Participação. Coordenação
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- Luiz Damásio Bacelar
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1 Participação Após a ditadura militar ( ), a redemocratização no Brasil espelhou e firmou o anseio de participação de sua população, reprimido por mais de 20 anos. A Constituição Federal de 1988 deu passos nesta direção e o Estatuto da Cidade (Lei 10,257/2001), ao regulamentar artigos da Constituição, consolidou vários mecanismos de participação popular, com o objetivo final de crescentemente ampliar o controle social sobre o poder público. A Constituição Federal estabelece a organização da seguridade social, composta pelos sistemas públicos de saúde, previdência e assistência social, tendo como diretrizes o caráter democrático e a participação, por meio de conselhos (artigos 194, 198 e 204). O amadurecimento da democracia no Brasil levou a outros serviços as mesmas diretrizes constitucionais. Não é difícil encontrar em milhares de cidades brasileiras conselheiros populares em inúmeras instâncias. Em Contagem, temos conselhos de saúde, educação, orçamento participativo (acompanha execução das obras), meio ambiente, habitação, política urbana, cultura patrimônio histórico e ambiental, segurança alimentar, desenvolvimento econômico, deficientes, alimentação escolar, assistência social, idoso, da mulher, transportes, defesa do consumidor, álcool e drogas, e criança e adolescente.. Em vários outros municípios ainda é possível encontrar conselhos relativos a ainda outras temáticas, como segurança pública, juventude, direitos humanos, emprego e renda, raça e gênero. No entanto, o mais relevante processo de participação popular nas gestões municipais é a realização do orçamento participativo, onde a população seleciona investimentos prioritários em infraestrutura. O processo mobiliza comunidades, e bairros de diversos segmentos sociais, é permanente e favorece o surgimento de novas lideranças. O Estatuto da Cidade regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, que tratam da política urbana. Nele, a gestão democrática da cidade é reconhecida como uma diretriz para o desenvolvimento sustentável das cidades, enfatizando a democracia e participação popular. Em uma de suas determinações mais importantes, estabelece que os planos diretores municipais devem ser elaborados e aprovados com participação efetiva da população. São várias as possibilidades de participação direta do cidadão estabelecidas no Estatuto da Cidade: audiências públicas, plebiscitos, referendos, estudos de impacto de vizinhança, orçamentos participativos. Estes são instrumentos que os municípios devem utilizar para ouvir, diretamente, os cidadãos em momentos de tomada de decisão sobre sua intervenção sobre o território. Outra importante iniciativa constitucional foi a possibilidade de apresentar proposta de legislação por meio de coleta de assinaturas. Recentemente, tal processo culminou com a lei da Ficha Limpa, já replicada em vários legislativos municipais e estaduais. Coordenação A coordenação ou intersetorialidade ou trabalho integrado tem se revelado, há muito, um enorme desafio para qualquer administração pública em qualquer nível de governo. Apesar de haver em incontáveis experiências administrativas
2 esforços contrários, há o imperativo da lógica setorial, com suas ações compartimentadas, da organização baseada em áreas específicas e autônomas. Sua superação depende de mudança na cultura gerencial. Um obstáculo está nas estruturas administrativas verticais e sua superação exige horizontalizar a decisão, ao dar maior autonomia aos gerentes, viabilizar a resolução das tarefas por meio de equipes e estabelecer metas e resultados mesuráveis. Não devem ser desprezados aspectos motivacionais para potencializar a atuação dos servidores 1. Ainda é decisivo haver uma agenda estratégica clara, coerente, focada, legítima. Requer o alinhamento das estruturas implementadoras para evitar fragmentação [e] agendas paralelas e assegurar sua implementação (...) [gerando] aprendizado, transparência e responsabilização 2 Além disto, o problema não se restringe ao nível intragovernamental. A descoordenação entre as esferas de governo (União, governos regionais e governos locais) ocorre de forma recorrente. Usualmente, o poder local executa as ações, mas depende da colaboração vertical e horizontal. Boa governança é colaboração entre agentes internos e externos. A superação deste lapso é estratégica para atingir a efetividade. Uma recente experiência em Contagem, o Programa Conjunto Segurança com Cidadania, que visou ao uso do território como base para integração de políticas setoriais locais (e regionais), dá sinais bastante positivos e incentiva a disseminação do uso dessa prática. O Programa de Intervenções em Áreas de Risco de Contagem A partir do Diagnóstico de Risco Geológico do Município de Contagem, realizado no ano de , em parceria com o Ministério das Cidades, como parte do Plano Municipal de Redução de Riscos-PMRR, foram identificadas na etapa de levantamento de dados 124 áreas correspondentes a assentamentos precários (vilas), loteamentos e até mesmo bairros onde se julgou haver situações de risco geológico. Delimitou-se e descreveu-se 211 setores, sendo 11 setores de risco geológico muito alto, 75 setores de risco alto, 60 setores de risco médio, 23 setores de risco baixo e 42 setores sem risco geológico, distribuídos pelas sete regionais da cidade. As ações nas áreas de risco são desenvolvidas a partir do PMRR-2007 e estão em plena consonância com o Plano Diretor do Município. Este programa faz parte da Política Municipal de Habitação. Fazem também parte do Plano Estratégico do Município. As ações de intervenção em vilas e favelas em Contagem visam contribuir com a minimização do risco existente nestas comunidades, promover o bem estar e a segurança dos moradores, sobretudo os mais vulneráveis no que tange a questão habitacional. As obras de engenharia são executadas com o intuito de preservar a história de vida e o tecido social que os moradores criaram a partir do lugar, de forma que as famílias permaneçam nos locais de origem com a devida segurança. Na impossibilidade de permanência, o Município promove a remoção das famílias e o reassentamento das mesmas em local seguro, de preferência nas proximidades do local de origem. 1 Abrucio, L.F. Reforma do Estado no federalismo brasileiro: estaduais. 2 Martins, H. F., Marini, com. - Governança em Ação.
3 Como se verá a seguir, as ações estão pautadas em quatro eixos básicos: o monitoramento, trabalho preventivo e formativo com as comunidades, as obras estruturantes e o trabalho institucional integrado. 1 MONITORAMENTO DAS MORADIAS EM SITUAÇÃO DE RISCO Consiste na realização de vistorias periódicas e sistemáticas com o intuito de observar a evolução de situações de perigo já identificadas ou para registro de novos processos destrutivos instalados. Nas vistorias ocorrem os seguintes procedimentos: Orientações aos moradores sobre ações e obras corretivas e preventivas a serem realizadas pelo próprio morador; Orientações acerca de construções novas em locais inadequados, lançamento de lixo, entulho ou água servida nas encostas, cortes de taludes, etc. Isolamento de cômodos ou locais que possam representar perigo aos moradores: Preenchimento da Ficha de Vistoria de Campo com devidas assinaturas e observações necessárias. Repasse ao morador do impresso constando aquilo que é importante observar para que o monitoramento por parte da família possa ocorrer. Lançamento de informações no banco de dados do setor de risco. O monitoramento também deve ser realizado pelo morador, sendo este sempre orientado quanto aos cuidados que deve ter e o que é necessário observar na percepção da evolução do risco (sinais que possam surgir), bem como a prática de solicitar nova vistoria caso o quadro sofra alterações. Os Núcleos de Defesa Civil, NUDEC, têm papel fundamental no monitoramento e acompanham os casos já identificados, como também solicitam vistorias para avaliação e identificação do risco. Esta forma de monitoramento é participativa e contribui para a gestão compartilhada do risco. Além das vistorias técnicas, atuam em campo também a equipe social. Ela realiza o cadastramento social das famílias, faz os encaminhamentos necessários e contribui na abordagem e orientações aos moradores. Mantém assim a identificação das famílias moradoras em áreas de risco com seus cadastros atualizados e acompanha qualquer alteração socioeconômica que possa ocorrer no núcleo familiar. Após realização de vistoria e análise do técnico responsável pelo monitoramento, na impossibilidade de permanência da família no local, a família recebe uma orientação sobre a gravidade da situação e sobre o risco a que está exposta. Nos casos de indicação de remoção da família, temporária ou definitivamente, o cadastro socioeconômico é realizado. Caso a família se enquadre nos critérios exigidos por lei para ser incluída no Programa Bolsa Moradia, ela recebe um auxílio financeiro do programa para locar um imóvel até que a solução definitiva da sua situação seja providenciada pela Prefeitura. Realiza-se a demolição do imóvel, e é colocada uma faixa de identificação de área de risco a fim de coibir novas ocupações. 2 INTERVENÇÕES ESTRUTURANTES PARA REDUÇÃO DE RISCO São a aplicação de soluções da engenharia para prevenir e evitar acidentes. Há uma gama variada de possibilidades técnicas de engenharia capazes de garantir a segurança de uma dada área de risco geológico ou hidrológico. Sendo assim, o ponto de partida para escolha das áreas que sofreram alguma intervenção para minimização do risco seguiu e deve
4 sempre seguir as indicações do PMRR e suas atualizações, com prioridade para as áreas de muito alto e alto risco. Num primeiro grupo foram elencadas sete vilas e outras três foram incluídas devido a alguma emergência ocorrida. Algumas obras realizadas até o momento e em quais vilas ocorreram podem ser contempladas no anexo 2. A equipe social realiza um trabalho de mobilização de cada vila onde ocorrem as intervenções. Todos os moradores das vilas são convidados a conhecerem o Plano de Intervenções e discutirem com a equipe sobre as escolhas dos locais e as necessidades das vilas. A construtora que executa as obras busca contratar mão de obra local, da própria vila. 3 TRABALHO PREVENTIVO E FORMATIVO COM AS COMUNIDADES FOMENTO, FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS NUDECs No trabalho de gerenciamento do risco, a atuação da comunidade é de extrema importância. O NUDEC promove a participação popular de forma organizada no trabalho de prevenção às situações de risco, calamidades, acidentes, desastres, etc. É formado por um grupo comunitário organizado (por exemplo, um bairro ou apenas um edifício ou associação comunitária) que participa de atividades de defesa civil como voluntário e que atua de forma descentralizada com o propósito de contribuir para a minimização do risco e efeitos das ameaças e desastres. A instalação do NUDEC é prioritária em áreas de risco de desastres e tem por objetivo organizar e preparar a comunidade local a dar a pronta resposta aos desastres. Muitas vezes as soluções mais eficazes partem do próprio meio comunitário, que podem auxiliar na identificação de pontos de riscos, como alagamentos, inundações ou deslizamento de encostas. Outro papel importante deste agente comunitário é o de disseminar informações. Ele orienta e estimula a proteção ambiental, desenvolve e participa ativamente de campanhas de preservação do meio ambiente, proteção de mananciais, cuidados com o lixo e prevenção de doenças de veiculação hídrica, como a leptospirose. É intenção que os núcleos tenham um caráter permanente como forma de organização popular, não só em períodos de emergência, mas também como uma forma regionalizada de atuação. Atualmente são 14 os núcleos formados no Município. 4 INSTITUIÇÃO DO COMITÊ GESTOR DE ÁREAS DE RISCO, O TRABALHO INTEGRADO DOS ÓRGÃOS MUNICIPAIS
5 O Comitê Gestor de Áreas de Risco, CGAR, é reinstalado a cada ano por meio de decreto anual da Prefeita, conforme recomenda o Plano Municipal de Redução de Riscos Seu objetivo é monitorar a gestão das ações definidas pela política de áreas de risco especialmente no período pré - chuvas e durante as chuvas, resolvendo possíveis impasses, apontando novos fluxos que se fizerem necessários. As reuniões ordinárias ocorrem quinzenalmente e as extraordinárias conforme necessidade e convocação do Coordenador do CGAR. Ainda acontecem reuniões bimestrais no período seco para socialização das ações executadas pelos órgãos e integração dos mesmos. Há um fluxo de atendimento para a atuação do CGAR. Na emergência, a Defesa Civil do Município atua inicialmente, dado o caráter emergencial de suas ações. Contudo, ela pode, a partir do PMRR, contar com a ação coletiva e integrada do CGAR. O Coordenador do CGAR é imediatamente comunicado e leva ao conhecimento da Prefeita o ocorrido e também convoca os demais integrantes do CGAR para as tomadas de decisões em resposta ao ocorrido. A Defesa Civil presta o primeiro atendimento, no sentido de proteger a família. Encaminha a mesma para casa de familiares, amigos, ou abrigos provisórios ou pontos de apoio. Logo após, a equipe da a Secretaria de Habitação que atua nas áreas de risco é acionada e deve realizar avaliação da moradia. Identifica se a família pode ou não retornar para o local, procede as orientações aos moradores e realiza os encaminhamentos necessários, como, por exemplo, a inclusão no Programa Bolsa Moradia. Das moradias que foram apontadas pelo Plano Municipal de Redução de Riscos, cerca de 80% já não se encontram mais nesta condição de exposição ao risco. Obras foram executadas, houve remoção de famílias e surgiu nova postura no morar em comunidade, além das ações integradas dentro Secretaria de Habitação e do Município como um todo. Há ainda outras ações da Secretaria de Habitação que colaboram e promovem a redução do risco. A realização dos Planos de Intervenção Integrada, PIIN, procura promover a urbanização das vilas, transformando-as em um lugar mais adequado social e urbanisticamente melhor pra se viver. Os PIIN já ocorrem em várias vilas/favelas da cidade. As famílias removidas têm sido reassentadas através do Programa Minha Casa Minha Vida, por produção habitacional por parte do Município, em parceria com o Governo Federal e pelo Programa Remo, Reassentamento Monitorado. Em 2010, foram 288 famílias. No Remo, o Município compra um imóvel e completa o valor referente à indenização da benfeitoria, de forma que a família consiga resolver a demanda habitacional. Por um período entre 6 meses e um ano, é feito o monitoramente deste processo. Por fim, há grandes obras do PAC-1: canalização de córregos, construção de bacias de detenção, dentre outras, que contribuem significativamente com a redução dos riscos de inundação. Referências bibliográficas: ABRUCIO, L.F.. Reforma do Estado no federalismo brasileiro: estaduais. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 39, n.2, p , mar MARTINS, H. F., MARINI, C.. Governança em Ação Brasília: Publix, 2 a. Ed.,2011. SECCHI, L.. Modelos organizacionais e reformas da administração pública. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 43, n.2, mar./abr.2009.
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