Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2002/ ) RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA EMENTA TRIBUTÁRIO. REGIME DE DRAWBACK. DESEMBARAÇO ADUANEIRO. CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO. ART. 60 DA LEI Nº 9.069/95. PRECEDENTES. 1. O conceito de drawback consiste na operação de ingresso de matéria-prima em território nacional com isenção ou suspensão de impostos, para ser reexportada após sofrer beneficiamento. 2. O art. 60 da Lei nº 9.069/95 estabelece que "a concessão ou reconhecimento de qualquer incentivo ou benefício fiscal, relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal fica condicionada à comprovação pelo contribuinte, pessoa física ou jurídica, da quitação de tributos e contribuições federais". 3. Esta Corte preconiza não ser cabível a exigência de nova certidão negativa de débito no momento do desembaraço aduaneiro da respectiva importação de mercadoria, na hipótese em que já tenha sido apresentado o certificado negativo antes da concessão do benefício por operação no regime de drawback. Precedentes. 4. Recurso especial provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da SEGUNDA TURMA do Superior Tribunal de Justiça: "A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator". Os Srs. Ministros Francisco Peçanha Martins, Franciulli Netto e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Eliana Calmon. Brasília, 16 de setembro de 2004 (data do julgamento) Ministro Castro Meira Relator Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 13/12/2004 Página 1 de 7

2 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2002/ ) RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Trata-se de recurso especial interposto por Milenia S.A. - Antiga Defensa, com fulcro no art. 105, III, alíneas "a" e "c", da Constituição Federal, em face de acórdão prolatado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, resumido na seguinte ementa: "TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. REGIME DRAWBACK. APRESENTAÇÃO. CND. É legítima a exigência de Certidão Negativa de Débito (CND), para usufruir do regime fiscal drawback. Segurança denegada" (fl. 161). Opostos embargos de declaração, foram eles acolhidos em parte para o prequestionamento da matéria (fls ). Nas razões recursais, a recorrente alega negativa de vigência aos arts. 314, I, e 318 do Regulamento Aduaneiro, 142 e 149 do CTN e 462 do CPC. Sustenta, em síntese, que após ter sido concedido o drawback, na modalidade suspensão, ficando suspensa a exigibilidade do pagamento de tributos na importação de mercadorias a serem exportadas após beneficiamento ou destinadas à fabricação, complementação ou acondicionamento de outras a serem exportadas pelo prazo de um ano, prorrogável por mais um. Afirma que a Receita Federal expediu o Ato Normativo nº 22, de , que reconhece não estar vinculada a concessão dos regimes aduaneiros à comprovação de pagamento de tributos federais pelo contribuinte importador e, em face desse fato novo, caberia ao juiz apreciá-lo, podendo ser exigível a certidão negativa somente quando da concessão, e não no desembaraço aduaneiro. Aduz divergência jurisprudencial, trazendo à colação precedente desta Corte, segundo o qual a exigência de apresentação da CND somente é exigível em um dos momentos: na concessão do regime ou no seu reconhecimento. Foram apresentadas contra-razões às fls , argumentando que merece ser mantido o acórdão recorrido, porquanto "o benefício fiscal 'Drawback' gera direito adquirido nos limites e finalidade descritos no ato de concessão específico, sendo impraticável o elastério pretendido onde, com afronta ao princípio do art. 111 do CTN, deseja sobrepor o regime fiscal da isenção condicionada às regras que disciplinam o gozo desses benefícios e às que impõem o controle da regularidade fiscal dos contribuintes". Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 13/12/2004 Página 2 de 7

3 Admitido o recurso, subiram os autos a esta Corte. É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 13/12/2004 Página 3 de 7

4 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2002/ ) RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA EMENTA TRIBUTÁRIO. REGIME DE DRAWBACK. DESEMBARAÇO ADUANEIRO. CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO. ART. 60 DA LEI Nº 9.069/95. PRECEDENTES. 1. O conceito de drawback consiste na operação de ingresso de matéria-prima em território nacional com isenção ou suspensão de impostos, para ser reexportada após sofrer beneficiamento. 2. O art. 60 da Lei nº 9.069/95 estabelece que "a concessão ou reconhecimento de qualquer incentivo ou benefício fiscal, relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal fica condicionada à comprovação pelo contribuinte, pessoa física ou jurídica, da quitação de tributos e contribuições federais". 3. Esta Corte preconiza não ser cabível a exigência de nova certidão negativa de débito no momento do desembaraço aduaneiro da respectiva importação de mercadoria, na hipótese em que já tenha sido apresentado o certificado negativo antes da concessão do benefício por operação no regime de drawback. Precedentes. 4. Recurso especial provido. VOTO O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Verifica-se que a matéria foi prequestionada, bem como a divergência jurisprudencial aventada foi demonstrada nos moldes exigidos, pelo que conheço do recurso especial por ambas as alíneas. A recorrente impetrou mandado de segurança visando obter a declaração que lhe assegure o desembaraço de mercadoria importada, sob o regime de drawback. O voto condutor exarado nos embargos de declaração, complementando o julgamento da apelação, considerou ser exigível a apresentação da CND quando do desembaraço aduaneiro de mercadorias importadas sob o regime de drawback, nos termos dos seguintes fundamentos: "Não me parece tenha havido omissão no voto embargado, as razões estão fundamentadas no corpo do r. acórdão, o fato de existir o ato declaratório 22 não tem o condão para modificar o voto, até porque, entendo que é legítima a exigência de apresentação de certidão negativa de débitos por ocasião do desembaraço aduaneiro de mercadorias importadas sob o regime 'drawback', pois, na modalidade de suspensão o não preenchimento desse requisito legal implica no indeferimento da benesse fiscal. Referida exigência encontra respaldo além do veículo normativo exposto no voto, também no parágrafo 3º do art. 195 da Constituição Federal. Nem tampouco entendo Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 13/12/2004 Página 4 de 7

5 aplicável o art. 106, II, 'b', do CTN, tendo em vista que o ato normativo não é lei, assim, inaplicável à espécie. Bem como insubsistente a invocação do art. 462 do CPC, vez que já houve prolação de sentença" (fl ). Preliminarmente, cumpre ressaltar, que o conceito de drawback ("arrastar de volta" ou "arrastar para trás", em tradução literal), segundo o entendimento deste Tribunal, consiste na operação que o contribuinte se compromete à importação de mercadoria, vindo a assumir o compromisso de a exportar, após seu beneficiamento. Assim, merece reparos o acórdão regional, visto que esta Corte tem-se orientado em considerar exigível a apresentação da Certidão Negativa de Débito apenas em um dos momentos da operação drawback :ou na concessão do benefício ou no reconhecimento de que o contribuinte faz jus a ele. Por conseqüência, não é necessária a apresentação da CND no momento do desembaraço aduaneiro, na hipótese em que já houve a comprovação de regularidade fiscal anterior ao deferimento do benefício. Tal deferimento, assim, tem como pressuposto o atendimento à exigência legal, quanto à quitação dos tributos e contribuições federais, como se depreende do disposto no artigo 60 da Lei nº 9.069/95: "Art. 60. A concessão ou reconhecimento de qualquer incentivo ou benefício fiscal, relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal fica condicionada à comprovação pelo contribuinte, pessoa física ou jurídica, da quitação de tributos e contribuições federais." Nessa esteira, confiram-se as ementas dos seguintes precedentes: "TRIBUTÁRIO. REGIME DE DRAWBACK. DESEMBARAÇO ADUANEIRO. DESCABIMENTO DE APRESENTAÇÃO DE CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO. ART. 60, DA LEI Nº 9.069/95. PRECEDENTES. 1. Recurso Especial interposto contra v. Acórdão que entendeu ser legítima a exigência de Certidão Negativa de Débito para que se possa usufruir do benefício fiscal do regime drawback. 2. O art. 60, da Lei nº 9.069/95, dispõe que 'a concessão ou reconhecimento de qualquer incentivo ou benefício fiscal, relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal fica condicionada à comprovação pelo contribuinte, pessoa física ou jurídica, da quitação de tributos e contribuições federais'. 3. Não é lícita a exigência de nova certidão negativa de débito no desembaraço aduaneiro da respectiva importação, se já ocorreu a apresentação do certificado negativo antes da concessão do benefício por operação no regime de drawback. 4. Precedente das 1ª e 2ª Turmas desta Corte Superior. 5. Recurso provido" (RESP /RS, Rel. Min. José Delgado, DJU de ); "PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 13/12/2004 Página 5 de 7

6 DECLARAÇÃO. OMISSÃO NÃO CONFIGURADA. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ARTIGO 535, II DO CPC. REGIME DE DRAWBACK. DESEMBARAÇO ADUANEIRO. APRESENTAÇÃO DE CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO. ART. 60, DA LEI Nº 9.069/95. PRECEDENTES. 1. Inexiste violação ao artigo 535, II, do CPC, quando o voto condutor dos embargos de declaração enfrenta explicitamente a questão embargada. 2. Drawback é a operação pela qual a matéria-prima ingressa em território nacional com isenção ou suspensão de impostos, para ser reexportada após sofrer beneficiamento. 3. O Artigo 60 da Lei nº 9.069/95, dispõe que: 'a concessão ou reconhecimento de qualquer incentivo ou benefício fiscal, relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal fica condicionada à comprovação pelo contribuinte, pessoa física ou jurídica, da quitação de tributos e contribuições federais'. 4. Não é lícita a exigência de nova certidão negativa de débito no desembaraço aduaneiro da respectiva importação, se a mesma já foi apresentada antes da concessão do benefício inerente às operações pelo regime de drawback. 5. Recurso improvido" (RESP /RS, Rel. Min. Luiz Fux, DJU de ); "TRIBUTÁRIO - IMPORTAÇÃO - DESEMBARAÇO ADUANEIRO - DRAWBACK. 1. Entende-se por drawback a operação em que ingressa a matéria-prima em território nacional com isenção ou suspensão de impostos, para ser reexportada após sofrer beneficiamento. 2. Sistemática operacional única que exige formalidades no momento da internação da matéria-prima, dispensando-se a renovação do ritual acessório e burocrático na fase de exportação. 3. Ilegalidade quanto à exigência de certidão negativa já apresentada. 4. Recurso especial conhecido e provido" (REsp. n.º /RS, Rel. Min. Eliana Calmon, DJU de ). Registre-se, ainda, que, no presente caso, o benefício do "drawback suspensão" já foi concedido pela SECEX, conforme informações prestadas pelo próprio Delegado da Receita Federal de Rio Grande-RS (fls ). Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial. É como voto. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 13/12/2004 Página 6 de 7

7 CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEGUNDA TURMA Número Registro: 2002/ RESP / RS Números Origem: PAUTA: 16/09/2004 JULGADO: 16/09/2004 Relator Exmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRA Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro FRANCIULLI NETTO Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. EUGÊNIO JOSÉ GUILHERME DE ARAGÃO Secretária Bela. BÁRDIA TUPY VIEIRA FONSECA AUTUAÇÃO ASSUNTO: Execução Fiscal CERTIDÃO Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator." Os Srs. Ministros Francisco Peçanha Martins, Franciulli Netto e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Eliana Calmon. O referido é verdade. Dou fé. Brasília, 16 de setembro de 2004 BÁRDIA TUPY VIEIRA FONSECA Secretária Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 13/12/2004 Página 7 de 7