Aspectos controversos da Taxa de Preservação Ambiental de Bombinhas/SC
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- Valdomiro de Andrade Caldas
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1 Aspectos controversos da Taxa de Preservação Ambiental de Bombinhas/SC A iminente cobrança de uma taxa de preservação ambiental daqueles que visitam Bombinhas/SC durante a temporada de verão tem gerado inúmeras discussões em toda a região, gerando sentimentos distintos. É possível saber mais sobre o tema na reportagem abaixo, exibida recentemente pela RBS TV: Para destacar as principais questões que envolvem a cobrança, o advogado Marcelo Ivo Melo Vanderlinde, sócio responsável pela área de Direito Tributário da KVSG Advogados Associados e professor da disciplina no curso de Ciências Contábeis da UNIVALI em Itajaí/SC, elaborou o texto a seguir, que, para se tornar mais didático, foi dividido em cinco partes. parte 1 O art. 2º da Lei Complementar n.º 185/13 prevê que a Taxa de Preservação Ambiental (ou pedágio, como alguns erroneamente têm chamado) tem como fato gerador o exercício regular do poder de polícia municipal em matéria de proteção, preservação e conservação do meio ambiente no território do Município de Bombinhas, incidente sobre o trânsito de veículos [...] na sua jurisdição. Enquadra-se, portanto, numa taxa decorrente do exercício do poder de polícia (ou de fiscalização), art. 78 do Código Tributário Nacional, ou seja, da atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato. Outros exemplos de taxas de fiscalização são as necessárias para a obtenção de alvará de localização e funcionamento e alvará de construção. Nestes casos, o contribuinte paga a taxa para que o Poder Público analise o respeito à legislação aplicável e se o comércio pode funcionar ou se a construção pode ser iniciada. Em outras palavras, interpretando em conjunto a lei municipal e o CTN, essa taxa busca 1 / 5
2 remunerar o Poder Público pelo exercício da fiscalização incidente sobre veículos que adentram em seu território, buscando garantir o respeito à legislação ambiental local e proteção do meio ambiente. Logo, fica o primeiro questionamento: Se a taxa será cobrada por meio de sistema de registro eletrônico, como o Poder Público conseguirá fiscalizar os veículos que chegam à cidade, justificando assim a cobrança da taxa? parte 2 No art. 3º da LC n.º 185/13 consta que a taxa tem como base de cálculo o custo estimado da atividade administrativa em função da degradação e impacto ambiental causados ao Município de Bombinhas, no período compreendido entre 15 de novembro e 15 de abril do exercício seguinte. Aqui, 2 são os pontos que merecem destaque: Primeiro: A definição de tributo contida no art. 3º do Código Tributário Nacional reconhece que o tributo, dentre outras características, é prestação pecuniária compulsória [...] que não constitua sanção de ato ilícito. Ainda que a fiscalização ambiental não constitua uma sanção de ato ilícito, ao estabelecer que a taxa será calculada em função da degradação e impacto ambiental causados ao Município de Bombinhas, salvo melhor juízo, equivale a dizer que a tributação está incidindo sobre atos ilícitos, já que a degradação ambiental é crime previsto na Lei n.º 9.605/98, o que acarreta na ilegalidade da sua cobrança. Segundo: Somente os veículos que transitam no município de Bombinhas durante os dias 15/11 e 15/04 merecem fiscalização ou causam degradação ambiental? Qual o estudo ambiental utilizado para se chegar a esse período? Supomos que uma família de 4 pessoas, moradores de Curitiba/PR, na condução do veículo placas AAA1111, resolva passar o dia de Natal de 2014 em Bombinhas. Encantados com as belezas naturais do município, resolvem passar um dia das férias de julho de 2015 na mesma praia. Faz algum sentindo essa família ser considerada uma degradadora do meio ambiente no dia 25/12, mas não ser assim considerada no dia 01/07? parte 3 Alguns dizem que a arrecadação proveniente da taxa será aplicada em projetos ambientais e de infraestrutura turística, ou ainda, que a validade da sua cobrança decorre da destinação específica desse recurso em benefícios ambientais. Na realidade, o art. 7º da LC n.º 185/13 é muito mais amplo e determina que Os recursos [...] 2 / 5
3 deverão ser aplicados nas despesas realizadas em infraestrutura ambiental, preservação do meio ambiente com seus ecossistemas naturais, limpeza pública, e ações de saneamento. Daí surgem as seguintes questões: Primeira: O art. 4º do Código Tributário Nacional determina que a destinação legal do produto da sua arrecadação é irrelevante para determinar a natureza jurídica do tributo. Ou seja, seja, para que a cobrança de uma taxa seja legal, pouco importa o que o Poder Público fará com o produto da sua arrecadação. Assim, o que o município de Bombinhas fará com a arrecadação, salvo melhor juízo, é irrelevante para a discussão da sua legalidade. Segunda: Se a taxa é cobrada em função do exercício regular do poder de polícia municipal em matéria de proteção, preservação e conservação do meio ambiente, ou seja, é uma taxa de fiscalização, como o produto da sua arrecadação será destinada à limpeza pública e ações de saneamento, que são, na realidade, serviços públicos? As taxas podem ser cobradas em função do exercício do poder de polícia (fiscalização) ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição, conforme art. 77 do Código Tributário Nacional. Se o município de Bombinhas pretende a remuneração dos serviços de limpeza pública e saneamento básico, deve então instituir taxas específicas para esse fim. De toda sorte, a limpeza pública não se trata de um serviço público específico e divisível, não sendo passível da cobrança por meio de taxa, enquanto que o saneamento básico já é remunerado à Casan. parte 4 Algumas pessoas têm chamado essa taxa de pedágio, o que não corresponde à realidade, já que o pedágio não é uma espécie tributária, além de buscar remunerar a manutenção e conservação de vias públicas feita por empresas concessionária, como é o caso da Autopista Litoral Sul em nosso litoral. De toda sorte, essa confusão nos leva ao art. 150, inciso V da Constituição Federal, que proíbe a criação de limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público. O princípio constitucional da liberdade de tráfego reconhece a vedação da instituição de tributo cuja hipótese de incidência tenha como elemento essencial a simples transposição de bens ou pessoas por fronteiras interestaduais ou intermunicipais. Assim, se a taxa será cobrada por meio de sistema de registro eletrônico, sem a efetiva fiscalização ambiental sobre os veículos, ao cobrar pela simples entrada em seu território, não está o Poder Público limitando o tráfego de pessoas ou bens mediante a cobrança de um tributo? 3 / 5
4 Também o valor a ser cobrado, R$ 20,53 dos proprietários de veículos de pequeno porte, por exemplo, é passível de discussão, não só pela ótica do princípio da liberdade de tráfego, pois o alto valor certamente limita o direito de ir e vir, mas também sob a ótica do princípio da vedação ao confisco, previsto no art. 150, inciso IV da Constituição Federal, que busca impedir a tributação excessiva. parte 5 Os defensores dessa taxa sustentam que outros municípios brasileiros, como Ilhabela/SP e Fernando de Noronha/PE, cobram taxa semelhante sem sofrerem qualquer questionamento na Justiça. Em Ilhabela/SP a Taxa de Preservação Ambiental está em vigor desde 01/03/2008, tendo sido instituída pela Lei n.º 547/07, que já passou por 5 alterações desde então (segundo informações obtidas no site da prefeitura municipal). Apesar dos textos serem semelhantes e elencarem o mesmo fato gerador e critério de fixação da base de cálculo, é possível observar algumas diferenças importantes em relação à lei de Bombinhas/SC. Enquanto que em Bombinhas/SC a lei não prevê qual órgão é o responsável pela fiscalização (outro requisito para a cobrança de taxa pelo poder de polícia é a existência de órgão apto a exercer a fiscalização), em Ilhabela/SP consta expresso que essa tarefa compete à Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Ao contrário de Bombinhas/SC, Ilhabela/SP conta com a particularidade de ter aproximadamente 85% de seu território em Área de Proteção Ambiental Integral (sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais), regulada pela Lei n.º 9.985/00, fazendo parte do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, que autoriza, no seu art. 35, a cobrança de taxa de visitação. Em Ilhabela/SP só em 27/06/2012 foi prevista a possibilidade de utilização de sistema de registro eletrônico para a cobrança do tributo, sendo que até então a sua cobrança era feita no terminal das balsas, quando da saída dos veículos do território do município, mediante a expedição de comprovante do pagamento. Além disso, os valores a serem cobrados em Bombinhas/SC são muito superiores aos praticados em Ilhabela/SP. Com base no Decreto n.º 3.251/12, desde 22/12/2012 o valor da taxa para veículos de pequeno porte é de R$ 6,50, enquanto que em Bombinhas/SC a cobrança será de R$ 20,53. Já as vans pagam R$ 25,00 e os ônibus R$ 50,00 para transitar em Ilhabela/SP, enquanto que em Bombinhas/SC pagarão R$ 41,06 e R$ 102,65, respectivamente. A última diferença marcante entre as 2 taxas é que enquanto em Ilhabela/SP a cobrança se dá durante os 365 dias do ano, em Bombinhas/SC a taxa e, consequentemente, a fiscalização e 4 / 5
5 Powered by TCPDF ( Advogados Associados Itapema degradação ambiental, ocorre apenas entre 15/11 e 15/04. Já em Fernando de Noronha/PE, a Taxa de Preservação Ambiental foi instituída em 29/12/1989 pela Lei n.º /89, tendo como fato gerador não a fiscalização pelo Poder Público, mas a utilização, efetiva ou potencial, por parte das pessoas visitantes, da infraestrutura física implantada no Distrito Estadual e do acesso e fruição ao patrimônio natural e histórico do Arquipélago de Fernando de Noronha. Essa diferença, além de várias outras existentes na mencionada lei, sem contar que Fernando de Noronha/PE é um Distrito Estadual e um arquipélago, inviabilizam a comparação dos 2 casos para justificar a legalidade da cobrança a ser feita pelo município de Bombinhas/SC. parte final É difícil afirmar categoricamente que a futura cobrança da Taxa de Preservação Ambiental de Bombinhas/SC desrespeita ou não as normas gerais de Direito Tributário ou a Constituição Federal, cabendo ao Poder Judiciário interpretar a Lei Complementar n.º 185/13. 5 / 5
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