AS NOVAS FACES DO SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS DO SÉCULO XXI: MUDANÇAS NAS FORMAS DE CONTRATAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E REQUISIÇÕES PROFISSIONAIS.
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1 AS NOVAS FACES DO SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS DO SÉCULO XXI: MUDANÇAS NAS FORMAS DE CONTRATAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E REQUISIÇÕES PROFISSIONAIS. Aluna: Marcela Dias Affonso Orientador: Márcia Regina Botão Gomes Introdução Este relatório pretende apresentar a nossa aproximação como o projeto de pesquisa que se propõe analisar as novas faces assumidas pelo Serviço Social nas empresas como expressões dos processos de reestruturação produtiva, que comporta formas de intensificação do trabalho, precarização dos vínculos de contratação e das condições de trabalho com o possível aumento da informalidade e do ocultamento de massas de trabalhadores. Objetivos O Projeto proposto possui dois conjuntos de objetivos: 1) O objetivo geral consiste em identificar como o trabalho do assistente social vem se processando na particularidade das empresas no século XXI diante das medidas de reestruturação produtiva de corte neoliberal em diversos setores. A partir do objetivo principal há o desdobramento de quatro objetivos de natureza teórico-prática que podemos considerar específico: Objetivos Específicos: 1) Identificar quais tem sido as principais formas de precarização do trabalho nas empresas e o modo como essas precarizações tem afetado as condições de trabalho dos assistentes sociais e suas propostas profissionais. 2) Contribuir para o debate profissional sobre os processos de trabalho do Serviço Social em empresa, suas requisições, demandas e desafios profissionais na atualidade. Metodologia Para uma primeira aproximação com a temática deste projeto fizemos uma revisão bibliográfica sobre as transformações do trabalho e leituras sobre o serviço social em empresas. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, nos próximos passos continuaremos investindo em estudos teóricos e metodológicos como preparação para ida ao campo. No estágio atual estamos em fase de definição do escopo da pesquisa, ou seja, quais e quantas empresas pesquisaremos, elaboraremos os instrumentos de coleta de dados, tais como o roteiro de entrevista, e em seguida realizaremos as visitas institucionais às empresas. Pretendemos fazer um estudo de caso com uma empresa de grande porte com mais de mil empregados, contudo estamos avaliando as condições de acesso às empresas, sendo possível realizarmos alguns ajustes.
2 Uma breve aproximação teórica Para compreender o Serviço Social é necessário considerar os processos sociais em curso. Por esse motivo iniciamos as nossas reflexões a partir de leituras que tratam das transformações do trabalho a partir da década de 1970 nos países de capitalismo central e de 1990 no Brasil. Para esta primeira aproximação nos apoiamos principalmente nos seguintes autores: Mota (2009), Antunes (1995), Antunes e Druck (2013), Druck (2009), Linhart (2013), Alves (2013) e Netto (1996, 2012). Além desses autores, buscamos nos aproximar de parte da literatura específica sobre o Serviço Social em empresas, tais como: César e Amaral (2009), Botão-Gomes (2015), com o intuito de identificar como as transformações societárias mais amplas incidem no cotidiano profissional dos assistentes sociais. De acordo com Netto (1996) um conjunto de transformações societárias ocorreu devido à crise do capital desencadeada a partir da década de 1970, nos países de capitalismo central. Tal crise apresentou reflexos em outros países, incluindo o Brasil que vem sofrendo alterações mais significativas a partir de Nesse período ocorreram processos de reestruturação produtiva com privatizações de empresas, terceirizações, retrocessos de direitos sociais decorrentes de reformas na previdência social, processos de fusão entre empresas, demissões de trabalhadores, reordenamento do papel do Estado, entre outras. Desde então, a sociedade vem experimentando grandes transformações no mundo do trabalho, ocorreram mudanças nas formas de produção dentro do sistema capitalista ocasionando alterações nos processos produtivos e também nas vidas dos trabalhadores empregados e desempregados. Destaca-se a transição do modo de produção fordistakeynesiano para o modelo de acumulação flexível com a gestão de predomínio toyotista. O toyotismo penetra, mescla-se ou mesmo substitui o padrão fordista dominante, em várias partes do capitalismo globalizado, posto como ideologia orgânica do novo complexo de reestruturação produtiva que surge com a mundialização do capital. O nexo essencial do toyotismo é a captura da subjetividade, traço significativo das ideologias gerenciais dos últimos trinta anos. A disputa pela a subjetividade ocorre no interior de um processo de disseminação de valores-fetiches, expectativas e utopias de mercado que perpassam não apenas o espaço da produção, mas também o espaço da reprodução social. (Alves, 2013) A utilização dos métodos de trabalho toyotista levou para dentro das fábricas a automação, a robótica e a terceirização, resumindo ao mínimo a interferência da mão de obra do homem, essas são as novas formas de produção. Em razão desse modo de organização da tecnologia avançada, gerou-se um grande aumento da produtividade e uma grande redução do trabalho vivo. Contudo, o trabalho vivo não pode ser dispensado, sendo ainda um elemento essencial nos processos de trabalho. Esse conjunto de mudanças vem desencadeando uma série de consequências que Antunes (1998) chamou de objetivas e subjetivas. Sobre os aspectos objetivos o autor destaca o que mais se evidencia, na crise de acumulação do capital, que é a redução dos níveis de produtividade do capital, dado a acentuada tendência decrescente da taxa de lucro; esgotamento do padrão de acumulação taylorista/fordista de produção; hipertrofia
3 do capital financeiro, que ganhou relativa autonomia frente ao capital produtivo; ampliando a concentração de capitais, devido às fusões entre as empresas monopolistas e oligopolistas; crise do Welfare State ou do Estado de Bem-Estar Social, que gerou crise fiscal do Estado capitalista, com a consequente retração dos gastos públicos e sua transferência para o capital privado; processo acentuado de privatizações e à flexibilização do processo produtivo, dos mercados e da força de trabalho Antunes (1998). A crise afeta tanto os aspectos materiais quanto a subjetividade da classe que vive do trabalho. Nos aspectos subjetivos, atingiu a consciência de classe, expressando-se nos organismos representativos, como sindicatos, entre outros. Principalmente, no que diz respeito à crise de identidade coletiva, devido ao crescente desemprego, à flexibilização e à terceirização dos serviços. Aponta o enfraquecimento do poder de ação dos sindicatos e de outras formas de organização e de resistência. O que gera o envolvimento do trabalhador com os objetivos das empresas como se fossem seus. Com isso, tem sido realizada (...) uma verdadeira reforma intelectual e moral, visando à construção de outra cultura do trabalho e de uma nova racionalidade política e ética compatível com a sociabilidade requerida pelo atual projeto do capital. (MOTA, 2009). Outra consequência desses processos é a heterogeneização da classe que vive do trabalho, afetando os trabalhadores em vários aspectos. No caso dos trabalhadores contratados de forma terceirizada e para a prestação de serviços informais há uma diminuição drástica dos direitos, além da constante insegurança. Se pensarmos o trabalhador com vínculo de trabalho considerado estável (e não terceirizado), também há perdas no sentido de ampliação de suas responsabilidades, tarefas e insegurança. Pois, apesar de ter um vínculo de trabalho, a sua condição de empregado é constantemente ameaçada. Em síntese, as diferentes formas de contratação dos trabalhadores têm apresentado perdas seja de natureza material, seja subjetiva, afetando a identidade de classe, tornando o trabalho coletivo aparentemente individualizado. Esse paradoxo, pautado na individualização Linhart (2013) destaca como um fator gerador de angústia, depressão e um sentimento de incapacidade. Desse modo, tem sido propagado conjunto de valores próprios desse estágio do capitalismo, que interfere no modo de ser da classe trabalhadora e nas suas formas de organização e de resistências, ocorrendo um estímulo à busca por metas intangíveis, essa estratégia tem sido um dos elementos cruciais para o aumento da produtividade e também para a manutenção da dominação Alves (2013). Nesse sentido, o neoliberalismo, como ideário econômico e políticos, é expresso nos princípios da economia de mercado e na regulação estatal mínima. É uma ideologia disseminada na sociedade, da qual afirma que somente através da economia de mercado que a realidade poderia mudar, reforça essa lógica individualizadora (MOTA 2009). Esses aspectos incidem duplamente no trabalho dos assistentes sociais nos diversos espaços sócio-ocupacionais e no caso das empresas não tem sido diferente.
4 Os aspectos apontados brevemente geram o que Alves (2013) chamou de precarização da vida e Linhart (2013) de precariedade subjetiva. Na realidade do trabalho assistente social não é diferente, os profissionais se deparam com um duplo desafio: 1) atender os trabalhadores que sofrem essas perdas; 2) a condição de ser trabalhador assalariado que também sofre esses dilemas. Algumas empresas têm optado pelo trabalho terceirizado com atendimento à distância, por telefone e muito pontual. Botão-Gomes (2015). Sobre essas questões que aprofundaremos na próxima etapa da pesquisa. O trabalho do assistente social, como integrante da classe que vive do trabalho, nas empresas têm sofrido os mesmos dilemas. A ampliação das terceirizações, prestação de trabalhos sem proteção trabalhista, informalidade, aumento do controle das tarefas, ampliando os seus desafios. Próximos passos da pesquisa: Para darmos sequência a esta pesquisa, continuaremos investindo em estudos teóricos e metodológicos como preparação para ida ao campo. Nesse momento será definido o escopo da pesquisa, ou seja, quais e quantas empresas pesquisaremos, elaboraremos os instrumentos de coleta de dados, tais como o roteiro de entrevista, em seguida realizaremos as visitas institucionais às empresas. Pretendemos fazer um estudo de caso com uma empresa de grande porte com mais de mil empregados. A importância da pesquisa no processo de formação acadêmica Por fim, cabe destacar que a pesquisa científica é de extrema importância na formação profissional de qualquer aluno. A importância da pesquisa para a minha formação tem sido notória, pois está me proporcionando experiências que tem enriquecido a minha vida acadêmica e que irão se refletir na minha vida profissional. Através da pesquisa, tenho adquirido um pouco mais de experiência dentro de minha área de estudo. O desenvolvimento do tema permitiu-me na condição de aluna, articular muitos dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso. Os textos trabalhados na pesquisa têm somado com o conteúdo que tenho estudado nesse período. Tudo é muito novo, pois o tema que estamos estudando nessa pesquisa que é As novas faces do Serviço Social nas Empresas do século XXI: Mudanças nas formas de contratação, organização do trabalho e requisições profissionais eu ainda não havia trabalhado na academia. Estou muito satisfeita em poder estar fazendo parte dessa pesquisa e enriquecendo o meu currículo. O aprendizado na iniciação científica é muito importante, as pesquisas ajudam no contato com a profissão e na articulação com a academia. Em pouco tempo, pude aproveitar bastante tudo o que estudamos até aqui, e não vejo a hora de ir a campo para realizar a pesquisa empírica. Departamento de Serviço Social
5 Referências ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez-Unicamp, Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, ALVES. Giovanni. A disputa pelo intangível: Estratégias gerenciais do capital na era da globalização. In ANTUNES, Ricardo. Org. Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil III. São Paulo: Boitempo, DRUCK, G. A precarização do trabalho no Brasil. In: ANTUNES, R. (Org.). Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil II. São Paulo: Boitempo, LINHART, Daniele. Modernização e precarização da vida no trabalho. In ANTUNES, Ricardo. Org. Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil III. São Paulo: Boitempo, MOTA, A. E.; AMARAL A. S. Reestruturação do capital, fragmentação do trabalho e Serviço Social. In: MOTA, A. E. (Org.). A nova fábrica de consensos. Ensaios sobre a reestruturação empresarial, o trabalho e as demandas ao Serviço Social, São Paulo: Cortez, NETTO, José Paulo. Transformações societárias e Serviço Social. Serviço Social e Sociedade, nº50 ANO XVII- abril 1996.
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