Panoramas das Refinarias Nacionais e o Novo Cenário com o Présal
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- Nathalia da Cunha Duarte
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1 Panoramas das Refinarias Nacionais e o Novo Cenário com o Présal Marcelo Teles de Sousa Mascarenhas, Rafael Pedro Longhi Resumo O Refino de óleo no Brasil atravessa uma fase decisiva, tendo em vista as novas descobertas de óleo na camada Pré-sal, que acrescentarão volume significativo de produção e o crescimento da demanda por derivados. Nesse sentido, observamos uma movimentação do quase exclusivo agente do setor, a Petrobras. Algum investimento nas antigas e nas futuras refinarias está sendo realizado. Este setor historicamente sofreu com inviabilidade econômica e consequente falta de investimentos governamentais e, principalmente, privados. Analisando os dados oficiais sobre as projeções para o refino, produção e demanda por derivados, constatamos um grande descompasso entre produção de óleo e gás e refino e certa paridade entre demanda interna e oferta de derivados para o cenário de Essa desigualdade entre produção de óleo e gás e refino não é a pior possível, pois mostra um excesso de óleo cru no mercado formado por falta de infraestrutura para refinação. Confirmando-se essas expectativas, o Brasil passará a exportar significativos volumes de óleo cru e não acrescentará valor agregado, advindo do processamento, ao óleo produzido. É um desperdício de oportunidade de se tornar grande exportador de derivados causado pela falta de planejamento adequado no setor petrolífero. Palavras Chave: Petróleo, refino, pré-sal, Brasil, exportação. 1 Introdução O refino é uma etapa essencial na cadeia produtiva de combustíveis líquidos para atividades industriais e para os transportes, principalmente. É, também, a principal técnica responsável pelos suprimentos à indústria de transformação ligada à petroquímica. O Brasil se insere perfeitamente nesse contexto de utilização do petróleo através do refino, pois: existe uma consolidada infraestrutura de modal rodoviário de transporte movido à gasolina ou diesel e uma considerável indústria petroquímica, além de termelétricas movidas a óleo. Devido a essa implicação econômica e sua inserção no planejamento do país, o refino é de grande importância para a sustentabilidade do setor petrolífero nacional e mundial. A proposta deste estudo é fazer análises do desempenho do parque de refino brasileiro quando da produção de óleo vindo do pré-sal, bem como quando esta atingir níveis esperados por órgãos governamentais especialistas da área. A metodologia adotada nesse trabalho consiste em inicialmente apresentar isoladamente os panoramas do parque de refino brasileiro e as projeções para a produção brasileira com a incorporação dos reservatórios no pré-sal. Em seguida, buscaremos fazer uma análise de como esses dois pontos se relacionarão no futuro, ou seja, tentaremos explicar como o parque de refino se comportará com o aumento da produção. Para isso, levaremos em conta os investimentos em infraestrutura realizados até hoje para prever se, realmente, conseguiremos suprir as demandas após o início de produção do pré-sal. Para tanto, analisaremos, principalmente, os dados de entes governamentais, como da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - ANP, Petrobras e Ministério de Minas e Energia MME. 2 Panorama Atual do Refino Brasileiro de Petróleo 2.1 Localização da Matéria-Prima
2 As bacias sedimentares brasileiras produtoras de óleo se distribuem basicamente ao longo da nossa costa litorânea. Podemos destacar as bacias do Recôncavo, Potiguar, Sergipe-Alagoas, Espírito Santo, Campos e Santos. (ver figura 1). Figura 1: Mapa das bacias sedimentares brasileiras, com indicação das províncias produtoras de óleo e gás no País. (Milani e Araújo. Recursos Minerais Energéticos: Petróleo).. Disponível em _a.pdf. Acessado em 28/08/2012. Essas bacias são responsáveis pela produção interna de petróleo na proporção mostrada na figura 2. É de se destacar a participação expressiva da Bacia de Campos, cerca de 86%, no total de óleo produzido pelo país em Figura 2. Produção de petróleo por Bacia. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da ANP/2010. Notamos a concentração da produção na costa da região sudeste do país, onde se concentram também a produção industrial, PIB e a população urbana. 2.2 Localização do Mercado Consumidor As mais significativas bacias sedimentares produtoras de óleo no Brasil exploradas até então, Bacias de Campos e Santos (ver figuras 1 e 2), cobrem toda a costa do Sudeste e parte da Sul, regiões que mais demandam petróleo no país (ver tabela 1).
3 Tabela 1: Consumo de alguns produtos em 2010 Produto Sudeste Sul Nordeste Norte Centro-Oeste Total Óleo diesel 43,8%, 19,,2% 15,7%, 9,9% 11,4% 100% Gasolina C 45,6% 21% 17,5% 6,5% 9,5% 100% GLP 47,3% 17,,3%, 22,1% 5,7% 7,7% 100% Gás natural 73% 7% 16% 3% 1% 100% Fonte: Elaboração própria a partir dos dados ANP Nota-se, portanto, que a Região Sudeste apresenta consumos de derivados da ordem de 40 a 70% do total em todos os seguimentos analisados, sendo o maior consumidor de todas as categorias. O destaque fica para o gás natural, que chega a ter até 70% de seu consumo realizado no Sudeste, o que pode ser associado à maior infraestrutura instalada de distribuição. 2.3 Panorama das Refinarias Atuais e Planejadas O Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis 2010, da ANP, aponta que as refinarias nacionais somaram capacidade de refino de 1,807 milhão de barris/dia, considerando-se o fator de utilização de 90,9%. Destas refinarias, 12 pertenciam à Petrobras e responderam por cerca de 98% da capacidade total. A Replan - SP é a refinaria brasileira com a maior capacidade cidade instalada: 365 mil barris/dia ou 17,8% do total nacional. Há também quatro refinarias privadas, sem expressiva capacidade de refino: Manguinhos - RJ; Riograndense - RS; Univen - SP e Dax Oil - BA. Figura 3. Participação das Refinarias no Processamento de Óleo em Fonte: ANP Ao longo das décadas de 80 e 90, as refinarias nacionais sofreram continuamente diversas adaptações, também chamadas de revamps (revision and ampliation), visando ao aumento progressivo da capacidade de processamento de petróleos pesados, ao aumento na capacidade de conversão de frações pesadas e à melhoria da qualidade de derivados (Pimenta e Mello, 2005). Algum avanço foi registrado; entretanto, o crescimento da demanda interna suplantou esse pequeno acréscimo de oferta.
4 Tabela 2: Evolução do Fator de Utilização das Refinarias Brasileiras Ano Fator de Utilização (%) 89,6 87,7 84,1 90,0 89,6 90,3 91,1 89,9 90,8 90,9 Fonte: Banco de Dados ANP-2010 Tabela 3. Refinarias Brasileiras, 2012 Refinaria UF Capacidade Instalada (mil barris/dia) Operadora PRINCIPAL Mercado que abastece Ano de Operação Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP) RS 189 PETROBRAS S 1968 Refinaria Presidente Getúlio Vargas (REPAR) PR 189 PETROBRAS S e SE 1977 Refinaria Presidente Bernardes (RPBC) SP 170 PETROBRAS SE 1955 Refinaria de Capuava (RECAP) SP 53 PETROBRAS SE 1954 Refinaria de Paulínia (REPLAN) SP 365 PETROBRAS SE, CO e N 1972 Refinaria Henrique Lage (REVAP) SP 251 PETROBRAS SE 1980 Refinaria Duque de Caxias (REDUC) RJ 242 PETROBRAS SE, S, NE e N 1961 Refinaria Gabriel Passos (REGAP) MG 151 PETROBRAS SE 1968 Refinaria Landulpho Alves (RLAM) BA 323 PETROBRAS NE, S e SE 1949 Refinaria Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (LUBNOR) CE 6 PETROBRAS NE e N 1966 Refinaria Isaac Sabbá (REMAN) AM 46 PETROBRAS N 1957 Manguinhos RJ 15 Grupo Andrade SE Magro Refinaria Riograndense RS 17 PETROBRAS ULTRAPAR E S e SE 1937 BRASKEM Refinaria Clara Camarão RN 35 PETROBRAS NE 2009 Refinaria SIX Industrialização do Xisto PR 3 PETROBRAS S 1972 Univen SP - Univen Petróleo Brasil 1997 Dax Oil BA - - Brasil FUTURAS REFINARIAS Refinaria Abreu e Lima (Rnest) PE 230 PETROBRAS NE 2011 Complexo Petroquímico RJ (COMPERJ) RJ 330 PETROBRAS SE, S, NE 2012 Refinaria Premium I (PREMIUM I) MA 600 PETROBRAS NE, N 2014 Refinaria Premium II (PREMIUM II) CE 300 PETROBRAS NE 2015 TOTAL 3515 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da Petrobras, Manguinhos Refinaria, Refinaria Riograndese, Dax Oil e Univen Há uma tentativa de implantação de novas refinarias. Na próxima seção serão analisadas as cinco novas refinarias projetadas ou em construção. Elas estão projetadas para contribuir com 1315 mil barris/dia, o que equivale a aproximadamente 40% da atual capacidade instalada de refino nacional.
5 2.4 Futuras Refinarias Brasileiras: Refinaria Potiguar Clara Camarão (RPCC) A Refinaria Potiguar Clara Camarão RPCC teve suas obras iniciadas em agosto de 2009, no Polo Industrial de Guamaré no município de Guamaré no Estado do Rio Grande do Norte. Quando construída terá uma capacidade instalada de processamento de 30 mil barris/dia, além da produção de 4,5 mil barris de gasolina/dia (Focas & Ferreira, 2011). A refinaria está em fase de adequação das instalações existentes do Polo Industrial de Guamaré, que já produzia gás liquefeito de petróleo (GLP), conhecido como gás de cozinha, diesel e querosene de aviação (QAV). Ela já produz gasolina e diesel com qualidade internacional, além de nafta petroquímica (Petrobras: Fatos e dados. Refinaria do rio grande do norte recebe licenças, 2009) Complexo Petroquímico RJ (COMPERJ) Projetado em 2006, o Comperj está situado no município de Itaboraí-RJ. Inicialmente, seria uma planta petroquímica única, com capacidade de processamento de 330 mil barris/dia de óleo pesado e entraria em operação em Entretanto a Petrobras, responsável pelo investimento, mudou os planos da refinaria e o projeto passou a ter duas unidades completas de refino capazes de processar 165 mil barris/dia cada, com entrada em operação prevista para 2013 e 2018, respectivamente (Portal Petróleo Energia: Comperj poderá ser ampliado ). As duas plantas de refino irão produzir diesel, GLP, querosene, nafta, óleo combustível, coque e enxofre para o mercado nacional. Também fornecerão matéria-prima para as unidades petroquímicas, previstas para entrar em funcionamento em 2017, que irão gerar insumos básicos (eteno, propeno, benzeno, p-xileno e butadieno) e produtos petroquímicos (estireno, etilenoglicol, polietilenos, polipropileno entre outros) para o mercado nacional (Portal Petróleo Energia: Comperj poderá ser ampliado ) Refinarias Premium I e Premium II A Petrobras prevê instalar mais duas refinarias no Nordeste: a Premium I, no Maranhão, ainda com terraplanagem incompleta, e a Premium II, no Ceará, prevista para entrar em operação em 2017, com capacidade para processar 300 mil barris/dia (Portal Petróleo & Energia: Nordeste amplia refino). Quando estiverem prontas, as duas Premium e a Refinaria Abreu e Lima (outra nova refinaria) vão agregar mais 1,13 milhão de barris/dia à capacidade instalada no Nordeste. Esse acréscimo corresponderá a mais do que o triplo da atual capacidade instalada, que gira em torno de 360 mil barris/dia (somando a produção da Rlam e Lubnor, na Bahia, e de Clara Camarão, no Rio Grande do Norte). Ou seja, o Nordeste vai responder por quase a metade da produção de derivados no país. ( Novos investimentos na indústria petroquímica Opinião, Ministério da Fazenda e Nordeste amplia refino ) Refinaria Abreu e Lima A Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Suape-PE, idealizada inicialmente para ser a primeira grande parceria entre duas estatais petroleiras, uma brasileira e outra venezuelana (PDVSA), tem capacidade total para processar 230 mil barris de petróleo por dia. A Petrobras prevê que a Refinaria Abreu e Lima entrará em operação com três anos de atraso, em novembro de O empreendimento está com 55% de realização física (Valor Econômico: Refinaria Abreu e Lima sofrerá atraso de três anos, diz Graça Foster. 2012). Rnest é a primeira refinaria da Petrobras projetada para processar apenas petróleo pesado, de até 16º API, enquanto que o API médio das refinarias existentes no país é de 26º API. A princípio, 60% da carga viria do campo de Marlim, na Bacia de Campos (o maior produtor da companhia) e 40% de petróleo da Venezuela. A Rnest é planejada para produzir 79% de diesel. ( Rnest em uma planta única )
6 3 Pré-sal 3.1 Características gerais e localização Segundo a geologia, o que hoje convenciona-se chamar de pré-sal ou de sub-sal refere-se aos reservatórios abaixo de uma espessa camada de sal formada durante a separação do que hoje é a África e a América. Portanto, tal região restringe-se ao litoral brasileiro, com destaque para as Bacias de Campos e de Santos. Difere-se dos reservatórios explorados até hoje no pós-sal apenas por estes últimos apresentarem-se acima da camada de sal. Pelos testes realizados até 2012, as reservas do pré-sal são significativas na Bacia de Campos e, sobretudo, na Bacia de Santos. Na Bacia de Campos, a produção no pré-sal ocorre há 20 anos em águas rasas, mas em campos relativamente rasos e que já se encontram em processo de exaustão. Já a Bacia de Santos é o maior destaque no quesito pré-sal, na medida em que ela nunca foi muito importante por suas reservas no pós-sal não serem muito significativas, mas apresenta reservatórios surpreendentes abaixo da camada de sal. Também, é importante ressaltar que recentemente a Petrobras descobriu reservas também na Bacia do Espírito Santo. (Informativo sobre o pré-sal, IBP). Na figura 4, apresentamos um mapa onde pode-se verificar as reais dimensões da área do pré-sal. As áreas em azul são as que possuem potencial de produção na camada sub-sal. Figura 4. Localização dos Reservatórios do Pré-sal. Fonte: IBP, informativo sobre o pré-sal, acessado em 12/06/2012 Nota-se, portanto, que o foco da produção de petróleo se concentrará, sobretudo, na Bacia de Santos, e não mais na Bacia de Campos. Além disso, nota-se que as regiões onde poderá haver a exploração englobam regiões ainda mais profundas. Surge, então, um panorama de vários desafios logísticos para o futuro, sobretudo devido ao escoamento da produção. Consequentemente, a logística de escoamento da produção offshore até as refinarias ocorrerá de forma mais complexa e com preços maiores. (Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis IBP. Informativo Sobre o Pré-sal, acessado em 12/06/2012)
7 3.2 Potencial de produção Desde 2005, a Petrobras já perfurou 15 poços exploratórios na região do Pré-sal das Bacias de Campos e de Santos e os primeiros testes indicaram volumes significativos. No campo de Lula, antes chamado de Tupi, na Bacia de Santos, os testes indicam que há volumes recuperáveis estimados entre 5 e 8 bilhões de barris de óleo equivalente(óleo+gás), enquanto que no campo de Guará há volumes recuperáveis estimados entre 1,1 a 2 bilhões de barris de óleo equivalente (boe). As reservas do Campo de Lula representam entre 30% e 50% das reservas totais da Petrobras, elevando as reservas de 14 bilhões boe para 25 bilhões de boe. Alem disso, o óleo encontrado é de muito boa qualidade, apresentando densidade de 28,5ºAPI, baixa acidez e baixo teor de enxofre. (IBP) No mapa da figura 5, podem ser localizados os campos discutidos. Figura 5. Localização dos Campos de Guará e de Lula. Fonte: folha.uol.com.br, acessado em 01/09/ Panorama de investimentos O Plano de Negócios da Petrobras considera que a meta de produção para 2011 será de 2.10 milhões de barris de petróleo/dia, enquanto que em 2015 teremos uma produção de 3.07milhões barris de petróleo/dia e em 2020 uma produção de 6.42 milhões de barris de petróleo/dia. Por essas projeções, em menos de 10 anos, a produção brasileira mais que triplicará. Entretanto, todo esse aumento de produção virá de elevados investimentos em exploração e produção. Para tanto, os investimentos nesse setor subirão de 53% para 57% em relação as projeções anteriores e grande parte dos recursos será aplicado nas regiões do pré-sal. Do total de investimentos em exploração, 45% irá para o pré-sal, assim como 50% do investimento em produção. (Plano de negócios Petrobras ) Nota-se, portanto, que os investimentos dimensionados pela Petrobras para a produção das camadas subsal são robustos e refletem o panorama positivo para o crescimento substancial das reservas brasileiras.
8 3.4 Tipos de óleo De acordo com os testes realizados no campo de Tupi, encontramos óleo com densidade acima de 28,5ºAPI, baixa acidez e baixo teor de enxofre, portanto, um óleo de muito boa qualidade. Comparando-se este valor com os valores tabelados da tabela 4, conclui-se que o petróleo encontrado no pré-sal é considerado bastante leve, quase se encaixando na classificação de petróleo leve. Em março de 2012, os dados da produção de petróleo no Brasil indicam que o grau API médio foi de 23,7º, onde 8% da produção foi considerada óleo leve, 55% foi considerado óleo médio e 37% foi considerado óleo pesado. (dados da ANP, disponível em ogjla.com.br, acessado em 18/06). Como quanto mais leve o óleo, maior é sua qualidade e maior é seu valor, percebemos que o óleo do pré-sal destaca-se quanto à qualidade em relação aos óleos hoje produzidos no Brasil. Tabela 4. Classificação do petróleo de acordo com o grau API Grau API acima de 31º entre 22º e 22º entre 10 e 22º abaixo de 10º Tipo de Óleo leve mediano pesado extra-pesado 3.5 Reflexo nas n refinarias Devido às grandes distâncias da E&P de petróleo da área do pré-sal até as refinarias existentes, toda a logística deverá ser repensada. Somado a isso, vemos que o óleo produzido também será bastante diferente do que é processado nas refinarias. E, observando as projeções do quanto essa produção representará para a produção total brasileira, apontamos para a necessidade de mudanças estruturais entre o upstream e downstream. Para tanto, deverão ser analisadas diversas formas de transporte para a escolha da mais eficiente. Além disso, processos de adaptação ao novo óleo serão urgentes, bem como novas refinarias. 4 Cenários para o Futuro do Refino no Brasil O setor petrolífero brasileiro passa por um momento de transformação: óleos pesados, importação de óleo, exploração no pós-sal para um cenário de óleos mais leves, exportação de óleo e exploração no présal. Existe uma realidade adequada aos atuais padrões de produção, refino e consumo de óleo, mas não preparada para o futuro do setor em nível nacional. 4.1 Panorama Atual Durante vários anos, pouco foi investido no parque de refino brasileiro. Ao analisarmos as refinarias existentes, percebemos que a maioria delas foi construída nas décadas de 50, 60 e 70, havendo um grande período sem investimentos de infraestrutura até meados dos anos 2000 (ver tabela 3). Fatores de natureza política e econômica afetaram as refinarias, que sofrem com as pressões por parte do governo para controlar os preços dos derivados. Enquanto que o óleo cru é cotado em dólares, o preço de venda do óleo diesel e gasolina é tabelado pelo governo para evitar inflação. Desde 2000, o petróleo acumula um reajuste de 73% em nível internacional, por outro lado a gasolina teve um reajuste de apenas 16%. Como consequência a área de refino da Petrobras acumulou um prejuízo de R$ 4,59 bilhões no primeiro trimestre de 2012.
9 Entre o início de 2011 e março deste ano, a área de Abastecimento da Petrobras acumulou prejuízo líquido de R$ 14,59 bilhões (Ministério da Fazenda: Resenha Crítica). A falta de competitividade no setor, dominado quase que exclusivamente pela Petrobras, é reflexo dessa situação de intervenção do Governo na política de preços dos combustíveis. Como agente quase única no setor, a Petrobras vem investindo na ampliação e melhorias no processamento das suas refinarias segundo seu Plano de Negócios , assim como na construção de novas unidades, citadas na seção anterior. A companhia anunciou US$ 70,6 bilhões, 31% do total previsto no Plano de Negócios , para o Refino, Transporte e Comercialização. Destes, US$ 35,4 bilhões estão sendo alocados na ampliação do parque de refino. Entretanto, seguimos com um cenário de 2011 apontando que a carga processada de óleo foi de 1,88 milhões de barris por dia para uma capacidade instalada de 2,09 milhões de barris/dia, enquanto tivemos uma produção de 2.11 milhões de barris/dia. Importamos 0.33 milhões de barris/dia de óleo e exportamos 0,60. Com relação aos derivados, importamos 0,52 milhões de barris por dia e exportamos 0,23 (ANP 2011). Abaixo, tem-se a Figura 6, da evolução da produção de óleo no Brasil entre Nele podemos observar uma forte elevação entre devido às grandes descobertas da bacia de Campos, e nos últimos anos com a aberturaa do mercado em 1997, proporcionando a entrada de novas empresas nacionais e internacionais na E&P. Figura 6. Evolução da Produção de óleo brasileiras Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da BP, Geopolítica do Refino Vários são os fatores que teoricamente influenciariam na escolha de uma locação para uma refinaria. Dentre eles podemos citar a proximidade da matéria prima ou do mercado consumidor, maiores incentivos fiscais e maior infraestrutura. Porém, muitas vezes também é visto um direcionamento segundo uma certa política de governo. Historicamente as refinarias nacionais foram alocadas nas regiões de maior mercado consumidor, Sudeste e Sul (tabela 3). Fatores como incentivos fiscais e políticas de governo foram também considerados nessa alocação. Entretanto, quatro das cinco novas unidades estão projetadas estão na Região Nordeste brasileira. A justificativa da Petrobras para a localização das novas refinarias é de que os mercados consumidores de derivados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste estão em expansão. Mas por outro lado, a produção das Bacias do Sudeste-Sul, Campos e Santos, representa quase 90% da produção nacional de óleo (Figura 2). E com a produção do pré-sal, que se situa nessas Bacias, essa parcela vai se ampliar. A primeira conclusão a se tirar do exposto acima é que o Governo quer aliar o transporte de óleo cru, ao invés dos derivados, dos campos do Sudeste para o Nordeste a uma política de desenvolvimento econômico local.
10 4.3 Ampliação das Refinarias s Existentes Uma das estratégias utilizadas pelo Governo para ampliar a capacidade de refino do Brasil tem sido aumentar o fator de utilização das refinarias já existentes, com melhorias tecnológicas no processamento e implantação de novos sistemas para conferir maior flexibilidade no refino de óleos pesados e ofertar derivados de maior qualidade. A figura 7 mostra efeitos do plano do Governo. Nos últimos anos ( ), houve uma estagnação natural, visto que novas refinarias não saíram do papel. Figura 7. Evolução da capacidade total de refino das refinarias brasileiras. Fonte: elaboração própria a partir dos dados ANP 2010 Quando consideramos que o investimento do Governo na melhoria das refinarias existentes tenha tido sucesso, teremos uma capacidade instalada máxima de 2,06 milhões de barris/dia (ver tabela 3). Mas temos que levar em conta o fato de uma operação ininterrupta em capacidade máxima ser algo impraticável operacionalmente. Isso não suplantará uma projeção de produção de 3,07 milhões de barris/dia já em 2015 e de 6.42 milhões barris/dia em Novas Refinarias e Projeç ções do d cenário 2020 Outro lado da exigência de refino futuro pode ser encarado pela implantação de novas unidades. Nesse intuito estão sendo planejada/construídas 5 (cinco) novas refinarias da Petrobras mostradas na tabela 5. Elas acrescentarão em torno de 40% da capacidade atual. Deve-se destacar que essas obras se encontram atrasadas e algumas com irregularidades e problemas de planejamento e de parcerias (Ministério da Fazenda: Resenha Eletrônica. Novass altas a caminho ). Tabela 5. Futuras Refinarias Brasileiras REFINARIA UF ANO DE OPERAÇÃO¹ Capacidade Instalada (mil barris/dia) Refinaria Clara Camarão RN Refinaria Abreu e Lima PE Complexo Petroquímico RJ RJ Refinaria Premium I MA Refinaria Premium II CE Refnarias Atuais TOTAL 3515 Fonte: Plano Decenal de Expansão de Energia 2020 / Ministério de Minas e Energia. Empresa de Pesquisa Energética. Brasília: MME/EPE, ¹ Quando da idealização Assim, em um cenário otimista, teremos em 2017 uma capacidade máxima (ideal) de milhões de barris de óleo processados. Mas segundo projeções da Petrobras teremos já em milhões barris/dia. Por outro lado, não há novas unidades além da década de 2010.
11 Considerando as projeções de consumo feitas pela Petrobras (figura 8), em 2020 teremos um mercado de derivados com potencial para até milhões de barris/dia e, caso as atuais refinarias e as projetadas operem na sua capacidade máxima, teremos uma produção de 3,316 milhões de barris/dia (tabela 3). Figura 8. Projeções de crescimento do mercado de derivados de petróleo no Brasil Fonte: Plano de Negócios Petrobras Cenário A base: Brent US$ 110 para 2011 e US$ 80 para os demais anos do Plano, Preço Médio Referência produtos vendidos pela Petrobras ao longo do período do Plano de 158 R$/bbl e taxa de câmbio de R$1,73/US$. Cenário B alternativo: BrentUS$ 110 para 2011 e US$ 95 para os demais anos do Plano, Preço Médio de Referência de 177 R$/bbl e taxa de câmbio de R$1,73/US$. Considerando as projeções de produção, segundo o Plano de Negócios da Petrobras, teremos em 2020 uma produção de 6,42 milhões de barris/por dia. Isso implica que teremos um saldo de óleo cru disponível para exportação de milhões de barris/dia, o que corresponde a quase 50% da produção nacional. Isso fará do Brasil um exportador de óleo cru. Contudo a opção por exportar óleo refinado, com maior valor agregado, ainda não existe ao analisarmos os dados. A companhia anunciou, no seu Plano , US$ 70,6 bilhões, 31% do total previsto, para o Refino, Transporte e Comercialização. Destes, US$ 35,4 bilhões estão sendo alocados na ampliação do parque de refino. A título de exemplo, só a Primium I, com capacidade para 600 mil barris/dia, custará U$$ 21,8 bilhões e a totalidade das novas unidades e ampliações das antigas requer US$ 74.1 bilhões, segundo Plano Decenal de Expansão de Energia 2020, do MME. Ou seja, mantidas as metas de investimentos no refino (U$$ 35,4 bilhões até 2015 e equivalente valor para os anos seguintes), e considerando o Plano Decenal de Expansão de Energia 2020 (MME) para o setor, teríamos apenas como suprir o mercado interno de derivados. As exportações de derivados não seriam contempladas. 5 Conclusão Estamos caminhando para um panorama onde a produção de petróleo brasileira aumentará consideravelmente graças ao pré-sal. É natural pensar que devemos aumentar consideravelmente o parque de refino. Entretanto, analisando o quadro exposto neste trabalho, podemos concluir que, inserida na lógica de intervenção governamental nos preços dos combustíveis, não há nenhum grande ganho de capital vindo do refino, o que explica o déficit de derivados nacionais no mercado. À primeira vista seremos, teoricamente, capazes de alimentar o mercado nacional com a capacidade instalada no país. Pesa contra essa hipótese fatores como não cumprimento do calendário do programa da construção das novas unidades de refino, fator de utilização e especificação do óleo refinado e dos
12 derivados, uma vez que, a depender do grau de qualidade requerida dos derivados, teremos que importálos. Portanto nos dirigimos para um cenário de exportação de algo em torno de 3 milhões de barris/dia de óleo cru. A pergunta que fica: este é o futuro que queremos para nosso país? Bibliografia Atuação no pré-sal. Disponível em Acessado em 12/06/2012 Campo de Lula produzirá 5% do petróleo brasileiro no fim do ano. campo-de-lula-produzira-5-do-petroleo-brasileiro-no-fim-do-ano.shtml. Acessado em 01/09/2012. Comperj poderá ser ampliado. Dados ANP Disponível em Acessado em 10/05/2012. Focas, I. D. & Ferreira, T. F, A busca pela autossuficiência em derivados de petróleo. Publicado no 6º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS. Histórico de produção de óleo no Brasil Acessado em 10/05/2012. Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis IBP. Informativo sobre o pré-sal. Acessado em 12/06/2012 Joelmir Beting: Sine Die. Disponível em Die/161c9c f59180adce ?channel=978. Acessado em 13/06/2012 Marina Elisabete Espinho Tavares. Análise do refino no Brasil: Estado e Perspectivas uma análise cross-section. Mello, J. C. C. B. S & e Pimenta, H. L. N, MODELO DEA-SAVAGE PARA ANÁLISE DE EFICIENCIA DO PARQUE DE REFINO BRASILEIRO. Ministério da Fazenda: Resenha Eletrônica. Novas altas a caminho. Disponível em: Acessado em: 03/09/2012. Ministério da Fazenda: Resenha Eletrônica. Petrobras perde mais com refino e já zera ganhos em quatro anos. Disponível em: Acessado em: 12/06/2012. Nordeste amplia refino. Novos investimentos na indústria petroquímica - Opinião. Disponível em Acessado em 10/05/2012. Petrobras perde mais com refino e já zera ganhos em quatro anos. Valor Econômico, 18/05/2012. Disponível em Acessado em 13/06/2012 Petrobras: Fatos e dados. Refinaria do rio grande do norte recebe licenças. Disponível em: Acessado em 28/08/2012. Plano de Negócios Petrobras. Disponível em
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