AS REDES DE APOIO AO TRABALHADOR ADOECIDO

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA AS REDES DE APOIO AO TRABALHADOR ADOECIDO Larissa Saionara Fernandes Rocha Natal - RN 2021

2 Larissa Saionara Fernandes Rocha AS REDES DE APOIO AO TRABALHADOR ADOECIDO Dissertação elaborada sob orientação do professor Doutor Fellipe Coelho-Lima, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Psicologia. Natal - RN 2021

3 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA Rocha, Larissa Saionara Fernandes. As redes de apoio ao trabalhador adoecido / Larissa Saionara Fernandes Rocha f.: il. Dissertação (mestrado) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Orientador: Prof. Dr. Fellipe Coelho-Lima. 1. Redes de apoio - Dissertação. 2. Trabalhadores adoecidos - Dissertação. 3. Processo saúde-doença - Dissertação. I. Coelho- Lima, Fellipe. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA CDU Elaborado por Ana Luísa Lincka de Sousa - CRB-15/748

4 A Marlúcia, Francisco e Fylipe, noor dos meus olhos.

5 Estar em solidão significa estar consigo mesmo; e, portanto, o ato de pensar, embora possa ser a mais solitária das atividades, nunca é realizado inteiramente sem um parceiro e sem companhia. HANNAH ARENDT

6 Um grito que Ecoa Eu gostaria de concluir Do jeito que eu mais gosto, Com algumas estrofes, versos simples Mostrando tudo aquilo que me comove. Sou da terra de Antônio Francisco, Um poeta de Bicicleta, E foi me inspirando em suas rimas Que enredo essa conversa. Inicio meu agradecimento Sem intenção de dizer tudo que preciso Até porque nem sei dizer O que danado eu tô sentindo. É uma mistura de liberdade E de um dever mais do que cumprido. É a sensação de ter feito a minha parte Pra que a ciência continue existindo. É um grito que ecoa No silêncio da minha euforia. É um riso largo e genuíno Que traduz toda a minha alegria. O processo nunca foi fácil Por vezes desanimador Aí a gente pega uma pandemia e pensa que tudo desandou. Mas foi na ternura e paciência Na generosidade e acolhimento Que na figura do meu orientador Eu recebi um acalento. Aos protagonistas dessa pesquisa Minha eterna gratidão Não é mole ser trabalhador Enfrentando tanta precarização. As professoras convidadas O meu respeito e admiração Prometo fazer tudo direitinho Conforme cada orientação. Aos meus amigos, guardo com carinho Nosso encontro de vida Que bom ter sempre a minha palavra Escutada e acolhida. A Marlúcia, Francisco e Fylipe O enredar das minhas redes começam por vocês, Sendo sustentação, base, coesão Sempre foram vocês três! Que possamos integrar Relações fortes como os nós de uma rede Construindo laço, elo, vínculo E derrubando muros e paredes. Larissa S.F. Rocha

7 Agradecimentos A Marlúcia, Francisco e Fylipe, o enredar das minhas redes começam por vocês! Ao meu orientador Fellipe Coelho, quem eu admiro exponencialmente. Aqui, registro o meu sincero agradecimento pela confiança, paciência, ternura e generosidade, você tornou a experiência do mestrado mais leve e potente. Ao GEPET e GEPPOT, e todos e todas que a esse grupo pertencem. Meus agradecimentos por toda contribuição emocional e intelectual, proporcionando um espaço acolhedor e rico nas discussões do universo do trabalho. Agradeço aos membros da banca examinadora, composta pela professora Alda Karoline, minha maior incentivadora e, sem dúvidas, minha referência enquanto profissional e humana. Professora Ana Karenina, pela leitura cuidadosa e contribuições valiosíssimas desde a etapa da qualificação. Aos meus colegas da turma de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPgPsi-UFRN) 2019, em especial, Renata, Matheus e Daniel, por todas as trocas, diálogos, angústias compartilhadas e a singeleza da palavra proferida nos dias de maior dificuldade. Aos meus amigos e amigas, Klêydson, Anny, Heloisa, Niáscara, Lara e Jordanna, obrigada pelos encontros de vida, e pelo conforto de ter a minha fala sempre acolhida por vocês. À minha rede de apoio - profissionais da Saúde - Lívia Natasha, psicoterapeuta, que até aqui esteve comigo, caminhando ao meu lado ao longo desses dois últimos anos. Eu te vejo, Lívia! A Túlio Fernandes, médico endocrinologista, por todo apoio, cuidado e preocupação durante o período da dissertação.

8 Aos trabalhadores e trabalhadoras que participaram da construção dessa pesquisa, sem vocês nada disso seria possível. Ao Nostrum Instituto de Psicologia, que apoiou e acreditou no estudo, entendendo o quão difícil é ser trabalha (dor) nesses tempos caóticos. Ao CEREST, campo que mobilizou o meu desejo de investigar às redes de apoio. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo financiamento desta pesquisa e fornecimento da bolsa de estudo, permitindo minha dedicação exclusiva. A todos e todas que direta ou indiretamente contribuíram para a realização de mais uma importante etapa da minha vida!

9 Sumário Agradecimentos... 6 Lista de tabelas Lista de siglas Introdução Trabalho na contemporaneidade e as implicações na subjetividade do trabalhador O contexto do trabalho O trabalho atual no capitalismo Cenário Socioeconômico a partir da crise no Brasil Precarização na saúde do trabalhador: o trabalho que adoece Papel do trabalho na construção subjetiva dos indivíduos As redes de apoio no campo da saúde do trabalhador O campo da saúde do trabalhador Contribuições na compreensão do conceito de saúde e doença Movimento da Promoção à Saúde Determinantes Sociais de Saúde e Determinação Social da Saúde Redes de apoio Objetivos Objetivo Geral Objetivos específicos Método Participantes Procedimentos de coletas de dados Procedimentos Éticos Resultados e discussão Núcleos de Significação O que há de deletério nas relações de trabalho Redes que tecem linhas de cuidado à saúde A fragilidade da organização do trabalho: fios que não compõem as redes Considerações Finais Referências APÊNDICE A

10 Lista de figuras Figura 01: Determinantes Sociais de Saúde Proposto por Dahlgren e Whitehead...59 Figura 02: Diagrama confeccionado pelo participante e pesquisadora...77 Figura 03: Nuvem de palavras representada pelas redes mobilizadas...82

11 Lista de tabelas Tabela 1: Organização geral dos núcleos de significação a partir do reconhecimento dos pré-indicadores e constituição da sistematização dos indicadores. Núcleo I Tabela 2: Organização geral dos núcleos de significação a partir do reconhecimento dos pré-indicadores e constituição da sistematização dos indicadores. Núcleo II

12 Lista de siglas AMAs - Associação Menonita de Assistência Social CEREST Centro de Referência em Saúde do Trabalhador CUT - Central Única dos Trabalhadores CNDSS Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais de Saúde CREPOP - Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas DSS Determinantes Sociais de Saúde INSS - Instituto Nacional do Seguro Social MPS - Ministério da Previdência Social RENAST - Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador NTEP - Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário OIT Organização Internacional do Trabalho OMS Organização Mundial da Saúde PST - Psicologia Social do Trabalho UPAs Unidade de Pronto Atendimento SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação SUS Sistema Único de Saúde SMRT Saúde Mental Relacionadas ao Trabalho TEPT - Transtorno de estresse pós-traumático TICs Tecnologias de informação e comunicação TMRT - Transtornos mentais relacionados ao trabalho

13 Resumo Os trabalhadores adoecidos recorrem as redes de apoio, como forma de enfrentamento no processo de produção de saúde, representadas por instâncias como: família, amigos(as), comunidade, grupos, profissionais e serviços de saúde, coletivos de trabalho e organizações sindicais e religiosas. O objetivo da pesquisa foi analisar o papel das redes de apoio no processo de produção de saúde e os modos de interações, ações e efeitos promovidos por estas. Com isso, buscamos compreender como se estabelece essa interação no processo de produção de saúde, principalmente em um cenário de grandes fragilidades afetivas, produzidas pela condição de adoecimento vinculada ao trabalho. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, cujos participantes do estudo foram dez trabalhadores adoecidos(as) pelo trabalho. O critério de inclusão adotado foi a própria afirmação do trabalhador frente ao adoecimento e disponibilidade para o momento da entrevista, via videoconferência, utilizando-se de uma plataforma on-line. Durante a coleta, utilizamos da estratégia bola de neve, num período de julho a dezembro de 2020, incluindo algumas categorias de trabalho (engenheiro, bancário, professor, psicólogo, operador de telemarketing, técnico de TI). As entrevistas contemplaram os seguintes eixos temáticos: a) História de vida e processo de adoecimento do trabalhador; b) Análise, por parte do trabalhador, da importância e efeitos de cada ponto da rede de apoio sob a relação trabalho-saúde. Paralelo à entrevista houve a confecção de um diagrama das redes mobilizadas por cada trabalhador nesse processo de adoecimento, no qual as redes foram mensuradas através de setas de intensidade ligação forte; distante ou conflituosa. As análises das entrevistas foram realizadas via núcleos de significação, os pré indicadores e indicadores foram articulados e sistematizados, constituindo os núcleos de significação: 1) O que há de deletério nas relações de trabalho; 2) as redes de apoio como linhas de cuidado à saúde; 3) a fragilidade da organização do trabalho: fios que não compõem as

14 redes. Concluiu-se que, o que temos é um contexto de trabalho violento e adoecedor, conjugado a uma rede de apoio centrada nos laços sociais do sujeito. Sinaliza-se a importância da coletividade na recuperação da saúde, sobretudo, nas redes que compõem a esfera primária, como família e amigos(as), mediante a ausência de suporte do Estado e das empresas, configurando redes deficitárias. Os recursos do autocuidado mostraramse como práticas de cuidado prioritárias de atenção a si mesmo, mobilizadas pela maioria dos trabalhadores como forma autônoma da busca de sua recuperação aplicada em sua rotina. Palavras-chave: Redes de apoio; Trabalhadores adoecidos; processo saúde-doença.

15 Abstract Workers sickened rely on support networks as a way of coping in the health production process, represented by instances such as family, friends, community groups, health professionals and services, work groups and union and religious organizations. The objective of the research was to analyze the role of networks in the health production process and ways of interactions, actions and effects promoted by them. With this, it is expected to understand how this interaction is established in the health production process, especially in a scenario of great affective weaknesses, produced by the condition of illness linked to work. It is a qualitative research, whose study participants were ten workers sick from work. The inclusion criterion was the very statement of the worker against the disease and availability for the time of the interview, via video conference, using an online platform. During the collection, we used the snowball strategy, from July to December 2020, including some job categories (engineer, bank, teacher, psychologist, telemarketing operator, IT technician). The interviews covered the following thematic axes: a) The worker's life history and illness process; b) Analysis, by the worker, of the importance and effects of each point of the support network on the work-health relationship. Parallel to the interview, a diagram of the networks mobilized by each worker was drawn up in this illness process, in which the networks were measured using intensity arrows Strong connection; Distant or conflicted. The analyzes of the interviews were carried out via meaning cores, the pre-indicators and indicators were articulated and systematized, constituting the meaning cores: 1) What is harmful in work relations; 2) support networks as lines of health care; 3) the fragility of work organization: threads that do not make up the networks. It was concluded that what we have is a context of violent and sickening work, combined with a support network centered on the subject's social ties. The importance of the community in health recovery

16 is highlighted, especially in the networks that make up the primary sphere, such as family and friends, through the absence of support from the State and companies, configuring deficit networks. Self-care resources were shown as self-care practices, mobilized by most workers as an autonomous way of seeking recovery, applied in their routine. Keywords: Support networks; Sick workers; health-disease process

17 13 1. Introdução O interesse em analisar o papel das redes de apoio dos trabalhadores adoecidos foi suscitado pela experiência da sala de espera 1 de um serviço especializado em Saúde do Trabalhador, vinculada à prática de estágio profissionalizante para a conclusão do curso de psicologia. Esse espaço possibilitou um olhar atento para as falas que nitidamente denotavam a importância dos vínculos de apoio no processo saúde-doença e trabalho, bem como a presença física recorrente dos acompanhantes. Ademais, apontamos a necessidade de compreender a análise das redes de apoio para além da restrição pessoal, ou seja, o apoio no sentido pessoal, em um movimento de troca de quem dá e recebe, ampliando a discussão para uma construção mais coletiva, incorporando a esfera privada, a sociedade civil e as políticas públicas, como bem caracterizado por Fontes (2007), no qual abordaremos mais profundamente ao longo da pesquisa. A questão posta neste estudo, é compreender o papel das redes de apoio na vida do trabalhador, estando ele em um quadro de adoecimento pelo trabalho. Para tanto, busca-se investigar (a) quais são as redes mobilizadas pelos trabalhadores? (b) como elas são mobilizadas? (c) quais efeitos são ocasionados, uma vez que este trabalhador se encontra em um quadro de adoecimento? (d) quais as repercussões no sentido de produção à saúde? Para isto, o estudo se propõe a discutir o trabalho na contemporaneidade e as implicações no campo da subjetividade do trabalhador, entendendo como as relações de trabalho estabelecidas contribuem no processo de adoecimento dos trabalhadores, intensificando os prejuízos físicos e psíquicos, e os encadeamentos reverberados na dimensão subjetiva. 1 Trata-se de um serviço realizado na recepção do CEREST, enquanto aguardam o atendimento, no qual o trabalhador é convidado a participar de rodas de conversas, sendo este, um dispositivo interventivo (Silva, 2017).

18 14 Os processos de trabalho oriundos da reestruturação produtiva têm tornado o trabalhador mais individualizado e com laços sociais esfacelados. Nas condições de estranhamento social, o que se dissemina é o espírito do individualismo e a fragmentação social como lastro ideológico do controle sóciometabólico 2 do capital (Alves, 2007, p. 138). Portanto, este cenário se expressa como um conjunto de relações e processos precarizados, partindo de uma reorganização econômica, política, ideológica e cultura, cuja reestruturação produtiva, através dos modelos de flexibilização, terceirização, financeirização e liberalização dos mercados, consolidou-se como estratégicas econômicas liberais (Silva, 2018). Embora seja reconhecida a efetividades das redes de apoio na promoção à saúde ao longo dos últimos 40 anos, é importante salientar a preocupação com as modificações estruturais da sociedade, em razão de um modelo de vida competitivo e individualista, o que impõe sérios obstáculos no que tange às relações de solidariedade e cooperação, caminho este que leva às redes de apoio (Canesqui & Barsaglini, 2012). Denotamos isto, principalmente, em uma conjuntura socioeconômica tão desigual, de condições degradantes ao trabalhador no qual vem sendo submetido às relações de trabalho no sistema capitalista, corroborando vertiginosamente para os grandes índices de adoecimentos relacionados ao trabalho (Souza & Queiroz, 2018). Não obstante, o estudo se propõe a entender estas redes de apoio como possíveis linhas de cuidado e produção de saúde ao trabalhador adoecido, se opondo ao paradigmático modelo assistencial, que ainda insiste em se voltar apenas às práticas individuais de saúde, descaracterizando o contexto histórico e social no qual o indivíduo está inserido. O entendimento das redes de apoio vem interessando a pesquisadores de vários campos do conhecimento que, na tentativa de compreenderem as mobilizações sobre a vida social, 2 Controle Sociometabólico Estrutura de controle e organização, que se origina a partir do processo de acúmulo do capital, repercutindo em praticamente todas as instâncias da vida humana (Mészáros, 2002).

19 15 deram origem as mais diversas metodologias de análise, que têm como base, as relações entre os indivíduos, a centralidade destas redes e os apoios sociais mútuos (Lorenzo, Neves & Ribeiro 2011). A discussão sobre redes de apoio chama a atenção para o saber e experiências dos próprios usuários, uma vez estando organizados em comunidades, movimentos, ou seja, em redes solidificadas, conseguindo agir nas várias dimensões de sua saúde, desde a interferência sobre as próprias condições individuais de saúde, até as condições de funcionamento e atendimento dos serviços (Labonte, 1994). Mas, apesar do destaque das redes de apoio como fator de cuidado, nota-se que as produções científicas em Saúde do Trabalhador tendem a focar no processo de adoecimento, existindo uma lacuna nas produções que visem a promoção à saúde. Estas redes de apoio, envolvem um sistema composto, configurados em uma estrutura global, como família, amigos, organização, comunidade, serviços de saúde, coletivos de trabalho e organizações coletivas (sindicatos) (Fontes, 2007). Para tanto, a dissertação segue uma estrutura a partir de dois capítulos teóricos. O primeiro, nomeado de Trabalho na contemporaneidade e as implicações na subjetividade do trabalhador, cujo objetivo é traçar um caminho de compreensão do cenário atual do capitalismo e as novas configurações do mundo do trabalho. O segundo, As redes de apoio no campo da saúde do trabalhador, destinando-se a denunciar os velhos problemas no campo da ST, deixando lacunas expressivas no que tange o cuidado e incorporações efetivas de ações à classe trabalhadora, sobretudo nas relações entre capital e trabalho, contribuindo para a potencialização da fragmentação dos coletivos de trabalho, já apontado por Porto, Lacaz e Machado (2003), no qual a precariedade dos vínculos, culmina na ausência dos trabalhadores em ações e intervenções, levando à dificuldade do estabelecimento de uma configuração de redes de apoio.

20 16 Portanto, destacamos a importância das redes de apoio como fator mobilizador no processo de produção à saúde, fazendo-se necessário ampliar as produções científicas que visem estudos que se dediquem a analisar as diferentes esferas das redes que possam ser estabelecidas pelo trabalhador em interface ao campo da ST. Engaja-se também nesse movimento, promover o cuidado e restabelecimento de sua condição aos trabalhadores -, bem como o incentivo de políticas que estejam dedicadas a entender esse rol de cuidado como uma fonte valiosa de promoção e prevenção da saúde do trabalhador, como novas vias abertas a partir do estudo.

21 17 2. Trabalho na contemporaneidade e as implicações na subjetividade do trabalhador 2.1 O contexto do trabalho As transformações no universo do mundo do trabalho, sofreram grandes reviravoltas do século XX para o XXI, afetando de forma violenta a sociedade, principalmente pelo crescimento em escala mundial do desemprego, sendo esta, uma das expressões mais perversas de tal conjuntura (Navarro & Padilha, 2007; Santana & Ramalho, 2004). É certo que estas transformações ocorreram em função da globalização financeira, inovações tecnológicas, bem como as novas práticas de gestão desenvolvidas dentro das organizações (Seligmann-Silva et al., 2010). Entretanto, esta realidade dentro do conjunto da economia e sociedade é resultado da reestruturação produtiva, que emergiu na década de 70, tendo maior visibilidade nos anos 90, aumentando o processo de produção e acumulação do capital, em detrimento da classe trabalhadora, havendo exploração da força de trabalho e precarização (Navarro & Padilha, 2007). O incremento destas inovações tecnológicas no bojo do processo produtivo, é de fato uma constante na caracterização do modo de produção capitalista, em que, Marx (1988) já mencionava em como esses elementos são endógenos ao processo de acumulação do modo produtivo, em um contexto de luta de classes sociais. No que tange a teoria de Marx, ressalta-se a inteira relação sobre o processo de trabalho com a teoria das classes sociais, conceito este modulado a partir das formas de apropriação do trabalho excedente que, no que se refere à relação com as formas de propriedade, isto é, a anulação ou não da propriedade dos meios de produção (Previtalli & Faria, 2008). Desse modo, para Marx (1988) além do trabalho ser um processo de criação de valor, ele consiste também em um processo de valorização do capital, tendo como objetivo principal,

22 18 a produção de mais-valia. Cabe-se a pergunta: como aumentar a produção da mais-valia independentemente da expansão da jornada de trabalho? Segundo Marx, este processo torna-se possível pela redução do trabalho necessário, isto posto, uma parte do tempo que o trabalhador utilizaria para si mesmo, modifica-se em tempo de trabalho para o capitalista. À vista disso, o capital aumentará a sua força produtiva de trabalho mediante mudanças nos meios de trabalho ou nos métodos de trabalho, ou em ambos (Marx, 1988, p. 238) estabelecendo assim, o processo de valorização do capital através da mais-valia relativa. Destarte, a mais-valia relativa gira por meio do processo de mudanças nos meios de produção, bem como novas formas de organização do trabalho por via do incremento de novas tecnologias, que consequentemente, reduz o valor da mercadoria e a força de trabalho (Previtalli & Faria, 2008). Portanto, Marx expressa que o valor da força de trabalho reduzirá por dois motivos: Haverá diminuição da força de trabalho em função da simplificação do trabalho; e diminuição do valor das mercadorias (Cipolla, 2014), e reitera: Enquanto o valor da força de trabalho é reduzido por essas duas forças, o preço da força de trabalho é pressionado para baixo pelo processo de simplificação do trabalho, processo esse que aumenta o pool de trabalhadores disponíveis para o capital e, portanto, aumenta o grau de concorrência entre eles (Cipolla, 2014, p. 386). Notadamente, estas modificações na lógica de produção, afeta o interior do processo produtivo, ocasionando a divisão do trabalho, o papel dos sindicatos, o mercado de trabalho e as negociações coletivas, nas quais estas mudanças ocorrem de forma desenfreada com a cultura da acumulação e exploração da força de trabalho (Rigotto, 1998). Navarro e Padilha (2007) apontam que estas transformações ocorridas no modo da produção capitalista, tal como o desenvolvimento das novas tecnologias, estiveram pouco

23 19 atreladas à busca por melhores condições de trabalho e da vida humana em sua totalidade, ou mesmo uma melhor relação com o meio ambiente. A ultrajante era tecnológica se apresenta à beneficiadores próprios, o capital, gerando uma exclusão que nem de longe é latente, bem como apontam: Dispomos hoje de mais capacidades e meios económicos, tecnológicos, científicos e culturais que em qualquer outro período da história da humanidade, mas o sistema capitalista, que tem sido (em condições concretas que aqui não analiso) potenciador da criação daqueles meios e recursos, também nega a sua utilização para todos, e por todos os indivíduos, não permitindo que se potenciem a criação e valorização de emprego capazes de responder aos desafios que emanam dessa grande evolução (Amaral, Mota & Alves, 2011, p. 26). Uma nova configuração foi instaurada dentro do poder que envolve, Estado, Capital e Trabalho, a partir de um movimento do capitalismo que modifica diretamente as micropolíticas. A reestruturação produtiva ganha força por esta razão, produzindo grande impacto nos processos de subjetivação na contemporaneidade (Nardi, 2006). 2.2 O trabalho atual no capitalismo O cenário do mundo do trabalho atualmente vem sendo definido pela sua alta taxa de rotatividade no emprego, descumprimento aos direitos trabalhistas e desigualdade salarial (Krein et al., 2018). No Brasil, podemos atribuí-las a: resquícios de uma herança escravista; diminuição da mão de obra humana; êxodo rural, decorrente da estrutura latifundiária e industrial; pouca fiscalização dos modos e relações do trabalho; flexibilização das normas trabalhistas.

24 20 Não é de se estranhar que ainda no século XXI essas marcas caminhem ao nosso lado, afinal, a acumulação e geração de valor se torna o principal e único objetivo, custe o que custar. Os novos modelos de organização necrosam/corroem o processo de identidade e trabalho, em um contexto no qual, inegavelmente, são modificadas as construções identitárias (Coutinho, Krawulski & Soares, 2007, p. 38), e modificando o sentido que o mesmo pôde por um momento, atribuir a sua vida. Não obstante, é notório o quão redimensionado está o trabalho em sua conceitualização, mas vale salientar que este processo é um tanto quanto multifatorial. Nas últimas décadas o trabalho passou por diversas alterações como, condições sociopolíticas, econômicas, demográficas, tecnológicas, entre outras, suscitando discussões polarizadas no teor à centralidade da categoria trabalho na vida das pessoas (Schweitzer et al., 2016). É certo pensar que estes fatores contribuíram para uma nova roupagem das novas formas de produção e relação com o trabalho, trazendo elementos opressores que negam direitos de seguridade social como: precarização, uberização e terceirização. Dentro de uma lógica destrutiva, o capital não reconhece nenhum obstáculo para a precarização do trabalho, havendo sempre uma exploração sem limites da força de trabalho. Notoriamente há uma expressão de inúmeras contradições estruturais dadas como forma de sociabilidade que, ao mesmo tempo, em que não pode abdicar de um trabalho vivo para sua reprodução, também necessita explorá-lo ao extremo, determinando o sentido mais profundo da lógica de mercantilização (Antunes & Praun, 2015). Os autores ainda afirmam que as alterações ocorridas no mundo do trabalho nas últimas décadas, são oriundas desta exploração intensa, na qual resultam a composição de um exército de trabalhadores adoecidos físicos e mentalmente, lesionados, mutilados, chegando a estar incapacitados de forma definitiva para o retorno ao trabalho. As marcas da reestruturação produtiva atingiram penosamente o cotidiano dos

25 21 trabalhadores. Fatores como a intensificação do trabalho, a premência da flexibilização, a exigência da cultura da alta performance surge como requisitos básicos para atender às demandas do capital (Pereira, 2015). Para Castel (1998, p. 409): a precarização do trabalho é um processo central, comandado pelas novas exigências tecnológico-econômicas da evolução do capitalismo moderno. De acordo com Druck (1999) o fenômeno da precarização atinge quatro elementos básicos, nomeando-os de quádrupla precarização, sendo elas: precarização do trabalho, da saúde dos trabalhadores, do emprego e das ações coletivas. Costa (2017) aponta que, sobre a precarização do trabalho, temos a redução dos custos do trabalho, sendo esta umas das razões determinantes para as empresas optarem pelos modos de subcontratação (terceirização). Ademais, a pressão imposta pela produtividade e por dar conta das demandas da contratante em tempo curto intensifica o ritmo de trabalho. A saúde dos trabalhadores é reflexo da insegurança vivida pela classe trabalhadora em relação ao emprego, metas e ritmos de trabalhos acelerados fragilizando a segurança e saúde no trabalho, jornadas extenuantes, condições degradantes de trabalho e políticas irrisórias de segurança (Franco & Druck, 2008; Costa, 2017). As autoras, em continuidade, denotam que a precarização do emprego se dá a partir da adoção de estratégias de flexibilidade e ajustes às demandas do mercado, bem como os contratos temporários, redução dos encargos trabalhistas, sendo estas medidas para a manutenção da acumulação do capital. As ações coletivas são, de longe, as consequências mais deletérias da terceirização, gerando fragmentação e esfacelamento de ações políticas, como sindicatos, divisões da classe mesmo sendo da mesma categoria e em função da grande rotatividade e instabilidade nos postos de trabalho, criar identidade se torna algo quase inverossímil (Costa, 2017). De acordo com Alves (2011) a precarização do trabalho não está somente na dimensão

26 22 do trabalho enquanto força e condições oferecidas, mas sim na dimensão no qual o homem é visto como um humano-genérico, (denominado como trabalho vivo) que é convocado a responder ao capital. No tocante de trabalho vivo, o autor aponta a necessidade de compreensão a partir da visão ontológica de homem, que é visto como um animal, logo se faz homem pelo trabalho. Analogamente, é certo que a intensificação do trabalho, comumente a redução do tempo que temos disponível ao proveito da vida, apresentam-se como elementos da precarização, sendo está uma precarização de degradação das condições do trabalho vivo e de reprodução social (Alves, 2013), ou seja, A precarização é um processo multidimensional que altera a vida dentro e fora do trabalho (Franco, Druck & Seligmann-Silva, 2010, p. 231). A precarização vem assumindo importantes debates e reflexões sobre o mundo do trabalho a começar na crise da sociedade fordista com o crescente número de desemprego; emergência da pobreza e a forma de organização estrutural crescente do trabalho, a terceirização (Franco & Druck, 2008). A terceirização vem sendo vista no Brasil desde meados da década de 60, tendo início no setor público, fornecendo instrumentais para instituições governamentais e se espalhando pelo setor privado na década de 70, por meio do trabalho assalariado evoluindo em seguida para o não assalariado (Campos, 2018). Deste modo, ainda na década de 70, a terceirização foi fomentada pelo Estado, disseminando no setor público como também o setor privado, gerando alguns entraves no campo político entre o poder Executivo e Legislativo, que validaram a sua implantação. Já o Poder Judiciário junto com o Ministério Público, se mostraram contra esse fenômeno (Campos, 2009; 2018). Costa (2017) pontua que a terceirização, também denominada de subcontratação, não é algo novo no Brasil, que até o final da década de 80 ainda era uma prática muito restrita para

27 23 sanar as necessidades das empresas, como, por exemplo, a substituição dos trabalhadores em períodos de férias, ou para cobrir demandas sazonais, o que se ainda é muito visto em períodos de contratação temporária. Se faz necessário apontar que, o fenômeno da terceirização não apenas se instalou por meio do trabalho assalariado como também surgiu para as novas modalidades que praticam também esta medida como o trabalho por conta própria. Ou seja, as prestações de serviços individuais, cooperativas e empresas individuais acabam por também fazer parte do escopo da terceirização (Campos, 2018). Ao longo das décadas de 90 e 2000 este processo acelerou de forma bastante expressiva. Druck e Franco (2007) em seus estudos, constataram que grande parte das empresas industriais chegaram a ter 75% de seus trabalhadores regulares vinculados a contratos instáveis (terceirizados) sendo apenas 25% em modalidades ditas estáveis. É certo que os avanços da terceirização não contribuíram para a organização do mercado, ao contrário disso, desorganizaram e permitiram a convivência das muitas modalidades de contratação. Com isso, ampliaram a liberdade de gerir a força de trabalho mediante as necessidades das organizações expondo os trabalhadores a situações de extrema insegurança, instabilidade e precarização (Gimenez; Krein, 2016). Um manto de invisibilidade está posto, ocultando a relação trabalho capital ao modo que descaracteriza o vínculo que se estabelece entre empregado e empregador pautada nos direitos trabalhistas, transferindo as responsabilidades para terceiros (Franco, Druck, & Seligmann-Silva, 2010). Os autores caracterizam este manto como: Processos de dominação que mesclam insegurança, incerteza, sujeição, competição, proliferação da desconfiança e do individualismo, sequestro do tempo e da subjetividade (p. 231). Este fenômeno pode ser facilmente conceitualizado como um mecanismo favorável às organizações, almejando ganhos de produtividades e gerando competitividade, a modo que

28 24 reduzam os custos com o trabalho se eximindo de responsabilidades salariais que são tratadas diretamente com o trabalhador, algo que é ditado pelas normas legais, que geralmente protegem as relações de trabalho (Costa, 2017). Segundo Druck e Borges (2002) a terceirização pode ser a principal expressão de uma política de gestão e organização do trabalho, oriundo da reestruturação produtiva. Isso acontece devido ser a forma mais visível da flexibilidade do trabalho, se propagando nas discussões organizacionais como, contratos flexíveis. Gimenez e Krein (2016) apontam que, flexibilizar em detrimento da destruição dos direitos e diminuição da proteção social, jamais será um avanço econômico e político-social, o que precisa se avançar é a geração de emprego, melhores remunerações e a incorporação da população na proteção social. Com a incorporação de políticas neoliberais no mundo do trabalho, não apenas a organização do trabalho se apresenta com caráter de flexibilização, como também os padrões de consumo, produção e condições de trabalho. A saúde, por sua vez, acaba sendo alvo nesse cenário de transição que reflete de forma deletéria à saúde do trabalhador (Freire, 2010). Igualmente, as implicações da terceirização deixaram marcas profundas aos trabalhadores, no qual manifestaram de forma declarada suas reais intenções dentro de um modo de organização do trabalho, em que o ideal continua sendo, estritamente, a acumulação via exploração (Costa, 2017). É certo que as tecnologias de informação e comunicação galgaram terrenos férteis nas novas formas de organização do trabalho o que nada tem a ver com auspiciosidade já que notadamente é insalutífero para a classe trabalhadora, tendo sua força de trabalho explorada sem pudor em benefício da acumulação do capital. O desenvolvimento destas forças produtivas permitiu o surgimento de fenômenos de dimensões globais, como o bem ilustrado Uber, plataforma digital disponível em

29 25 smartphones prestando serviços de transportes aos clientes que assim acessam o aplicativo. A empresa difere de seus concorrentes de mesmo segmento por meio de preços mais acessíveis; vinculação do aparelho celular ao percurso e trajeto; controle sob a prestação do serviço; e a forma de pagamento, podendo ser direta ou indireta (cartões de crédito) (Franco & Ferraz, 2018). De fato, Esse novo mundo do trabalho é marcado por uma cultura tecnocrática cujo espaço virtual é a internet (Lima & Bridi, 2019, p. 325). Em conformidade com Slee (2017), a lógica da Uber, de fato não é se opor às empresas de táxi, mas sim tornar-se uma ferramenta capaz de favorecer a desregulamentação do mercado. Ao afirmar isto se tem, motoristas sem contrato (vínculo empregatício), sem direitos, qualificações específicas e sobretudo, pagadores de uma taxa férrea, chegando a 25% por cada corrida. Vale salientar que a empresa Uber figura aqui apenas um exemplo, sendo intencionalmente usada para elucidar o cenário caótico das novas relações de trabalho desenvolvidas. Ser um trabalhador-perfil em um cadastro da multidão significa na prática ser um trabalhador por conta própria, que assume os riscos e custos de seu trabalho, que define sua própria jornada, que decide sobre sua dedicação ao trabalho e, também, que cria estratégias para lidar com uma concorrência de dimensões gigantescas que paira permanentemente sobre sua cabeça (Abílio, 2017, p.04). Pochmann (2017) afirma que um novo precariado se instaura, tornando a classe trabalhadora mais exposta aos processos de uberização na organização e remuneração da sua força de trabalho, de modo que o assalariamento formal e garantia de direitos sociais e trabalhistas, reduziram vertiginosamente. A subordinação dos trabalhadores e a subsunção virtual do trabalho sob os moldes da uberização, são imprudentes e danosos, embora seus asseclas mostrem uma realidade de autonomia e liberdade de produção (Franco & Ferraz, 2019).

30 26 Reiteram que, a mediação executiva deste trabalho, segue padrões e metas das empresas detentoras das plataformas, e o trabalhador, em vez de submetido a um contrato formal de trabalho, está submisso a um contrato de trabalho informal, pulverizador de todo e qualquer tipo de direito e imposições estabelecidas, caso contrário, o risco de desligamento da ocupação é o desfecho deste infortúnio contrato. Há de se concordar que estas modalidades de trabalho, impõe o trabalhador a contratos flexíveis e intermitentes, os obrigando a cumprir metas, geralmente impostas de forma assediadora, culminando em números expressivos de adoecimentos (Antunes, 2018). Em sua maioria, oferecem uma atividade extremamente precária, insegura, perigosa e que demanda, exaustivas horas de trabalho a um valor de mão de obra irrisório (Sabino & Abílio, 2019). Antunes (2018) atribui este novo modelo ao chamado, indústria 4.0, proposta na Alemanha em 2011, visando gerar novos modos produtivos tecnológicos, se estruturando a partir das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) em processo de desenvolvimento contínuo. Isto significa processos altamente automatizados, de modo que toda a logística das empresas seja controlada de forma digital, gerando cada vez mais valor. Tal incidência das TICs fez com que de fato o trabalho online promovesse uma cisão entre o tempo de vida no trabalho e fora dele, nascendo assim uma nova forma de modalidade de trabalho que estabelece relação direta com o mundo digital e subserviência às ideias pragmáticas corporativas. Salienta-se que, o custo maior de toda esta sordidez é o surgimento de uma contemporânea era escravista digital, que se combina com a extensão de uma classe de intermitentes globais (Antunes, 2018). Não obstante, podemos nos perguntar: O que está por trás deste discurso corporativista progressivo? Essa é uma ótima indagação para começarmos a entender o quanto ilógico e cruel são as novas formas de controle remodelados para novos nomes chamativos e atraentes.

31 27 Empreendedorismo linguisticamente falando, vem de empreender, logo tem por definição, a realização de empreendedor ou empreendedorista, no que lhe concerne, é conceituado como aquele que é capaz de desenvolver novos empreendimentos, novas empresas (Ferreira, 2010). Melhor conceituado: O termo empreendedorismo tem sua criação atribuída ao escritor e economista Richard Cantillon (séc. XVII), pois foi um dos primeiros a distinguir o empreendedor (pessoa que assume riscos) do capitalista (fornecedor de capital), significa o processo no qual os indivíduos ou grupos de pessoas que identificam, buscam as oportunidades empresariais e através delas assumem o risco de executálas, coloca-las em prática (Brito, Pereira & Linard, 2013, p. 15). Antunes (2018) aponta que o empreendedorismo nada mais é do que a configuração de uma forma oculta de trabalho assalariado estendendo para novas formas de flexibilização do trabalho. O autor reitera que, isto é posto como uma lógica que se impera empreendedorismo como empregador e assalariado de si próprio, apontando uma grande falácia, já que a realidade é a erosão dos empregos e o esfacelamento dos direitos trabalhistas. Há uma narrativa do indivíduo como empreendedor, que gera glamour e desejo, sem nos darmos conta do cenário social de grande pauperização e exclusão social pela própria fragilidade do Estado, no qual deveria garantir os direitos sociais (Barbosa, 2011). É correto, portanto, dizer que estas categorias são marcas do mundo do trabalho atual, mas que não o resume, haja vista a heterogeneização do trabalho. Segundo Antunes (2012), estas marcas oriundas do mundo do trabalho, são apenas a porta de entrada para a precarização, nefasta em si e por si e, por conseguinte, precisa ser combatida. 2.3 Cenário Socioeconômico a partir da crise no Brasil

32 28 É propósito desta subseção, evidenciar as reverberações ocorridas durante e após a crise econômica de 2008, sendo este, um momento muito importante sobre o custo social, oriunda de uma das maiores crises econômicas vista depois da nomeada depressão de A crise de 2008 teve seu desdobramento precisamente nos Estados Unidos, pela falência de um dos maiores bancos do país, o Lehman Brothers (MOTA, 2013). Conhecida como crise do subprime, alastra-se de maneira desenfreada, atingindo rapidamente grande parte dos países, causando assim uma crise global com efeitos deletérios na economia, gerando desemprego e recessão (Silva & Neto, 2014). O Brasil, vivenciava uma estabilidade no mercado de trabalho um tanto quanto estável quando foi atingido pela crise, sua taxa de desemprego encontrava-se em 7,8%, sendo esta a média mais baixa desde seu monitoramento através de metodologias atuais implantadas em 2002 (Silva & Neto, 2014). Os primeiros indícios de fatores em deterioração em função da crise foram constatados por Pochmann (2009) quando em seus estudos enfatizou as situações precárias nas condições de trabalho, aumento da informalidade e rotatividade nos empregos formais. Segundo Santos (2011), a crise econômica culminou em três fenômenos próprios deste processo, evidentemente o aumento de desemprego, horas de trabalho extenuantes dos que estão empregados e a erosão do trabalho com direitos. Harvey (2000) já apontava que, a cada nova crise que se instala, torna-se evidente a irracionalidade do sistema, pois não há resoluções para a crise em função de nunca se transparecer o real, contornando apenas a situação. Quando as dívidas do Estado elevaram, as medidas tomadas foram os cortes dos serviços públicos e diminuição dos postos de trabalho, reduzindo a dívida e socorrendo o sistema financeiro em detrimento do bem-estar da sociedade. 3 Depressão de Crise econômica ocorrida nos Estados Unidos, com a queda da bolsa de valores de Nova York, gerando uma grande crise interna que acabou por se alastrar por diversos países do mundo, tendo altos índices de desemprego como uma das grandes consequências.

33 29 Com a intenção de apresentar um panorama, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) realizou um levantamento de 1990 a 2007 (International Labour Organization, 2008), período este que antecede à crise mundial, ocorrida em 2008, sintetizando o processo de precarização do trabalho. No ano de 2007, a taxa de desemprego no mundo era de 5,7%, com um total de 179,5 milhões de desempregados. No ano de 2008 este número já chegava a 190,2 milhões de pessoas desempregadas, havendo um acréscimo de 10 milhões nesse intervalo de tempo (Franco, Druck, & Seligmann-Silva, 2010). Os autores ainda acrescentam que, entre o início da crise em 2008, e o final em 2009, foram registrados em mais de 50 países uma perda de mais de 20 milhões de postos de trabalho, e 6 milhões de trabalhadores em estado de extrema vulnerabilidade, com fortes ameaças de perda de emprego, tendo suas jornadas de trabalho reduzidas. O antagonismo social representado pela díade capital-trabalho é nitidamente estampado dentro do cenário socioeconômico, havendo grande sujeição às práticas desumanas de trabalho, em que a própria sociabilidade se esfacela e o poder de autonomia é inexistente, um sofrimento humano que legitima o custo social, e uma vez pertencente a lógica capitalista, retirar-se deste ambiente despótico é quase um sonho inimaginável. Alain Touraine (2011) aponta que o grande custo social da crise, atingiu bruscamente a classe trabalhadora, imperando o silêncio e a apatia. O desespero é inevitável, bem como a fragmentação do tecido social, afirmando que muitos dos trabalhadores não se reconhecem mais como categoria social. Portanto, as relações sociais apresentam uma nova dinâmica, configurando em formas contemporâneas de se reproduzirem socialmente: Em sua forma contemporânea, a sociedade capitalista caracteriza-se pela fragmentação de todas as esferas da vida social, desde a produção, com a dispersão espacial e temporal do trabalho, até a destruição dos referenciais que balizavam a identidade de

34 30 classe e as formas de luta de classes. A sociedade aparece como uma rede móvel, instável, efêmera de organizações particulares definidas por organizações particulares e programas particulares, competindo entre si (Chauí, 2006, p. 324). Não somente as novas maneiras de (re)produção social foram esfaceladas, como também grandes alterações foram manifestadas na saúde do trabalhador no contexto histórico da reestruturação produtiva, derivado de um cenário social, político, econômico que entra em crise nos anos 70 e 80. Essa mesma situação é agravada com a crise subsequente que ocorreu em 2008 e aprofunda tendências originadas nas décadas anteriores (Assunção, 2003). Em função da estagnação socioeconômica, desemprego, empobrecimento, condições de trabalho precárias, os fatores protetores da saúde mental são comprometidos, vivendo em incertezas e inseguranças, sendo estes alguns fatores oriundos da crise de 2008 (Silva et al., 2015). Riscos psicossociais se tornaram a face hegemônica oriunda da crise, pobreza, insegurança nos postos de trabalhos, enfraquecimento das redes de apoio social, desemprego e baixo nível educacional são alguns dos riscos vivenciados por grande parte da classe trabalhadora, tornando-os vulneráveis, sobretudo, aos problemas de saúde mental (Silva et al., 2015). Com isso, torna-se claro que as mudanças econômicas que ocorrem de forma grave e súbita, traduzem como riscos adicionais para a saúde. Estudos realizados no Brasil de base populacional, mostraram que pessoas de baixos índices econômicos, pertencentes às classes sociais inferiores tinham menos probabilidade de receber tratamento nos centros de saúde (Andrade et al., 2008). A crise econômica, desemprego e saúde mental foram constatados como grandes correlações para o grande índice de depressão, ansiedade e uso de substância (Catalano, 2009). A fobia social foi atrelada fortemente à situação econômica, deixando evidente o reflexo ultrajante da desigualdade social no País (Vorcaro et al., 2004).

35 31 No tocante da crise, não restam dúvidas que a mesma engendrou inúmeras desestabilizações no campo do trabalho, precarizando e promovendo inseguranças no sistema de proteções e garantias dos trabalhadores (Yazbek, 2014), sendo este um recorte da degradante situação em nosso país, em que a luta e resistência andam sendo armas poderosas para a retomada do protagonismo político. 2.4 Precarização na saúde do trabalhador: o trabalho que adoece Segundo Keppler e Yamamoto (2016) existe uma relação conflituosa entre saúde e trabalho no sistema corrente, sendo esta, uma parte da contradição estrutural existente na relação capital-trabalho. Selligman-Silva et al., (2010) aponta que em função das características atuais do mundo do trabalho, como a precarização, vínculos instáveis, violação dos direitos sociais e trabalhistas, e a competição dentro da lógica de mercado, há um crescimento vertiginoso nos números de adoecimento relacionados ao trabalho. Em uma sociedade que vive na conjuntura socioeconômica atual, é inquestionável o tempo que o trabalho ocupa na vida dos indivíduos, na qual o processo de identificação e construção subjetiva pode sofrer prejuízo em função da precarização cada vez mais ferrenha, contribuindo assim para um processo complexo de alienação/estranhamento do trabalho (Antunes, 2002). Dejours (1993) aponta que, as pressões exigidas do trabalho nas organizações, influenciam diretamente a saúde mental dos trabalhadores, sendo um desequilíbrio psíquico por parte das formas de organização e estrutura que o trabalho é posto, bem como o comprometimento da saúde do corpo em função das condições de trabalho insatisfatórias. O autor complementa:

36 32 O trabalhador, incomodado pela sua atividade psíquica espontânea paralisa-a. Para tanto a maioria dos trabalhadores acelera o ritmo de trabalho e se engaja freneticamente aceleração, de maneira a ocupar todo o seu campo de consciência com as pressões senso motoras (Dejours, 1993, P.162). Diante a heterogeneidade que circunda o trabalho no mundo contemporâneo, Silva e Ramminger (2014) apontam o quanto as discussões sobre condições e precarização do trabalho encobrem a importância e função social do trabalho como operador de saúde. Entretanto, não se pode fechar os olhos para o que notadamente se apresenta em nosso meio, ressaltado precisamente este desatino: [...] ele (o trabalho) estrutura o tempo, enquanto consome cada vez mais intensamente. Provê a rede central de relações, da mesma forma que retira o indivíduo do convívio de seus familiares e de outros círculos sociais. Dá significado e um papel a desempenhar, enquanto reduz a dignidade humana a sua utilidade nas engrenagens econômicas. É um direito disputado por muitos, ao mesmo tempo que é um dever indesejado por outros tantos (Martins, 2001, p. 22). Diante de tanto contrassenso, é preciso avaliar que, ainda segundo Silva e Ramminger (2014) inspirados pelo conceito de saúde de Canguilhem, este trabalho só poderá ser considerado operador de saúde se nele for despido de limitações normativas, o que Canguilhem chamou de normas propulsivas. Estas normas constantes impossibilitam aberturas de recriações em sua atividade, estagna o trabalhador e o coloca em estado de imutabilidade. Não obstante, o cenário atual sanciona práticas de rigidez ao trabalhador, o mundo do trabalho está caótico, com crescente exclusão social e precarização das relações e do trabalho, sindicatos debilitados (Mattoso, 1996) urgência de maior produtividade, pressão do tempo consoante à complexidade das atividades (Goulart, 2006).

37 33 Em concordância disso, estudos realizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), vem corroborando estatisticamente para estes dados, em que os transtornos mentais menores e graves atingem um total de 35% dos trabalhadores, e por anos vem ocupando a terceira maior causa de adoecimento e concessão de benefício auxílio-doença. (Selligman, 2010; Brasil, 2001; Barbosa-Branco et al., 2012). Dentro da lógica dos novos processos produtivos, oriundos da grande intensidade do trabalho, sobretudo, sob pressão, empresas francesas como, Telecóm, Renault e Peugeot nos últimos anos apresentaram números preocupantes em casos de suicídio. Assédio moral e falta de solidariedade nos trabalhos em equipe são outros aspectos que fortalecem a pujante estatística (Hirata, 2011). Esta realidade se respalda por dados divulgados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que no ano de 2013 apresentaram uma pesquisa revelando que o trabalho mata aproximadamente dois milhões de trabalhadores por ano, número este que supera as mortes ocorridas nas guerras. Dos casos que não culminaram em mortes, 270 milhões são acidentes de trabalho e 160 milhões de doenças anualmente relacionadas ao trabalho (Antunes, 2007). Alguns estudos apontam um conjunto de transtornos mentais vinculados à atividade de trabalho, havendo relações diretas com a violência causada pela precarização social e do trabalho. Ao longo do tempo, alguns estudos realizados da saúde mental relacionada ao trabalho (SMRT) em diferentes países, incluído o Brasil, categorizam as principais doenças acometidas aos trabalhadores nas últimas décadas, entre elas estão: quadros depressivos; esgotamento profissional (Burnout); o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT); dependência de bebidas alcoólicas e outras substâncias (drogas ilegais e psicotrópicos) (Franco, Druck, & Seligmann- Silva, 2010).

38 34 Dados do Ministério da Previdência Social (MPS), apontam que os afastamentos em função de adoecimentos mentais cresceram vertiginosamente nos últimos anos, e chegam a ser a terceira maior causa de afastamento e concessão de benefício no país. Nas últimas décadas, o Brasil vem apresentando um enorme contingente de desemprego e precarização no trabalho, bem como a informalidade crescente. Estes fatores pérfidos, mostraram um aumento desmedido nos quadros de estresse pós-traumático, depressão e falta de perspectiva futura em suas vidas, expressando visivelmente as relações existentes entre a saúde mental e o modo de produção capitalista (Vasconcelos, 2012). Legalmente, os transtornos mentais relacionados ao trabalho (TMRT) foram reconhecidos no país apenas em 1999, com a portaria nº Já em abril de 2004, a portaria de nº 777, acrescentou esses transtornos e mais dez outros agravos à saúde, à lista de doenças de notificação compulsória no SINAN, Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Brasil, 2004). O Reconhecimento do nexo causal pelos órgãos previdenciários que se estabelece entre o trabalho e o transtorno psíquico, tornou-se uma grande preocupação (Jacques, 2007), prova disso é a implementação do NTEP (Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário) no sistema informatizado do INSS, que surge apenas em abril de 2007 (Brasil, 2015). No Brasil, o aumento da incidência dos transtornos mentais relacionados ao trabalho tem apresentado estatísticas bastante preocupantes depois que sua invisibilidade foi em partes superada pela adoção do nexo técnico-epidemiológico pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) em (Seligmann-Silva, 2016, p. 175). A superação em parte, dá-se pelo fato de existir limites objetivos no NTEP muito característico do sistema econômico e suas novas formas de exploração, como a terceirização da produção e o subemprego, sendo um grande obstáculo quando as condições do ambiente no

39 35 qual o trabalhador desempenha sua função e aquela da empresa que o contratou. Esse importante elemento, caracteriza-se notadamente como um dos fatores dos números expressivos de subnotificação ainda em nosso país (Lourenço; Bertani, 2010). Entretanto, salienta-se que os números de notificações, embora, ganhando notoriedade a partir da implementação do NTEP, deixam lacunas em seus dados de subnotificações, como, por exemplo, profissionais não habilitados para esta atividade, havendo falta de precisão no estabelecimento do nexo causal. Mas, esta é uma questão multifatorial, que não pode ser apenas entendida como falta de formação na área, pois há forças correlacionadas nas relações interinstitucionais e interpessoais, gerando conflitos quanto ao reconhecimento da doença em função do trabalho (Cordeiros et al., 2016; Lourenço & Bertani, 2010). O nexo entre trabalho e doença mental, precisamente, continua sendo um grande nó no que diz respeito ao seu estabelecimento. Paparelli, Sato e Oliveira (2011) aponta que esta dificuldade se dimensiona principalmente pela desconsideração dos elementos sociais que estão presentes no processo saúde/doença psíquica, sendo negados, fazendo com que a própria doença entre na lógica da invisibilidade. O reconhecimento e legitimidade das doenças relacionadas ao trabalho, sobretudo no mundo contemporâneo, denota uma distância muito longa a ser percorrida em busca de uma saúde integral à vida do trabalhador. Essas repercussões atingem a classe de modo a ferir sua dignidade e suas relações sociais, caracterizando-a de forma estigmatizante, e desqualificando as experiências vividas pelo trabalhador, julgando inadequadas à sociedade (Rocha & Bussinguer, 2016; Garbin & Fisher, 2012). Tomando isto como pauta, entende-se que as razões do adoecimento são, em sua maioria, atribuídas exclusivamente ao trabalhador, culpabilizandoo e individualizando um problema de cunho social. Esse trabalhador é rotulado como irresponsável frente a estes acidentes e adoecimentos, no qual elementos como pressões, prazos, metas e exigências, são características do modelo de trabalho contemporâneo, principalmente

40 36 em países da América Latina (Bernardo, 2009; Stecher, 2014). Em virtude disto, o saber médico/psiquiátrico tem seu papel refletido nos contextos de trabalho contemporâneo. Embora seu viés ideológico tenha sido seriamente tipificado no sistema Taylor, através de práticas periciais, adequações trabalho-trabalhador, ainda somos diariamente transformados em reféns do saber e do poder psiquiátrico (Ribeiro, 2018). Dessa forma, o aparato técnico construído em cima dos transtornos mentais deve ser desmistificado, pois nos aprisiona no campo do saber médico/especializado e das práticas segregacionistas, que contribuem para a descrença do adoecimento. Aspectos como: vergonha, isolamento e a própria manutenção da doença, por vezes mantida em segredo, estão associados diretamente ao estigma da doença. O que é necessário neste contexto, é trazer para a visibilidade este sofrimento invisível, e assim sendo possível, um cuidado com respeito, compreensão e desestigmatização dos transtornos (Gibson, 2008; Corrigan, 2009; Santos 2013). Contudo, a proposição é que se compreenda a complexidade dos aspectos que circundam a relação, trabalho, saúde e doença, causando sérias implicações na saúde do trabalhador, e tornando-o objeto de reflexões, pois, embora autores estejam debruçados a estes estudos, os adoecimentos continuam a crescer veementemente, no qual podemos caracterizá-lo como uma questão de saúde pública nos moldes atuais. 2.5 Papel do trabalho na construção subjetiva dos indivíduos "O trabalho é o amor feito visível" disse Khalil Gibran (1980) em uma de suas principais obras, O Profeta. Filósofo e ensaísta norte-americano, que em suas palavras romantiza e enternece o trabalho como fonte de vida e prazer. Por anos o trabalho segue dividindo opiniões, ou melhor, conceituações. No período medieval seguindo a esfera teológica, Santo Agostinho aponta o trabalho como um ato humano laborioso, assim como digno de Deus

41 37 (Melo Júnior, 2008), e posteriormente, reiterado por Weber (1999) quando exprime que O trabalho vocacional é, como dever de amor ao próximo, uma dívida de gratidão à graça de Deus [...]. Ora ele se apresenta como maldição por Adam Smith, ou meramente uma diversão por Fourier (Elster, 1992). É certo que o trabalho se mostra multifacetado, e talvez o romance brando nele revestido, apontado por Gibran, seja inábil. Portanto, a intenção jamais será de esgotar todos os possíveis conceitos que nossa incursão proporcionou, mas dar continuidade na construção desta categoria. Dejours (2004) aponta que, diversas áreas carregam consigo diferentes conceituações do trabalho, para alguns é antes de tudo uma relação social relação salarial outros denotam apenas a uma lógica do emprego, para outros como uma atividade de produção social. Sérgio Lessa (2007) por sua vez, traz o trabalho como potência criadora do homem, apresentando-se como novas formas e possibilidades de se colocar no mundo, retirando-o desse papel incutido meramente ao aspecto biológico, dando espaço para um sujeito que transforma, constrói a partir da natureza, bem como a si mesmo. Os escritos de Marx, o considerava como uma dimensão que não se pode suprimir da vida humana, em outras palavras, parte de uma dimensão ontológica, pois, é por meio do trabalho que o homem cria a realidade, ao mesmo modo que permite um salto da mera existência em aspectos orgânicos à sociabilidade (Luckács, 1981). Estaria nós, indivíduos, compreendendo a transformação mediante ao cenário vigente, ou reduzido a um trabalho no capitalismo que não realiza toda a nossa potencialidade? Em tempos de intensas transformações no mundo do trabalho, que acaba por atingir não somente a materialidade da classe-que-vive-do-trabalho, mas sobretudo sua subjetividade (Antunes, 1997) o que seria possível ser realizado? Há, entretanto, uma necessidade de se resgatar a centralidade teórica e prática do

42 38 trabalho. Em teoria, pelo sentido da categoria do trabalho como fundante do ser social, e em termos práticos, pela sua posição de protagonismo no processo de produção e sobretudo, nas lutas políticas (Tonet, 2013). O capitalismo carrega consigo, inúmeras divergências relacionadas ao mundo do trabalho, ao ponto em que o trabalho é denotado como fonte de criação, humanização, e o capital o transforma em deletério, alienado. Perde-se a dimensão do trabalhador criar coisas úteis que visem às necessidades humanas para atender uma necessidade do capital (Navarro & Padilha, 2007). Reiteram que, ao final do processo, o produto parece ser estranho para o trabalhador, como algo que não o pertence. Marx (1989, p. 150), explicita: O trabalhador coloca a sua vida no objeto; mas agora ela não pertence mais a ele, mas sim ao objeto. Consequentemente na contemporaneidade, o próprio conceito de trabalho, acaba por sofrer uma flexibilização no qual não enfatiza apenas o emprego, mas acaba por considerar também outros modelos de contratos, como o serviço de terceirização, o trabalho autônomo, informal, temporário, voluntário, as cooperativas e os estágios Nessa perspectiva, Seligmann-Silva et al., (2010) afirma que, estes fatores decorrentes dos novos moldes do trabalho, se tornaram preponderantes nas mudanças de aspecto de integração social, bem como culturalmente e economicamente, tornando-se significativos para a construção subjetiva dos indivíduos. O trabalho não pode ser reduzido como meramente uma atividade, ele é, também, uma expressão da relação social, no qual se desenvolve em um mundo tomado pelas relações de desigualdade, poder e dominação. Trabalhar é implicar sua subjetividade dentro de um mundo hierarquizado, orquestrado e coercitivo passando da luta para o domínio (Dejours, 2004). Ancorados pelas ideias de Marx, Dejours, Barros e Lancman (2016) aponta o trabalho como algo vivo, do campo individual e subjetivo. Reforçam que, a subjetividade não pode ser

43 39 mensurada, uma vez que não pertence ao mundo visível, logo, não podendo ser medido elementos que dele fazem parte. O autor reitera que, frequentemente, o trabalho é limitado ao dispêndio de tempo destinado à execução de uma atividade. Na verdade, o trabalho transcende qualquer limite posto ao tempo de trabalho, nesse momento mobiliza-se a personalidade por completo. Não há espaço para o reducionismo, O próprio trabalho intelectual não se reduz a uma pura cognição (Dejours, 2004, p. 29). É certo que a subjetividade, ainda em algumas áreas, encontra-se fixada por vezes, em uma lógica naturalista, desconsiderando seu processo histórico e pautada no desenvolvimento biológico, desprezando totalmente as relações sociais e a realidade concreta, proposto pela visão marxista (Aita; Facci, 2011). A compreensão marxista de subjetividade, traz conteúdo da essência humana, localizado no trabalho, e a sua existência é produto das relações entre os indivíduos, e não da natureza. O que a natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para viver em sociedade (Saviani, 2004; Leontiev, 2004, p. 285). A ideia de imutabilidade da subjetividade e premissas elementares de um indivíduo uno, produz um desencantamento da construção da imagem de sujeito, logo tal colocação cai em declínio, pois, o sujeito está no mundo, como o mundo está para o sujeito (Fonsenca, 2000). A relação entre subjetividade-trabalho existe a partir da especificidade histórica do sujeito e o seu trabalho em um dado contexto socioeconômico. Portanto, se pensarmos historicamente, a relação entre subjetividade e trabalho traz consigo diversas conotações ao longo do tempo. O senhor feudal e o servo no período medieval; do operário das indústrias fordistas; e contemporaneamente, o analista de sistema de uma start-up (Nardi, 2006). Se considerarmos as transformações socioeconômicas ocorridas ao longo do tempo, ou precisamente relacionadas ao modo de trabalho, estaremos considerando a subjetividade e

44 40 mudanças sociais como fatores que implicam os sujeitos no/do trabalho (Fonseca, 2000). Nesse sentido, há de se concordar que o mundo do trabalho aparece como grande expoente nos processos de subjetivação contemporânea. As relações que são construídas em função da atividade laboral do sujeito, constituem um eixo importante na sociedade capitalista, estabelecendo-se um ponto central na reestruturação produtiva, produzindo novas reorganizações de espaços de trabalho, bem como novos trabalhadores (Lopes, 2009). A Intensificação do trabalho, modo de organização e o processo de automação, apresentam-se como altos índices de demandas ao trabalhador. Estes aspectos são frutos das novas formas de trabalho, que são determinados e exigidos como padrão de alta performance, impactando não apenas fisicamente, como mentalmente os trabalhadores (Jardim et al., 2010; De Oliveira et al., 2019). As relações sociais de produção contemporâneas, oriunda da forma singularizada de dominação e controle do trabalho pelo capital flexível (Renault, 2008) fortifica cada vez mais o enfraquecimento das relações sociais, tornando-se a principal causa dos números expressivos de sofrimento psíquico, pois se entende que a falta do apoio coletivo, como forma promotora de transformações sociais, levam a manifestar diversas patologias que são produzidas pelo universo social, no entanto, experienciadas fortemente na vivência individual. Seligmann-Silva (2011) aponta que esta fragilização do tecido social a partir dos novos modelos de trabalho, bem como o fenômeno da precarização do trabalho e da sociedade como um todo, leva a um enfraquecimento das instituições que estão à frente da proteção coletiva, bem como os laços constitutivos da relação entre os seres humanos. Nessa perspectiva, Rocha e Bussinguer (2016) colocam a precarização da saúde e da Saúde do Trabalhador, como fenômenos resultantes da interface destes processos de precarização social e do trabalho. Atrelado a isto, temos organizações de trabalho coniventes a este modo individualista e predatório, investindo cada vez mais em uma cultura de saúde não alinhada à produção, e

45 41 consequentemente forçando o trabalhador a buscar seus prórpios meios de cuidado, distanciando à construção das redes a partir da coletividade. O cenário em que se expressam a saúde e o trabalho vem sofrendo grandes transformações e as determinações que recaem sobre a saúde do trabalhador na contemporaneidade estão principalmente relacionadas às novas modalidades de trabalho (Mendes & Wunsch, 2011). As diminuições dos ciclos de produção, a lógica da divisão do trabalho, desenvolvidas nas empresas, a inserção tecnológica, exigências de trabalhadores polivalentes, bem como treinamento dos mesmos e o esmaecimento dos laços de solidariedade, são fatores que marcam fortemente as mudanças ocorridas no mundo do trabalho, apresentando-se como requisitos ideais aos processos produtivos (Antunes, 1997; Mattoso, 1996). A lógica manipulatória instaurada pelos processos produtivos, é um grande escárnio à classe trabalhadora, na medida em que produz fortes implicações subjetivas. Portanto, notadamente é necessário resgatar os constructos teóricos marxistas no que toca à subjetividade, dado que a produção do capital fez o papel de capturar a subjetividade/intersubjetividade do trabalho (Alves, 2008). A subjetividade é compreendida para além dos aspectos econômicos, ela é vista como um componente inseparável dos processos de formação humana, e não reduzida a um objetivismo mecanicista, salientando a correlação necessária com a subjetividade, ou seja, para Marx (1965), não há objeto sem sujeito, como não há sujeito sem objeto, ambos se constituem na relação. Isto é, os fundamentos que sustentam a subjetividade para Marx, é que, nem de longe ela se apresenta como uma instância autônoma, abstrata, independente, nem muito menos natural, mas sim, constituída socialmente, produzida em um dado momento histórico, sem deixar escapar a realidade capitalista que a forja (Chagas, 2013). Estamos vivendo em um

46 42 modelo de sociedade fecundo ao individualismo e de consumo massivo, estando associado a um estilo de vida que desestabiliza os valores e as formas de organização do trabalho. O individualismo institucionalizado aqui posto, isola os cidadãos, os responsabilizando nos modos mais perversos e desumanos, fazendo com que essa conformidade alienante entre o individualismo e consumismo, aprisione os cidadãos e suas famílias, tornando-os sujeitos a condições de trabalho mais instáveis, inseguros e mal pagos (Vizzaccaro-Amaral, Mota & Alves, 2011). Neste sentido, os avanços têm configurado às relações de trabalho como descartáveis e competitivas, intrínseco ao capitalismo, enfraquecendo assim, as redes e espaços de solidariedade entre os sujeitos, que se tornam cruciais para a viabilização de ações promotoras da relação trabalho e saúde (Spilk; Tittoni, 2005; Faria, Leite & Silva, 2017). A atual pandemia do COVID-19 e a consequente crise social advinda dela, tem impactos diretos sobre a relação saúde e trabalho na nossa época. A pandemia surge e nos coloca à frente de limites de compreensão da nossa forma de produzir e reproduzir sociabilidade. Sendo ele um fenômeno social, seus efeitos e amplitude alcançam rapidamente a população, de forma imprevisível e materialmente, economicamente, culturalmente, politicamente e socialmente desigual (Coelho, Carmo & Jesus, 2020). Grandes índices de mortalidade, fenômenos como postos de trabalhos extintos, - gerando números expressivos de desemprego, precisamente, 12,85 milhões de pessoas desempregadas no ano de 2020 empobrecimento e miserabilidade da classe trabalhadora, são algumas das faces deletérias oriunda da crise. No Brasil, as formas de exploração de trabalho e precarização, não é nada novo, intensificado mais ainda neste momento, gerando consequências perversas aos milhares de brasileiros que nesta situação se encontram. Reflexo disso, foram os mais de 5 milhões de trabalhadores que experimentam as condições da uberização do trabalho, através dos aplicativos digitais, romantizados por muitos como forma de geração de emprego

47 43 (Antunes, 2020). Como bem exposto por Marx (2017), apenas o trabalho humano é capaz de gerar valor e produzir riqueza, o que nos responde bastante às indagações. A crise do novo coronavírus revela de forma legível, o escárnio na relação capital-trabalho, em um cenário de grandes contradições sociais impostas aos trabalhadores e trabalhadoras, David Harvey (2020) aborda que: Essa nova classe trabalhadora está na vanguarda e tem o peso de ser a força de trabalho que está com o maior risco de contrair o vírus por meio de seus empregos ou de ser demitida sem ter garantias por causa da contenção econômica imposta pelo vírus. Há, por exemplo, a questão de quem pode trabalhar em casa e quem não pode. Isso aumenta a divisão social, assim como a questão de quem pode se dar ao luxo de se isolar ou se colocar em quarentena (com ou sem pagamento) em caso de contato ou infecção. [...] o progresso do COVID-19 exibe todas as características de uma pandemia de classe, de gênero e de raça (p. 21). Diante do exposto, é possível verificar os males fúnebres causados pela pandemia, juntamente com omissões por parte daqueles que, por lei, deveriam investir em proteção social. De qualquer maneira, a doença revela os abismos sociais postos, compreendendo que o isolamento social, por exemplo, não é nada democrático. Para além destes aspectos, Coelho, Carmo & Jesus (2020) apontam que o medo do adoecimento e do desemprego, apresentam-se como fatores que afetam a integridade mental dos trabalhadores, sobretudo para aqueles que não podem desempenhar o seu trabalho de forma remota, bem como profissionais da linha de frente, que precisam lidar com o perigo eminente do contágio. Reitera que, o desemprego é o elemento que potencializa a vulnerabilidade social, o medo da perda da fonte de subsistência e das condições precárias de trabalho afetam de forma

48 44 nociva a classe e que contribuem para o aumento de comprometimento mental daqueles que enfrentam o período pandêmico. As fragilidades potencialidades no período pandêmico, torna os trabalhadores cada vez mais distantes de vivenciar um trabalho decente, bem como tornando mais suscetíveis aos agravos à saúde (Silva, Coelho-Lima & Barros, 2020), implicando no impactando direto das formas de produzir e reproduzir sociabilidade.

49 45 3. As redes de apoio no campo da saúde do trabalhador É em função das inúmeras transformações oriundas dos novos modelos de trabalho, que a pauta sobre a saúde do trabalhador começa a ser levantada, por conseguinte, surgindo o campo da Saúde Mental do Trabalhador (SMRT), propondo-se a compreender todos os elementos que circundam enquanto promotores de saúde, bem como o adoecimento pelo trabalho. Desta forma, entende-se como um campo que é sobretudo, multidisciplinar, dialogando com as mais diversas áreas, sedimentado em solo fértil e gerando reflexões que levam ao entendimento do conceito de saúde (Silva, 2011). A discussão sobre trabalho e saúde tem sido intensamente debatida por diversas disciplinas e autores. Laurell (1993) evidencia o processo de saúde e doença como uma determinação histórica e social, sendo o trabalho a via principal de produção da saúde coletiva. Contudo, ainda há grandes limitações no que diz respeito ao processo biológico da doença e as influências de caráter histórico social que leva ao adoecimento (Laurell & Noriega, 1989), concepções estas que ainda circunscrevem um diálogo espinhoso nos dias atuais. Para Laurell (1978) a grande dificuldade de desenvolver reflexões que gerem ações a respeito da saúde do trabalhador, é oriunda de uma conceitualização incipiente do que é trabalho. Apesar de configurar como uma categoria de centralidade, ainda é tratado de uma forma muito irrefletida, ou seja, existindo uma grande lacuna na elaboração deste conceito para que assim seja transformado nesta categoria central. Não somente o conceito de trabalho carrega estes engendramentos, como também a saúde/doença sofre do mesmo mal, devido a uma lógica engessada de conceitualização a partir do modelo médico-biológico, encontrando dificuldades para geração de novos conceitos. Laurell (1978b) coloca que é necessário demonstrar que este processo parte do caráter histórico e social, e que para isso é importante distinguir dois problemas que estão latentes nesta questão.

50 46 Por um lado, há o conceito de saúde expressando como conceituamos e definimos socialmente como um determinado fenômeno biológico. Por outro lado, a palavra doença que está incutida neste mesmo processo biológico que acontece independente do que se pense dela, desta forma, sendo necessário comprovar o caráter social de ambas, e que suas relações com os aspectos econômicos, políticos, sociais são existentes, ou seja, de esfera multifatorial, concebendo assim como socialmente determinado (Laurell, 1983; 1987). Consonante a Nogueira (2010), a doença ainda é entendida como um fator clínicobiológico, enquanto suas causas continuam a ser tratadas como fatores sociais isolados. É necessário entender que, saúde e doença se caracterizam a partir de fenômenos que são próprios dos modos de relações entre os indivíduos, compreendendo a complexidade histórica completa. Desse modo, a concepção do caráter sócio-histórico do processo de saúde e doença parte da comprovação de que a doença não pode ser configurada a partir de suas características somente individuais, e sim no processo do plano da coletividade (Laurell, 1983), não é somente no caso clínico que a natureza social da doença se revela, é preciso considerar o processo de adoecimento dos grupos humanos. Questões como estas nos levam a crer, o quanto as questões sociais se apresentam como grandes leitores de saúde, e diante disso, a teoria dos Determinantes Sociais de Saúde - DSS galga terrenos férteis na sua constituição. Alguns autores apontam que, não há como se discutir sobre DSS sem entender e discutir sobre a ordem societária vigente, pois, é compreendendo a sociedade capitalista que conseguimos apontar os desdobramentos repercutidos na saúde (Souza, Da Silva & Silva, 2013). Face às colocações mencionadas, o capítulo propõe uma discussão a partir do conceito de saúde, perpassando sobre as políticas públicas em saúde do trabalhador pertencente ao SUS; saúde como uma questão social respaldada pela teoria dos Determinantes Sociais de Saúde; e por fim, as redes de apoio aos trabalhadores adoecidos, sendo estas redes dimensões que partem

51 47 de espaços sociais e políticos, reconhecendo-as como teias dos DSS em promoção à saúde do trabalhador. 3.1 O campo da saúde do trabalhador Segundo Lacaz (1996), a década de 80 apresenta-se como um marco importante para a saúde do trabalhador, passando este trabalhador a ser reconhecido como um sujeito detentor de saber, e não apenas alguém que consome serviços de saúde. O autor reitera que, o campo da saúde do trabalhador parte da participação dos(as) trabalhadores(as) no processo de avaliação e controle dos acidentes de trabalho, não se restringindo apenas aos fatores/agentes externos (físicos, biológicos, químicos, ergonômicos e mecânicos), reconhecendo assim, determinantes contribuintes ao sofrimento mental. A ST surge como uma grande alternativa, rompendo com as práticas assistencialistas, que por sua vez eram alinhadas aos interesses da elite. Sua origem parte do Movimento Operário Italiano (MOI) na década de 60, quando os trabalhadores de chão de fábrica passaram a introduzir os seus saberes como importantes elementos interventivos e metodológicos em benefício de todos (Keppler & Yamamoto, 2016). De fato, a ST nos coloca em uma posição de compreensão entre o trabalho e o processo saúde-doença, na busca de romper paradigmas que estabelecem como causas estritamente ambientais, ignorando o nexo psicofísico da relação do biológico e psíquico (CREPOP, 2019). Contudo, ainda existe a preconização de uma concepção de saúde que conceitua como ausência de doença, constituído pelo próprio processo de trabalho que contribui para uma noção de saúde criada socialmente pelo senso comum, a qual surge como forma de contribuição para que o trabalhador não procure os serviços de saúde (Paim, 2009). O campo da saúde do trabalhador tem sido discutido há muito tempo, e sistematicamente desde a revolução industrial, entretanto, seus aspectos sempre foram voltados para fins de

52 48 legislação e atendimento, desconsiderando a discussão da relação entre os processos de organização de trabalho e o adoecimento (Fernandes & Vasques-Menezes, 2012). Salienta-se que, o cuidado à saúde do trabalhador, logo em sua constituição, na década de 80, era de responsabilidade única e exclusiva das empresas privadas e Previdência Social, sendo o trabalhador resguardado por estas instâncias em particular. Sobre a regulamentação e controle das condições e ambientes de trabalho, em que os trabalhadores estavam sujeitos, já eram exclusivamente atribuições do Ministério do Trabalho (Lacaz, 1996). Este cenário muda após o decreto da constituição de 1988, quando a saúde começa a se valer como um direito social com a instauração do SUS tendo a saúde do trabalhador como ações pertencentes ao sistema. É necessário resgatar este cenário da saúde do trabalhador, assinalando a importância de um campo do conhecimento que atravessa as relações de saúde-doença e trabalho, situado dentro da Medicina Social Latinoamericana, fazendo interface com a saúde coletiva, em contraponto com a saúde ocupacional, que desconsidera os determinantes históricos e sociais da saúde-doença e trabalho (Lacaz, 1997; Laurell, 1991). Ao contrário do que a saúde ocupacional propõe, o campo da ST se insere dentro da saúde coletiva a partir da corroboração da abordagem assumida, os determinantes sociais da saúde. Ambas compreendem como um olhar ampliado para as relações existentes entre Trabalho e Saúde, assumindo a importância do protagonismo do trabalhador como um sujeito coletivo e ativo (Lacaz, 1996). Observamos notadamente com Minayo-Gomez (2011), ao apontar que: Contrariamente aos marcos da saúde ocupacional, em que os trabalhadores são vistos como pacientes ou como objetos da intervenção profissional, na visão da saúde do trabalhador eles constituem-se em sujeitos políticos coletivos, depositários de um saber emanado da experiência e agentes essenciais de ações transformadoras. A

53 49 incorporação desse saber é decisiva, tanto no âmbito da produção de conhecimento como no desenvolvimento das práticas de atenção à saúde (Minayo-Gomez, 2011, p. 27). No que concerne à relação Trabalho e Saúde, é preciso destacar um grande problema crônico que circunda o campo da ST. O SUS, diante sua função como sistema de saúde, mostrase ainda muito ineficiente em conseguir anexar o trabalho como uma categoria essencial no que tange os determinantes de saúde no processo de saúde-doença, embora sua origem, esteja na saúde coletiva como importante abordagem (Ribeiro, Leão & Coutinho, 2013; Vasconcelos, 2007). Desta forma, abre-se espaço para colocar os limites epistemológicos da saúde ocupacional em cheque, com uma abordagem reducionista e de caráter estritamente clínico, tendo como caráter principal a história da doença, desconsiderando qualquer aspecto histórico, social e as formas de adoecimento atreladas ao processo de trabalho e a interface à valorização do capital (Mendes, 1980; Lacaz & Santos, 2010). Mediante os entraves de uma política muito incipiente voltada para a saúde do trabalhador, obteve-se a criação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST), criada em 2002, por meio da portaria nº 1.679/GM, com o intuito de integrar as redes de serviço do SUS. A partir desta estratégia, criou-se o CEREST habilitado pela Portaria n.º 656/GM, de 20/09/2002, serviço instituído pelo Sistema Único de Saúde (SUS) organizado para atuação de prestação de serviços de saúde aos trabalhadores, promovendo ações dentro da prevenção, promoção e vigilância. Destarte, como um serviço de referência especializado em saúde do trabalhador, o CEREST surge, como aludido por Keppler & Yamamoto (2016) sendo um serviço de caráter

54 50 de "polo irradiador", cuja sua função é a promoção de ações relacionadas à vigilância, assistência, educação em saúde e produção de informação em saúde do trabalhador. Desta forma, o campo abre espaços poderosos de atuações nas mais diversas nuances de comprometimento com a saúde do trabalhador, oportunizando práticas e autonomia no desenvolvimento de atividades interventivas junto aos trabalhadores. Vizzaccaro-Amaral, Mota e Alves (2011) apontam que é necessário que se exista uma política que se proponha a cuidar da saúde das pessoas, fora e dentro do trabalho, sendo esta, uma obrigação em sociedade democrática: o indivíduo trabalhador tem de ser cidadão pleno, fora e dentro do espaço de trabalho. Os autores ainda reiteram que, tendo em vista o valor e significado que o trabalho carrega, é preponderante que os cuidados de saúde devam ser reforçados no espaço do trabalho, podendo assim, dentro destas condições, resultar vantagens para a produtividade numa perspectiva estratégica, bem como significativos ganhos para a sociedade. Em função destas questões arraigadas, é necessário que a Política de Saúde do Trabalhador seja pensada e executada tendo como referência a proteção social para o conjunto da classe trabalhadora (Mendes et al., 2015). Segundo Coutinho et al., (2018), é preciso compreender o mundo do trabalho como algo extremamente complexo, não existindo um contexto exclusivo para as práticas interventivas, e sim espaços que se mostrem férteis no desenvolvimento de mecanismos práticos dentro de uma perspectiva crítica sobre o trabalho. Dessa forma, as intervenções precisam ter caráter contínuo e de estratégias de ações, sempre considerando o saber dos trabalhadores e as especificidades dos contextos apresentados, premissa esta adotada pelas práticas nesse espaço. Este cenário dentro das políticas públicas, voltados a ST, corrobora para um campo que ainda apresenta grandes fragilidades afetivas, produzidas pela condição de adoecimento vinculada ao trabalho. Rocha (2005) aponta que as redes de apoio se apresentam como um

55 51 grande alicerce na constituição e fortalecimento das relações, delineadas como teias que rodeiam o indivíduo, por conseguinte, permitindo o estabelecimento de união, comutação, troca e transformação. Nesse sentido, é necessário pensar e fortalecer as redes de apoio como uma das estratégias dentro da política de Saúde do Trabalhador, bem como respaldado pelo CREPOP (2019) no qual prevê a importância dos próprios trabalhadores como atores essenciais na constituição das redes de apoio, solidariedade e ajuda mútua. Estas redes propiciam um cuidado que devem ir para além dos espaços institucionais, que se caracterizam como ações de lutas, transformações e novos modelos de saúde, deslocando a visão rígida e conservadora instituída e ampliando assim, a perspectiva de novas formas de potencialidades e mobilizações frente a participação social como um importante promotor de saúde (Lacerda, 2010b). 3.2 Contribuições na compreensão do conceito de saúde e doença O conceito de saúde atravessa uma esfera que a coloca como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1948, sendo esta, uma conceitualização na qual está longe de ser uma realidade, remetendo a uma ideia de saúde ótima, categoricamente utópica e inatingível, já que a mudança, e não a estabilidade é predominante na vida, ou seja, saúde não é um estado estável, que se alcança e mantém (Brasil, 1997). Ao que se pode observar, poderíamos não dar credibilidade ao tal conceito formulado, entretanto, é inegável o poder simbólico e ideológico cunhado no termo, principalmente quando catalisam tanto desejo e energia e criam burocracias tão poderosas quanto eficientes para esta reprodução. Desse modo, mobilizam rapidamente para saber o que se tratava este termo e como

56 52 obteriam aquele todo completo sobre o qual somente se informava que não é o nada da doença (Almeida-Filho, 2011). Para tanto, é necessário introduzir uma discussão que aponte e desvele os modelos teóricos-conceituais da saúde, visando compreender as transformações ocorridas ao longo dos anos, e que ainda assim, se vê atravessada por este conceito reducente e fracassado,, cunhado por propostas centralizadoras e curativistas, desconsiderando a produção social e os impactos resultantes na vida dos sujeitos. Almeida Filho, (2011) levanta a questão que ainda hoje travamos grandes desafios diante dessa demanda social, e que a conceitualização de saúde se dá em um processo que se engendra historicamente, ocasionado por uma justa demanda de ordem social e política. O autor afirma que isso acontece devido ao conceito de saúde se constituir ironicamente como um dos pontos cegos paradigmáticos das ciências da saúde, em geral, bem como da saúde coletiva. A expressão 'ponto cego' apresenta-se como problemas ou questões nos quais os próprios paradigmas científicos, consubstanciados pelos agentes históricos engajados, na prática institucional da pesquisa, não permitem 'ver ou sequer toleram que sejam vistos. Para Ayres (2007), a saúde não diz respeito a uma regularidade posta que nos permitem definir um modo de fazer algo, e sim à própria busca de que algo fazer, pois estamos sempre em movimento, transformação e, porque somos finitos no tempo e no espaço, nos impossibilitando da compreensão dessa totalidade do ser, seja na esfera individual ou coletiva, dado que, estamos sempre, a partir de nossas experiências, em contato com o outro, reconstruindo assim, o sentido de nossas experiências. González (1993) já havia definido a saúde em alguns aspectos essenciais, tais como: a saúde não pode ser identificada como um estado de normalidade, pois, este processo se dá ao nível individual, único e com manifestações próprias, bem como, não sendo um estado estático do organismo, em que o indivíduo participa de forma ativa e consciente deste processo. O autor

57 53 ainda afirma que na saúde, há uma relação direta entre fatores genéticos, congênitos, somatofuncionais e psicológicos, se expressando de maneira plurideterminada, singular e complexa. Desta forma, González (1997) afirma que modificamos o conceito de saúde de uma definição organicista para contextualizá-la no campo da definição social, é a única maneira de desenvolver políticas sólidas, como a prevenção e promoção à saúde. Portanto, isso não é apenas uma responsabilidade das instituições de saúde, pois esta é uma função orgânica do funcionamento social, e necessita ser um movimento gerado por todas as instituições e organizações, estando comprometidas com o desenvolvimento social. Este campo de definição social coloca o sujeito em centralidade no seu próprio processo, tendo a experiência da saúde envolvida em uma construção compartilhada de nossas ideias do que é bem-viver bem como de um modo conveniente de buscar realizá-las na nossa vida em comum, tratando assim, não de construir objetos/objetividade, mas de configurar sujeitos/intersubjetividades (Ayres, 2001). As práticas biomédicas têm pelo menos 200 anos, ancoradas pelo conhecimento científico, em função da observação sistemática da natureza, sendo esta, composta por padrões regulares e processos desordenados, exemplificado a partir dos padrões instituídos, como a órbita de planetas, que são bastante notórios e podem ser mensurados pela observação dos seus eventos (Abramov & Júnior, 2018). Bennet (1987) afirma que o modelo biomédico sofre algumas alterações durante o curso das transformações e passa de uma abordagem, que ele nomeia de biográfica, para uma nosográfica, ou seja, não só descreve como também classifica as doenças. Segundo Camargo Júnior (2005) a conceituação de doença dentro do modelo biomédico, caracteriza-se de forma sintética, através de um caráter instrumental, no qual são orientados de forma normativa pela noção de controle técnico dos impedimentos naturais e sociais a interesses práticos de indivíduos e coletividades, tendo como eixo central e material

58 54 o conhecimento e domínio de regularidades causais no organismo definidos como (corpo, mente e meio) e, para validar tal conhecimento, se faz necessário ter muito bem definido, critérios a priori para o controle dessas incertezas. Barros (2002) já havia afirmado que grande parte das inúmeras descobertas da medicina moderna foram sendo, gradualmente, validadas pela abordagem biomédica. Ancorados desde o surgimento da racionalidade médica moderna, o saber prático da medicina ainda se encontra galgado nos modelos engendrados das ciências naturais, dessa forma, este modelo se coloca em uma posição de naturalização do seu objeto através do próprio processo de objetivação, isto é, o de surgir a objetivação da doença, excluindo a subjetividade do indivíduo, e corroborando para a construção de um modelo que generaliza (Luz, 1988). Mesmo diante aos avanços e sofisticações da biomedicina, há em contrapartida, severas críticas diante as inúmeras impossibilidades detectadas em oferecer respostas categóricas para os diversos problemas, sobretudo, ao nível psicológico que acompanha todo o processo de adoecimento (Barros, 2002). Isto posto, Junges et al., (2012) reconhece que é necessário superar este paradigma biomédico, e sobretudo, entender que este modelo configura uma necessidade e dependência da sociedade aos atendimentos prestados pelos profissionais, bem como os processos de trabalho que pelo sistema são organizados, sem considerar as particularidades de cada indivíduo que é autônomo de suas formas de criar e recriar seus próprios meios de estar e ser saudável. Os modelos tradicionais teóricos de saúde-doença tendem a limitar-se apenas as causalidades dos processos patológicos, entretanto, para que se alcance graus efetivos dentre estes modelos, deve-se compreender que a multiplicidade dos determinantes econômicos, sociais, políticos, culturais são fatores resultantes para o que reconhecemos enquanto saúde e doença (Almeida-Filho, 2011). Consoante ao exposto, o autor amplia o cenário dos modelos

59 55 teóricos, a necessidade de expandir ou criar medidas de promoção, prevenção, proteção, manutenção e recuperação da saúde ao nível individual e coletivo Movimento da Promoção à Saúde Historicamente, o movimento de promoção à saúde surge na sequência das propostas sanitarista do século XIX, em que muitos estudiosos da época já faziam afirmações na associação entre doenças, condições de vida e pobreza (Merhy, 1987; Terris, 1996). Este movimento tem como grande marco inaugural, a divulgação do relatório de discussão, denominado, The new perspective for the Health of Canadians, também conhecido como Relatório Lalonde (Carvalho, 2004). O relatório indica a necessidade de ações que garantam a qualidade de vida de todos os indivíduos e grupos, conceito caro, sobretudo no campo da saúde. A promoção à saúde Canadense, proposta pelo relatório Lalonde, seguia a premissa que, saúde é a ausência de doença, entretanto baseia-se em quatro grupos que são determinantes: O ambiente, estilo de vida, biologia humana e os serviços de saúde, uma lógica clara do modelo behaviorista (Carvalho, 2002). Seguindo esta lógica, o modelo de promoção à saúde canadense, deixou exposto diversas lacunas, uma vez preponderantes para a compreensão do processo saúde-doença, como os sujeitos e estruturas sociais, capitalismo, lutas de classes, desemprego, condições de trabalho e de vida e poder, e no que tange aos fatores como raça, classe e gênero, simplesmente utópico (Carvalho, 2002; 2004). Na década de 1980, o movimento da promoção à saúde sofreu algumas transformações, visando à superação do modelo behaviorista. O Canadá promoveu diversas conferências com grandes autores na área, o que deu origem a uma Nova Promoção à Saúde, mais conhecida

60 56 como a Carta de Ottawa (WHO, 1986). Precisamente em 1984, a OMS (1984) apresentou alguns ideários, promulgados na Carta de Ottawa e divulgados, mais tarde, na Conferência Internacional de Promoção à Saúde (1986). Estes princípios tinham como propostas: transformar a condição de vida dos mais desfavorecidos; a necessidade da participação popular nas decisões referentes à saúde; intersetorialidade; capacitar indivíduos e coletivos na definição dos problemas; presença dos profissionais dos serviços da atenção primária em saúde. Esta corrente da Nova Promoção à Saúde, apontou a necessidade dos sujeitos de transformarem ou adaptar-se ao meio, satisfazendo suas necessidades, na mesma medida que defendem o apoio oriundo das esferas públicas, econômicas e culturais, com um olhar atento para as iniquidades na saúde (WHO, 1986). A proposta de uma nova prática em saúde, é mencionada a partir da OMS (1986), pioneira neste cenário, apontando uma promoção à saúde que vise a criação de ambientes que sejam sustentáveis em coerência com a abordagem sócio ecológica -; reorientação por parte dos serviços de saúde; e que os sujeitos, de forma individual, tenham suas capacidades desenvolvidas, bem como o fortalecimento das ações solidárias. A promoção à saúde tornou-se núcleo principal para a formulação de uma Nova Saúde Pública. Este ideário se apresenta como promissor para a ruptura entre uma velha e nova prática em saúde, transformando assim, o status quo, que caminha na contramão das práticas funcionalistas e conservadoras diante um modelo biomédico e hospitalocêntrico - reforçando o status quo no sistema da ordem neoliberal (Carvalho, 2004). A Saúde coletiva, movimento que acontece cronologicamente ao movimento da saúde no Canadá, surge como um modelo teórico, ideológico e político, que se encontra ancorado nas origens do Sistema Único de Saúde (SUS) organizado pelo movimento sanitário. Esta corrente acaba sendo o resultado de uma crítica aos diversos movimentos à saúde, ocorridos nos países

61 57 capitalistas (Carvalho, 2002). Saúde como direito e dever do Estado e a participação da sociedade, são alguns dos seus marcos, tendo no centro da sua concepção a determinação social do processo saúde-doença. Este movimento tende a: Contribuir com o estudo do fenômeno saúde-doença em populações enquanto processo social; investiga a produção e distribuição das doenças na sociedade como processos de produção e reprodução social; analisa as práticas sociais; procura compreender, enfim, as formas como que a sociedade identifica suas necessidades e problemas de saúde, busca sua explicação e se organiza para enfrentá-los (Paim & Almeida, 1998, p. 310). É certo que, as correntes até aqui mencionadas, apontam algumas convergências e divergências. A manutenção do status quo, observado na Promoção à Saúde behaviorista, traz um olhar reducionista do sujeito, refletindo uma corrente funcionalista e positivista. A Nova Promoção à Saúde, a partir das conferências Internacionais de Saúde pela OMS, apresenta-se um tanto quando dicotômica, pois mostra um ideal progressista, democrático e humanitário, ao mesmo modo que apresenta características e valores de uma democracia liberal, Não basta ser contra a pobreza, é necessário ser contra as estruturas que a determinam (Oliveira, 2002, p. 153). O autor reitera que, diferente da maioria das correntes da Promoção à Saúde Canadense, a Saúde Coletiva, inspirada pelo marxismo, assume o social como uma categoria histórica, que ao assumir tal ideário, ocupa um espaço representativo na produção sanitária internacional, legitimando uma proposta promissora para países, como o Brasil, que sofrem os grandes males das políticas neoliberais. Tomamos como contraponto esta discussão, entendendo a necessidade de discutirmos abordagens mais coletivas e anti-individualistas (Nogueira, 2009) e nos deteremos a

62 58 compreender o papel dos Determinantes Sociais de Saúde e Determinação Social de Saúde no que tange à necessidade de estratégias que considerem ações no campo intersetorial e intrasetorial, e sobretudo da participação social. 3.3 Determinantes Sociais de Saúde e Determinação Social da Saúde A concepção do modelo de Determinantes sociais de Saúde é algo discutido desde o século XX, época que se iniciou as primeiras correlações entre as variáveis nela contida, e à saúde (Souza; Da Silva & Silva, 2013). Ao longo dos anos, a discussão do que pode ou não ser considerado como determinantes sociais vem causando grandes estranhamentos entre alguns autores, muitos por acharem concepções que conduz à estagnação da construção do conhecimento (Arrendondo, 1992). A entrada do século XXI, colocou a discussão sobre as relações de saúde e sociedade como posição central nos debates internacionais, bem diferente da já discutida pela corrente médica latino-americana. É certo que o início desse século, ainda acarreta sérios problemas de baixo nível de saúde, e dificuldade de acesso da população às instituições, sem mencionar o alto índice de desigualdade socioeconômica. Mediante a preocupação, realizou-se o VIII Simpósio da Câmara Federal sobre Política Nacional de Saúde, no ano de 2005 (Simpósio sobre Política Nacional de Saúde, 2005). De fato, em meio às discussões, os Determinantes Sociais de Saúde (DSS) ganharam notoriedade, cujo intuito era analisar as importantes disparidades nas condições de vida e trabalho, aspectos culturais, biológicos e apoio social como fatores essenciais que repercutem na saúde de diferentes grupos sociais (Almeida-Filho, 2010). Dentre algumas medidas adotadas, ainda no ano de 2005 a Organização Mundial de

63 59 Saúde (OMS) criou uma comissão sobre os determinantes sociais de saúde para que fosse dialogado e apresentado medidas de enfrentamento das desigualdades em saúde (buss & pellegrini filho, 2007). Logo após a criação da Comissão Mundial, o Brasil instaura no país uma Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais de Saúde (CNDSS), evidentemente preocupados com as iniquidades em saúde enfrentada no país (Garbois, Sodré & Dalbello-Arujo, 2017). Como definição, alguns autores apontam que os determinantes sociais são fatores relacionados com as condições: sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e fatores de risco na população (Buss & Pellegrini Filho, 2007, p. 78). A título de ilustração, vários módulos foram desenvolvidos a fim de estudar os diversos fatores relacionados aos DSS. O modelo adotado pela CNDSS é o de Dahlgren e Whitehead, no qual as disposições dos fatores ocorrem em diferentes camadas, desde a base individual, aos fatores que situam os macrodeterminantes (Souza; Da Silva & Silva, 2013). Vejamos: Figura 1: Determinantes Sociais de Saúde Proposto por Dahlgren e Whitehead (1991).

64 60 Fonte: Freitas & Rodrigues (2015, p.755). Na camada basilar, os indivíduos são caracterizados através de idade, sexo e fatores genéticos. A segunda camada diz respeito ao estilo de vida e comportamento. A camada seguinte traz as redes de apoio, circunscrevendo os laços de solidariedade entre indivíduos e instituições, que se expressam em maior ou menor grau, a depender do nível de coesão. Logo em seguida, há os fatores e condições de vida e trabalho, caracterizados pela acessibilidade a serviços essenciais como, saúde, educação, saneamento, alimentação, ambiente de trabalho. A última camada é expressa pelos fatores socioeconômicos, culturais e ambientais, estes chamados de macrodeterminantes, desenvolvidos a partir de políticas macroeconômicas e de mercado (CNDSS, 2008). Em análise crítica, Nogueira (2009) ao avaliar os documentos da OMS sobre os Determinantes Sociais de Saúde, percebeu uma grande carência teórica. O autor aponta que o social assumido pelo relatório, se apresenta apenas como algo a mais, e não como complexidade que engloba outros fatores de dimensões ambientais, biológicas e genética. Com a ausência de uma teoria social, percebe-se essa concepção como uma herança positivista, pautada no empirismo e determinismo. Afirma que este modelo não recai no campo do coletivo, mas sim individual, mencionando como únicas características, idade, sexo e fatores hereditários, desconsiderando raça/etnia. Estilo de vida surge como fator determinante, porém, sem nenhuma explanação de como se relaciona com as dimensões históricas e sociais, sendo preciso a ampliação do modelo (Borghi; Oliveira & Sevalho, 2018). Consoante a esta posição, o Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (CEBES, 2011), estando ele, fazendo parte de um movimento frente às discussões dos DDS, declara que a Determinação Social de Saúde está além dos fatores isolados e fragmentados, fazendo parte de

65 61 uma concepção reducionista. É intolerável que o conceito de determinantes sociais seja reduzido, simplificado ao tabagismo e sedentarismo, bem como a uma alimentação inadequada. Conclui-se que, é preciso reconhecer que o que se desvela de tudo isso é uma construção social que não é vista, resultante de uma cultura hegemônica globalizada, cujo desfecho é a mercantilização da vida. Os estudos sobre as determinações sociais da saúde, acabam por caracterizar a saúde e a doença, mediante os fenômenos que são apresentados e próprios dos modos de convivência do ser humano, sendo este humano, que usufrui da vida compartilhada com outros, que tem ação política na sociedade e que está inserido em uma cultura. Pode-se afirmar que, tal determinação está ligada de modo integral a uma natureza qualitativa, ao passo que, se caracteriza socialmente a saúde e doença a partir de sua complexidade histórica e concreta (Nogueira, 2010). Tradicionalmente, os DSS têm notória relação com a epidemiologia, que tende a se preocupar com os fatores de risco e combate às iniquidades em saúde, como de caráter biológico pensando nos índices de mortalidade e os fatores institucionais taxas de alfabetização, serviços de água e esgoto, que acabam por interferir nas estatísticas da saúde, orientando as estratégias a serem usadas pelo Estado (Nogueira, 2010; Martins, 2009). Em provocação a isto, se indaga: Mas tal expressão precisa ser questionada a partir da seguinte pergunta: quem tem autoridade legítima para definir o que seja o termo determinante social? Os epidemiólogos tendem a valorizar as categorias funcionais elaboradas por planejadores das grandes organizações como Banco Mundial e Organização Mundial da Saúde. Mas são tais técnicos realmente detentores da verdade dos determinantes sociais? A esta pergunta respondemos negativamente quando nos colocamos no lugar do usuário,

66 62 independentemente de ele estar consciente de como organiza sua cidadania e seus cuidados (Martins, 2009, p. 55). É certo que, no fundo, o resgate e indagações sobre os DSS, bem como fortemente frisado, pode responder a um grande desafio levantando em referência as articulações teóricopráticas da saúde (Martins, 2009) capazes de refletir sobre a necessária reintegração do agir e pensar na produção do cuidado em saúde (Pinheiro, 2007, p. 15). Pensar em produção de cuidado, é, também, uma questão social, logo, sendo uma questão política, tendo um papel central no ordenamento social e correlacionado aos DSS. A distribuição de riqueza, acesso aos serviços públicos, organização do trabalho são alguns pontos de ligação associados aos DSS (Nogueira, 2010). Netto (2001) destaca que a questão social ganha primazia no dado momento em que a manutenção da sociedade burguesa começa a se sentir ameaçada. Ou seja, a questão social só adquire caráter político, uma vez que a classe burguesa sente a reprodução dos padrões de interesse dominantes, abalada. Isto posto, a questão social surge do pauperismo a partir das necessidades de acumulação do capital, que se põe historicamente permeada pela luta dos trabalhadores e pelas estratégias de dominação das classes dominantes para contê-las, em favor da reprodução social (Pimentel & Costa, 2002, p. 4). Portanto, é notório que a saúde individual e coletiva é fruto das relações complexas de diversos fatores biológicos, psicológicos, sociais, culturais e econômicos (Chor et al., 2001). Desse modo, justifica a lente teórica assumida do movimento saúde-doença. Como bem apontado no início do capítulo, Laurell (1991) afirma que a categoria do trabalho se apresenta como um eixo preponderante dentro dos determinantes sociais de saúde, sendo esta categoria relacionada às condições do exercício da atividade profissional do sujeito. As redes de apoio, circunscreve como importante dimensão no processo de saúde dos sujeitos, se constituindo de forma local e histórica, revelando-se como um fator necessário e

67 63 pertencente aos DSS, sobretudo no que diz respeito ao enfrentamento às doenças relacionadas ao trabalho, e que não se restringe meramente ao campo material e biológico (Stotz 1991; Nguyen et al., 2003). Buss & Pellegrini-Filho (2007) consideram que é necessário que as redes de apoio se apresentem como eixos de maior relevância, sobretudo no quesito de fortalecer e organizar a participação da sociedade indivíduos e comunidades em melhoria de suas condições de vida. Salienta-se que, para além do bem-estar societário, é preciso que estes indivíduos se constituam como atores sociais e participativos nas decisões de bem comum. As análises que se detiveram na correlação entre saúde e desigualdades nas condições de vida e vínculos estabelecidos entre indivíduos e grupos, mostraram níveis de desgaste das relações de solidariedade advindas das iniquidades de renda. Portanto, países com frágeis laços de coesão social, são os que não investem em redes de apoio, imprescindíveis na promoção e proteção da saúde (Buss, Pellegrini-Filho, 2007). Os autores concluem que, não são os países mais ricos que possuem índices expressivos de saúde, mas sim aqueles que são e investem em uma sociedade justa e igualitária, e com alta coesão social. Corroborado a isto, é certo que os determinantes sociais de saúde, não podem ser mitigados apenas como ferramentas que evidencia as iniquidades em saúde, deve ser tratada, sobretudo, como um solene ponto de partida, de modo a conter as injustiças de acesso à saúde, e promover a participação popular nas questões que a ela diz respeito (Badziak & Moura, 2010). 3.4 Redes de apoio O conceito de rede de apoio vem sendo pauta de discussão dentro do cenário da saúde há algum tempo, como na elaboração da carta de Ottawa (1986) que prevê as instâncias de

68 64 apoio social como estratégias de promoção à saúde a modo que se fortaleça as ações solidárias da comunidade, como, unindo-se forças para reivindicações dentro do campo da saúde. Os primeiros estudos a se debruçar sobre a correlação dos laços sociais, oriundas das redes de apoio acessadas pelos indivíduos e saúde surgiu em 1970, por Sidney Cobb (1976) e John Cassel (1976), apresentando evidências de que, a fragilização dessas redes aumentava a suscetibilidade a doenças (Chor et al., 2001). É de suma importância, portanto, destacar a diferenciação existente entre os conceitos de apoio social e redes de apoio muito encontrado em estudos que os mencionam quase que sinônimos, mas que são divergentes em sua conceitualização. As redes de apoio têm por definição, relações que circundam os indivíduos, como teias, nas quais acessam ao nível de relações e frequência no contato com amigos e familiares, ou a partir da coletividade, no qual tenha contato ou participação social como, grupos religiosos e associações sindicais (Berkman & Syme, 1979; Bowling, 1997). Enquanto a definição de apoio social encontra-se com algumas divergências, autores como Cobb (1976) apontam que o apoio social tem como definição, um caráter informativo, que leva o indivíduo a acreditar que é amado, estimado, fazendo parte de uma rede de expressões de sentimentos mútuos. Para Minkler (1985), o apoio social é compreendido como um processo de reciprocidade, ou seja, uma ação positiva expressada e sentida por ambos. Estudos apontam que a pobreza das redes de apoio constitui como fator deletério à saúde, tanto quanto doenças que são comprovadamente nocivas, como a pressão arterial, tabagismo, obesidade e ausência de atividades físicas, acarretando assim sérios problemas ao nível de saúde pública. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, esta condição se apresenta notadamente em função de ser, em muitos casos, o único apoio que indivíduos que se encontram em situações de vulnerabilidade social possam acessar, sendo ela em muitos

69 65 casos, fonte de alívio das cargas presentes no cotidiano da vida (Broadhead et al., 1983; Andrade, Vaitsman 2002). Este campo surge como um tipo particular de campo de sociabilidade, apresentando-se como interfaces que são estabelecidas entre os atores, bem como aqueles que fazem parte das redes de sociabilidade destas pessoas, configurando-se como figuras importantes no processo de produção de saúde (Fontes, 2007). Ao que se caracteriza como redes de apoio, Due et al., (1999) aponta uma relação direta com aspectos qualitativos e comportamentais, e que são representadas em quatro tipos: O primeiro diz respeito ao apoio emocional, envolvendo expressões de amor e afeto; o segundo é chamado de apoio instrumental ou material, referindo-se precisamente aos auxílios mais concretos das necessidades básicas preparar refeições; limpeza da casa e financeira; A terceira diz respeito ao apoio de informação, como situações que necessitam de (conselhos, orientações, sugestões) necessário nas resoluções de problemas; Quarta e última, interação social, no tocante da disponibilidade das pessoas à socialização, gerando momentos de relaxamento. Segundo Sluzki (1997), as redes de apoio expressam grande importância na autoimagem, como centralidade na experiência de identidade e competência, vinculadas a atenção à saúde do sujeito. Para o autor, as redes são definidas para além da família nuclear ou extensa instância que geralmente ganha maior notoriedade -, os vínculos interpessoais compõem parte fundamental em tecer estas redes, como, amigos, companheiros(as) de trabalho, e relações construídas na comunidade. Quando mencionado comunidade como um dos sistemas de redes de apoio, Cohen (1985) aponta para a representação de uma estrutura intrincada de relações e modos de pertença social. Isto significa que há uma relação direta com a consciência individual e coletiva de pertencimento a um grupo, que, por sua vez, demanda um processo de conceitualização e

70 66 consciencialização da própria comunidade. Por isso, os indivíduos constroem, simbolicamente, uma comunidade, transformando-a num recurso e num repositório de significados e num referente para a sua identidade. Para Ojeda, Lajara & Marques (2007, p. 33), comunidade é um conjunto de seres humanos unidos por um laço social que implica uma orientação cultural compartilhada que é fundamental em sua identidade grupal. As pesquisas realizadas por Fontes (2007b) apresenta que estas redes, caracterizadas em forma de apoio, a modo de cuidados e acompanhamento da doença, podem ser determinados na esfera privada, alicerçado pelas redes primárias ao nível social (família, amizade, vizinhos) ou no campo da sociedade civil, pelas redes secundárias (ONGs, associações de apoio, serviços de saúde dentro de outros aparelhos sociais). Esta rede de apoio formada pelos laços afetivos, diz de um apoio social que, segundo Ribeiro (2008), é definido como qualquer informação ou auxílio de cunho material, ou afetivo, transferido de uma pessoa ou de um grupo para outros. Desse modo, produzem efeitos e comportamentos positivos para ambas as partes, ou seja, tanto para quem oferece este suporte quanto para quem recebe. Tanto Dessen e Braz (2000), como Serapioni (2005) apontam que a rede de apoio social familiar, se expressa das formas mais variadas, que versa desde a prestação de apoio material ou financeiro, execução de tarefas domésticas, cuidado com os filhos, orientação e prestação de informações a fornecimento de suporte emocional, configura que existe uma rede de parentesco que não necessariamente se enquadra na família nuclear, mas, que provê ajuda e suporte, podendo ser tratada como família nuclear extensa, ao invés de família nuclear isolada. O contexto do mundo atual sofreu um aceleramento impetuoso, acarretando algumas mudanças sociais, principalmente no âmbito das relações e inserção no trabalho. Em consequência, a sociedade vem exigindo cada vez mais respostas rápidas no que tange às

71 67 promoções de ações que tencionam a emancipação e participação da população. Logo, as redes de apoio manifestam-se como fatores potencializadores de processos que exigem a participação ativa da população (Martins; Fontes, 2004). Lorenzo, Neves & Ribeiro (2011) em seus estudos, aponta que, existe uma difícil relação dialógica entre o trabalho explorado e o conceito de apoio social, na qual a depender da rede de apoio social, o sujeito pode ter maior ou menor centralidade em receber os cuidados necessários. Segundo Marteleto (2001) esta centralidade está relacionada a posição no qual o sujeito se encontra no que diz respeitos as trocas e comunicação estabelecidas pela rede, contudo, dependendo da centralidade deste indivíduo, maior será o poder de troca dentro da rede. Numa relação que não existe apoio social, bem como uma centralidade que também é inexistente, torna-se necessário refletir mais sobre a categoria do apoio social no contexto da sociedade capitalista e como este apoio pode ser implementado para fins de promoção e prevenção da saúde do trabalhador, de modo que esse diálogo não se distancie do debate sobre exploração e processo de trabalho (Lorenzo, Neves & Ribeiro, 2011a). Segundo Lacerda (2010b) destaca estas redes como uma interação de atores, que são formadas por indivíduos e grupos e compreendendo estas como redes formais e informais, constituindo vínculos e oferecendo ajudas tangíveis e intangíveis. Desse modo, diversas instâncias terão papéis importantes na relação com o sujeito. O sindicato dos trabalhadores tem um papel primordial para as relações de trabalho, que atravessam o contato mais intenso com o trabalhador, como a perspectiva de melhores condições de trabalho e gestão organizacional. Entretanto, estes trabalhadores desempenham uma importante função social, que é a participação em eleições sindicais de modo que se engajem com uma posição mais ativa na esfera sindical, tendo como um dos principais intuitos, fortalecer as classes trabalhadoras (Dantas, 2016). Por conseguinte, é possível compreendermos a real importância que o movimento sindical oferece aos trabalhadores,

72 68 podendo ser uma grande rede sólida de apoio, quando bem articulada, assumindo um papel relevante no processo de saúde. As redes de apoio social remetem a um dispositivo de ajuda mútua, potencializado quando uma rede social é sólida e integrada. Quando nos referimos ao apoio social, queremos ressaltar os aspectos positivos das relações sociais, como o auxílio em momentos de crise, compartilhar informações, e a própria presença em diversos momentos sociais (Minkler, 1985). No processo saúde-doença, as redes de apoio se apresentam como uma grande fonte de cuidado e suporte emocional na vida do sujeito, sejam pelas redes formais ou informais, em que as instâncias, operadas pelos atores sociais, se expressam como via de cuidado, constituídas pelo seu contexto e pelas experiências vividas de cada sujeito (Vale & Vecchia, 2019). Tendo em consideração a importância das redes de apoio na vida dos sujeitos, há expressivos resultados no que diz respeito à inserção destes, em campos de sociabilidade, promovendo reconstrução do cotidiano, que por vezes se perde pelo sofrimento psíquico. Defronte à situação, nota-se a importância dos dispositivos de apoio e solidariedade, oferecidos por atores que se encontram inscritos no campo médico, bem como aqueles que não fazem parte desse âmbito como: comunidade, vizinhos, famílias, pares (Fontes, 2007). A relação entre redes de apoio e saúde, foi notadamente possível quando aspectos sociais, culturais e afetivos passaram a serem incluídos como leitores de saúde, assim como prevê os DSS. Desse modo, apenas meados dos anos 80, é que foi possível superar a visão reducionista da saúde como bem ilustrado no início do capítulo e integrar outros consideráveis aspectos (Martins & Fontes, 2004). Alguns estudos constataram que as redes de apoio apresentaram aumentos consideráveis em estratégias de cuidado em relação à saúde mental. Dentre alguns fatores de grande influência, encontra-se o contexto familiar, relações sociais exteriores, o ambiente de trabalho,

73 69 estrutura socioeconômica e tratamento recebido por parte de instituições (Mângia & Muramoto, 2005). Nos últimos anos, a literatura tem se detido a demonstrar que a carência e falta de apoio social que vem ocorrendo constantemente associada à saúde mental (Ruzzi-Pereira, 2007). Quanto mais esfacelados forem as redes de apoio, maior será a incidência de transtornos mentais (Barrón, 1996). Isto posto, seguindo a lógica das questões sociais como importantes leitores de saúde, percebe-se a importância destas, na tessitura das redes de apoio como promotoras de saúde, que dialoga e é intermediada pelos determinantes sociais de saúde, compreendendo de forma totalizada o trabalhador e o contexto que está inserido, bem como as possibilidades de acesso às redes sabendo que as mesmas estão inteiramente susceptíveis a afetações. É certo que os trabalhadores se encontram aprisionados dentro de uma lógica individualizante de saúde, ainda arraigado pelo modelo assistencialista, tornando as ações salutares, progressivamente mais risíveis. É factual que este olhar não se volte ao trabalhador, e que suas possibilidades de restabelecimento sejam ínfimas diante de um cenário de descrédito ao adoecimento. As redes de apoio se apresentam como importantes linhas de cuidado, revelando novas formas de ações de solidariedade e de construção do protagonismo coletivo, que por vezes estão em espaços institucionais, mas que avançam para além destes muros. O estudo propõe sobretudo, uma construção e consolidação das redes de apoio pertencentes no cuidado ao trabalhador, de modo a identificar e analisar um dos fatores que mais se degradam em função das novas formas de organização do trabalho, e ainda assim, se mostra uma estratégia eficaz para promoção à saúde da classe trabalhadora. Estas redes se posicionam como um importante recurso, sobretudo nas ações coletivas, em oposição à esfera

74 70 individual e na contramão da fragmentação do tecido humano e social do trabalho, podendo se tornar potentes instrumentos no campo da saúde pública. 4. Objetivos 4.1 Objetivo Geral Analisar o papel das redes de apoio do trabalhador adoecido no processo de produção de saúde-doença. 4.2 Objetivos específicos a) Identificar as redes de apoio mobilizadas pelo trabalhador no processo de cuidado de sua saúde, quanto de um quadro de adoecimento provocado pelo trabalho; b) Identificar como o trabalhador acessa as redes de apoio social; c) Analisar as ações e efeitos promovidos pelas redes de apoio no desenvolvimento do processo de produção de saúde do trabalhador.

75 71 5. Método O estudo delineou um caminho na qual se trabalha com o universo dos significados, motivos, aspirações, valores, atitudes e crenças, o que corresponde a um espaço mais íntimo das relações, dos fenômenos e dos processos (Minayo, 2001), sendo este, o mais pertinente método para abarcar o foco que há nos significados e sentidos individuais e na importância da complexidade de uma situação (Creswell, 2007). A presente pesquisa adotou uma abordagem qualitativa e interpretativa, no qual a pesquisadora buscou estudar fatores que estivessem inseridos nos contextos de vida dos participantes, e ao mesmo tempo sensível a eles, considerando o cenário político, social e cultural que se apresenta (Creswell, 2014). Desta forma, a pesquisadora se ateve a uma análise inicial que circunscrevesse a história de vida e trabalho dos participantes, de modo que captasse ao longo de sua trajetória, significados existentes em relação ao trabalho, sendo ele, o nexo direto com o adoecimento. Subsequente a isto, as redes de apoio surgem como segundo eixo de análise, permitindo que os participantes promovessem reflexões sobre o entendimento destas redes, bem como suas ações e efeitos dentro da lógica do processo de adoecimento. Trazemos ao contexto, entendendo que a pesquisa vivencia neste momento um dos períodos mais críticos referentes à saúde, que é a Pandemia de COVID-19, embora não seja esse o enfoque do estudo. Fomos atingidos em meados de 2020 por um vírus desconhecido e que se difundiu pelo mundo afora em escala descomunal. Rapidamente nos damos conta, de maneira compulsória, das nossas impossibilidades e readequações. Um cenário de isolamento, medo, imprevisibilidades e tendo que fazer do nosso lar, o único espaço capaz de produzir o mínimo de segurança.

76 Participantes Considerando os objetivos da pesquisa, o universo de participantes do estudo foram trabalhadores(as) adoecidos(as) pelo trabalho, que utilizam do serviço de atendimento à Saúde do Trabalhador do Nostrum Instituto de Psicologia. No entanto, o critério de inclusão a ser adotado nesta pesquisa foi a própria afirmação do trabalhador frente ao adoecimento, dando indicativos em seu discurso quanto: Estar adoecido pelo trabalho; ter se afastado ou não do trabalho para tratamento de saúde, cuja doença tenha relação direta com o trabalho; ter recorrido ou não ao INSS em virtude do afastamento. Logo, o critério de inclusão refere-se ao reconhecimento do próprio sujeito no qual o adoecimento tenha uma relação com o trabalho a ser encaminhado pelos próprios profissionais do Instituto no qual atendem esses sujeitos. Para além disso, a própria disponibilidade de cada trabalhador para o momento da entrevista, via videoconferência, utilizando-se de uma plataforma on-line. Como critério de exclusão, trabalhadores que não tenham sido acometidos por nenhuma doença relacionada ao trabalho. Salienta-se que, a proposta inicial para captação dos participantes neste estudo, seria pelo acesso ao Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), serviço especializado no atendimento de trabalhadores adoecidos pelo trabalho. Entretanto, em virtude da pandemia, causada pela COVID-19, este serviço foi interrompido, inviabilizando o acesso. Desse modo, recorremos à estratégia de acesso via Nostrum, Instituto de Psicologia localizado na cidade de Natal/RN, que dispõe do serviço de atendimento a trabalhadores que foram acometidos por doenças relacionadas ao trabalho. O Instituto conta com um corpo de profissionais especializados no campo da ST, realizando atendimentos clínicos e grupos terapêuticos com trabalhadores de amplas categorias, tendo esta última atividade suspensa em função da pandemia. Partindo da abertura do campo e do acesso aos interlocutores da pesquisa trabalhadores adoecidos mesmo diante do cenário pandêmico, já que os atendimentos

77 73 clínicos se mantiveram de forma on-line, assumimos o campo como um espaço potente e de grande contribuição à pesquisa, sabendo, logicamente, do seu compromisso ético e técnico com o fazer da psicologia. Em paralelo a estratégia de coleta junto ao Instituto, percebeu-se a necessidade de adotar a estratégia bola de neve, uma vez que os participantes da pesquisa demonstraram ser um público de difícil captação, refletido sobre algumas negativas de participação, na justificativa de não se sentirem confortáveis, no momento, para falar a respeito. Segundo Bernard (2005), esta técnica é um método de rede útil para os casos de difícil captação de sujeitos de uma dada categoria, quando difíceis de serem acessadas. Diante os critérios de participação estabelecidos para a pesquisa, a seleção do número de participantes seguiu pela a amostragem da saturação teórica, definido por Denzin e Lincoln (1994) como a interrupção de busca por novos participantes, uma vez que os dados obtidos passam a apresentar, seguindo a análise do pesquisador, uma certa repetição. Deste modo, entende-se que, no momento em que as informações oferecidas pelos novos participantes já não acrescentam substancialmente na reflexão teórica fundamentada nos dados, percebe-se a necessidade de interromper a captação do material (Glaser; Strauss, 1967). Partimos desse critério de amostragem para estabelecimento do momento adequado para interrupção, sendo este momento, o eixo que abordaremos sobre a Análise, por parte do trabalhador, da importância e efeitos de cada ponto da rede de apoio sob o trabalhador julgando ser esta, a etapa em que há a maior predisposição de repetição dos elementos investigados, respaldados pela a observação da pesquisadora, uma vez que as redes, sejam informais ou formais, se apresentam delineadas na literatura e nos contextos de vida dos participantes.

78 Procedimentos de coletas de dados A etapa inicial da pesquisa ocorreu com a realização de uma sensibilização pelos profissionais do Nostrum Instituto de Psicologia, localizado na cidade de Natal-RN, que dispõe dos serviços de atendimento em Saúde do Trabalhador para indicação dos participantes deste projeto. A pesquisadora compartilhou dos critérios de inclusão para participação na pesquisa junto aos profissionais do serviço, para que posteriormente fossem compartilhados os contatos dos sujeitos/participantes, previamente avisados pelos profissionais do Instituto. Após esta etapa, iniciou-se o contato com todos os sujeitos participantes indicados pelos profissionais do Instituto, também recorrendo à estratégia de bola de neve a ser desenvolvida junto a esses sujeitos acerca de outros participantes. Em função da crise sanitária mundial, causada pelo novo coronavírus SARS-COV-2, mais conhecido como COVID-19, a estratégia de coleta de dados precisou ser repensada para o modelo remoto. Deste modo, utilizou-se uma plataforma on-line de captação de áudio e vídeo para realização das entrevistas, em dias e horários que os participantes julgassem ser mais conveniente. Como mencionado, as entrevistas ocorreram através de uma plataforma on-line, no qual os participantes foram previamente orientados quanto ao manejo. Ao iniciarmos, informações no tocante: objetivo da pesquisa, tempo de duração, sigilo ético, TCLE, e termo de gravação de voz e imagem, foram mencionadas, e logo após, pedindo a autorização para o início da gravação, salientando a importância da assinatura dos termos, enviados por , e encaminhados de volta a pesquisadora. A escolha da entrevista semiestruturada foi pensada no intuito de captar elementos mais profundos e significativos dentro da história do participante, como forma de se aproximar do universo simbólico do trabalhador (Turato, 2003). A entrevista partiu dos seguintes eixos temáticos e seus respectivos objetivos:

79 75 a) História de vida e trabalho e processo de adoecimento do trabalhador. Objetivo: Compreender a história de vida deste trabalhador a partir da sua primeira experiência com o trabalho, bem como outras atividades desenvolvidas ao longo de sua vida, entendendo o tipo de atividade realizada, como era desenvolvida e a relação estabelecida com este trabalho. Dentro do processo de adoecimento foi contemplado a compreensão da importância do contexto em que este trabalhador está inserido, partindo da proposição de influência no surgimento do adoecimento, e que, assumindo a teoria dos DSS, a compreensão do sujeito sobre o contexto que está inserido, é decisiva para o seu potencial de ação. Este primeiro eixo temático contou com as seguintes perguntas: 1) Você poderia falar sobre quando você começou a trabalhar? 2) Por quais trabalhos você já passou, e a relação estabelecida entre eles? 3) Você poderia falar um pouco de como foi o processo de adoecimento? 4) Quando você percebeu que estava doente? 5) Como você se sentiu ao saber da doença? 6) Como se deu a iniciativa de procurar ajuda/tratamento?. b) Análise, por parte do trabalhador, da importância e efeitos de cada ponto da rede de apoio sob o trabalhador. Objetivo: No primeiro momento, foi discutido sobre a compreensão destas redes sob a perspectiva do trabalhador, no qual se tornou imprescindível para entendermos o que o trabalhador(a) compreende como redes de apoio, nos dando margem para ampliação dessas instâncias a partir de suas potencialidades de acessá-las. No segundo momento, a análise e compreensão por parte do trabalhador(a) sob as ações da rede, prosseguiu através do diagrama confeccionado pela pesquisadora junto ao trabalhador(a), constando todas as suas instâncias no qual recebe alguma forma de apoio, aprofundando junto a ele a importância dos efeitos de cada ponto da rede para a potencialização da sua saúde, como forma de produção da mesma, gerando ao mesmo tempo, reflexões e reelaborações das instâncias que o cercam, bem como a relação estabelecida, e se a mesma se apresenta ou não como promotora de saúde no seu processo de adoecimento.

80 76 Neste segundo bloco de perguntas, foram indagadas: 7) Sobre as redes de apoio, como e quando foram mobilizadas? 8) Quais lugares você já acessou, e o que você foi fazer lá? 9) Com que frequência você acessou essas redes? 10) Como ela contribuiu para a sua saúde? 11) Há impactos promovidos por essas redes? Se sim, comente sobre cada (pontos) uma delas 12) Em quais delas você sentiu mais acolhido(a)? 13) Que tipo de ajuda/auxílio você recebeu? 14) Você esperava algo dessas redes e não teve? Como parte do processo de coleta, no segundo bloco de perguntas, realizou-se paralelamente uma catalogação sobre as possíveis redes mobilizadas por esses trabalhadores(as). Para a construção destas redes, utilizamos do recurso da confecção do mapa de redes através de um programa utilizado para criação/edição e exibição de apresentações gráficas em que o trabalhador, por intermédio da pesquisadora, confeccionou o seu próprio diagrama na qual sinalizava as redes na qual acessava, utilizando traços/linhas de intensidade de relação como demonstração dessa relação estabelecida, tendo como opções: ligação forte; ligação distante; ligação conflituosa. A coleta dos dados foi realizada entre julho de 2020 a dezembro de 2020, período este que a pesquisadora esteve de forma dedicada à captação dos participantes, junto ao instituto co-participante, e por intermédio dos entrevistados, pelo método da bola de neve. Foram entrevistados 10 trabalhadores, sem delimitação de uma categoria de trabalho específica, visto que o recorte da pesquisa foi pela via do adoecimento pelo trabalho. A fim de garantir o sigilo dos participantes, nomeamos os participantes como trabalhadores para a estes se referirem, seguindo a ordem das entrevistas realizadas. Os participantes entrevistados estão caracterizados por estas categorias de trabalho: um engenheiro; dois bancários; uma psicóloga; três professoras; dois operadores de telemarketing e um técnico em TI. Dentre os trabalhadores, tivemos seis mulheres e quatro homens, com idades entre 27 a 55 anos e renda de 1 salário e meio à 7 salários. O mais antigo na profissão estava há 35 anos, e o mais recente, há 3 anos.

81 77 Percebeu-se que, entre os dez participantes entrevistados, oito se afastaram em razão de problemas psíquicos, e dois por doenças osteomusculares, entretanto, desenvolveram ao longo do processo, algum transtorno mental. As entrevistas tiveram em média, uma hora e meia de duração, incluindo a etapa de confecção do diagrama (figura 2). Figura 2: Exemplo de diagrama confeccionado pelo participante e pesquisadora. Legenda Ligação forte Ligação distante Ligação conflituosa Fonte: Elaborada pela autora

82 78 No diagrama, foi adotado setas com cores específicas, de forma a mensurar o grau de intensidade da relação estabelecida com as redes. Para a seta verde, é sinalizada uma intensidade forte com a rede; a seta amarela refere-se a uma rede distante; e por último, a seta vermelha, que sinaliza uma rede conflituosa como demonstrado na figura 2. O diagrama parte de uma construção metodológica da própria pesquisadora, pensado na estratégia de mapear as redes mobilizadas pelos trabalhadores, priorizando os vínculos estabelecidos com cada rede. Como a entrevista foi realizada de forma remota, e compreendendo os limites impostos, adequamos o mapeamento através de um diagrama recurso gráfico de edição para que os participantes compreendessem a posição das redes em suas vidas, na medida que denotaram as intensidades estabelecidas. A construção do diagrama se deu paralelamente à entrevista do nosso segundo eixo de análise Análise, por parte do trabalhador, da importância e efeitos de cada ponto da rede de apoio sob o trabalhador exato momento que nos aprofundamos no contexto das redes, dialogando sobre o que se é compreendendo por Redes de Apoio e nos aproximando ao mapeamento delas. Na confecção do diagrama, o participante está localizado ao centro, e ao redor, alguns círculos para a nomeação das redes. Importante ressaltar que neste momento, diante a discussão sobre as redes de apoio já realizadas, os participantes já conseguiam sinalizar suas redes, desse modo, eles verbalizam as redes e a pesquisadora preenchia nos círculos. Na medida que se preenchia um círculo, o participante já mencionava a seta de intensidade da relação forte, distante, conflituosa e discutiam os efeitos da mesma. Ao término do mapeamento, a pesquisadora checava se desejavam incluir mais alguma rede e solicitava que avaliassem se estavam satisfeitos com o preenchimento, até mesmo sugerindo algumas redes caso seja acessada pelo trabalhador - que a própria literatura menciona. Como parte final da construção, o trabalhador sinalizava, diante todas as redes mencionadas, qual delas mais recebeu apoio e a

83 79 que não recebeu apoio nenhum, representadas pelas setas de cores verde e vermelho em tamanhos maiores. As redes mencionadas, como exemplificadas na figura são: família e parentes, havendo uma distinção entre ambos, aqui família considera-se apara além da nuclear, a partir de pessoas de convívio diário no lar e que de alguma forma se fez presente inicialmente nesse processo de amortização do trabalhador, uma concepção mais ampliada. Parentes são os laços consanguíneos, representados pela família extensa (avós, tios, primos) que também podem auxiliar e oferecer suporte de alguma forma (Jussani et al., 2007). Amigos, profissionais e comunidade, e os recursos da fé e das práticas de autocuidado (aqui descritas como, alimentação, exercícios físicos, hobbys, entre outros). E por fim, o trabalho, outras instituições (ex.: entidade responsável pela representação da classe) e Organizações sindicais. Após concluídas as entrevistas, sendo elas como já mencionada, gravadas por meio de áudio e imagem, mediante autorização prévia dos participantes, foram transcritas na íntegra e analisadas. Partimos da consideração que as entrevistas, de maneira geral, mobilizam as significações produzidas pelos participantes acerca da realidade que o cerca e, aqui nessa pesquisa, mais específica, sobre as redes de apoio durante o seu adoecimento. Portanto, utilizamos para análise dos dados gerados na pesquisa, o método dos núcleos de significação, no qual é possível verificar as transformações e contradições que ocorrem no processo de construção dos sentidos e significados, possibilitando uma análise mais substancial permitindo ir além do que está aparente (Aguiar & Ozella; 2013). Aguiar et al., (2015) apontam que os núcleos de significação se desdobram em três etapas fundamentais de construção para análise: o levantamento de pré-indicadores, que é a identificação de palavras que já possam revelar indícios da forma de pensar, agir e sentir; a segunda é a sistematização de indicadores, em um processo de similaridade, complementar e/ou contraposto dos trechos que foram destacados; e a terceira etapa é a sistematização dos núcleos

84 80 de significação, que revela de forma mais profunda os conteúdos estudados através das análises das etapas anteriores. Segundo os autores, o processo de apreensão desses sentidos e significados coloca o sujeito frente à realidade no qual se relaciona, tendo o método como parte do movimento que vai do empírico ao abstrato, e do abstrato ao concreto, fazendo com que sejam apreendidas e reveladas através desse processo, concomitantemente a essas significações que se desvelam pelos processos históricos e sociais do sujeito (Aguiar et al, 2015). No que tange às categorias de sentido e significado, os autores ancoram-se a partir do que é proposto por Vygotsky (2001), que aponta o sentido como um campo de maior manifestação da palavra, sendo ele, histórico, complexo, dinâmico o sentido das palavras depende conjuntamente da interpretação do mundo de cada qual (Vygotsky, 1993, p. 333). O significado, por sua vez, apresenta caráter coletivo, uma estabilização de ideias de um determinado grupo, salientando-se a importância da correlação entre ambos. Como parte do procedimento, foi realizado uma leitura exaustiva das transcrições, realizando o primeiro levantamento dos pré-indicadores, sendo estas, falas que expressam a relação com o objetivo proposto da pesquisa. Em seguida, as falas foram organizadas a partir de sua similaridade ou contradição, seguindo do levantamento dos indicadores. Na etapa final, os indicadores foram articulados e sistematizados, constituindo assim os núcleos de significação. 5.3 Procedimentos Éticos Por esta ser uma pesquisa que envolve seres humanos, foi seguido todas as normas éticas do Conselho Nacional de Saúde na Resolução 510/2016, resguardando qualquer direito previsto na resolução aos participantes da pesquisa. Ressaltamos que todos os sujeitos da pesquisa participaram de forma voluntária, estando resguardados pela assinatura do termo de

85 81 consentimento livre e esclarecido (TCLE) e de autorização de gravação de imagem e voz, sendo todos assinados e enviados após a leitura e compreensão junto a pesquisadora. Como parte do procedimento ético, o projeto de pesquisa foi encaminhamento ao Comitê de Ética Central da UFRN, sob o número do parecer: CAAE: Os possíveis riscos da participação na pesquisa, foi a mobilização de emoções mediante as questões que forem sendo propostas ao longo do encontro, sendo minimizado pelo acolhimento e acompanhamento de um profissional habilitado, no caso a pesquisadora responsável durante todo o processo, regulamentada pelo Conselho Regional de Psicologia sob o número CRP 17/4806. A realização da devolutiva dos resultados obtidos no estudo será apresentada para cada participante, evidenciando tudo o que foi suscitado no processo, como a elaboração e potencialização das redes de apoio do trabalhador, sendo este o maior benefício destinado aos sujeitos. Apresentará, também, a devolutiva às instituições/equipamentos no qual sejam levantados pelos participantes ao longo do processo, como forma de potencializar a ação destes serviços sob os trabalhadores.

86 82 6. Resultados e discussão Esta seção destina-se a interpretação dos dados obtidos, provenientes do material e categorias metodológicas descritas no capítulo anterior. A partir da análise dos dados, foram desenvolvidos três núcleos de análise: 1) O que há de deletério nas relações de trabalho; 2) Redes que tecem linhas de cuidado à saúde e 3) a fragilidade da organização do trabalho: fios que não compõem as redes Os núcleos de análises foram definidos a partir de leituras exaustivas de todo o material colhido, apreendendo nas falas conteúdos de similaridade e contradições, a partir dos sentidos e significados percebidos, constituindo um passo sistemático aos primeiros pré-indicadores, até a formação e sistematização dos indicadores, reunidos na composição dos núcleos. Quanto às identificações das redes, as de maiores intensidades, assumida pela pesquisa como redes fortes foram compostas por famílias, igualmente acessada e mobilizadas como os recursos do autocuidado; amigos; profissionais de saúde; fé; igreja, aqui havendo a necessidade de distinção, apontadas pelos participantes como díspares, e os deixando livre para o que melhor se adequaria. Instâncias como: Colegas de trabalho; casa/lar e associações sindicais também surgiram, entretanto, em menor frequência. Figura 3: Nuvem de palavras representada pelas redes e recursos mobilizados

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