GRUPO DE TRABALHO 9: TERAPIA OCUPACIONAL E TECNOLOGIA ASSISTIVA

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1 GRUPO DE TRABALHO 9: TERAPIA OCUPACIONAL E TECNOLOGIA ASSISTIVA Profa. Dra. Miryam Pelosi No CENSO de 2010, 45,6 milhões de pessoas declarou possuir algum tipo de deficiência, o que representava 23,91% da população do Brasil. Em 2011, o Decreto Nº lançou O Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - Viver sem Limite com o objetivo de implementar novas iniciativas e intensificar ações em benefício das pessoas com deficiência. O plano contava com ações desenvolvidas por 15 ministérios e a participação do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2011). A responsabilidade do Brasil em assegurar o direito ao desenvolvimento e à autonomia tem como base a Constituição Federal de 1988 e foi ampliada com a ratificação da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, em Ao lançar o Programa de Assistência a Pessoa com Deficiência, o Estado brasileiro reafirmou esse compromisso (BRASIL, 2013a). O Programa de Assistência à Pessoa com Deficiência compreende um conjunto de políticas públicas estruturadas em quatro eixos: Acesso à Educação; Inclusão social; Atenção à Saúde e Acessibilidade. Cada ação presente nesses eixos é interdependente e articulada com as demais, construindo redes de serviços e políticas públicas capazes de assegurar um contexto de garantia de diretos para as pessoas com deficiência (BRASIL, 2014a). As ações para garantir às pessoas com deficiência o direito ao acesso à educação com igualdade de oportunidades envolvem as Salas de Recursos Multifuncionais; o projeto Escola Acessível; o programa Transporte Escolar Acessível; Caminho da Escola; o Pronatec; Acessibilidade na Educação Superior Incluir; Educação Bilíngue; e BPC na Escola. Na área de inclusão social, o BPC Trabalho; as Residências inclusivas; e o Centro-Dia de Referência para pessoas com deficiência. Na área de acessibilidade, os programas compreendem o Minha Casa, Minha Vida II; Centros Tecnológicos Cães- Guia; Programa Nacional de Inovação em Tecnologia Assistiva; Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva; e o Crédito facilitado para aquisição de produtos de tecnologia assistiva. 381

2 Na área da Saúde, os programas são: Atenção à saúde; Identificação e intervenção precoce de deficiências; Diretrizes terapêuticas; Centros Especializados de Reabilitação; Transporte para acesso à saúde; Oficinas Ortopédicas e ampliação da oferta de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção; e Atenção odontológica às pessoas com deficiência. A Tecnologia Assistiva (TA) permeia todas essas áreas de ação, e pode ser definida como uma área de conhecimento interdisciplinar que abrange recursos e serviços com o objetivo de proporcionar maior qualidade de vida aos indivíduos com perdas funcionais advindas de deficiência, mobilidade reduzida, ou como resultado do processo de envelhecimento. A Tecnologia Assistiva envolve áreas como a mobilidade alternativa; a adequação postural; o acesso ao computador; as adaptações para realização das atividades de vida diária; a acessibilidade do espaço; o transporte adaptado; a adaptação de atividades escolares; as adaptações de equipamentos para lazer e recreação; e a Comunicação Alternativa e Ampliada (KING, 1999; BARNES e TURNER, 2001; BERSH e PELOSI, 2007). É fundamental a compreensão de que a Tecnologia Assistiva é composta por recursos e serviços, e na prestação desses serviços, o terapeuta ocupacional tem um papel central nas discussões sobre as diferentes formas de acesso; na integração das funções sensoriais e motoras; no desenvolvimento da funcionalidade dos membros superiores, e outras partes do corpo, para o controle do meio ambiente e na aquisição da independência nas atividades de vida diária; na avaliação e adaptação da postura sentada, e outras posturas, para a realização das atividades diárias (KING, 1999). Historicamente, a Terapia Ocupacional tem utilizado adaptações para auxiliar pessoas com perdas funcionais na realização de atividades em diferentes áreas de ocupação. Com o avanço da tecnologia, surgiram recursos que podem favorecer maior autonomia, assim como, ampliou-se a gama de serviços que podem ser prestados pelos terapeutas ocupacionais. O Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva - CNRTA, inaugurado em julho de 2012, que está localizado no Centro de Tecnologia e da Informação Renato Archer, em Campinas, é um exemplo disso, pois possui terapeutas ocupacionais prestando serviços administrativos na área de Tecnologia Assistiva. O Centro tem o objetivo de orientar uma rede de núcleos de pesquisa em universidades públicas, estabelecer diretrizes e articular a atuação dos núcleos de produção científica e 382

3 tecnológica do país. Atualmente coordena mais de 70 Núcleos de Pesquisa em Tecnologia Assistiva organizados em 54 universidades do país, e em alguns deles o terapeuta ocupacional é parte integrante da equipe, ou coordenador de Laboratórios de Tecnologia Assistiva, como na Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Universidade Federal da Paraíba e na Universidade do Estado do Pará. A maior concentração de núcleos é observada nas regiões sudeste e sul, mas potencialmente muito outros profissionais da área de Terapia Ocupacional poderão se envolver nessas ações. Para atender às pessoas com deficiência, as Instituições de Ciências e Tecnologia, de todo o país já possuem uma grande quantidade de produtos desenvolvidos e que se encontram disponíveis para serem apresentados e transferidos para o Setor Empresarial. Para auxiliar a organização e divulgação desse material para profissionais e usuários da área de Tecnologia Assistiva, o Governo Federal disponibilizou o Catálogo Nacional de Produtos de Tecnologia Assistiva (TA), que consiste em uma ferramenta web que possibilita a realização de buscas sobre os produtos de Tecnologia Assistiva fabricados ou distribuídos no Brasil. Terapeutas ocupacionais têm participado da elaboração, criação, customização e avaliação de produtos de Tecnologia Assistiva. O Laboratório de Tecnologia Assistiva do Departamento de Terapia Ocupacional da UFRJ, por exemplo, está nesse momento desenvolvendo estudos com aplicativos de Comunicação Alternativa para tablet, como o Vox4All e softwares interativos para crianças com deficiência, como o Timoco. O crédito facilitado para produtos de Tecnologia Assistiva, lançado em 2012 pelo Governo Federal, tem por objetivo financiar a aquisição de produtos de tecnologia assistiva de até 30 mil reais, financiados em quatro a 60 meses. Os juros subsidiados variam de acordo com a renda dos clientes, sendo de 0,41% ao mês para pessoas com renda de até 5 salários mínimos e de 0,45% ao mês para clientes com renda entre 5 e 10 salários mínimos. Dados de agosto de 2014 mostram que foram realizadas operações e emprestados R$ 128,4 milhões desde a sua criação (BRASIL, 2014a). A facilitação do acesso aos recursos de Tecnologia Assistiva, através do crédito com juros subsidiados, traz mais oportunidades de trabalho para o terapeuta ocupacional, já que o seu papel na Tecnologia Assistiva envolve a avaliação das necessidades dos usuários, a receptividade quanto à modificação ou uso da adaptação, e a promoção da instrução do uso apropriado do recurso (CAOT, 2003). 383

4 Na área da Educação, o aumento na complexidade e na quantidade de equipamentos de Tecnologia Assistiva vem criando a necessidade de formação específica dos profissionais da escola, e esse aprimoramento vêm acontecendo através de programas de formação em serviço, workshops, conferências, cursos de curta duração em universidades, cursos não presenciais e em cursos de graduação (COOK; HUSSEY, 2002). A disponibilização de mais de 40 mil novas Salas de Recursos Multifuncionais acarretou um sério problema de formação de recursos humanos capazes de transformar a tecnologia recebida em recursos pedagógicos acessíveis que possibilitassem minimizar as barreiras para a aprendizagem dos alunos incluídos. Pensando na necessidade de formação de um grande número de professores, o Ministério da Educação e Cultura criou em 2007 o Programa de Formação Continuada de Professores na Educação Especial, que oferta cursos de aperfeiçoamento ou especialização em Educação Especial, na modalidade à distância, no âmbito da Universidade Aberta do Brasil (UAB), por meio de instituições públicas de educação superior. O objetivo do programa é formar professores das redes públicas que atuam no Atendimento Educacional Especializado, em Salas de Recursos Multifuncionais e no ensino regular para auxiliar o desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas. O resultado do programa no período de 2007 a 2010, com a participação de 14 instituições públicas de nível superior, foi de 55 cursos de formação que abrangeu professores, em 2729 municípios (BRASIL, 2014b). Dentro desse cenário, teve início o Curso de Educação à Distância (EAD) denominado Formação Continuada de Professores em Educação Especial Utilização, Operação e Aplicação Pedagógica de Softwares de Tecnologia Assistiva. O curso foi realizado pelo Instituto Tércio Pacitti de Aplicações e Pesquisas Computacionais (NCE/UFRJ) em parceria com o Ministério da Educação (MEC), com carga horária de 200 horas. Esse curso contou 11 módulos sendo um deles o de Comunicação Alternativa, coordenado por uma terapeuta ocupacional (NCE/UFRJ, 2014). Para 2015, o MEC já aprovou o curso EAD com o título Uso pedagógico dos recursos de Tecnologia Assistiva: Comunicação Alternativa, estratégias e recursos para diferentes contextos educacionais, que terá 210 horas, será ofertado para 500 professores que atuam na Educação Infantil e séries iniciais, assim como para os professores que trabalham nas Salas de Recursos Multifuncionais e Atendimento 384

5 Educacional Especializado das escolas públicas, e terá como vice-coordenadora uma terapeuta ocupacional. A área de formação de recursos humanos na Tecnologia Assistiva têm se mostrado, também, um excelente campo de trabalho. Na área da Saúde, o Governo Federal tem investido na criação de Centros Especializados em Reabilitação (CER) com o objetivo de garantir o desenvolvimento de habilidades funcionais das pessoas com deficiência e promover sua autonomia e independência. O Viver sem Limite iniciou a implantação de 45 Centros Especializados em Reabilitação para ampliar o acesso e a qualidade desses serviços no âmbito do SUS. Em 2013 já haviam sido construídos 102 unidades (BRASIL, 2014a). Esses são espaços de assistência contam com profissionais de Terapia Ocupacional que prestam serviços na área de Tecnologia Assistiva, além de outras ações. Mais recentemente, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão - SECADI, do Ministério da Educação lançou o Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento para projetos conjuntos de pesquisa entre Instituições Brasileiras e Estrangeiras com modalidades de Graduação sanduíche e Doutorado sanduíche. O objetivo do edital é o de incrementar o intercâmbio acadêmico entre instituições de pesquisa; proporcionar a realização de atividades de pesquisa, de desenvolvimento tecnológico e de inovação com parceiros das universidades do Brasil no exterior; além de possibilitar que discentes e docentes, com larga experiência em pesquisa e inovação na área de Tecnologia Assistiva, participem de atividades de ensino, de pesquisa, de desenvolvimento tecnológico e de inovação em universidades brasileiras e do exterior. O objetivo do edital é atender, preferencialmente, a candidatos autodeclarados pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação, conforme dispõe a Portaria MEC nº 1.129, de 17 de novembro de 2013 (BRASIL, 2013b). A SECADI indicou dois profissionais da área de Tecnologia Assistiva para participar do Workshop U.S. Brazil Academic Paterships: Increasing Diversity though the Abdias do Nascimento Program, que acontecerá em setembro de 2014 em Nova York, com o objetivo conhecer e selecionar as universidades nos Estados Unidos que serão parceiras nesse edital. Uma terapeuta ocupacional foi escolhida para essa missão oficial na área de Tecnologia Assistiva. 385

6 Fica claro que, com o incremento do Governo Federal na área de Tecnologia Assistiva, é necessário que haja um esforço dos terapeutas ocupacionais para assumirem seu papel como especialistas e pesquisadores da área. O número reduzido de trabalhos encaminhados para o III Seminário Nacional de Pesquisa em Terapia Ocupacional, no Grupo de Trabalho de Terapia Ocupacional e Tecnologia Assistiva, mostra que poucos profissionais compreenderam o potencial da Tecnologia Assistiva para a nossa categoria profissional. Esperamos que as discussões do grupo de trabalho contribuíam para pensar estratégias que aproximem os terapeutas ocupacionais da área de Tecnologia Assistiva. REFERÊNCIAS: BARNES, K. J.; TURNER, K. D. Team collaborative practices between teachers and occupational therapist. The American Journal of Occupational Therapy, v.55, n.1, p.83-9, January/February BERSH, R.C.R.; PELOSI, M.B. Portal para ajudas técnicas. Tecnologia Assistiva: recursos de acessibilidade ao computador. Brasília: MEC/SEESP, BRASIL. DECRETO Nº 7.612, de 17 de novembro de 2011 que institui o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência Plano Viver sem Limite. Disponível em Acessado em 10 de setembro de Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com deficiência - Plano Viver sem limites, 2013a. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) / Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD). Disponível em erico_imagens-filefield-description%5d_0.pdf. Acessado em 10 de setembro de Portaria MEC nº 1.129, de 17 de novembro de 2013b. Cria o "Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento". Disponível em: pdf. Acessado em 12 de setembro de Observatório do Programa de Assistência à Pessoa com Deficiência, 2014a. Disponível em: Acesso em 30 de agosto de Ministério da educação e Cultura. Programas do MEC voltados à formação de professores, 2014b. Disponível em: content&view=article&id=15944:programas-do-mec-voltados-a-formacao-deprofessores. Acesso em 30 de agosto de CAOT. CANADIAN ASSOCIATION OF OCCUPATIONAL THERAPISTS POSITION STATEMENT. Assistive Technology and Occupational Therapy. The Canadian Journal of Occupational Therapy, v.70, n.2, p.113-8, April COOK, A.M.; HUSSEY, S.M. Assistive Technologies: Principles and Practice. Missouri: Mosby, 2nd ed.,2002. KING, T.W. Assistive Technology Essential Human Factors. Boston: Allyn and Bacon,

7 NCE/UFRJ. Site do Instituto Tércio Pacitti de Aplicações e Pesquisas Computacionais (NCE/UFRJ) que apresenta o curso TecnoAssist, Disponível em: oassist-curso-de-capacitacao-de-professores-em-tecnologiaassistiva&catid=46: noticias&itemid=69. Acesso em 30 de agosto de