específicas para os processos de coleta de itens de uma empresa particular do setor elétrico. Apesar de as estratégias e a simulação terem sido desenvolvidas com base no cenário especifico da empresa pesquisada, este método pode ser facilmente ajustado e implementado em todas as empresas que trabalham com armazéns cujo serviço de coleta manual é predominante. Por meio da simulação é possível analisar os gargalos do sistema, podendo-se implantar novas metodologias e tecnologias que venham a melhorar a qualidade da coleta de produto e garantir uma maior e melhor produtividade dos profissionais envolvidos. ENEGEP 2005 ABEPRO 737

Enfim, esta pesquisa de adequação das estratégias de picking e de simulação do processo demonstra que é possível melhorar a produtividade dos funcionários e obter outros ganhos relacionados a este sem investir alto em novas tecnologias. 10. Referências bibliográficas Bozer Y. A. (1985), Optimizing throughput performance in designing order picking systems, Unpublished Ph.D. Disertation, Geirgia Institute of Technology, Atlanta, GA. Choe K., G. Sharp. (1991) Small parts order picking: Design and operation - Industrial and Systems Engineering, Georgia Institute of Technology, Atlanta, GA, USA. Lin, C. H. The procedure of determining the order-picking strategies in distribution center Int. J. Production Economics, 60-61, (1999), 301-307. Petersen II, C. G., How to improve order picking efficiency with routing and storage policies College of Business, Northern Illinois University, Dekalb, (1999), 1-17. Rodrigues, A.M. Estratégias de picking na armazenagem, Coppead/UFRJ, 1999. http://www.coppead.ufrj.br/pesquisa/cel/new/fs-public.htm ENEGEP 2005 ABEPRO 738