BRINQUEDOTECA, UM ESPAÇO DE PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA CULTURA LÚDICA INFANTIL: ENTRE A EDUCAÇÃO, INSTITUIÇÃO E COMUNIDADE
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- Ronaldo Farinha Ferrão
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1 01262 BRINQUEDOTECA, UM ESPAÇO DE PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA CULTURA LÚDICA INFANTIL: ENTRE A EDUCAÇÃO, INSTITUIÇÃO E COMUNIDADE Moema Helena de Albuquerque 1 Débora Maian Serpa 2 RESUMO Este projeto de extensão (PROEXT 2014) tem como proposta central a possibilidade de um trabalho interdisciplinar que considera o jogo, o brinquedo e a brincadeira enquanto elementos possibilitadores de apropriação e ressignificação dos contextos de realidades vividos pelas crianças, sobretudo a construção de novos conhecimentos. Compreende-se a atividade lúdica especificamente o jogo e a brincadeira enquanto uma atividade social, humana inserida em um determinado contexto sociocultural do qual a criança recria a realidade utilizando sistemas simbólicos próprios. Sendo, portanto, uma atividade criadora que, para além de uma atividade psicológica caracteriza-se como uma atividade cultural. A implantação da brinquedoteca no IFC Campus Camboriú, além de atender a uma exigência do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, visa à articulação do ensino, pesquisa e extensão. Tem-se no ensino o enriquecimento no processo de formação inicial dos alunos tanto do ensino médio, quanto no ensino superior, especialmente aos alunos do curso de Pedagogia. Na pesquisa vislumbra-se a Brinquedoteca como um laboratório de jogos, brinquedos e brincadeiras profícuo para o desenvolvimento de projetos de pesquisas em todas as áreas de conhecimento. E na extensão através do atendimento as crianças de educação infantil e escolas da região da AMFRI, assim como atividades de formação continuada com os professores que atuam na educação básica e o atendimento no horário da aula ou em horários alternativos aos alunos do IFC. O projeto tem como metodologia, estratégias de integração das diversas áreas de conhecimentos que constituem os cursos oferecidos pelo campus, bem como a realização de oficinas pedagógicas periódicas que tem como objetivo a discussão e o aprofundamento teórico sobre o brincar. PALAVRA-CHAVE: Brinquedoteca, Lúdico e Crianças. INTRODUÇÃO O projeto de extensão intitulado Brinquedoteca: um espaço de produção e reprodução da cultura lúdica infantil tem como objetivo propiciar o acesso a uma variedade de jogos, brinquedos, brincadeiras e fantasias para as crianças da educação 1 Professora Doutora em Educação, Coordenadora da Brinquedoteca do Instituto Federal Catarinense (IFC) campus Camboriú. 2 Bolsista da Brinquedoteca e acadêmica do Curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto Federal Catarinense (IFC) campus Camboriú.
2 01263 infantil e escolas da região da AMFRI 3 e aos alunos do IFC-Campus Camboriú, especialmente aos alunos do curso de Pedagogia, tendo em vista a expressão e vivência da cultura lúdica infantil. O mesmo tem como fundamentação teórica as contribuições de Vygotsky acerca da importância da brincadeira no desenvolvimento infantil. Para esse autor a brincadeira não é uma atividade inata das crianças, mas uma ação humana de cunho social, que se estabelece a partir das interações entre sujeitos, tendo em vista o processo de produção e reprodução cultural e de conhecimentos elaborados ao longo da existência do homem. Além de Vygotsky será necessário estabelecer um diálogo com outros autores que têm contribuído para a compreensão dos processos de desenvolvimento infantil através dos jogos, brinquedos e brincadeiras, sendo eles, BROUGÉRE (1995), SARMENTO (2004), SOUZA (1996), KISHIMOTO (2012). A compreensão da Brinquedoteca como um espaço profícuo da atividade lúdica, da diversidade, da inclusão e de práticas emancipatórias exige uma estrutura diferenciada da estrutura escolar, especialmente no que diz respeito à organização do tempo e espaço. Neste contexto a disposição dos jogos e brinquedos visa suscitar enredos e cenários variados para as brincadeiras, independentemente do tempo cronológico, mas a merce do tempo de interesse, do prazer, do encontro de pares. Por essa razão é fundamental considerar os elementos didáticos e pedagógicos de forma a qualificar as ações educativas, a ampliação dos conhecimentos tanto das crianças quanto dos adultos envolvidos nesta experiência. Cabe a Brinquedoteca também criar a possibilidade de professores e alunos desenvolverem projetos de ensino e pesquisa e extensão. Neste último, proporcionar momentos de formação para os profissionais da educação dos municípios que compõem a região da AMFRI, através de oficinas que possibilitem vivências e construções dos jogos, brinquedos e brincadeiras, tendo em vista explorar as linguagens expressivas (dança, música, teatro, contação de histórias, brincadeiras de roda, brincadeiras cantadas, entre outros). Por fim, vislumbra-se no âmbito do exercício da Brinquedoteca a integração de culturas, saberes e conteúdos da infância e da brincadeira em espaços escolares formais e não formais, promovendo consequentemente o aumento na produção e na divulgação científica sobre os encaminhamentos didáticos necessários para se pensar o brincar no cotidiano infantil. 3 Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí. Essa associação é formada por 10 municípios, quais sejam: Balneário Piçarras, Bombinhas, Camboriú, Ilhota, Itajaí, Itapema, Luiz Alves, Navegantes, Penha e Porto Belo.
3 01264 BASES TEÓRICAS PARA PENSAR O BRINCAR NA CONSTRUÇÃO DOS SUJEITOS A importância da brincadeira e dos jogos, associada à restrição do espaço físico no processo de urbanização crescente, tem mobilizado pesquisadores e profissionais da área da educação, especialmente na educação infantil a buscar subsídios teóricos e alternativas espaciais que possam assegurar as crianças o direito de brincar, consequentemente o desenvolvimento cognitivo, emocional e motor das crianças, além de propiciar o encontro entre pares que resulta na produção e reprodução da cultura lúdica. Nesta perspectiva concebem-se as brincadeiras, os jogos, as interações sociais e as linguagens expressivas como fundamentais para o encontro entre as crianças e delas com os adultos, nesses encontros geracionais vêm a culminar a partilha e ao mesmo tempo a construção de novos conhecimentos. Outra contribuição importante é que a brincadeira lúdica é também o resultado de um processo de desenvolvimento em que é possível identificar como as crianças mostram seus desejos e como os articula na ação e o significado que confere na brincadeira. Portanto, a criação de uma situação imaginária não é algo fortuito na vida da criança; ao contrário, é a primeira manifestação da emancipação da criança em relação às restrições situacionais (SOUZA, 1996, p.51). As possibilidades lúdicas, aqui compreendidas como o brincar são contribuições importantes da psicologia de Vygotsky (1984) que afirma na infância, a imaginação, a fantasia, a brincadeira não são atividades que podem se caracterizar apenas pelo prazer que proporcionam, mas é na realidade uma necessidade para as crianças. Com base em Vygotsky, Souza (1996, p.50) afirma que: A imaginação é um processo novo que surge como mediador do conflito entre o desejo e a frustação com que depara a criança por não poder concretizá-lo. O jogo lúdico é a imaginação da criança agindo no mundo. Vygotsky dá relevo às questões sociais que permeiam a brincadeira, mostrando que no ato de brincar as crianças criam uma situação imaginária, incorporando no jogo de papéis elementos do contexto cultural adquirido por meio da interação e da comunicação. A ideia central é que se desenvolve uma zona de desenvolvimento proximal, em que se diferenciam o nível atual que a criança alcança com a solução de problemas independentes e o nível de desenvolvimento potencial marcado pela colaboração dos adultos e pares mais capazes. Na interface deste processo reconhece-se
4 01265 o jogo como elemento crucial para impulsionar o desenvolvimento da zona de desenvolvimento proximal, uma vez que é no ato de brincar que as crianças realizam ações e solucionam problemas que na vida real não seriam possíveis de fazê-los por uma série de restrições etária, social, cultural, de valores e gênero. Portanto ao prover uma situação imaginativa, ou seja, ao adentrar no faz de conta às crianças desenvolvem a iniciativa, expressam seus desejos e ressignificam regras sociais, além de produzirem e reproduzem cultura. Souza (1996) ressalta que a imaginação e realidade não são processos antagônicos, pois qualquer situação imaginária requer uma compreensão de regras (também sociais, emocionais, relacionais) em diferentes níveis que na vida real muitas vezes passam despercebidas pela criança (por não ser capaz ainda de explicitar de forma consciente), mas já consegue usar essas regras na brincadeira de faz de conta: Em outras palavras, a criança que brinca de mãe e filha, de ser professora, tia, avó ou irmã assume na brincadeira regras de comportamento e mostra, além de sua compreensão dos papéis sociais, como domina na ação as regras do convívio social. Ser mãe ou filha, avó ou tia exige comportamentos específicos e estes emergem na brincadeira do faz de conta de forma exemplar (SOUZA, 1996, p.50). Para elucidar o debate acerca da potencialidade das brincadeiras e da importância da ludicidade no processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças, portanto no processo de reprodução e produção cultural, buscamos também a contribuição da Sociologia da Infância, área de conhecimento que tem concebido a criança como um ator social, portador da novidade que é inerente á sua pertença à sua geração que dá continuidade e faz renascer o mundo (SARMENTO, 2004). Tomamos a brincadeira como uma oportunidade de uso das linguagens e das possibilidades das relações e interação entre as crianças, na qual elas podem manifestar suas expressões, interpretações e ressignificações dos contextos de pertencimento. CONSIDERAÇÕES Este projeto esta proporcionando possibilidades aos alunos e aos professores dos cursos de ensino superior do IFC Campus Camboriú, especialmente aos alunos de Pedagogia, desenvolverem projetos de ensino, pesquisa e extensão no espaço da Brinquedoteca, colocando-se no lugar da criança para organizar este espaço, bem como, sendo um lugar válido para a observação das relações e interações que as crianças estabelecem neste espaço organizado, que tem como intuito a reflexão da teoria com a
5 01266 prática (práxis). Soma-se a isso os benefícios que estão sendo gerados junto às unidades de Educação Infantil e Escolas dos arredores do IFC Campus Camboriú que proporcionam as suas crianças experiências de brincadeiras, jogos e brinquedos num ambiente profícuo para a realização de atividades lúdicas, tendo em vista o compartilhamento das experiências, dos conhecimentos, dos desejos, da solidariedade e da fantasia, através da riqueza de materiais e do cuidado com os arranjos espaciais específicos, como por exemplo, a casinha, o teatro, roupas fantasias, jogos de encaixe e livros. Importante ressaltar que o espaço organizado da Brinquedoteca, se diferencia dos espaços organizados das creches aos arredores do IFC Campus Camboriú, sendo assim, além da Brinquedoteca ter importância em si própria, a implantação da mesma se torna fundamental no contexto educacional que se encontra a comunidade, por sua organização espacial e proposta pedagógica que busca uma educação emancipatória e crítica do processo de humanização que se diferencia dos espaços das instituições de Educação Infantil da redondeza. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BROUGÉRE, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org.). O brincar e suas teorias. São Paulo: Cengage Learning, SARMENTO, Manuel Jacinto. As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade. IN: SARMENTO, Manuel Jacinto; CERISARA, Ana Beatriz (Orgs). Crianças e Miúdos: Perspectivas Sociopedagógicas da Infância e Educação. Portugal: ASA Editores, p SOUZA, Solange Jobin. Re-significando a psicologia do desenvolvimento: uma contribuição crítica à pesquisa da infância. IN: KRAMER, Sônia; LEITE, Maria Isabel (org.). Infância: fios e desafios da pesquisa. Campinas SP, Papirus, p , VIGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes
PALAVRA-CHAVE: Brinquedoteca, crianças, currículo e formação de professores.
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