MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

Transcrição

1 PROCESSO PGT/CCR/PP/Nº 8248/2013 INTERESSADO 1: SUSCITANTE: DR. LUCIANO ZANGUETTI MICHELÃO (PRT DA 15ª REGIÃO PTM DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO) INTERESSADO 2: SUSCITADA: DRA. CINTHIA PASSARI VON AMMON (PRT DA 15ª REGIÃO PTM DE RIBEIRÃO PRETO) ASSUNTO: Conflito de Atribuição (Conflito Negativo de Atribuições entre a PRT 15ª Região) CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÕES. LOCAL DO DANO. Define-se a competência para atuação ministerial pelo local do dano, que, no caso, ocorre no âmbito da jurisdição da PTM de São José do Rio Preto. Conflito de atribuições que se decide pela competência do Suscitante. I RELATÓRIO Trata-se de conflito negativo de atribuições suscitado pelo Procurador do Trabalho Luciano Zanguetti Michelão, lotado na PTM de São José do Rio Preto, integrante da jurisdição da PRT da 15ª Região, por entender que não há evidências nos autos, de que as irregularidades continuem a ocorrer na área de atribuição da PTM em São José do Rio Preto (fl. 39). Argumenta, ainda, que a investigada não mantém nenhum estabelecimento filial na área de atuação da PTM e, ainda, que os fatos que ensejaram a autuação do presente procedimento ocorrem, igualmente, na região de Penápolis, onde encontra-se 1

2 instalada uma filial (fl. 40). MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO A manifestação da Suscitada quanto aos fundamentos do presente conflito negativo de atribuições estão a fls. 43/49, que articula com a legislação específica e com a OJ 130 da SDI-II/TST para sustentar, em síntese, que:... a atribuição para a condução da investigação e o eventual ajuizamento da ação civil pública é concorrente dos membros lotados nas Procuradorias do Trabalho cujas circunscrições abranjam o local do dano. Neste caso, é certo que, na situação que se delineou até o momento, o reclamante laborou nos municípios de Penápolis, Magda e Floreal, tendo permanecido alojado no Município de Votuporanga, locais estes abarcados pelas circunscrições das PTM s de São José do Rio Preto e de Araçatuba. Igualmente, não há qualquer notícia nos autos de que o dano tenha se estendido à região de Ribeirão Preto, razão pela qual não se vislumbra atribuição dos membros desta unidade para a adoção de qualquer medida judicial ou extrajudicial. (fl. 48) É, em síntese, o relatório. II - ADMISSIBILIDADE Por estarem atendidos os pressupostos previstos no art. 3º da Resolução nº 69/2007 do CSMPT - arguição do conflito no prazo prescrito e manifestação de suscitante e suscitada, com suas razões quanto às posições adotadas no tocante ao tema em debate -, recebo o presente conflito negativo 2

3 de atribuições, com fulcro no art. 103, inciso VI, da Lei Complementar nº 75/1993. III VOTO O presente processo iniciou-se com a remessa pelo Exmo. Sr. Juiz Titular da Vara do Trabalho de Votuporanga de peças da reclamação trabalhista ajuizada contra a empresa Serrafértil Logística e Transportes Ltda. que relata jornada excessiva de trabalho, sem concessão dos intervalos legais para descanso (fls. 02/18). Consta também da reclamação a empresa Noble Brasil S/A, condenada subsidiariamente quanto às parcelas devidas apenas no período consignado na sentença. O processo foi encaminhado à PTM de São José do Rio Preto (fl. 24) para análise de eventual conexão com os processos listados. Procedida a análise, o Órgão oficiante nos processos referidos disse não haver qualquer prevenção por conexão, pertinência ou aproximação temática do presente com os procedimentos apontados, que têm como investigada a empresa Noble Brasil S/A (fls. 25/27 e 28). Com essas informações, os autos retornaram à PTM de Ribeirão Preto, sendo distribuídos à Procuradora do Trabalho, Dra. Cinthia Passari von Ammon, que exarou o despacho de fls. 31/33, devolvendo o feito à PTM de São José do Rio Preto, com fundamentos que, invocando a Lei nº 7.347/85 e a Resolução nº 69/2007, concluem no seguinte sentido: 3

4 Ocorre que a Representação não faz qualquer menção no sentido de que estejam ocorrendo irregularidades trabalhistas no âmbito do Município de Ribeirão Preto. Ao contrário, é possível extrair dos depoimentos colhidos em juízo que o trabalho, e via de consequência a irregularidade noticiada na denúncia concernente à duração do trabalho, ocorreu na região de Penápolis e de Votuporanga (fls. 03/06). Portanto, em locais que não integram a área de atribuição da PTM em Ribeirão Preto. O fato de a sede da empresa Serrafértil Logística e Transportes localizar-se no Município de Ribeirão Preto, por si só, não tem o condão de atrair à PTM/Ribeirão Preto a atribuição investigatória ou para tomada de qualquer medida judicial adequada ao caso. (fls. 32/33) Ato seguido, o Procurador do Trabalho designado para atuar na PTM de São José do Rio Preto, Dr. Luciano Zanguetin Michelão, suscita conflito negativo de atribuições, mediante as seguintes razões, verbis:... não há evidências, nos autos, de que as irregularidades continuem a ocorrer na área de atribuição da PTM de São José do Rio Preto. Nesse sentido, cabe mencionar que o Juízo sentenciante reconheceu que o contrato de prestação de serviços firmado entre Serrafertil Logística e Transportes Ltda. ME. e Noble S/A encerrou-se em 15/05/2011, o que leva à conclusão que, a partir daí, ocorreu a cessação da irregularidade na área territorial do Município de Votuporanga. Tanto assim, que a autoridade judiciária representante encaminhou a notícia de fato diretamente à PTM com atuação na área da sede da empresa representada, ou seja, para a PTM de Ribeirão Preto. Por outro lado, a representada não mantém nenhum estabelecimento filial na área de atribuição desta PTM de São José do Rio Preto, o que dificulta sobremaneira a produção de provas; seguramente, a condução das investigações pela unidade ministerial com atribuição no local da sede da denunciada, trará celeridade e evitará eventuais discussões processuais quanto à competência, caso seja necessário o acionamento do Poder Judiciário. 4

5 Ademais, verifica-se que os fatos que ensejaram a autuação do presente procedimento ocorreram, igualmente, na região de Penápolis, onde encontra-se instalada uma filial, conforme se vê dos documentos de fls. 11/12, de modo que os danos não se limitam, em absoluto, à área de abrangência da PTM de São José do Rio Preto, não atraindo, portanto, a condução do inquérito civil a um dos Membros aqui lotados. Por derradeiro, a C. Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho vem decidindo pela atribuição do Membro lotado na PTM onde localizada a sede da empresa, nas hipóteses em que os danos ultrapassem a área territorial de sua sede. (fls. 39/40) A Suscitada, invocando a Lei n 7.347/85 (art. 2º), o CDC (art. 93, I), a OJ 130 da SDI-II/TST, assim como Precedentes deste Colegiado, refuta as razões aduzidas pelo Suscitante, concluindo que: Assim, pelo critério ora delineado, a atribuição para a condução da investigação e o eventual ajuizamento da ação civil pública é concorrente dos membros lotados nas Procuradorias do Trabalho cujas circunscrições abranjam o local do dano. Neste caso, é certo que, na situação que se delineou até o momento, o reclamante laborou nos municípios de Penápolis, Magda e Floreal, tendo permanecido alojado no Município de Votuporanga, locais estes abarcados pelas circunscrições das PTM s de São José do Rio Preto e de Araçatuba. Igualmente, não há qualquer notícia nos autos de que o dano tenha se estendido à região de Ribeirão Preto, razão pela qual não se vislumbra atribuição dos membros desta unidade para a adoção de qualquer medida judicial ou extrajudicial. Noutras palavras, insiste-se que, pelo critério da prevenção, em sendo o dano constatado, inicialmente, em determinada localidade, será prevento para atuar o Procurador do Trabalho da unidade em que ocorreu o dano. No caso, a constatação do dano ocorreu em municípios abarcados pelas circunscrições da PTM de São José do 5

6 Rio Preto (cidades de Magda, Floreal e Votuporanga) e da PTM de Araçatuba (cidade de Penápolis). (fl. 47) Constata-se, de início, que dos documentos encaminhados ao Órgão ministerial, consta que o reclamante prestou serviços em empresas localizadas nos municípios de Penápolis, Magda e Floreal e que morava em alojamento na cidade de Votuporanga (fl. 03). Na sentença, consta também que este passou a trabalhar nesta cidade após uns trinta dias da contratação (fl. 14verso). É certo que, ao assim se posicionar, estava referindo-se ao contrato de trabalho mantido com a investigada. Conforme assinalado pela Suscitada, a cidade de Votuporanga se situa no âmbito de atuação da PTM de São José do Rio Preto. De igual forma, as cidades de Magda e Floreal, o que atrai a investigação do presente para aquela PTM. Não se trata aqui de dano regional, uma vez que a notícia em questão se limita àquelas localidades, o que afasta a incidência dos precedentes desta Câmara, invocados no particular, mantendo-se o seu entendimento consolidado quanto a ser competente a unidade ministerial cuja jurisdição englobe o município em que ocorre o dano noticiado. E, ainda que se considere a referência feita ao município de Penápolis, este se situa no âmbito da atuação da PTM de Araçatuba, a que não se refere o presente. De toda sorte, ainda que se considere o dano regional, dada a esta circunstância, isto não afastaria a da atuação da PTM de São José do Rio 6

7 Preto, por estar preventa. Nessas condições, sequer incidem os Precedentes da CCR invocados. De outro lado, ressalto que a Suscitada observa que não há qualquer notícia nos autos de que o dano tenha se estendido à região de Ribeirão Preto, razão pela qual não se vislumbra atribuição dos membros desta unidade para a adoção de qualquer medida judicial ou extrajudicial (fl. 47). Importante observar que o próprio Suscitante diz, em seu despacho de fls. 39/40, que não há evidências, nos autos, de que as irregularidades continuem a ocorrer na área de atribuição da PTM em São José do Rio Preto, reconhecendo, portanto, que o dano ali se originou. A falta de evidências de sua continuidade em nada influencia o presente, uma vez que a circunstância deve estar constatada nos autos, o que exige a ocorrência de investigação a respeito. Por outro lado, também não afeta essa constatação, o fato assinalado pelo Suscitante de que a sentença limita a responsabilidade subsidiária da reclamada Noble S/A, uma vez que nada nos autos permite que se conclua que a permanência do reclamante na localidade se deu enquanto vigente o contrato de trabalho. Tanto é assim, que a condenação ultrapassa o período de responsabilidade subsidiária assinalada. Diante do contexto exposto, decido pela competência do Suscitante para conduzir a presente investigação. 7

8 IV - CONCLUSÃO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Isto posto, recebo o presente conflito negativo de atribuições e decido pela competência do Procurador do Trabalho, Dr. Luciano Zanguetti Michelão, Suscitante. Brasília, 29 de maio de Eliane Araque dos Santos Relatora 8