ÁLCOOL DE MANDIOCA COMO ALTERNATIVA PARA A REGIÃO NORTE DO BRASIL
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- João Pedro de Miranda Alcântara
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1 ÁLCOOL DE MANDIOCA COMO ALTERNATIVA PARA A REGIÃO NORTE DO BRASIL mrizato@gmail.com APRESENTACAO ORAL-Instituições e Desenvolvimento Social na Agricultura e Agroindústria MATHEUS RIZATO RIZATO; FÁBIO ISAIAS FELIPE; CAROLINE GARCIA GEROTO. CEPEA-ESALQ/USP, PIRACICABA - SP - BRASIL. Álcool de Mandioca como alternativa para a Região Norte do Brasil Grupo de Pesquisa: Instituições e Desenvolvimento Social na Agricultura e Agroindústria Resumo O Brasil é o terceiro maior produtor de mandioca no mundo, tendo atingido uma produção de 25,7 milhões de toneladas em 2008 segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. No país, entre os maiores produtores, destacam-se a região Norte e Nordeste que juntas representam 65,5% da produção nacional. Com a crescente necessidade de se buscar novas alternativas energéticas devido a iminente escassez de combustíveis fósseis, a mandioca se mostra como uma nova alternativa para a produção de etanol, além das culturas de cana-de-açúcar e milho. A análise deste trabalho se concentra na região Norte do país em função da mesma apresentar forte produção da raiz e possibilidades de criação de usinas processadoras de mandioca. Além disso, a região apresenta deficiência no abastecimento de álcool sendo necessária a aquisição do combustível de outras regiões do país. A implantação das indústrias processadoras de álcool pode trazer desenvolvimento social e econômico para a região devido a criação de novos empregos. Contudo, também pode trazer externalidades negativas tanto pelas questões ambientais relacionadas ao seu cultivo quanto pelo desvio da oferta de mandioca para a produção do combustível, sendo que a raiz e seus derivados são parte da alimentação humana na região. Palavras-chaves: Mandioca; Álcool; Alimentação; Norte; Brasil Abstract Brazil is the third biggest cassava producer in the world. The production in 2008 reached 26,7 million of tons, according Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). In the country, among the producing greaters, they are distinguished it region North and Northeast that together represent 65.5% of the national production. With the increasing demand of new alternatives energy and the scarcity of fuels from petroleum, increase the search by new souces of energy, like sugar cane, corn and cassava. This article have the analysis at the Brazilian North region, where the cassava production is bigger than other regions, and the construction of cassava etanol factories could be efficient. The North of Brazil presents deficiency in the etanaol supply being necessary to import fuel of other regions of the country. The construction of the processing alcohol industries can bring 1
2 social and economic development for the region due the creation of new jobs. However, also it can in such a way bring negative points like environmental questions to its culture how much for the shunting line of it offers of cassava for the production of the fuel, being that the root and its derivatives are part of the feeding human being in the region. Key Words: Cassava, Alcohol, Food, Brazilan North Introdução A busca por novas fontes de energia é recente tema de discussão nos dias atuais. O crescimento da demanda energética, bem como a contínua diminuição da oferta de combustíveis fósseis, fez aumentar o interesse por novas fontes energéticas. O biocombustível até então é a principal alternativa para diminuir o hiato entre a crescente demanda energética mundial e a redução da disponibilidade dos recursos tradicionalmente utilizados. Dentre as novas fontes de energia renovável, destacam-se os vegetais para a produção de biodiesel, caso da soja, pupunha, pinhão-manso, entre outros. Para a produção de etanol, além de materiais celulósicos, também destaca-se a mandioca, que já tem sido inclusive sendo matéria-prima em alguns países da Ásia, com destaque para a China e Tailândia. No Brasil, a cana-de-açúcar se destaca como principal matéria-prima para a produção de etanol. Isto se deve pelo fato de o produto ter sido explorado desde o período de colonização, quando o açúcar era um dos principais produtos da pauta de exportações. Mais recentemente, na década de 1970 com a criação do Programa Nacional do Álcool, o Proálcool, investimentos voltaram a ocorrer na cultura da cana-de-açúcar, mantendo o crescimento da produtividade e conseqüente da produção no país. Na década de 2000, com o advento dos veículos bicombustíveis (gasolina e álcool), a demanda por etanol apresentou considerável aumento e a cultura da cana avançou por regiões menos tradicionais do país. Para a mandioca, exceto nas regiões onde a raiz é matéria-prima para a produção de fécula ou fécula modificada, na maioria dos casos, a cultura ainda tem o apelo de subsistência, o que é mais pontual no Nordeste e Norte do Brasil, onde há baixo nível de tecnologia. Através da Tabela 1 se comprara a produtividade agrícola das principais culturas que podem ser destinadas à produção de etanol. Tabela 1 - Comparativo de Rendimento de diferentes matérias primas para a produção de álcool. Rendimento Produto (Toneladas/hectare) Cana-de-açúcar 79,274 Mandioca 14,137 Milho 4,079 Arroz Trigo 2,549 Sorgo 2,41 2
3 Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2010). Apesar da baixa produtividade, a cultura pode ter rendimento de etanol por tonelada superior a de outras matérias-primas. De acordo com Cabello (2007), o etanol proveniente da mandioca apresenta viabilidade econômica superior a da cana e do milho no Brasil no que se refere a rentabilidade de álcool por tonelada. O objetivo deste trabalho é analisar a possibilidade de produção de etanol a partir da mandioca no Norte do Brasil. O incremento da produção de mandioca naquela região poderia viabilizar a criação de mini-usinas para a fabricação de etanol, seja este para utilização em veículos, ou com destino a indústria de bebidas ou cosméticos. Segundo Cereda (2001) a produção de álcool de mandioca deve ocorrer em regiões onde as condições naturais são impróprias para o cultivo da cana-de-açúcar e apropriada para a mandioca. A produção pode ser feita em regiões de baixa demografia e renda per capita, buscando uma melhor distribuição de renda no Brasil. Deve-se considerar o capital social que pode ser gerado através da implantação das unidades processadoras, principalmente a geração de novos empregos na região. Por outro lado, também é necessário analisar o possível impacto na oferta da mandioca - após o direcionamento do produto para a produção de álcool - à oferta de alimentos na região, visto que a mandioca é responsável por boa parte da alimentação humana no Norte do país. 2 Cultura da mandioca no mundo Segundo dados da Food and Agriculture Organization FAO (2010), em 2008 o Brasil se tornou o terceiro maior produtor de mandioca no mundo representando 11% do total produzido, atrás da Nigéria com 19% e Tailândia com 12%. Em seguida esta a Indonésia e Republica do Congo com 9% e 6% de representatividade da produção mundial. Na Nigéria, a mandioca é basicamente utilizada para alimentação humana, onde boa parte da raiz é consumida in natura. Na Tailândia, por sua vez, a raiz tem a basicamente a industrialização como destino. Na Tabela 2 são apresentados os principais países produtores de mandioca entre 2005 e 2008, bem como a participação no total mundial. Tabela 2 - Principais países produtores de mandioca e participação na produção mundial entre 2004 e 2008 Países/ Mundo Produção % Produção % Produção % Produção % Nigéria 41, , , ,58 19 Tailândia 16, , , ,57 12 Brasil 25, , , ,88 11 Indonésia 19, , , ,59 9 República do Congo 14, , , ,02 6 Outros 88, , , ,31 42 Mundo 207, , , , Fonte: FAO (2009). 3
4 Analisando a Tabela 2, pode-se notar que até o ano de 2007, o Brasil se destacava como o segundo maior produtor de mandioca no mundo atrás somente da Nigéria. Em 2008 o país perdeu lugar para a Tailândia devido ao forte aumento da produtividade daquele país ao longo dos anos. A média de produtividade no mundo foi de 12,5 toneladas por hectare, tendo a Tailândia a média de 23,3 toneladas por hectare com um crescimento de 35% em quatro anos. Em seguida aparece a Indonésia com 18,1 toneladas por hectare com crescimento médio de 14%. O Brasil é o terceiro com o rendimento médio de 18,1 toneladas por hectare e com o crescimento médio bem menor no período em comparação com os demais países, apenas 4%. Estes números mostram o pouco incentivo, econômico e tecnológico para a cadeia produtiva da mandioca brasileira em aumentar a sua produtividade ao longo dos anos. Na tabela 3 pode ser observado a produtividade média dos principais produtores de mandioca no mundo entre 2005 e Tabela 3 Produtividade média dos principais países produtores de mandioca no mundo entre 2005 a 2008 em tonelada-hectare. País Tailândia 17,2 21,1 22,9 23,3 Indonésia 15,9 16,3 16,6 18,1 Brasil 13,6 14,0 14,0 14,1 Nigéria 11,0 12,0 11,2 11,8 República do Congo 8,1 8,0 8,1 8,1 Mundo 11,2 12,1 12,1 12,5 Fonte: FAO (2010). Quanto a área plantada, pode-se notar um incremento mundial de 1,2% no período de 2005 á 2008 com o total de 18,7 milhões de hectares. A Nigéria aparece em primeiro com 3,78 milhões de hectares seguido pela Republica Democrática do Congo e Brasil com 1,85 e 1.84 milhões de toneladas respectivamente. Interessante observar que a Tailândia, segundo maior produtor, apresenta somente a quinta maior área plantada, comprovando que o efeito produtividade foi o fator principal para incremento da produção naquele país. Na tabela 4 está ilustrado a área total plantada dos principais produtores de mandioca no mundo. Tabela 4 Área Plantada dos principais países produtores de mandioca no mundo entre 2005 a 2008 em milhões de hectare. País Nigéria 3,78 3,81 3,88 3,78 República do Congo 1,85 1,88 1,85 1,85 Brasil 1,90 1,90 1,89 1,84 Indonésia 1,21 1,23 1,20 1,19 Tailândia 0,99 1,07 1,17 1,18 Mundo 18,47 18,34 18,55 18,70 Fonte: FAO (2010). 4
5 3 Produção brasileira de mandioca De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de mandioca em 2008 foi de 26,7 milhões de toneladas, tendo avançado 0,6% frente ao total produzido em Cultivada em todas as regiões brasileiras, as regiões Norte e Nordeste concentram parte expressiva da produção (65,5% do total nacional). Naquelas regiões a raiz é destinada para a alimentação in natura, além de ser utilizada para a fabricação de farinha. No Centro- Sul brasileiro por sua vez a mandioca destina-se para a indústria de farinha e fécula. Na Figura 1, pode esta ilustrada a distribuição total da produção de mandioca no Brasil através das regiões geográficas no período de 2001 á Milhões de Toneladas Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Figura 1 - Produção de mandioca por regiões geográficas de 2001 a Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2010). Analisando cada unidade da federação isoladamente, em 2008, o principal estado produtor foi o Pará com a produção de 4,8, milhões de toneladas no ano e representatividade de 18% do total produzido no país. Em segundo esta a Bahia com 4,3 milhões de toneladas, responsável por 16,3% da produção nacional seguido pelo Paraná com o total de 3,3 milhões de Toneladas (12,5%), Maranhão somando 1,73 milhões de Toneladas (6,5%) e Rio Grande do Sul com 1,34 milhões de Toneladas (4,4%) em Na tabela 5 pode-se observar a quantidade total produzida de mandioca por unidade da federação e a representatividade de cada estado na produção nacional nos anos de 2005 á
6 Tabela 5 Produção de mandioca no Brasil por unidade da Federação, entre 2005 a 2008 em toneladas. Estado 2005 % 2006 % 2007 % 2008 % Pará , , , ,0 Bahia , , , ,3 Paraná , , , ,5 Maranhão , , , ,5 Rio Grande do Sul , , , ,0 Amazonas , , , ,3 São Paulo , , , ,9 Ceará , , , ,5 Minas Gerais , , , ,3 Acre , , , ,7 Outros , , , ,1 Brasil , , , ,0 Fonte: IBGE (2010). Como já relatado, a região Norte do Brasil apresenta vasta produção da matéria prima. Além disso, a região tem dificuldades de oferta do combustível devido aos altos preços de álcool para o consumidor final. Este fato ocorre devido a quase inexistente produção de cana-de-açúcar e a sua necessidade de importação de etanol de outras regiões. Portanto, a produção de álcool de mandioca nesta região poderia trazer benefícios econômicos e sociais.. 4 Materiais e Métodos Para este artigo foram utilizados dados secundários sobre a cadeia produtiva da mandioca no Brasil e no mundo. Também foram pesquisados trabalhos que abordam a produção de álcool a partir de mandioca no Brasil, e também na China e na Tailândia, países em que a produção do álcool ocorre em maior escala. Esse trabalho apresenta caráter hipotético dedutivo externando os resultados sob o ponto de vista de interpretação dos dados pesquisados. Conforme Lakatos e Marconi (1991) o método hipotético dedutivo é aquele em que o pesquisador trabalha com uma dedução a partir de hipóteses, que devem ser testadas sempre buscando regularidades entre os elementos da pesquisa. É necessário que se utilize uma analise crítica confrontando as hipóteses levantadas para se chegar a uma conclusão. 5 Produção mundial de etanol de mandioca Em alguns países, principalmente os asiáticos já existe a produção de etanol a partir da mandioca. Dentre os principais países se destacam a China e a Tailândia que se 6
7 mostram como os maiores produtores do combustível no mundo a partir da raiz. No caso da China, parte da raiz processada é importada de países africanos, com destaque para a Nigéria. Estes países apresentam a necessidade de expandir a produção deste combustível, contudo a falta de área para aumentar a produção agrícola se mostra como gargalo para a ampliação da produção de álcool. Neste sentido que estes países buscam novas tecnologias, para impulsionar a sua produção. Através da Tabela 6 pode-se observar o rendimento das principais culturas que podem ser utilizadas para a produção de etanol. Ao que se observa, beterraba e cana-de-açúcar apresentam a maior produtividade em litros por hectare, sendo esta média mundial de e litros por hectare. Já a produtividade da mandioca em litros/hectare é de 2.070, superando milho, arroz, trigo e sorgo. Tabela 6 - Comparativo de Rendimento de diferentes matérias primas para a produção de álcool Produto Rendimento do Rendimento Eficiencia na Conversão Biocombustível (Toneladas/hectare) (Litros/tonelada) (Litros/hectare) Beterraba Cana-de-açucar Mandioca Milho 4, Arroz 4, Trigo 2, Sorgo 1, Fonte: Food and Agriculture Organization - FAO (2008) A produção de Álcool de Mandioca na China Na China, a mandioca apresenta alto potencial de utilização para a produção de bioetanol visto que, além de não ser comumente destinada à alimentação pela população, é produzida em grande escala no sul do país, destacando-se as províncias de Guangdong, Guanxi, Yunnan e Hainan, nas quais os solos são menos férteis do que a área considerada principal, em que se privilegia a produção de alimentos básicos como o arroz, o trigo, a batata e o milho (Jansson et alli., 2009). Segundo Jansson et alli. (2009), para se produzir uma tonelada de etanol são necessárias 13,5 toneladas de cana-de-açúcar, 6,6 toneladas de mandioca e 3,2 toneladas de milho. Estes dados ressaltam o potencial da mandioca para a produção de biocombustíveis naquele país, uma vez que pode a tuberosa ser cultivada em solos pobres, apresentando notável resistência a intempéries climáticas. Ainda segundo os autores, as províncias ao sul do país possuem capacidade para cultivo de cerca de 1,5 milhões de hectares de mandioca; no entanto, atualmente são cultivados apenas 400 mil hectares. A produtividade é considerada baixa, cerca de 16 toneldas por hectare (FAO, 2010), podendo o país ser importador de chips de mandioca no curto prazo. Além da importação da mandioca, os governantes chineses vêem-se motivados a investir em tecnologias mais eficientes para o processamento da mandioca destinada à produção de biocombustíveis, havendo inclusive a busca por transferência de tecnologia brasileira, como a busca de desenvolver a variedade de mandioca açucarada. 7
8 5.2 Etanol de Mandioca na Tailândia A Tailândia destaca-se na produção de fécula de mandioca nativa e modificada, exportando volume superior a 1 milhão de toneladas do produto nos anos recentes, visto que a mandioca é somente utilizada como matéria-prima agroindustrial. De acordo com Vackayil, J. (2008), essencialmente importadores de combustíveis, o etanol de mandioca torna-se vital para os interesses internos daquele país, que busca substituir 10% da gasolina até 2011 visto que, através de investimentos em tecnologia, podem produzir cerca de dois milhões de litros de etanol a partir do tubérculo diariamente. No entanto, a falta de áreas para cultivo é um gargalo a produção, havendo assim a busca por maior produtividade a cada ano. Naquele país há o interesse de ampliar em 10% ao ano seu rendimento médio, com o objetivo de obtenção de matéria prima suficiente ao atendimento de suas necessidades. O preço da mandioca na Tailândia é de aproximadamente 1,65 Baht/kg (cerca de US$ 0,05/kg ou US$ 50,00/ton); a produção de etanol tem custo de 8,94 Baht/ litro (aproximadamente US$ 0,27/litro) e rende 180 litros por tonelada. A cana-de-açúcar, por sua vez, custa 0,8 Baht por quilo (US$ 24,50 por tonelada); a produção de etanol custa 11,42 Baht por litro (US$ 0,34) e possui rendimento de 70 litros por tonelada processada (Departamento de Desenvolvimento de Energias Alternativas e Conservação de Energia da Tailândia, 2009). Pode-se notar que, apesar das cotações superiores da tonelada de mandioca em comparação à cana-de-açúcar, a produção de etanol à base da raiz tem menor custo, visto que para se produzir 180 litros de etanol à base de cana-de-açúcar, serão necessários US$ 61,20; no entanto, para a produção dos mesmos 180 litros de etanol à base de mandioca, utilizar-se-ão US$ 48,60. Além disso, a produção de etanol a partir da raiz na Tailândia pode ajudar a diminuir o consumo e importação de combustíveis não-renováveis, podendo inclusive reduzir as emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa. 6 - Produção de etanol de mandioca no Brasil A raiz de mandioca se apresenta como uma importante fonte de energia sendo cultivada em diversos países. A mandioca apresenta alto teor de carboidratos que podem ser transformados em álcool. Segundo Filho e Mendes (2003), existem inúmeras raízes e tubérculos que apresentam carboidratos na forma de açúcar, amido e outros polissacarídeos que possuiu alta capacidade de fermentação para a industria de bebidas alcoólicas e etanol. Dentre as varias espécies de mandioca, destaca-se a variedade nativa do Brasil, a mesma utilizada para o consumo doméstico, que pode ser processada através da fermentação alcoólica devido a alta concentração de amido. Além desta, também existe a mandioca açucarada que permite maior obtenção de álcool devido ao alto teor de glicose. Esta variedade é originária do Norte do país, o que facilita a implantação das usinas nesta região. Na Tabela 7 se comprara a possibilidade de produção de etanol a partir da mandioca, milho e cana-de-açúcar no Brasil. 8
9 Tabela 7 - Comparação entre as principais matérias-primas para a produção de etanol Componente Mandioca Milho Cana Produtividade agrícola (t/há/ano) 30,0 8,0 85 Açucares fermentáveis totais (%) 35,0 62,0 14,5 Produtividade açúcares (t/há/ano) 10,5 5,0 12,3 Conversão etanol (m3/ha/ano) 0,59 0,59 0,59 Produtividade etanol (m3/há/ano) 6,2 3,0 7,2 Preço da matéria-prima (R$/t) 134,00 350,00 34,60 Custo da matéria-prima (R$/m3) 590,00 856,00 496,19 Fonte: Elaborado por Cabello, 2007, com dados de preços da matéria prima a partir do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA). No Brasil, a produção de etanol ocorre predominantemente tendo como matériaprima a cana-de-açúcar devido o maior desenvolvimento do setor tanto no sistema produtivo quanto no de conversão em combustível. Contudo tendo como comparação o balanço energético para a produção de álcool entre a cana-de-açúcar, milho e mandioca, a raiz apresenta maior rentabilidade energética. Segundo Salla (2008) a utilização da mandioca para a produção de álcool sempre foi discutida tomando como referencial a cana-de-açúcar que é amplamente mais vantajosa economicamente. Contudo, analisando a contabilidade energética das operações de cultivo, do processamento e das repercussões no agroecossistema, a mandioca pode apresentar um balanço energético mais vantajoso em relação a cana-de-açúcar e o milho. No geral, o interesse em se produzir álcool de mandioca no Brasil é antigo e ocorreu especificamente no período do Proálcool na década de 70. Naquele período, se buscavam novas fontes de biocombustíveis que pudessem substituir em parte o petróleo. Além da cana-de-açúcar, a mandioca também mostrou ser viável, principalmente por ser cultivada em solos pouco férteis e da possibilidade de se extrair o álcool em unidades de menor porte. Segundo Felipe e Alves (2007), no Próalcool, foram implantadas no Brasil, seis usinas para a produção de álcool a partir da mandioca. Entre 1978 e 1983, foi produzido pela Petrobrás o álcool em uma unidade no estado do Maranhão. Porém, as usinas fecharam em função da sua localização geográfica ser desfavorável se tornando inviável a manutenção e a continuação da produção do combustível. Além disso, as vantagens produtivas da cana-de-açúcar incentivou o abandono das pesquisas sobre este tema. Atualmente existem novas pesquisas que retomam a possibilidade da criação de novas usinas no Brasil, principalmente no Norte e Nordeste do país. Inclusive, já existe um projeto de lei que 1522/07 que deve reduzir o imposto do Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep) e da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) para quem comercializar álcool de mandioca no Brasil. 9
10 Devido a estes fatos, já se tem conhecimento de uma usina experimental de álcool de mandioca no município de Botucatu no Estado de São Paulo. Esta unidade se encontra dentro do campus de Lageado, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), onde a pesquisa é realizada pelo Centro de Raízes e Amidos Tropicais (Cerat). Esta usina experimental deve ter capacidade de se produzir 5,3 metros cúbicos de álcool por dia. 7 - Potencial na produção de álcool de mandioca no Norte do Brasil O Norte do Brasil se destaca como uma das principais regiões produtoras de mandioca alternando junto com a região Nordeste. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a região Norte foi responsável por 28,5% da produção total do país, com um volume de 7,6 milhões de toneladas em 2008, a região com a maior produção foi a Nordeste com uma representatividade de 36% e total de 9,7 milhões de toneladas. A produção de álcool a partir da mandioca, principalmente através desta nova variedade açucarada, deve contribuir com o atendimento da demanda energética na região Norte que não tem produção própria de álcool. Atualmente, a região apresenta a necessidade de se importar o combustível das demais regiões produtoras. De forma geral, é necessário adquirir o combustível, em boa parte, do Sudeste do país, aumentando os preços para o consumidor final. Na tabela 8, pode se notar a região Norte como a que apresenta os maiores preços de álcool ao consumidor final no Brasil na média de Fevereiro de Tabela 8 - Preços de álcool em R$/l praticados no período de Fevereiro/10 - Brasil Regiões Total de postos Preços ao consumidor Pesquisados Preço médio Preço mínimo Preço máximo CENTRO-OESTE ,991 1,44 2,36 NORDESTE ,99 1,36 2,49 NORTE ,201 1,8 2,99 SUDESTE ,86 1,16 2,562 SUL ,071 1,43 2,698 Fonte: Agência Nacional de Petróleo ANP (2010). Além de auxiliar nos preços do combustível, a criação de usinas para a conversão do amido de mandioca em álcool deve gerar mais desenvolvimento econômico e social devido a possibilidade de se processar a mandioca em pequenas e médias unidades distribuídas pela região. A necessidade de criação de uma nova estrutura que atenda a demanda por produção, armazenamento e transporte tanto da raiz quanto do combustível deve também gerar empregos à população. Contudo, a mandioca tem alto potencial de deterioração fora do solo, o que pode dificultar o transporte da raiz. Segundo a Embrapa, após a colheita e o descascamento esse processo de deterioração torna-se mais intenso, fato que pode ser evitado com a aplicação de tratamentos antioxidantes (por exemplo, imersão em solução diluída de ácidos orgânicos) e/ou branqueamento (tratamento térmico brando). De forma geral, a deterioração da raiz ocorre devido à alta concentração de água o que impossibilita o transporte da mandioca por longas distâncias. É necessário, portanto, que os tratamentos 10
11 antioxidantes sejam feitos em boa parte da produção havendo a possibilidade da geração de mais empregos diretos na região para a execução de mais esse processo. Apesar das possibilidades de desenvolvimento econômico e social que a produção de álcool pode trazer à região Norte, é preciso considerar outras questões: a transferência de parte da produção da raiz para a indústria de álcool pode trazer problemas quanto a oferta do produto para a alimentação humana, visto que a mandioca em raiz e a farinha de mandioca tem lugar significativo na nutrição da população da região. Além disso, é preciso gerar quantidade de empregos suficiente a fim de suprir a demanda da população local que trabalha desde a produção da raiz até a fabricação da farinha de forma artesanal e familiar Importância da mandioca para alimentação na região Norte A mandioca, como já observado, é uma importante fonte de nutrientes para a população na região Norte. Tanto a raiz quanto a farinha estão presentes na alimentação diária de grande parte da população. No geral, a maior parte do consumo de mandioca se dá através da farinha principalmente para a população de baixa renda (Figura 2). Figura 2 - Consumo per capita de farinha de mandioca segundo classes de rendimento no Brasil. Fonte: Elaborado por Leonel (2008) a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2003). Além disso, a produção de farinha também gera emprego para população daquela região. Segundo Silva et al (2002), a produção de farinha, especificamente no Estado do Pará ocorre de forma artesanal, usando mão-de-obra da própria família, necessitando de 1 tonelada de raiz para produzir aproximadamente 5 sacas de farinha (60 Kg cada) em 10 horas, envolvendo cerca de 12 pessoas na fabricação, onde são produzidos resíduos, utilizados em pequenas quantidades. Quanto ao consumo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que na região Norte o consumo domiciliar per capita anual de farinha de mandioca em 2002 e 2003 era de 33,827 kg enquanto a média nacional era de 7,776 kg. A segunda região com maior consumo de farinha de mandioca é a Nordeste, em que o consumo per 11
12 capita anual é praticamente metade da região Norte com 15,333 kg. Na Figura 3, pode ser observado o consumo per capita de farinha de mandioca nas grandes regiões brasileiras. 1,427 1,040 1,359 15,333 33,827 Norte Nordeste Sul Centro-Oeste Sudeste Figura 3 - Consumo per capita de farinha de mandioca nas grandes regiões brasileiras. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2003). Na tabela 9 pode ser observado a aquisição alimentar domiciliar per capita anual de farinha, fécula e da própria raiz de mandioca por unidade da federação. Interessante observar que os números são consideráveis tomando como base a média nacional de aquisição alimentar destes produtos. Este fato confirma a importância da mandioca e seus subprodutos para a base de alimentação humana na região Norte do país. Tabela 9 - Aquisição alimentar domiciliar per capita anual por produtos selecionados (kg) Brasil e Estados do Norte Produtos Brasil Rondônia Acre Amazonas Roraima Pará Amapá Tocantins Farinha de mandioca 7,76 3,90 17,13 43,35 10,42 43,58 31,47 9,62 Fécula de mandioca 0,73 0,60 0,554 3,135 0,96 1,89 1,13 1,18 Mandioca 2,26 7,88 16,56 5,58 1,60 0,97 0,24 1,66 Fonte: IBGE O fato de a mandioca ser amplamente produzida na região Norte do Brasil está atrelado ao fato da cultura apresentar boa adaptação aos diferentes tipos de solo, além do baixo risco de quebra na produção devido a fatores externos. A cultura é tolerante a pragas e pouco suscetível às adversidades climáticas. De certa forma, a cultura da raiz e a fabricação de farinha geram emprego e renda para boa parte das famílias de pequenos produtores no campo, além disso, o fácil manejo da cultura também é um fator que facilita a produção da mesma e de seus derivados nesta região. 12
13 9 Resultados e discussão A produção de álcool a partir de mandioca no Brasil é um fato que deve ser considerado, tomando como base a crescente necessidade de se buscar novos combustíveis para suprir a demanda energética nacional. Analisando a melhor localização para a produção do combustível, a região Norte do país se mostra como a mais adequada devido a sua ampla produção da raiz somada a sua deficiência produtiva em álcool. O fato de se criar pequenas unidades produtoras pela região poderia auxiliar os produtores da raiz que direcionariam parte de sua produção para estas unidades, além da geração de novos empregos. Todavia, seria necessário que houvesse um controle do direcionamento dessa produção para as industrias processadoras não prejudicando a destinação da raiz para a alimentação da população, além do controle do impacto ambiental que a atividade causaria. De certa forma, ainda seria necessário um incentivo governamental para a implantação destas pequenas unidades na região para que a produção de álcool seja socialmente e economicamente viável. Mas antes disso, é necessário se identificar o custo de investimento para a implantação, o tempo e a taxa de retorno, sendo esta a proposta de novos trabalhos. 7 - Referências Almeida, M. L. P. Tipos de pesquisa. In:. Como elaborar monografias. 4. ed. rev. Atual. Belém: Cejup, cap. 4, p Cabello, C. Matérias-primas amiláceas para fins energéticos. In: V WORKSHOP SOBRE TECNOLOGIAS EM AGROINDÚSTRIAS DE TUBEROSAS TROPICAIS. Centro de Raízes e Amidos Tropicais (CERAT). Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2007 Cassava and Starch Tecnology Research Unit CSTRU disponível em < acesso em 06 de março de Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Mercados Agropecuários. Disponível em < consultado em 02/04/2010. Cereda, M. P., Série Cultura de Tuberosas Amiláceas Latino Americanas, Vol. 4 Manejo, uso e subprodutos de industrialização da mandioca, Fundação Cargill, 2001, São Paulo. Companhia de Gás de São Paulo. Valores do Gás Natural para a indústria. Disponível em < acesso em 06/03/2010. Felipe, F. I; Alves, L. R. A. Álcool de mandioca pode ser alternativa de energia renovável. Artigo publicado no Jornal de Piracicaba, Caderno: Vida Agrícola Página B-5, dia 7 de novembro de
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