Anais do 38º CBA, p.1463
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- Camila da Mota Sequeira
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1 1 AVALIAÇÃO DAS FUNÇÕES HEPÁTICA E RENAL EM GATOS (FELIS CATUS) APÓS ADMINISTRAÇÃO DE DEXCETOPROFENO TROMETAMOL EVALUATION OF HEPATIC AND RENAL FUNCTIONS IN CATS (FELIS CATUS) AFTER ADMINISTRATION OF DEXKETOPROFENO TROMETAMOL Rosivaldo DELFINO 1 ; Ivana Cristina Nunes GADELHA LELIS 2 ; Valderlândia Oliveira dos SANTOS 3 ; Higina Moreira MELO 4 ; José Artur Brilhante BEZERRA 5 ; Poliana Araújo XIMENES 5 e Éricka Natália BESSA 6. 1 Médico Veterinário, rosivaldo@yahoo.com 2 Médica Veterinária, Doutora em Ciência Animal 3 Graduanda em Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural do Semi-Árido 4 Médica Veterinária, Mestre em Ciências Fisiológicas 5 Médico(a) Veterinário(a), Especialista em Clínica Médica de Pequenos Animais 6 Médica Veterinária, Residente de Patologia Clínica, Universidade Federal Rural do Semi-Árido Resumo: Recentemente o dexcetoprofeno trometamol tem sido empregado para o controle da dor leve a moderada. Este fármaco atua de maneira não seletiva nas cicloxigenases (COX-1 e COX2), com mecanismos de ação semelhante aos demais AINEs da classe dos ácidos propiônicos e tem apresentado efeitos analgésicos satisfatórios para o controle da dor pós-operatória, sem provocar os efeitos colaterais comumente observados por esses medicamentos. A utilização desse fármaco em gatos ainda não foi descrita na literatura científica, neste sentido, objetivou-se com este trabalho realizar a avaliação das funções hepática e renal de gatos após uso do dexcetoprofeno trometamol. Desta forma, foram utilizados quatorze gatos, machos, sem raça definida, adultos, hígidos e distribuídos randomicamente, em grupo controle e grupo tratamento. No grupo controle foi administrado 0,5ml de solução salina fisiológica (NaCl 0,9%) e no grupo tratamento foi administrado 2mg/kg de dexcetoprofeno trometamol (50mg/2ml Enantiun ), por via intramuscular, a cada 24 horas durante três dias. Para a avaliação da bioquímica sérica das funções hepática e renal, foram coletadas amostras de sangue nos momentos 0h, 24h, 48h e 72h e, após cada coleta, foi administrado o dexcetoprofeno trometamol. Foi realizada a análise de variância e comparação de médias através dos testes Tukey, Duncan e teste F, e consideradas diferenças significativas menores que 5% (p<0,05) de probabilidade. Os níveis séricos de ureia e creatinina mantiveram-se dentro dos valores considerados normais para a espécie, em ambos os grupos. Na avaliação da função hepática, os níveis de ALT (Alanina Aminotransferase), AST (Aspartato Aminotransferase), ALP (Fosfatase Alcalina) mantiveram-se dentro do intervalo Anais do 38º CBA, p.1463
2 2 considerados normais em gatos, tanto no grupo controle, quanto no grupo tratamento. A utilização do dexcetoprofeno trometamol em gatos na dose de 2mg/kg, não provocou alterações significativas na bioquímica sérica das funções hepática e renal. Palavras-chave: Felinos. Creatinina. Ureia. Alanina aminotransferase. Aspartato aminotransferase. Keywords: Felines. Creatinine. Urea. Alanine aminotransferase. Aspartate aminotransferase. Introdução: A instituição de qualquer terapia em felinos é um desafio adicional, pois, esses animais apresentam uma dificuldade em metabolizar fármacos, uma vez que a deficiência enzimática nos processos de glucoronidação e conjugação hepática resultam em maior tempo de ação, com potencial efeito cumulativo dos fármacos. É o caso de alguns AINEs, como carprofeno e ácido acetilsalicílico (AAS), que possuem uma lenta metabolização por deficiência da enzima glicuroniltransferase, proporcionando um aumento da meia vida desse agente em torno de 4 a 5 vezes até ser eliminado (YAZBEC e MARTINS, 2015). O dexcetoprofeno trometamol é um enantiômero ativo do cetoprofeno que tem demonstrado ser mais potente e ter menos efeitos colaterais gastrintestinais em comparação com cetoprofeno (CARABAZA et al., 1997; CABRE et al., 1998). O fármaco não se acumula em tecido adiposo e sofre uma intensa biotransformação hepática após glucoroconjugação, sendo então eliminado de forma inativa pelos rins (BARBANOJ et al., 2001). Esse fármaco é um AINEs que tem sido empregado para o controle da dor leve a moderada em cadelas após ovariossalpingohisterectomia (OSH). Nesta espécie, esse fármaco tem demostrado efeitos equivalentes ao dobro da dose do cetoprofeno, sendo um potente fármaco na inibição não seletiva da ciclooxigenases (COX) e possui menores efeitos colaterais gastrintestinais em comparação com o cetoprofeno (EVANS, 1996; YUCEL et al., 2012). As determinações bioquímicas no sangue podem incluir a mensuração de diversas substâncias encontradas no plasma sanguíneo, podendo ser usados na confirmação de diagnósticos e recomendados usá-los em um perfil geral inicial com base no histórico do paciente (BUSH, 2004). Os exames bioquímicos têm como objetivo a mensuração de enzimas, que normalmente estão ausentes ou estão presentes em baixas concentrações na corrente sanguínea. Anais do 38º CBA, p.1464
3 3 O fígado possui papel central no metabolismo e desintoxicação do organismo, e por isso as enzimas hepáticas são avaliadas com o intuito de verificar a integridade dos hepatócitos. A ALT é uma enzima de extravasamento, presente no citoplasma do hepatócito, sendo considerada hepato-específica em cães e gatos, e cujo aumento sérico sugere necrose de hepatócitos ou lesões graves de tecidos musculares (THRALL, et al., 2007). A AST também é uma enzima de extravasamento, mas não é hepato-específica, visto que também está presente nos tecidos musculares esqueléticos e cardíacos, bem como nos hepatócitos, de modo que seu aumento sérico indica lesão nesses tecidos (BUSH, 2004). A fosfatase alcalina (ALP) é uma enzima de indução e, diferente das anteriores, seu aumento ocorre em virtude do estímulo à sua produção (BUSH, 2004). Dentre os metabólitos importantes na avaliação laboratorial da função renal, está a mensuração do nitrogênio da ureia sanguínea (NUS), que é eliminada através da filtração glomerular. Assim, a diminuição na taxa de filtração glomerular (TFG) promove aumento do valor de NUS. No entanto, o teor de NUS é influenciado pela taxa de produção hepática de ureia, taxa de excreção renal de ureia e taxa de extração renal (THRALL et al., 2007). Outro metabólito importante utilizado a fim de avaliar a TFG é a creatinina, formada a partir da condensação e desidratação espontânea da creatinina muscular em uma estrutura anelar. Esse composto é estável em animais sadios e não sofre influência de fatores extra renais, como acontece com a ureia, e, uma vez formada, a creatinina é excretada quase que completamente por via renal durante o processo de filtração glomerular (THRALL et al., 2007; CARVALHO, 2015). Metodologia e Métodos: Para este estudo foram utilizados quatorze gatos (Felis catus) machos, adultos, sem raça definida, hígidos com peso corpóreo entre 3 e 5kg. Os animais permaneceram por quatro dias em gatis (76x46x42 cm) do Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), com ração para gatos (Whiskas ) e água ad libitum. Os animais foram devidamente identificados e distribuídos aleatoriamente em dois grupos: controle e tratamento. No grupo controle foi administrado 0,5ml de solução salina fisiológica (NaCl 0,9%), por via intramuscular, a cada 24 horas durante três dias. No grupo tratamento, foi administrado 2mg/kg de dexcetoprofeno trometamol (50mg/2ml Enantyum ), por via intramuscular, a cada 24 horas durante três dias. Anais do 38º CBA, p.1465
4 4 Amostras de sangue foram coletadas às 0h, 24h, 48h e 72h, da veia cefálica com auxílio de seringa (DESCARPACK ) de 5mL e escalpe (EMBRAMAC ) nº 23G. Imediatamente após cada coleta, foi administrado o dexcetoprofeno trometamol por via intramuscular. As amostras foram acondicionadas em microtubos (0,5ml) contendo EDTA para posterior utilização do plasma, e em tubos sem anticoagulante para realização da bioquímica sérica das funções hepática e renal. As amostras foram devidamente identificadas e enviadas para o Laboratório de Patologia Clínica do Hospital Veterinário da UFERSA, onde foram centrifugadas e realizadas as análises. Utilizou-se plasma para análise da creatinina e soro para mensurar ureia, AST, ALT, ALP e proteína total (PT). Creatinina cinética (Vida Biotecnologia Minas Gerais, Brasil), e ALP, foram analisadas no Bioplus 2000 (São Paulo, Brasil); AST e ALT no HUMAN STAR 80 (InVitro); e PT através do refratômetro modelo Q (Quimis, China). Resultados e Discussão: Em cães e gatos, as isoenzimas que normalmente apresentam seus níveis elevados após intoxicações por anti-inflamatórios são AST, ALT e ALP (BUSH, 2004; THRALL et al., 2007). Na avaliação hepática dos felinos, não foram observadas diferenças entre os grupos para a enzima ALT (no momento 0h foi 40,00±13,08 UI/L e 72h 46,75±14,72 UI/L), bem como seus níveis séricos permaneceram dentro do intervalo preconizado para a espécie (6-83UI/L). Porém, houve diferença para a enzima AST no grupo controle e tratamento (0h apresentou 28,12 ± 6,01 UI/L e 72h 30,87 ± 7,80 UI/L), mas os níveis dessas enzimas ainda permaneceram dentro dos valores séricos considerados normais para a espécie, ou seja, entre 26 e 43UI/L (KANEKO et al.,1997). Os dados estatísticos referentes à ALP não evidenciaram diferenças significativas entre os grupos controle (em 0h foi 105,28 ± 28,01 UI/L e em 72h foi 87,57 ± 21,97 UI/L) e tratamento (em 0h foi 78,25 ± 31,61 UI/L e em 72h foi 76,25 ± 29,89 UI/L) nos diferentes momentos da avaliação, ressaltando-se que níveis séricos normais de ALP para a espécie felina, pelo método cinético, estão entre 25 e 93 U/L (KANEKO et al.,1997). No tocante à função renal, apesar de haver diferença entre os níveis séricos de ureia no grupo controle com valores médios de 70,83 e 58,00 mg/dl nos momentos 0h e 72h, respectivamente, e no grupo tratamento com valores médios de 55,25 e 67,42 mg/dl nos momentos 0h e 72h, respectivamente, os valores deste composto permaneceu dentro dos níveis adequados para a espécie. Bush (2004) afirma que um discreto aumento nos níveis de ureia, não significa Anais do 38º CBA, p.1466
5 5 necessariamente doença ou alguma lesão renal, pois os valores de ureia considerados normais estão no intervalo de 30 a 65mg/dL e em casos de alimentação rica em proteínas, a concentração de ureia pode chegar a 90mg/dL. Quanto aos níveis de creatinina, não houve diferença significativa entre os momentos 0h e 72h em cada grupo mantendo-se os valores dentro dos limites de normalidade indicados por Kaneko et al. (1997) que cita intervalo normal de 0,5 a 1,8mg/dL para a creatinina em felinos. Conclusão: Em felinos domésticos, a administração de dexcetoprofeno trometamol, por via intramuscular, na dose de 2mg/kg a cada 24 horas, durante três dias, não alterou os níveis séricos normais de AST, ALT, ALP, ureia e creatinina. Referências: BARBANOJ, M. J.; ANTONIJOAN, R. M., GICH I. Clinical pharmacokinetics of dexketoprofen. Clinical Pharmacokinetics, v.40, p , BUSH, B. M. Interpretação de resultados laboratoriais para clínicos de pequenos animais. São Paulo: Roca, p CABRE, F. et al. Analgesic, antiinflammatory, and antipyretic effects of S(+)- ketoprofen in vivo. The Journal of Clinical Pharmacology, v. 38, p. 3-10, CARABAZA, A. et al. Stereoselective inhibition of rat brain cyclooxygenase by dexketoprofen. Chirality. v. 9, p , CARVALHO, M. B. Insuficiência Renal Aguda, In: JERICÓ, M. M. Tratado de medicina interna de cães e gatos. Rio de Janeiro: Roca, p EVANS, A. M. Enantioselective pharmacodynamins and pharmacokinetics of chiral non-steroidal anti-inflamatory drugs. European Journal of Clinical Pharmacology, v. 42, p , KANEKO, J. J.; HARVEY, J. W.; BRUSS, M. L. Clinical biochemistry of domestic animals. San Diego: Academic Press, THRALL, M. A. et al. Hematologia e bioquímica clínica veterinária. 1 ed. São Paulo: Roca, YAZBEC, K. B. V.; MARTINS, T. L. Analgesia pós-operatória em Gatos. In: JERICÓ, M. M. Tratado de medicina interna de cães e gatos. Rio de Janeiro: Roca, p Anais do 38º CBA, p.1467
6 6 YUCEL, E. et al. Bloqueio dos nervos ilioinguinal e ílio-hipogástrico com dexcetoprofeno intravenoso melhora a analgesia após histerectomia abdominal. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 63, p , Anais do 38º CBA, p.1468
Anais do 38º CBA, p.1488
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