DEGRADABILIDADE "IN SITU" E DIGESTIBILIDADE "IN VIVO" DO RESÍDUO DO PRÉ-PROCESSAMENTO DA SOJA (Glycine max (L.) Merrill)
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- Luciana Aragão Sales
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1 DEGRADABILIDADE "IN SITU" E DIGESTIBILIDADE "IN VIVO" DO RESÍDUO DO PRÉ-PROCESSAMENTO DA SOJA (Glycine max (L.) Merrill) RESUMO - Estudou-se a degradabilidade in situ do resíduo de soja (RS) utilizando-se 2 bovinos machos fistulados no rúmen. A alimentação constou de silagem de milho (SM), milho moído, RS e uréia. Quatro gramas de RS acondicionados em sacos de náilon foram incubados por 3, 6, 12, 24, 48 e 96 horas. Estimou-se a degradabilidade potencial (Dp) e efetiva (De) da MS e PB. Realizou-se, também, estudo de digestibilidade convencional com bovinos. A ração básica constituiu-se de SM e uréia. O RS foi testado em 4 níveis (0; 14,6; 27,5; 46,7%). O delineamento ANTONIO FERNANDO BERGAMASCHINE 1 WALTER VERIANO VALÉRIO FILHO 2 EDSON FERREIRA DUARTE 3 estatístico usado foi o de blocos casualizados, sendo 4 tratamentos e 6 repetições. A Dp, De e taxa de degradação foram: 80,7; 54,4% e 0,0479/h para MS; 92,6; 67,7% e 0,0815/h para PB. O RS afetou (P < 0,01) os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes; observando-se efeito quadrático para MS, PB, FB e NDT, e linear para EE e EÑN. Estimou-se a digestibilidade da MS do RS em 52% e o valor do NDT em 61,0%. Concluiu-se que o RS é um alimento protéico, com proteina de alta taxa de degradação, mas de médio valor energético. TERMOS PARA INDEXAÇÃO: Resíduo de soja, degradabilidade in situ, digestibilidade in vivo. IN SITU DEGRADABILITY AND IN VIVO DIGESTIBILITY OF SOYBEAN RESIDUES ABSTRACT - In situ degradability of the soybean residue (SR) was measured using two male bovines with their rumen fistulated. The feeding was corn silage (CS), corn ground, SR and urea (U). Four gram of SR packed in nylon bag were incubated by 3, 6, 12, 24, 48 and 96 hours. The potential (PD) and effective (ED) degradability were evaluated DM and CP. In vivo conventional digestibility (D) was also investigated in bovine. The basic ration was CS and urea. The SR was proved in four levels (0; 14,6; 27,5; 46,7%). The statistic design was randomized INDEX TERMS: Soybean residues, in situ degradability, in vivo digestibility. blocks with four treatments and six repetitions. The PD, ED and degradation rate were 80,7%, 54,4% and 0,0479/h for DM; 92,6%; 67,7% and 0,0815/h for CP. The SR affected (P < 0,01) digestibility coefficient of the nutrients. Quadratic effect was observed for DM, CP, CF and TDN, and linear for EE, ÑNE. The digestibility coefficient of the DM and TDN value of SR was 52,0% and 61,0%, respectively. The SR may be classified as a proteic food with protein of the high degradation rate, but with mean energetic value. INTRODUÇÃO Os fragmentos de plantas, grãos quebrados, imaturos, atacados por insetos e/ou doenças, "ardidos", danificados por intempéries, sementes de plantas invasoras e torrões e parte da casca dos grãos de soja que se solta após a secagem dos grãos, formam o que se tem denominado de resíduo de soja. Este resíduo vem sendo intensamente utilizado na alimentação de ruminantes, principalmente em rações para confinamento, pelos produtores ou pecuaristas das regiões produtoras de soja. Por ser um subproduto, o custo de produção deste resíduo é nulo. Além disso, por estar disponível próximo dos pecuaristas, o custo com transporte é baixo. O desempenho animal depende em grande parte do balanceamento adequado de sua dieta. Assim, tornase imprescindível o perfeito conhecimento do valor nutritivo dos ingredientes que compõem a referida dieta. 1. Docente do Departamento de Zootecnia da FEIS/UNESP, Caixa Postal Ilha Solteira - SP. 2. Docente do Departamento de Matemática da FEIS/UNESP. 3. Graduando do Curso de Agronomia da FEIS/UNESP.
2 725 No entanto, informações técnico-científicas sobre o valor nutritivo desse subproduto são escassas. De acordo com Boin (1992), o resíduo de prélimpeza da soja apresenta: matéria seca 87%, nutrientes digestíveis totais 76%, proteína bruta 30%, fibra bruta 17,5% e extrato etéreo 10%. O objetivo deste experimento foi determinar a composição bromatológica, a degradabilidade e a taxa de degradação ruminal in situ e a digestibilidade in vivo dos nutrientes do resíduo de soja. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido na Seção de Produção Animal da Fazenda de Ensino e Pesquisa da FEIS - UNESP, no município de Ilha Solteira - SP. O resíduo de soja (RS) foi obtido junto à Fazenda Campo Bom em Mato Grosso do Sul, e previamente submetido à análise física com auxílio de lupa, para identificação e quantificação dos componentes do resíduo, bem como à análise bromatológica. Para a determinação da degradabilidade, foram utilizados dois bovinos machos com peso médio de 550kg, com cânulas permanentes no rúmen. Os animais foram mantidos em baias individuais, recebendo uma dieta à base de silagem de milho, milho moído, RS e uréia, uma vez ao dia, às 8 horas. A dieta foi balanceada de modo a suprir energia metabolizável e nitrogênio degradável no rúmen (ARC, 1984) ao nível de 1,5 vezes as exigências de mantença. Após um período de adaptação de vinte e um dias, 4g de RS moído a 2mm foram incubados no rúmen, em sacos de náilon com medidas de 18,0 8,0 cm e tamanho médio do póro de 36 micra. As quantidades remanescentes foram determinadas nos tempos de 3, 6, 12, 24, 48, e 96 horas de fermentação. Esse procedimento foi repetido por três vezes consecutivas, obtendo-se assim, seis observações para cada tempo de incubação. Nos resíduos da incubação, foram determinadas a matéria seca e proteína bruta, de acordo com Silva (1981). O modelo proposto por Orskov e McDonald (1979) foi utilizado para estimar a degradabilidade potencial: Dp = a + b(1-e -ct ) e degradabilidade efetiva: De = a + (bc) / (c + k). Sendo que a representa a fração solúvel e, portanto, prontamente degradável, b a fração potencialmente degradável em função do tempo e c a taxa de degradação da fração b. Os coeficientes a, b e c foram estimados a partir das degradabilidades parciais utilizando-se o programa DESAP 1 de Fernandez (1990). Considerou-se a taxa de passagem (k) de 5% própria para animais em crescimento/engorda (ARC, 1984). Para a determinação da digestibilidade in vivo, utilizou-se o método da coleta total de fezes. Foram utilizados 6 bovinos machos da raça Guzerá com aproximadamente 200 kg de peso vivo, previamente vacinados e tratados com vermífugos. Durante o período de coleta, os animais foram mantidos em gaiolas de madeira individuais, equipadas com comedouro e bebedouro automático. Os animais foram alimentados duas vezes ao dia, às 7 e 15 horas. A ração básica foi constituída de silagem de milho e uréia. O RS foi testado em 4 níveis (0; 14,6; 27,5; 46,7% da MS da dieta), constituindo 4 tratamentos. No Quadro 5 encontra-se a composição bromatológica das rações correspondentes aos tratamentos. Adotou-se um período inicial de 21 dias para adaptação ao confinamento e à silagem de milho em baia coletiva. O período de adaptação aos tratamentos foi de 14 dias, seguidos de 7 dias de coleta total de fezes, sendo que os animais entraram nas gaiolas 3 dias antes dos início da coleta. Nos períodos de adaptação, as dietas foram fornecidas à vontade, e o consumo médio individual dos últimos sete dias do período de adaptação aos tratamentos foi tomado como referência para ajustar o fornecimento no período de coleta, de modo que as sobras fossem mínimas. A coleta de fezes teve início 24 horas após o início do período de coleta considerado, sendo realizada diariamente as 7h30min e as 16h30min, registrando-se a quantidade diária excretada por animal. Após homogeneização, uma alíquota de 10% foi retirada e armazenada a -10 C. No final de cada período de coleta, após o descongelamento, foram obtidas amostras compostas por animal. As amostras da silagem, do RS, das sobras e das fezes foram submetidas às análises de matéria seca, proteína bruta, fibra bruta, extrato etéreo e cinzas, conforme recomendação de Silva (1981). O delineamento estatístico adotado foi o de blocos casualizados, com 4 tratamentos e 6 repetições. Os coeficientes de digestibilidade foram determinados na ração básica (silagem de milho + uréia) na ração total (silagem de milho + três níveis de RS), sendo os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes do RS calculados por diferença (Silva e Leão, 1979), ou seja, excluindo o efeito da silagem sobre o coeficiente de digestibilidade da ração total. Também foram utilizadas equações algébricas (Silva e Leão, 1979), usandose a ração básica como referência. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerações sobre o resíduo de soja No Quadro 1 estão inseridos os dados referentes à análise física de RS. Observa-se que a presença de grãos de soja é de 42,20%, mostrando que se trata de um subproduto com elevado valor nutritivo.
3 726 Segundo informações obtidas na Fazenda Campo Bom, o RS pode representar 2% do peso total da soja colhida, sendo que fatores como umidade, no momento da colheita, nível de infestação da lavoura por plantas daninhas e regulagem das colheitadeiras interferem na composição física e na quantidade do RS. Menor umidade no momento da colheita pode ocasionar maior quebra de grãos, aumentando sua porcentagem no resíduo. Alta infestação por plantas invasoras deverá produzir um resíduo com maiores porcentagens de sementes e outras partes dessas plantas. De acordo com seus teores de proteína bruta e fibra bruta (Quadro 2), o RS pode ser classificado como concentrado protéico. O teor de extrato etéreo é relativamente alto e reflete a alta porcentagem de fragmentos de grãos. O teor de cinza também é alto e provavelmente seja devido à contaminação com terra. Essa composição é semelhante à citada por Boin (1992). Degradabilidade in situ As porcentagens de desaparecimento da matéria seca e da proteína bruta do RS, em função dos tempos de incubação, são apresentadas no Quadro 3. Com três horas de incubação, 33,81% da matéria seca do resíduo já havia desaparecido do saco de náilon, o que pode indicar a existência de uma fração solúvel alta, ou uma fração de degradação rápida. Entre três e 12 horas, o desaparecimento foi mais lento, indicando a existência de uma fração protéica de degradação mais lenta. Com 24 horas de incubação, o desaparecimento atingiu 71,05%, que representa 84,5% do total. A partir de maiores tempos de incubação (48 e 72 horas), a degradabilidade ocorreu em proporções menores, indicando proximidade do ponto assintótico da curva de degradação, que indica o máximo de degradação. A Figura 1 ilustra a cinética da degradação ruminal. Quanto à proteína bruta, observa-se que o resíduo de soja tem proteína de alta degradabilidade, pois às 24 horas de incubação o desaparecimento foi de 86,76%. Valadares Filho et al. (1991), trabalhando com farelo de soja, encontraram valores inferiores, o que pode ser explicado pelo tratamento térmico, que reduz a solubilidade e, portanto, a degradabilidade ruminal. Os valores apresentados no Quadro 4 referem-se aos coeficientes a, b e c, que compõem o modelo proposto por Orskov e McDonald (1979), bem como à degradabilidade potencial estimada para 48 horas de incubação e à degradabilidade efetiva estimada para uma taxa de passagem de 0,05/h. O valor do coeficiente a para matéria seca foi semelhante ao da fração solúvel em água, mas ambos foram inferiores ao da fração que saiu do saco de náilon nas três primeiras horas de incubação (Quadro 3). Isso indica que a degradação bacteriana iniciou-se já nas primeiras horas, caracterizando um tempo de colonização inferior a 3 horas. A taxa de degradação (c) da fração b foi estimada em 4,79% e possibilitou calcular a degradabilidade potencial de 80,71% e a efetiva de 54,45%. Trabalhando com resíduo de soja, Bergamaschine, Andrade e Alves (1994) obtiveram valores inferiores: 66,70% e 44,90%, respectivamente, para Dp e De. Para proteína bruta, a alta taxa de degradação (8,15%) da fração b permitiu obter valores elevados para degradabilidade potencial (92,66%) e efetiva (67,70%). Bergamaschine, Andrade e Alves (1994) obtiveram 71,40 e 43,90%, respectivamente. QUADRO 1 - Análise física do resíduo de soja seco ao sol. Repetições Composição Componentes (%) Terra 0,90 0,80 1,00 1,05 1,88 Caule de soja 2,00 4,25 2,70 1,20 5,07 Casca de soja 2,15 1,90 2,05 2,20 4,15 Palha de vagem de soja 13,50 13,25 13,50 12,70 26,48 Grão de soja(bandinhas) 21,50 18,90 21,20 22,80 42,20 Outros caules 1,95 3,60 2,05 1,55 4,57 Sementes diversas 8,00 7,30 7,50 8,50 15,65
4 727 QUADRO 2 - Composição bromatológica da silagem de milho, resíduo de soja e uréia. Ingredientes MS PB EE FB EÑN CZ % % MS Silagem de milho 37,50 6,67 3,48 25,20 59,46 5,66 Resíduo de soja 95,00 25,05 11,49 17,17 36,15 10,12 Uréia 98,00 275, FDN FDA HEM CEL LIG % MS Silagem de milho 61,72 34,36 27,36 24,61 6,88 Resíduo de soja 28,86 20,02 8,66 13,10 6,00 QUADRO 3 - Desaparecimento (%) da matéria seca e da proteína bruta do resíduo de soja (média de 6 observações: 2 animais x 3 corridas). Tempos de incubação (horas) Matéria seca 33,81 37,59 46,60 71,05 79,82 84,14 Proteína bruta 42,41 48,81 66,19 86,76 92,17 95,30 QUADRO 4 - Coeficientes (a, b, c), coeficiente de determinação (R 2 ), degradabilidade potencial (Dp), degradabilidade efetiva (De), solubilidade em água (S) da matéria seca (MS) e proteína bruta (PB) do resíduo. Coeficientes Dp De S a (%) b (%) c (/h) R 2 % MS 23,15 63,99 0,0479 0,97 80,71 54,45 23,44 PB 27,76 69,29 0,0815 0,99 92,66 67,70 20,64
5 728 Degradação (%) Tempo de incubação (h) MS (%) PB (%) FIGURA 1 - Cinética da degradação ruminal da matéria seca e proteína bruta do resíduo de soja. Digestibilidade das rações A composição bromatológica das rações encontra-se no Quadro 5. Os valores dos coeficientes de digestibilidade da matéria seca (MS), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra bruta (FB) e extrativo não nitrogenado (EÑN) das rações experimentais estão inseridos no Quadro 6. Os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes da ração básica (silagem de milho + uréia) foram semelhantes àqueles obtidos por Vieira, Faria e Andrade (1980), trabalhando com silagem pura, e aos obtidos por Purger e López (1980), com silagens produzidas com e sem aditivo nitrogenado. No entanto, Pereira et al. (1993) encontraram valores menores para digestibilidade, principalmente da proteína bruta, o que provavelmente seja devido à falta de suplementação protéica, visto que Lima et al. (1991), suplementando a silagem de milho com fonte protéica, obtiveram digestibilidade ao redor de 70% para a matéria seca e 80% para proteína bruta. Os níveis de resíduo de soja afetaram significativamente (P < 0,01) os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes das rações, exceto para o extrato etéreo (P > 0,05). Observa-se efeito quadrático significativo (P < 0,01) dos tratamentos para matéria seca, proteína bruta, fibra bruta e nutrientes digestíveis totais. As frações extrato etéreo e extrativo não nitrogenado demonstraram efeito linear significativo (P < 0,05) e (P < 0,01) de tratamento, respectivamente. É possível que o teor de lignina tenha sido a causa dessa redução na digestibilidade, pois 58% do peso do resíduo é constituído de fragmentos da planta de soja e de outras espécies, que na época da colheita apresentam-se amadurecidas e portanto alteramente lignificadas. No entanto, houve diferença significativa (P < 0,01) entre as rações contendo RS, sendo o nível de 27,5% o que mais afetou a digestibilidade da matéria seca. Assim, para se atribuir a causa à lignina, o nível de 46,7% de RS deveria causar um efeito maior; além disso, o teor de lignina no RS mostrou-se ligeiramente inferior ao da silagem de milho (Quadro 2). Porém, o teor de extrato etéreo das rações pode ter reforçado o efeito depressor da lignina. Vieira et al. (1981) verificaram que a adição de 4% de óleo à ração acarretou decréscimo na digestibilidade da celulose. Os níveis crescentes de proteína bruta das rações não apresentaram um efeito bem definido sobre a digestibilidade da proteína. No entanto, excluindo-se da comparação, a ração com nível zero de RS, mas com uréia, observa-se aumento linear da digestibilidade da proteína, com o aumento do seu nível na ração, devido à quantidade crescente de RS. Alguns autores (Okamoto et al., 1985; Cardoso, Silva e Euclides, 1991) observaram aumento no coeficiente de digestibilidade aparente da proteína bruta em resposta a níveis crescentes desse nutriente na dieta.
6 729 QUADRO 5 - Composição bromatológica das rações. Níveis de resíduo de soja (%MS das rações MS (%) PB EE FB EÑN CZ % na MS 0 35,93 11,00 3,13 25,89 60,76 5,63 14,6 41,18 13,01 5,11 23,77 55,96 5,92 27,5 45,03 14,97 5,47 22,49 53,02 7,40 46,7 54,41 18,24 6,86 21,95 48,21 7,47 QUADRO 6 - Valores médios dos coeficientes de digestibilidade(%) dos nutrientes das rações, com diferentes níveis de resíduo de soja (RS) e equações de regressão. Coeficiente Digestibilidade Níveis de Resíduo de Soja 0 14,6 27,5 46,7 CV 1 (%) P < F 2 MS 61,85 58,72 55,52 58,18 2,92 0,00012 PB 67,02 63,23 67,57 74,46 2,93 0,00001 EE 78,64 80,39 80,98 81,53 2,73 0,15288 FB 51,35 45,14 48,58 59,27 6,04 0,00002 ENN 72,43 69,66 61,10 58,12 2,35 0,00001 NDT 70,24 67,11 63,36 67,20 2,24 0, Coeficiente de variação. 2 Probabilidade no teste F para tratamento. Equações de Regressão P R 2 MS y = 62,1412-0,3884x + 0,0064x 2 0, ,6 PB y = 66,5731-0,2735x + 0,0096x 2 0, ,2 EE y = 79,0730-0,0593x 0, ,9 FB y = 51,0077-0,5598x + 0,0159x 2 0, ,0 EÑN y = 72,6661-0,3305x 0, ,6 NDT y = 70,5359-0,4353x + 0,0076x 2 0, ,2
7 730 Os níveis de RS proporcionaram aumentos nos teores de extrato etéreo das rações, que refletiram num crescimento linear na digestibilidade desse nutriente. Esse resultado também foi observado por Vieira et al. (1981). Segundo Palmquist (1991), o aumento da digestibilidade de extrato etéreo observado com o aumento dos seus teores na dieta é atribuído, principalmente, a uma diluição da fração extrato etéreo de origem endógena. O comportamento da digestibilidade da fibra bruta pode ser reflexo dos teores de extrato etéreo. De acordo com Andrade et al. (1990), o extrato etéreo tem efeito depressor sobre a digestibilidade da fibra. Vieira et al. (1981) verificaram que a presença de óleo na ração possui um efeito protetor sobre a fibra, impedindo a ação das bactérias celulolíticas no rúmen. Entretanto, os crescentes níveis de proteína bruta das rações com a adição de RS forneceram suficiente quantidade de proteína degradável no rúmen, estimulando o crescimento da população microbiana e, assim, podendo ter superado o efeito depressivo do extrato etéreo e, portanto, melhorando a digestibilidade da fibra. Figroid, citado por Vieira et al. (1981), observaram que o nível de óleo nas rações para bovinos não deve exceder a 5%, e segundo Boin (1992), o teor desse nutriente não deve ultrapassar 6% da matéria seca da ração. Trabalhando com rações isoproteicas, Ludovico e Mattos (1997) observaram queda na digestibilidade da fibra quando o teor de extrato etéreo da ração atingiu 6,74%. No presente estudo, o teor de extrato etéreo variou de 3,13 a 6,86%. O decréscimo na digestibilidade do extrativo não nitrogenado está relacionado com a queda dos seus teores nas rações, provocada pela adição do RS com menor teor deste nutriente. De acordo com Schneider e Flatt (1975), a digestibilidade aparente de nutrientes não estruturais, como proteína, extrato etéreo e extrativos não nitrogenados, varia com seus teores no alimento ou ração, principalmente em função dos produtos metabólicos que aparecem nas fezes. A queda nos valores do NDT é explicada pelo menor valor do extrativo não nitrogenado do RS e pela queda na digestibilidade do mesmo. A recuperação do NDT, com o nível de 46,7% de RS, pode estar relacionada com a melhora na digestibilidade da proteína e da própria fibra. O NDT da silagem mais uréia (nível zero de RS) foi superior aos das dietas contendo RS, sugerindo, assim, um efeito depressor do RS sobre o valor energético da ração. Estimativa da digestibilidade do Resíduo de Soja No Quadro 7 são apresentadas as estimativas dos coeficientes de digestibilidade do RS estimados pelo método por diferença, utilizando a ração básica (nível zero) como referência. No Quadro 8 são apresentados os coeficientes de digestibilidade obtidos pelo método de equações algébricas, utilizando a ração básica (silagem + uréia) como referência. Verifica-se que os coeficientes de digestibilidade obtidos pelo método de diferença apresentaram valores semelhantes aos obtidos pelo método de equações algébricas. A estimativa do coeficiente de digestibilidade da fibra bruta do RS aparece com valor negativo, fato que biologicamente é impossível. Tratase de um efeito associativo acentuado, em que a presença do RS deprime a digestibilidade da fibra da silagem e pela forma de cálculo o aumento na excreção de fibra (da silagem) é creditado ao RS. O uso de regressão linear é outro método para se estimar a digestibilidade de alimentos que não podem ser fornecidos exclusivos. A estimativa da digestibilidade da matéria seca do RS, através da equação y = 60,45-0,0846x, resultou no valor de 51,99%. Para os nutrientes digestíveis totais, através da equação y = 68,62-0,0740x, obteve-se o valor de 61,22%. Embora possam ocorrer dados biologicamente impossíveis, conforme descreve Schneider e Flatt (1975), o efeito associativo encontrado neste trabalho não permite a utilização com segurança dos valores estimados, para cálculo de rações. QUADRO 7 - Estimativa dos coeficientes de digestibilidade do resíduo de soja pelo método de diferença. Níveis de RS (% MS) MS% PB% EE% FB% EÑN% 14,6 40,35 53,86 83,44-11,88 42,68 27,5 38,82 68,25 82,84 38,46 11,58 46,7 54,02 78,65 82,70 72,21 34,47
8 731 QUADRO 8 - Estimativa dos coeficientes de digestibilidade do resíduo de soja pelo método de equações algébricas. Tratamentos MS% PB% EE% FB% EÑN% 14,6 40,46 53,87 83,46-11,56 42,68 27,5 22,89 68,27 82,80 38,47 11,64 46,7 53,99 79,42 82,69 72,14 32,45 CONCLUSÕES Nas condições do presente estudo, os resultados permitem tirar as seguintes conclusões: O resíduo de soja pode ser classificado como um concentrado protéico e apresenta proteína com médias a altas taxas de degradação e, conseqüentemente, degradabilidade efetiva elevada. A adição de 46,7% de resíduo, em base seca, eleva o teor de proteína bruta e, conseqüentemente, melhora a digestibilidade da proteína e da fibra bruta. Pelas estimativas de sua digestibilidade, o resíduo de soja é um alimento de valor energético médio a baixo. O efeito associativo observado não permite a utilização com segurança dos valores estimados, para cálculo de rações. Frente a esse resultado e à falta de informações sobre suas características nutritivas, há necessidade de mais pesquisas com este subproduto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRICULTURAL RESEARCH COUNCIL. The nutrient requirements of ruminant livestock. London: Commonwealth Agricultural Bureaux, 1984, 45p. ANDRADE, P.; CARDOSO, R.C.; KRONKA, S.N.; BERCHIELLI, T.T. Digestibilidade de rações contendo silagem de milho ou cana-de-açúcar suplementadas com farelo de soja, farinha de soja ou leite de soja. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.19, n.1, p.17-22, jan./fev., BERGAMASCHINE, A.F.; ANDRADE, P.; ALVES, J.B. Degradabilidade in situ do rolão de soja e dos resíduos da limpeza dos grãos de soja e milho. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 31, 1994, Maringá. Anais... Maringá: SBZ, p.698. BOIN, C. Formulação de rações para bovinos de corte em confinamento. Piracicaba: ESALQ-USP, p. (mimeografado). CARDOSO, E.G.; SILVA, J.M.; EUCLIDES, V.P.B. Efeito da suplementação com casca de soja sobre a utilização da palha de arroz. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.26, n.10, p , out./nov., FERNANDEZ, H.H. Cinética de la digestion en ruminantes; programas de conputación. Rafaela: INTA- EEA, p. LIMA, F.R.; MELOTTI, L.; NOGUEIRA FILHO, J.C.M.; LUCCI, C.S. Digestibilidade aparente em ovinos de silagens produzidas com milho (Zea mays L.) colhido em diferentes estágios de maturação. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 28, 1991, João Pessoa. Anais... João Pessoa: SBZ, p.211. LUDOVICO, A.; MATTOS, W.R.S. Avaliação de dietas à base de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) e diferentes níveis de sementes de algodão (Gossypium hirsutum L.) em bovinos. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.26, n.2, p , mar./abr., OKAMOTO, F.; ANDRADE, P.; ROSA, L.C.; OLIVEIRA, M.P.S.; SAMPAIO, A.A.M.; ANDRADE, A.T. Efeitos do grau de moagem do feno e nível de concentrado na digestibilidade aparente de rações para bezerros. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.14, n.1, p.33-38, jan./fev., ORSKOV, E.R.; McDONALD, J. The estimation of protein degradability in the from incubation measurements weighted acoording to rate of passage. Journal of Agricultural Science, Cambridge, v.92, n.2, p , Apr., 1979.
9 732 PALMQUIST, D.L. Influence of source and amonnt of dietary fat on digestibility in lactating cows. Journal Dairy Science, Chanpaign, v.74, n.4, p , PEREIRA, O.G.; OBEID, J.A.; GOMIDE, J.A.; QUEIROZ, A.C. Produtividade de uma variedade de milho (Zea mays L.) e de três variedades de sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench) e o valor nutritivo de suas silagens. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.22, n.1, p.31-38, jan./fev., PURGER, J.V.N.; LÓPEZ. J. Avaliação química e in vivo da silagem de milho (Zea mays L.) sem e com suplementação nitrogenada. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.9, n.3, p , maio/jun., SCHNEIDER, B.H.; FLATT, W.P. The evaluation of feeds through digestibility experiments. Athens: The Univesity of Georgia Press, p. SILVA, D.J. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. Viçosa: UFV., p. SILVA, J.F.C. da; LEÃO, M.I. Fundamentos de nutrição dos ruminantes. Piracicaba: Livroceres, p. VALADARES FILHO, S.C.; SILVA, J.F.C. da; LEÃO, M.I.; EUCLYDES, R.F.; VALADARES, R.F.D.; CASTRO, A.C.G. Degradabilidade in situ da proteína bruta e matéria seca de alguns alimentos em vacas gestantes e lactantes. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.20, n.1, p , jna./fev., VIEIRA, P.F.; FARIA, V.P.; ANDRADE, P. Valor nutritivo de silagens de três variedades de milho. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.9, n.1, p , jan./fev., VIEIRA, P. F.; SILVA, J.F.C. da; GARCIA, J.A.; LEÃO, M.I.; PEREIRA, J.C. Influência do formaldeído e da adição do óleo de soja sobre a digestibilidade de nutrientes em rações com farelo de soja, para bezerros fistulados no abomaso. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.10, n.3, p , maio/jun., 1981.
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