LEITURA. Lucinea Aparecida de Rezende 1
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- Daniel Nobre Fragoso
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1 LEITURA Lucinea Aparecida de Rezende 1 A leitura na Escola, na Universidade, tem focalizado principalmente a palavra. Ainda que Walter Benjamin nos tenha alertado - há cerca de meio século - que nos próximos anos quem não soubesse ler imagens seria considerado analfabeto, permanecemos muito presos à palavra. Acreditando que não encontraríamos respostas significativas à questão que diz respeito à leitura feita pelos estudantes - insuficiente - se nos restringíssemos às ações no âmbito da palavra, vimos pesquisando 2 a apropriação de diferentes leituras pelos graduandos. Partimos da idéia de que a interação de leitores apaixonados, relatando experiências de suas próprias leituras, bem como o ato de ler múltiplos tipos de textos - situações essas entendidas como ambiência de leitura - podem ser significativos e provocar no graduando o desejo de ler e cultivar a leitura em sua vida. Ambiência de leitura implica, neste caso, o ato de ler e também o pensar coletiva e criticamente sobre esse ato. Para tanto se requer o conhecer leitores, poder ouvi-los e dialogar com eles de maneira a sermos levados a pensar e repensar o ato de ler e o nosso estar no Mundo. Essa idéia advém da percepção de que é importante para as crianças a vivência da leitura junto a seus familiares. Porém, se tal fato não ocorreu, a Escola/Universidade deve, ainda mais, proporcionar essa ambiência - a vivência ampla da leitura - ao aluno. Ele necessita transitar com segurança pelos espaços que correspondem a contexto, etimologia, semiologia, poesia, encantamento e descoberta no texto. Encantamento pelo revelar das palavras como nos apresentou Claver (2002), brincando com elas. Na leitura coisa séria também está presente a fantasia! 1 lucinea@uel.br 2 Leitura-paixão: o impacto de uma situação diferenciada Fases I e II UEL/PROPPG/EDU
2 Por outro lado, o mundo das idéias nos provoca e pede para ser explorado! Elas esperam por nós para serem lidas - podendo propiciar a promoção do ser humano - o avançar na compreensão e exercício da nossa humanidade. Idéias acerca das coisas e seu funcionamento, do Universo e sua (des)organização. Maneiras de ver o Mundo como a dos cientistas - homens e mulheres como Galileu Galilei, Newton, Einstein, Madame Curie e também a de inventores como os irmãos Lumière, Santos Dumont... Jeitos de ser no Mundo como nos ensinaram Jesus, Buda, Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, Nelson Mandela, para ficarmos apenas com alguns exemplos. Em resumo: expressamos continuamente e de diferentes maneiras nosso jeito de ver o ser humano e o Mundo e a essas expressões desejamos/precisamos ler. Lemos a realidade e lemos a representação da realidade nos textos.
3 DIFERENTES LEITURAS Lemos coisas diferentes de maneiras diferentes. Se olharmos para alguém e ele ou ela tiverem a testa franzida, os cantos da boca caídos, seremos levados a pensar que esse alguém está preocupado, triste. Ao estabelecermos essas ou outras relações estamos lendo o corpo, ou melhor, a expressão corporal. Do mesmo modo, quando vemos um espetáculo de dança e o achamos bonito ou feio, alegre ou triste, fazemos uma leitura das expressões dos corpos, dos movimentos, do cenário, dos sons e nos sensibilizamos. A sensibilidade despertada em nós é a manifestação da leitura feita. Lemos, como outro exemplo, o mar. Galeano (2000, p. 15) nos ajuda a explicar melhor esse tipo de leitura com seu texto A função da arte/1 : Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar! Ler é assim! Ainda quando olhamos de maneira descortinada, nosso olhar precisa de outros olhares outros textos, outras leituras - para ver melhor, mais bonito, mais completo... 3 Lemos com nossos conhecimentos prévios, nossas experiências de vida e sensibilidade apurada. Evidenciamos agora, como uma outra leitura possível, a fotografia. Fazê-lo requer o observar das luzes, formas, contrastes, texturas, cores, da composição focalizada - o recorte feito. A emoção é freqüentemente desperta frente ao claro-escuro, luz e sombra, tons pastéis ou cores fortes o instantâneo eternizado. Fotografia colorida representa mais fielmente o mundo, mas a fotografia em Preto & Branco ou monocromática nos coloca frente a uma imagem mais conceitual, onde o que importa é a nossa interpretação do mundo. 4 3 O texto e comentários de Galeano foram extraídos de REZENDE, Lucinea Aparecida de (org.). Leitura e visão de mundo: peças de um quebra-cabeça. Londrina: Atrito Art, p Portal de fotografia. Leitura de Imagens: Dicas práticas para "Ler" Fotografias. Adaptado por Ailton Tenório.
4 Benjamin Franklin, enquanto empinava uma pipa para seu filho teve uma idéia e inventou o pára-raios. Essa descoberta hoje é utilizada no mundo todo. A respeito desse invento há muito desenho, muitas palavras contando a descoberta feita. pode ser compreendida sob inúmeros aspectos. O que se passa no universo da leitura na escola? Indicadores obtidos pela observação enquanto professora que sou, pesquisas diversas (...), testes no terreno da Educação por exemplo o PISA e o ENADE -, nos dizem que os estudantes leitores vão mal. Lêem pouco e de maneira inadequada. Partindo desses indicadores venho pesquisando a leitura na Graduação há alguns anos. Esses estudos levam a pensar continuamente acerca dessa temática. Foi assim que fiz, recentemente, um curso de teatro. Interessava-me saber mais a respeito de como se processa a leitura no mundo das representações. Para a elaboração de um texto com condições de ser bem entendido, é fundamental o conhecimento da história conceitual das palavras que escolhemos, tendo-se o esforço de exprimir clareza e visão crítica, com detalhamentos. É preciso ter cuidado também para não se perder na complexidade do tema em que mergulhamos, para evitar imprecisões e mal-entendidos. Ao mesmo tempo, a descoberta do paradigma em que o texto é escrito torna-se uma condição para a interpretação. O paradigma teórico é o ambiente em que se situam os nossos conceitos. Ao mesmo tempo, é o processo de descontração e singularidade do texto, desenvolvendo uma nova dinâmica a partir deste, sem se limitar pelo paradigma em que o mesmo Acessado em
5 foi escrito, que produz a novidade: aquilo que ainda não havia sido escrito, até por não ter sido assim pensado. (ANTÔNIO INÁCIO ANDRIOLI, Internet, 2005) 5 REFERÊNCIAS ANDRIOLI, ANTÔNIO INÁCIO. Acesso em CLAVER, Ronald. Dona Palavra. São Paulo: FTD, Texto usado em sala de aula. 5 Bolsista do EED e doutorando em Ciências Sociais na Universidade de Osnabrück Alemanha.
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