Boletim Econômico Edição nº 92 dezembro de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico
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- João Pedro Figueiroa Barreiro
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1 Boletim Econômico Edição nº 92 dezembro de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico Algumas teses da futura equipe econômica do Governo Dilma 1
2 Perfil econômico liberal e ortodoxo Ampliar a participação do setor privado, cumprir a meta fiscal sem artifícios e buscar o centro da meta de inflação são algumas das ideias defendidas pelo futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Essas idéias parecem servir, em tese, como a fórmula para a retomada do crescimento e da estabilidade macroeconômica do país, no sentido de propor um modelo de gestão mais liberal e menos intervencionista. Na prática, no entanto, o futuro ministro, de perfil ortodoxo, deve enfrentar forte pressão para concretizar suas crenças. O motivo é o simples fato de elas virem de encontro com o que prega o PT, ainda apegado a políticas desenvolvimentistas. De qualquer forma, o mercado recebeu o nome de Levy como uma surpresa positiva e deve acompanhar de perto os primeiros passos do futuro ministro, que deve ser oficializado ao cargo ainda esta semana. Ainda há a esperança que sua nomeação sinalize um maior grau de autonomia à equipe econômica do governo, controlada, até então, pela mão de ferro da presidente Dilma Rousseff. Ao contrário do que pensa os economistas do PT, que defendem a forte intervenção do Estado na economia e o aumento dos gastos públicos, a futura equipe econômica do segundo mandato da Presidente Dilma Roussef vai atacar exatamente nesses dois pontos: reduzir o tamanho do Estado e reduzir os gastos do governo. 2
3 Contas públicas A meta de superávit primário deve ser perseguida sem artifícios e com transparência, mantendo-se o objetivo de reduzir a dívida pública bruta ao longo do tempo. A adoção de uma meta para a trajetória da dívida bruta do setor público como proporção do PIB, que servisse para a derivação explícita das metas de superávit primário, seria um primeiro passo nessa direção, fortalecendo as relações com o setor produtivo. Há que articular as metas para a dívida pública com maior disciplina no gasto público, estabelecendo uma trajetória para o gasto público, notadamente o gasto corrente, ainda que indicativa. Dessa forma, o governo poderia se concentrar mais facilmente em diminuir o atual ônus da complexidade das regras tributárias. Essa estratégia reforçará ainda a necessária parcimônia no uso de alívios tributários para alcançar objetivos de curto prazo. O ministro da Fazenda nomeado, Joaquim Levy, já informou que a meta de superávit primário, a economia feita para pagar juros da dívida pública e tentar manter sua trajetória de queda, será de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) para todo o setor público consolidado (governo, estados e municípios) em Este ano, a meta fixada inicialmente era de 1,9% do PIB, mas o governo já informou que este objetivo foi abandonado. Em 2016 e 2017, segundo Levy, o esforço fiscal não será inferior a 2% do PIB próximo do patamar registrado em Para atingir essas metas, ele 3
4 informou que algumas medidas que vêm sendo discutidas são de diminuição de despesas. Entretanto, acrescentou que as medidas serão, "não digo graduais, mas sem pacotes, sem nenhuma surpresa". Bancos públicos O BNDES terá um papel especial na próxima rodada de desenvolvimento da infraestrutura, em parceria com o mercado de capitais. Tornar as debêntures de infraestrutura uma 'asset class' global é o desafio número um, e pode trazer vantagens grandes também para as entidades fechadas, mesmo que elas não tenham um diferencial tributário específico. Isso, junto com mecanismos de mitigação e diversificação dos riscos de construção, institucionais, e outros que são típicos da infraestrutura. Concluindo, o banco público complementa o privado no papel de financiar e mover a economia. Quando se olha a contribuição do setor financeiro para programas públicos, é sempre importante o foco no longo prazo. Corte de gastos Menos gastos do governo ajuda a fazer os juros caírem, desestimulando o excesso de entradas de capital e modulando o câmbio. Se a política monetária usa metas de inflação, isso é apenas uma questão operacional que não elimina o papel-chave da capacidade do governo de reduzir seus gastos correntes, inclusive os mais rígidos, nos ajustes do câmbio. O complicado é quando se considera que dá pra fazer isso enquanto se ampliam os gastos públicos, a não ser que haja um fortíssimo choque de produtividade na economia com um substancial salto de eficiência e 4
5 conhecimento e muito menos burocracia e mais liberdade para as pessoas tomarem riscos. Produtividade Para recuperar a produtividade, é preciso: - Tratamento similar a grupos economicamente semelhantes; - Privilegiar políticas sociais focalizadas na escolha dos grupos beneficiados, e não no consumo de bens específicos; - Benefícios e incentivos podem ser concedidos a grupos selecionados, desde que transparentes no orçamento público e acompanhados de metas claras e verificáveis de desempenho e avaliação dos resultados; - As políticas públicas devem ser avaliadas independentemente do poder executivo; - Procedimentos e regras dos processos de aprovação e acompanhamento dos investimentos em infraestrutura devem ser reformulados de modo a serem previsíveis e com regras alçadas e procedimento bem definidos. 5
6 Juros A subida recente da Selic é positiva na medida em que sinaliza o compromisso com a estabilidade de preços. Ela aumenta a rentabilidade das carteiras de duração mais curta, sem prejudicar o longo prazo das carteiras institucionais. Mas o que realmente vai fazer diferença é um conjunto de políticas que permita os juros baixarem de maneira persistente e segura, tornando os investimentos de longo prazo cada vez mais atraentes. Esse é um trabalho diário, de muita paciência e humildade, mas fundamental para o Brasil. Segundo mandato de Dilma O novo governo começa com um cenário doméstico e externo diferente de A situação global, assim como a demanda por commodities e a liquidez internacional, mudou. O menor crescimento da China deve exigir mais de nós. Além disso, a urgência para destravarmos a infraestrutura aumentou, até pelo cenário global em que a produtividade será ainda mais importante. Finalmente, nesse novo quadro, a questão fiscal 6
7 adquire um caráter diferente do 'anticíclico' que deu para ser feito em 2009, quando o setor público estava muito enxuto. O desafio para o Brasil é o nosso baixo nível de poupança que acaba demandando tanto dos fundos de pensão. Inclusive, as empresas não estão conseguindo poupar como no passado, quando lucros retidos eram cruciais para o investimento. O Governo tenta aumentar o investimento sem aumentar muito a poupança doméstica, e conscientes dos limites da poupança externa. Definir uma linha de ação em relação a isso é um imperativo para alinhar expectativas. FMI aprovou a nova equipe econômica A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde manifestou ter "ficado encorajada" com a nova equipe econômica, formada pelos ministros indicados da Fazenda, Joaquim Levy, do Planejamento, Nelson Barbosa, e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Disse estar segura da adoção de políticas fiscais sólidas, reduzindo o gasto público e atacando os gargalos que existem atualmente, como a infraestrutura precária e estagnada do país. Apesar do apoio do FMI, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) rebaixou esta semana sua projeção de crescimento este ano para o Brasil de 1,4% para 0,2%. Para o ano que vem, a expectativa de expansão é de 1,3%. Desde que foi reeleita, a presidente Dilma promete maior disciplina fiscal e nomeou Joaquim Levy, conhecido por ser conservador, para recuperar a confiança dos investidores e evitar um rebaixamento das agências de classificação de risco. 7
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