ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO PNAIC: COM A PALAVRA, A CRIANÇA. Palavras chave: Vozes das crianças. Formação Continuada. PNAIC.
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- Juliana Tuschinski Paranhos
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1 1 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO PNAIC: COM A PALAVRA, A CRIANÇA Carla Melissa Klock Scalzitti SMECEL/Várzea Grande Resumo Este artigo apresenta uma pesquisa realizada com uma turma de 3º ano do Ensino Fundamental, na cidade de Sinop-MT. A coleta de dados aconteceu no final do ano de 2015, sendo uma das tarefas realizadas pelos professores alfabetizadores no programa de formação Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa PNAIC, compromisso formal assumido entre Governo Federal, Distrito Federal, Estados, Municípios e a sociedade para os educadores do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental. O principal objetivo desse programa é assegurar o direito de todas as crianças serem alfabetizadas até os 8 anos de idade, ou seja, ao final do 3º ano do Ensino Fundamental. A estrutura do programa é composta por três grupos de professores: formadores, orientadores de estudo e professores alfabetizadores que trabalham diretamente com as crianças. A coleta de dados parte do grupo de professores alfabetizadores. A partir da prática da reflexibilidade, prática/ação/prática, se faz com que o professor reflita teoricamente e reelabore suas práticas; sendo este um dos objetivos da formação, propomos, como tarefa, aos professores alfabetizadores, ouvir as crianças sobre as atividades propostas em sala de aula. Para tanto, a pesquisa possui abordagem qualitativa, na qual se utilizou as falas das crianças que foram coletadas no momento em que a atividade foi aplicada e, estas, foram apresentadas em um relatório. A partir dos dados coletados, através das vozes das crianças, foram captadas evidências de mudança na prática pedagógica do professor e, ainda, o entendimento da importância do diálogo entre as áreas do saber com as práticas sociais. Deste modo, conclui-se que a formação contribui para que o professor alfabetizador tornasse protagonista da e na sua sala de aula, e assim, não cabendo mais confundi-lo com alguém que na sala de aula reproduz métodos e técnicas. Palavras chave: Vozes das crianças. Formação Continuada. PNAIC. INTRODUÇÃO Em 2013 o governo Federal lança um programa de formação docente em todo o país, compromisso formal assumido entre Governo Federal, Distrito Federal, Estados, Municípios e a sociedade para os educadores do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental, o PNAIC Pacto Nacional de Alfabetização na idade certa. O programa teve a duração de 3 anos; iniciamos a discussão com a linguagem, enfatizando a alfabetização na perspectiva do letramento, discutindo assim que conceitos e habilidades são necessários para que a criança possa ser considerada alfabetizada; dentro dessa perspectiva, enfatizamos as atividades com uso de variadosgêneros textuais. Iniciamos o trabalho com atividades que envolviam a consciência fonológica, pois As crianças de um modo geral recorrem à oralidade para fazer várias hipóteses sobre a escrita, mas usam também a escrita, dinamicamente, para 4543
2 2 construir uma análise da própria fala (ABAURRE,1988, p. 140), assumindo assim uma atividade metacognitiva. Em 2014 discutimos a matemática, com o objetivo de ampliar a capacidade de ler e escrever matematicamente; a pessoa alfabetizada lê, interpreta e escreve em diferentes situações sociais, inserindo-se em um mundo letrado e participando dele ativamente. Em 2015 entram na roda da formação as demais áreas do saber, com as práticas socais (história, ciências, geografia, arte), juntamente com a linguagem e a matemática. Dentre os princípios da formação continuada que orientam as ações do PNAIC, destacamos a prática da reflexibilidade, prática/reflexão/prática, por colaborar para que o professor reflita teoricamente e reelabore suas práticas. Toda a formação, nos três anos, explicita dois pressupostos fundamentais para o trabalho pedagógico com as crianças, de 6 a 8 anos: 1) o papel do lúdico e do brincar; e 2) a necessidade de aproximação ao universo da criança. Participei desse trabalho como formadora pela UFMT/CUR e, nas discussões de planejamento, surgiram alguns questionamentos. Enfim, nas vozes das crianças era percebido algumas mudanças em relação às atividades realizadas que se materializaram em práticas escolares?a partir desses pressupostos proponho como questão principal desta pesquisa: Como práticas escolares são percebidas pelas crianças? A cada término dos encontros de formação estabelecíamos uma tarefa a ser aplicada para que demonstrássemos, através de relatórios, as práticas escolares; os objetivos da atividade eram: o de refletir sobre os pressupostos - teóricosmetodológicos dos professores; ampliar os conhecimentos sobre a alfabetização na perspectiva do letramento, dialogando com práticas pedagógicas realizadas com as crianças do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental; compreender os sentidos que podem ter para a criança o aprender e sua forma de interagir com os componentes curriculares. REFERENCIAL TEÓRICO Os estudos foram norteados por Vigotski (2007) e, igualmente, em estudos e pesquisas antigas e recentes acerca da Consciência Fonológica, Abaurre (1988) e sobre Currículo, Moreira e Silva (1994). METODOLOGIA 4544
3 3 O lócus selecionado foram escolas da rede municipal de Sinop-MT; esta pesquisa elegeu como sujeitos crianças do 3º ano do Ensino Fundamental, e os dados foram coletados por quatro orientadoras de estudo do mesmo município. De quatro escolas da rede. A pesquisa foi realizada com abordagem qualitativa. Segundo André (2005), a pesquisa qualitativa tem como características básicas o ambiente natural como sua fonte direta de dados, e o pesquisador como seu principal instrumento; os dados coletados são predominantemente descritivos; a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; o significado que as pessoas dão às coisas e à vida são focos de atenção especial do pesquisador e a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. Na perspectiva de uma avaliação abrangente, foram ouvidas as crianças para entender com profundidade se existiam mudanças na prática docente, quais mudanças e como percebiam essas mudanças na metodologia dos professores. A entrevista é apontada, por Bourdieu (1997), como principal recurso metodológico e enquanto técnica de obtenção de informações. Para este autor (...) não existe maneira mais realista de explorar a relação de comunicação na sua generalidade que a de se ater aos problemas sem separá-los da prática e teoria. Isto implica numa estreita interação entre o pesquisador e o seu objeto de estudo (BOURDIEU, 1997, p. 603). DISCUSSÃO E RESULTADOS Ao participar do programa de formação nos foi proposta como tarefa a coleta de relatos de depoimentos das crianças do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental; coleta feita pelos professores alfabetizadores do município de Sinop-MT com crianças do 3º ano. O presente relatório é fruto do trabalho realizado com os professores alfabetizadores do 3º Ano do Ensino Fundamental que participam do PNAIC no município de Sinop-MT. A turma é constituída por 27 professores. As atividades com sequências didáticas fazem parte das tarefas sugestivas nas formações de Cuiabá, que consistiam em Elaborar uma sequência didática integrando a Linguagem e outras áreas do conhecimento, considerando a dimensão lúdica das atividades e destacar as vozes das crianças no momento da atividade. (Relato da OE 1 - Arquivo da pesquisadora - 10/12/2015). Segundo Vigotski (2007, p.27), A linguagem humana, sistema simbólico fundamental na mediação entre sujeito e objeto de conhecimento, tem duas funções básicas: a de intercambio social e a de pensamento generalizante. Isto é, além de servir ao propósito de comunicação entre indivíduos, a linguagem simplifica e generaliza a experiência, ordenando as instâncias do mundo real em categorias conceituais cujo significado é compartilhado pelos usuários dessa linguagem. 4545
4 4 Ao analisar a atividade e o que foi registrado pela orientadora de estudo, transcrevo a voz das crianças no momento em que se desenvolveu a atividade: Em outro relato ficou evidente na fala das crianças a importância do trabalho envolvendo os componentes curriculares é muito bom fazer a matemática pensando na ciência. (Relatório da OE 1 - Arquivo da pesquisadora - 10/12/2015). A partir do registro da fala da criança foi percebida a importância de vincular as áreas do conhecimento e dar sentido ao que é aprendido pela criança. As crianças constroem o conhecimento a partir das relações que fazem com o que sabem e com o que se propõe, em especial na escola, ampliando assim seu repertório histórico cultural. E, nesse processo de construção, as crianças usam as mais diferentes linguagens e buscam ancorar suas ideias originais sobre aquilo que buscam desvelar. Conhecer não se faz a partir do que transcrevo da realidade, mas, certamente, do que percebo da realidade e crio a partir dessa, como afirma Leontiev (1978, p. 267): Podemos dizer que cada indivíduo aprende a ser um homem. O que a natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe ainda preciso adquirir o que foi alcançado no decurso do desenvolvimento histórico da sociedade humana. Outra fala que que trouxe relevância a esta pesquisa foi a atenção pelo modo como a criança evidenciou a mudança de metodologia ocorrida pelo professor: Esse relato chamou a atenção por evidenciar que a criança percebeu a mudança de metodologia do professor: - Nossa, que aula bacana! Agora, sim, eu aprendi as horas, não foi como meu irmão aprendeu preenchendo um monte de relógios. Interessante como foi necessário inventar esse tal de relógio! (Relatório da OE 2 - Arquivo da pesquisadora - 10/12/2015). O relato nos evidencia que o currículo acontece com a participação das crianças no processo educacional, ou seja, ele está continuamente em ação. O professor observa e compreende, na ação, o pensamento se configurando, e ele não se restringe a transmitir uma informação, mas propõe desafiar a criança a continuar pensando. (BARBOSA, 2009, p. 51). O programa PNAIC traz como princípio da formação a prática da reflexividade, juntamente evidenciando o lúdico com o brincar, significando assim os conhecimentos acumulados culturalmente com os modos de pensar e sua lógica no processo da construção dos conhecimentos das crianças, relacionando-os com os direitos de aprendizagens; e podemos evidenciar, na voz das crianças, o cumprimento desses pressupostos para a ação pedagógica.e, nesta atividade proposta pelo 4546
5 5 professoralfabetizador, transparece o compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem inseridas em um contexto cultural. CONSIDERAÇÕES FINAIS Já não nos cabe mais pensar que, ao chegar na sala de aula, o professor vai encontrar um aluno apático e que este é um livro em branco.a escola é mais um, e não o mais importante ou único ambiente em que a criança encontra a cultura acumulada historicamente, mas o único que deve ter como objetivo principal o de proporcionar situações em que seja refletida a cultura e os conhecimentos que foram construídos social e historicamente e, assim, colaborar para que a criança se torne um homem um ser ativo da sua e para a sua cultura histórico-social. Devemos nos preocupar menos, na escola, com a diferença entre as atividades de linguagem, matemática, história, geografia, ciências... E ter clareza que o que nos interessa é a relação entre o sujeito cognoscente, a criança, e o objeto do conhecimento, sempre mediada pelo outro e significada nas atividades propostas pelo professor; porque aqui falamos de escola, evidencio o papel do professor. Propor a experimentação, o fazer, o construir, o refletir antes da aula, no planejar e no momento da aula colaborará com o diálogo com as outras áreas do saber e com as práticas sociais. REFERÊNCIAS ABAURRE, Maria Bernardete. The interplay between spontaneous writing and undelying linguistic representation.european Journal of Psychology of Education, [s/l], v. III, n. 4, ANDRÉ, Marli Eliza D. Afonso de. Estudo de caso em pesquisa e avaliação educacional. Brasília: Líber Livros Editora, BOURDIEU, Pierre. A Miséria do Mundo. Petrópolis: Ed. Vozes LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa, Portugal: Livros Horizonte, MOREIRA, A. F. B.; SILVA, T. T. (Orgs.). Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, VIGOTSKI, L. S. A Formação Social da Mente: O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes,
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