Aspectos Psicológicos Associados à Disfunção Temporomandibular
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- Iasmin Carmona Cavalheiro
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1 Aspectos Psicológicos Associados à Disfunção Temporomandibular Diego Rafael Schmidt (1), Vinícius Renato Thomé Ferreira (2) (1) Acadêmico da Escola de Psicologia da IMED, Passo Fundo RS. (2) Professor Escola de Psicologia da IMED, Passo Fundo RS.
2 Aspectos Psicológicos Associados à Disfunção Temporomandibular Resumo: A dor constitui uma impressão subjetiva desagradável de difícil descrição e mensuração, cuja principal finalidade consiste em informar ao organismo de que algo não está bem. Trata-se de uma vivência que é influenciada por elementos psicológicos como a ansiedade, o estresse e a depressão. Por isso, entende-se e que existe um forte elemento emocional associado à experiência sensorial da dor. A Disfunção Temporomandibular (DTM) constitui um importante distúrbio funcional associado a aspectos articulares e musculares da Articulação Temporomandibular (ATM), em que principal sintoma é a dor. Pelo que se sabe, uma série de fatores podem estar associados à etiologia dessa disfunção. No entanto, a intensidade de seus sintomas pode manter relação com fatores psicológicos e emocionais, como a depressão. Pesquisas relatam que a dor na DTM está associada com diversos processos mentais, como a atenção e a memória. Mais ainda, entende-se que estímulos externos interferem e produzem alterações no organismo significativas a nível neuroquímico, tornando a dor suscetível a modificabilidade. Por fim, dados de pesquisa sugerem que pacientes com DTM em atendimento psicológico diminuíam seus sintomas de dor ao passarem por psicoterapia, indicando possível correlação entre dor na DTM, estresse, depressão e ansiedade. Palavras-chave: Disfunção Temporomandibular; Depressão; Ansiedade; Estresse. Abstract: Pain is a subjective impression unpleasant, which is difficult to describe and measure, whose main purpose is to inform the body that something is not right. It is an experience influenced by psychological factors such as anxiety, stress and depression. Wherefore, it is understand d that there is a strong emotional element associated with the sensory experience of pain. Temporomandibular Disorder (TMD) is an important functional disorder associated with muscular and joint aspects of Temporomandibular Joint (TMJ), which the more common symptom is pain. From what we know, that many factors may be involved in the etiology of this disorder. However, the intensity of their symptoms can be associated ated with psychological and emotional factors, like depression. Studies report that the pain in TMD is associated with mental processes, such as memory and attention. Further, it was understood that external stimuli interfere and produce significant changes in organism on a neurochemical level, making it susceptible to pain modifiability. Finally, survey data suggest that patients with TMD in psychological treatment decreased their pain symptoms by doing psychotherapy, indicating a possible correlation between TMD pain, stress, depression and anxiety. Keywords: Temporomandibular Disorders; Depression; Anxiety; Stress. 1. INTRODUÇÃO A dor constitui uma impressão subjetiva desagradável de difícil descrição e mensuração. Trata-se de um fenômeno tão importante que passou a ser considerado como o quinto sinal vital do organismo (CALCAGNOTTO, 2011; ECCLESTON, 2010; KLAUMANN; WOUK; SILLAS, 2008; SILVA; RIBEIRO-FILHO, 2011). A principal finalidade da dor consiste em informar ao organismo de que algo não está bem. Essa função de alerta geralmente está associada com a presença de danos potenciais aos
3 tecidos, que se reserva à sua comunicação aos centros nervosos, como o Sistema Nervoso Central e o Sistema Nervoso Periférico (CORDEIRO; GUIMARÃES, 2012; HARVEY; DICKENSON, 2012; SILVA; RIBEIRO-FILHO, 2011; TEIXEIRA; SIQUEIRA; ALVAREZ, 2012). Normalmente, uma manifestação dolorosa emerge de uma lesão inicial espontânea ou provocada, capaz de produzir duas classificações de dor: a fisiológica e a patológica (KLAUMANN; WOUK; SILLAS, 2008). A dor fisiológica caracteriza-se como um reflexo instintivo e de autopreservação, no qual as informações perceptivas percorrem um complexo domínio de fibras e redes neurais, utilizando- se dos terminais nociceptivos para sua condução. Com base no processo de nocicepção, torna-se possível identificar, decodificar e transmitir estímulos danosos para os centros corticais superiores, dando início ao reconhecimento e a modulação da dor (FERNANDES; GOMES, 2011; KLAUMANN; WOUK; SILLAS, 2008; TEIXEIRA; SIQUEIRA; ALVAREZ, 2012). Trata-se de uma experiência complexa, mediada por diferentes mecanismos neuroquímicos e neurofisiológicos do Sistema Nervoso. Sua modulação pode ser alterada por uma série de componentes, originando diversos tipos e intensidades de dor (FERNANDES; GOMES, 2011; HARVEY; DICKENSON, 2012; TEIXEIRA; SIQUEIRA; ALVAREZ, 2012). Entretanto, a dor patológica diferencia-se da dor fisiológica justamente por representar um mecanismo anormal, de ação persistente e papel indefinido, por vezes denominado de Dor Crônica (ECCLESTON, 2011; HARVEY; DICKENSON, 2012; KLAUMANN; WOUK; SILLAS, 2008). Sabe-se a que esta persiste por um período superior a seis meses e é imune à abordagem medicamentosa padrão, ao passo que a dor aguda refere-se àquela dor momentânea, condizendo com a sua função real e a lesão ocorrida (ECCLESTON, 2011; FERNANDES; GOMES, 2011; RACHLIN, 2010; SILVA; RIBEIRO-FILHO, 2011). Estruturas como o hipocampo, a amígdala e as áreas pré-frontais do córtex desempenham um papel importante para a modulação da dor e dos estímulos nociceptivos (KLAUMANN; WOUK; SILLAS, 2008; ROY et al., 2009; WIECH; PLONER; TRACEY, 2008). Estudos recentes revelaram aumento dos níveis de cortisol e da modulação dos sintomas em pacientes com dor crônica que apresentavam altos índices de estresse (VACHON-PRESSEAU et al., 2013a; VACHON-PRESSEAU et al., 2013b). Sabe-se inclusive que a presença de atividade constante do sistema nervoso simpático relacionada aos eventos estressores pode ocasionar aumento do tônus muscular e a perpetuação dos sintomas dolorosos (OKESON, 2008). Nesse sentido, a dor é compreendida como consequência da interação entre fenômenos sensitivos e psicológicos. Porém, não se defende a segmentação efetiva de tais aspectos (LEGRAIN, et al., 2009; TEIXEIRA; SIQUEIRA; ALVAREZ, 2012; RACHLIN, 2010; ROY et al., 2009). A dor diz respeito a uma alteração em diferentes elementos da percepção que interagem entre si e mantém a vivência da dor. Desta forma, seu significado depende de uma série de experiências psíquicas, ambientais e comportamentais do sujeito (TEIXEIRA; SIQUEIRA; ALVAREZ, 2012; WIECH; PLONER; TRACEY, 2008). O presente trabalho compreende uma revisão da literatura acerca dos principais aspectos psicológicos e neurofisiológicos associados à Disfunção Temporomandibular. 2. DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR A Disfunção Temporomandibular (DTM) é definida como um tipo de dor orofacial, relacionada a distúrbios funcionais do sistema mastigatório e suas estruturas subjacentes,
4 podendo envolver tanto aspectos articulares quanto musculares da Articulação Temporomandibular (ATM) (ARAÚJO et al., 2010; CARRARA; CONTI; BARBOSA, 2010; CONTI et al., 2012; CORDEIRO; GUIMARÃES, 2012; DONNARUMMA et al., 2010; MELCHIOR; MAZZETTO; FELICIO, 2012; OKESON, 2008, p. 105; OLIVEIRA et al., 2012). Trata-se de um problema comum, cujos sinais e sintomas clínicos e subclínicos associados afetam em torno de 50% da população geral. Na maioria são mulheres, entre as idades de vinte e quarenta anos, em que a principal queixa é a dor (CONTI et al., 2012; CORDEIRO; GUIMARÃES, 2012; DONNARUMMA et al., 2010; FERREIRA et al., 2009; GONÇALVES et al., 2010; MACHADO et al., 2009; OKESON, 2008; OLIVEIRA et al., 2012; REZENDE et al., 2010; TOLEDO; CAPOTE; CAMPOS, 2008). Em relação à classificação das DTM, alguns autores propõem uma diferenciação associada ao seu subtipo, articular ou muscular (CARRARA; CONTI; BARBOSA, 2010), enquanto outros as distribuem conforme sua intensidade, dor aguda ou crônica, de modo que a DTM aguda pode evoluir para quadros mais severos, resultando na dor crônica da ATM (FERREIRA et al., 2009; MELCHIOR; MAZZETTO; FELICIO, 2012; RACHLIN, 2010; SYDNEY; CONTI, 2011). Normalmente, fatores oclusais, traumas, ruídos e crepitações constituem as principais queixas associadas ao quadro da DTM. Mais ainda, vertigens, zumbidos, bruxismo, distúrbios articulares com relação ao movimento e dores de cabeça também se encontram relacionados ao problema (BEZERRA et al., 2012; CARRARA; CONTI; BARBOSA, 2010; CONTI et al., 2012; CORDEIRO; GUIMARÃES, 2012; DONNARUMMA et al., 2010; MARTINS et al., 2008; OKESON, 2008; TOLEDO; CAPOTE; CAMPOS, 2008). Estudos verificaram a presença de sintomas como inapetência, possivelmente associada aos problemas mastigatórios, fadiga, distúrbios no sono, dificuldades laborais e perda na qualidade de vida geral em sujeitos com DTM (CONTI et al., 2012; DONNARUMMA et al., 2010; KUROIWA et al., 2011; MARTINS et al., 2008; MELCHIOR; MAZZETTO; FELICIO, 2012; OKESON, 2008; SILVA et al., 2012; STUDART; ACIOLI, 2010). No entanto, ainda não há uma uniformidade acerca dos seus fatores etiológicos. O argumento mais aceito seria de que suas causas sejam multifatoriais. Um número significativo de estudos aponta para a presença de disfunções na oclusão, enquanto que outros, talvez na mesma medida ignorem esse elemento. A intensidade das DTMs pode estar associada ainda com fatores psicológicos, emocionais, fisiopatológicos e comportamentais. Não existe, portanto, um consenso em relação às causas das DTMs (BEZERRA et al., 2012; CARRARA; CONTI; BARBOSA, 2010; CONTI et al., 2012; FERREIRA et al., 2009; OKESON, 2008; TOLEDO; CAPOTE; CAMPOS, 2008). Toledo; Capote; Campos (2008) realizaram uma pesquisa com o objetivo de relatar a presença de sintomas depressivos em pacientes com DTM grave. Por haver uma relação entre esses dois elementos, esses mesmos autores consideraram que a depressão torna-se invariavelmente um fator etiológico para a disfunção. Devido à intensa presença de comorbidades, a DTM acaba afetando de modo significativo a qualidade de vida de seus portadores, exigindo normalmente uma abordagem multidisciplinar (BEZERRA et al., 2012; CONTI et al., 2012; CORDEIRO; GUIMARÃES, 2012; DONNARUMMA et al., 2010; FERREIRA et al., 2009; MACHADO et al., 2009). 3. ASPECTOS PSICOLÓGICOS ASSOCIADOS À DOR A dor diz respeito a um processo perceptivo que sofre influência de variáveis internas e
5 externas. Entende-se que existe um forte elemento emocional concomitante associado à experiência sensorial da dor (ECCLESTON, 2010, 2011; HUNZIKER, 2010). Ela refere-se a um conjunto de mecanismos influenciados por variáveis físicas, psicológicas e socioculturais que a caracterizam enquanto uma vivência (ECCLESTON, 2010; FERNANDES; GOMES, 2011; KLAUMANN; WOUK; SILLAS, 2008; RACHLIN, 2010; SILVA; RIBEIRO-FILHO, 2011). Justamente por se tratar de uma vivência afetivo-motora, a dor é comunicada pelo corpo através de linguagem verbal ou não verbal, mobilizando no organismo diferentes comportamentos e pensamentos, como luta e fuga, com a finalidade de preservá-lo de possíveis ameaças externas (ECCLESTON, 2010, 2011). Contudo, aquilo que se sabe clinicamente sobre pacientes com dor inclui indicadores biológicos, comportamentais e, especialmente, de autorrelato, mas ainda contaminados por percepções físicas, cognitivas e emocionais acerca do evento gatilho (HARVEY; DICKENSON, 2012; SILVA; RIBEIRO-FILHO, 2011; TEIXEIRA; SIQUEIRA; ALVAREZ, 2012). Por se tratar de uma variável subjetiva e de fins clínicos, faz-se necessário a avaliação e quantificação precisa de sua intensidade, através de questionários e escalas, de modo a criar condições mais favoráveis ao seu tratamento (SILVA; RIBEIRO-FILHO, 2011). Pesquisas recentes indicam associação entre sentimentos dolorosos como medo, ansiedade, depressão e estresse esse em sujeitos com DTM (REZENDE et al., 2010; ROY et al., 2009; TEIXEIRA; SIQUEIRA; ALVAREZ, 2012). Outros processos mentais, como atenção e a cognição demonstraram-se se diretamente relacionados com a dor (WIECH; PLONER; TRACEY, 2008). Desta forma, acredita-se que aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais estão associados com essa experiência, influenciando diretamente no seu diagnóstico e tratamento (BEZERRA et al., 2012; FERREIRA et al., 2009; HUNZIKER, 2010; SILVA et al., 2012; SILVA; RIBEIRO-FILHO, 2011; WIECH; PLONER; TRACEY, 2008). Na percepção de Rezende et al., (2010), ansiedade e estresse estariam relacionados diretamente com a etiologia da disfunção. Ao que parece, os índices de severidade da DTM diminuíam proporcionalmente aos de ansiedade e estresse, quando os sujeitos estão em acompanhamento psicológico. Ignorar os aspectos psicológicos associados à dor implica em negligenciar a questão do tratamento multidisciplinar (FERREIRA et al., 2009; HUNZIKER, 2010). No Brasil, estudos recentes apontam a eficácia de abordagens psicoterapêuticas em pacientes com dor crônica a partir do aprendizado de novos comportamentos e da reestruturação cognitiva. Os sujeitos das pesquisas conseguiram diminuir significativamente os sintomas decorrentes da dor e lidar melhor com os eventos estressores do seu cotidiano o (BORGES; LUIZ; DOMINGOS, 2009; REZENDE et al., 2010). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A dor caracteriza-se como uma experiência afetivo-motora, influenciada por aspectos psicológicos. Trata-se de um fenômeno complexo que também se relaciona com outros processos mentais, como atenção e cognição. Estudos verificaram que as crenças dos sujeitos acerca da dor e suas experiências pregressas também influenciam em seu processo perceptivo. Por fim, descobriu- se que pacientes com DTM em atendimento psicológico diminuíam seus sintomas de dor ao passarem por psicoterapia, sugerindo possível correlação entre dor na DTM, estresse, depressão e ansiedade.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, G. M. et al. Questionário Simplificado para Identificação de Dores Orofaciais Associadas às Disfunções Temporomandibulares. Rev. Dor, v. 11, n. 4, p , Disponível em: < _a_303.pdf>. Acesso em: 21 Abr. BEZERRA, B. P. N. et al. Prevalência da Disfunção Temporomandibular e de Diferentes Níveis de Ansiedade em Estudantes Universitários. Rev. Dor, v. 13, n. 3, p , 242, Disponível em: < revistador/dor/2012/volume_13/n%c3%bamero_3/pdf/v13_n3_p pdf>. Acesso em: 20 Abr. BORGES, C. S.; LUIZ, A. M. A. G.; DOMINGOS, N. A. M. Intervenção Cognitivo-Comportamental Comportamental em Estresse e Dor Crônica. Arq. Ciênc. Saúde, v. 16, n. 4, p , Disponível em: < dez_2010.pdf>. Acesso em: 18 Abr. CALCAGNOTTO, M. H. Contextualizando a Dor. DO CORPO: : Ciências e Artes, v. 1, n. 1, Disponível em: < Acesso em: 17 Abr. CARRARA, S. V.; CONTI, P. C. R.; BARBOSA, J. S. Termo do 1º Consenso em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial. Dental Press J. Orthod., v. 15, n. 3, p , 120, Disponível em: < Acesso em 21 Abr. CONTI, P. C. R. et al. Orofacial Pain and Temporomandibular Disorders: the Impact on Oral Health and Quality of Life. Braz. Oral Res., v. 26, n. especial 1, p , 123, Disponível em: < &lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 22 Abr. CORDEIRO, I. B.; GUIMARÃES, A. S. Profile of Patients with Temporomandibular Joint Disorder: Main Complaint, Signs, Symptoms, Gender and Age. Rev. Gaúcha Odontolog.,, v. 60, n. 2, p , Disponível em: < Acesso em: 20 Abr. DONNARUMMA, M. D. C. et al. Disfunções Temporomandibulares: Sinais, Sintomas e Abordagem Multidisciplinar. Revista CEFAC, v. 12, n. 5, p , 794, Disponível em: < Acesso em: 21 Abr. ECCLESTON, C. A Normal Psychology of Chronic Pain. Psychologist,, v. 24, n. 6, p , Disponível em: < 1861>. Acesso em: 02 Mai.. Psychology of Chronic Pain and Evidence-Based Psychological Interventions. In: STANNARD, C. F.; KALSO, E.; BALLANTYNE, J. Evidence-Based Chronic Pain Management. Oxford: BMJ Books,
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