PROCESSO: RTOrd

Transcrição

1 Acórdão 5a Turma DANOS MORAIS. A indenização por danos morais na Justiça do Trabalho é cabível quando, na relação de emprego, o obreiro vê-se violado em sua intimidade, vida privada, honra ou imagem. O dano moral é a dor, a emoção, o sentimento doloroso pelo qual se submete o lesado e a indenização em pecúnia visa amenizar esses sentimentos negativos, conferindo ao lesado alguma sensação positiva decorrente do recebimento da indenização, não se perdendo também de vista o seu caráter punitivo. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de RECURSO ORDINÁRIO, provenientes da MM. 6ª Vara do Trabalho de Duque de Caxias, em que são partes: ELIDA PAULA DA SILVA e SCARLATE RIO INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ROUPAS LTDA., como recorrentes e recorridos. Inconformadas com a r. sentença de fls. 70/74, que julgou procedente em parte o pedido, a autora e a ré apresentam Recurso Ordinário, consoante razões de fls. 77/78 e 79/89, respectivamente. A autora pretende que seja majorado o valor da indenização por danos morais, vez que em Juízo criminal foi sumariamente absolvida da acusação da ré de que teria apresentado um atestado médico falso. Pretende que a condenação no valor de R$30.000,00 (trinta e mil reais) seja majorada, diante do enorme sofrimento moral causado à autora em decorrência da ação criminal. A ré insurge-se contra a condenação no pagamento da indenização por danos morais. Sustenta, em síntese, que dispensou a autora por justa causa posto que esta apresentou um atestado médico e a ré, ao oficiar o Hospital indagando sobre a autenticidade do documento, teve como resposta de que se tratava de um documento não verídico. Diz que, diante de tal informação, dispensou a autora com justa causa e apresentou denúncia, não tendo culpa se após ficou apurado que o órgão público não prestou a informação correta

2 Defende que não se pode transferir para a empresa a responsabilidade pela falta de organização e pelas informações desencontradas do referido hospital. Sustenta que o valor fixado para a indenização é exorbitante e pretende que o mesmo seja reduzido. Custas e depósito recursal comprovados às fls. 90/91. Contra-razões da autora às fls. 94/95 e da ré às fls. 99/104, sem preliminares. O d. Ministério Público do Trabalho, às fls. 108, através da sua i. Procuradora Dra. Inês Pedrosa de Andrade Figueira, deixa de emitir parecer, por não vislumbrar hipótese de intervenção. É o relatório. V O T O CONHECIMENTO Conheço dos recursos ordinários interpostos pela autora e pela ré, por terem sido preenchidos os pressupostos de admissibilidade. MÉRITO RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO PELA RÉ Da indenização por danos morais O artigo 5º, inciso X, da Constituição da República dispõe que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, sendo assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação, e o inciso V prevê o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem. O dano moral é a dor, a emoção, o sentimento doloroso pelo qual se submete o lesado e a indenização em pecúnia visa amenizar esses sentimentos negativos, conferindo ao lesado alguma sensação positiva decorrente do recebimento da indenização, não se perdendo também de vista o seu caráter punitivo. No caso dos autos, a prova documental é farta e contundente quanto aos danos morais sofridos pela obreira. A autora apresentou à empresa um atestado médico para justificar um dia de ausência

3 A empresa tem como praxe selecionar aleatoriamente alguns atestados e oficiar o respectivo hospital para indagar sobre a autenticidade do documento (quarto documento de fls. 11). Pois bem. A empresa resolveu oficiar o Hospital Municipal de Duque de Caxias para averiguar a autenticidade do atestado apresentado pela autora e teve a informação, aposta no verso do atestado, que não é verídico (quarto documento, às fls. 10). Diante dessa reduzida informação, a empresa decidiu dispensar a autora com justa causa e, ainda, resolveu apresentar denúncia, sendo iniciada uma ação criminal contra a autora. A obreira ajuizou ação trabalhista em face da ré, perante o Juízo de Duque de Caxias, postulando o pagamento das verbas rescisórias, dentre outros, e, para ser apreciar a justa causa, foi expedido ofício ao Hospital Municipal de Duque de Caxias. A então Vice Diretora, Dra. Deise Nadia Barbosa, certificou que o médico, Dr. José Roberto Mendonça, afirmou, em parecer, que o atestado é verdadeiro (fls. 12 e 44). Diante desta prova, aquele Juízo afastou a justa causa. Na instrução do Processo Crime nº , em que a autora figura como Acusada, o Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal ouviu os envolvidos, inclusive o médico que consta do atestado médico. E os fatos foram esclarecidos. Apurou-se que, na verdade, a parte administrativa do Hospital de Duque de Caxias, ao menos naquela época, era uma verdadeira desordem. A Vice Diretora, Dra. Dayse Nadia Alves Barboza, confirmou em depoimento que o Dr. José Roberto Mendonça havia informado, por meio de parecer, que o atestado era verdadeiro, e disse que, apesar dessa informação, estranhou a letra e assinatura ali constantes. Disse que na época estava ocorrendo a fusão dos de dois hospitais, o Dr. Moacir do Carmo com o Hospital Duque e, por isso, não pode afirmar com certeza se foi lavrado o boletim de atendimento, mas que procurou nos registros o nome da acusada e não encontrou (fls. 13). O Dr. Jose Roberto Mendonça também foi ouvido. Disse que fazia atendimento na emergência; que não reconhece como sendo sua a rubrica constante do atestado nem a letra, mas que no setor de emergência, em virtude da pressa e grande número de atendimentos, é comum algum estagiário rubricar com o carimbo de outro médico; que o atestado médico normalmente é expedido após o atendimento médico, que fica registrado no boletim, mas que também é possível a pessoa ser atendida e não haver registro no boletim;

4 que reconhece que apôs no atestado médico apresentado pela empresa a expressão não é verídico e depois, em outra ocasião, apôs é verídico ; diz que ambas as informações foram anotadas pelo depoente, embora não reconheça como sua a rubrica aposta no atestado; diz que na emergência tudo acontece, vez que são muitos os pedidos feitos por Prefeito e Vereadores para determinadas pessoas furarem a fila e nem sempre são feitos os Boletins (fls. 14). O Juízo da 3ª Vara Criminal julgou improcedente o pedido e absolveu a acusada diante da prova colhida nos autos. Ora, o que se pode afirmar sem dúvida alguma é que inexiste prova de que o atestado médico seja falso. Ao revés, a prova é no sentido de que o atestado é verdadeiro, apesar de não ter sido preenchido e assinado pelo médico que fez o atendimento. As irregularidades administrativas e a desordem daquele Hospital ficaram robustamente demonstradas nos autos. E por conta dessa desordem a autora foi acusada pela empresa de ter apresentado um atestado médio falso, foi dispensada com justa causa e, ainda, sofreu uma ação criminal, cujo resultado foi pela sua absolvição. A justa causa aplicada erroneamente, sob a equivocada acusação, já submete o empregado a sofrimento moral. Mas não caso dos autos a situação é mais grave, posto que a obreira figurou em ação criminal, o que decerto causou enorme constrangimento, abalo emocional e transtornos. Não se trata de transferir à empresa a responsabilidade pela falta de organização e informações desencontradas do referido hospital, como alega em seu apelo. Na verdade, a empresa optou em desconfiar do atestado médico trazido pela autora, não acreditar em sua declaração, e optou em buscar informações no Hospital e, após, recebê-las, optou em considerá-las corretas, dispensado a autora com justa causa e, ainda, ofereceu denúncia criminal. A empresa tem que assumir a sua escolha. Para a empresa, a escolha foi infeliz e para autora, mais ainda, porque além de ter perdido o emprego, foi dispensada por justa causa e, ainda, sofreu uma ação criminal, altamente desgastante para qualquer cidadão. Não há dúvidas de que o Hospital público, em decorrência da total falta de organização, foi o principal causador de todo esse infortúnio. No entanto, em relação à autora a responsável é sua ex-empregadora, que optou em não aceitar o atestado oferecido pela empregada, buscar informações no órgão e

5 basear-se nelas para tomar as atitudes que entendeu cabíveis. À empresa cabe, se entender necessário, procurar ressarcimento pela via própria, perante o órgão judicial competente. por danos morais. Deste modo, correta a r. sentença em deferir o pagamento da indenização E em relação ao valor, também não merece reparo o julgado. O nosso ordenamento jurídico não dispõe de uma tabela tarifária para fins de fixação do quantum das indenizações por dano moral, cabendo, pois, ao julgador apreciar a extensão do dano e a capacidade econômica do ofensor e ofendido para a fixação da referida quantia, de modo que não seja motivo de enriquecimento sem causa do ofendido ou de empobrecimento do ofensor. No caso dos autos, o valor da indenização fixado na r. sentença, no total de R$30.000,00 (trinta mil reais) mostra-se razoável considerando-se todo o sofrimento suportado pela autora, a sua situação econômica e o porte da ré. Irreparável a r. sentença. Nego provimento. RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO PELA AUTORA Do valor da indenização por danos morais Não prospera o inconformismo. Como já foi exposto, o valor da indenização fixado na r. sentença, no total de R$30.000,00 (trinta mil reais) mostra-se proporcional ao sofrimento suportado pela autora e a situação econômica de ambas as partes. A autora exercia a função de auxiliar de produção e recebia salário mensal de R$468,60. Assim, a indenização superior ao valor já fixado na r. sentença poderá configurar em enriquecimento sem causa do ofendido, o que não pode ser admitido. Nego provimento. CONCLUSÃO AMBOS OS RECURSOS. PELO EXPOSTO, conheço dos recursos ordinários e NEGO PROVIMENTO A

6 ACORDAM os Desembargadores da 5ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, conhecer dos recursos ordinários e NEGAR PROVIMENTO A AMBOS OS RECURSOS. Rio de Janeiro, 21 de junho de Desembargador Federal do Trabalho Antonio Carlos Areal Relator Asp/acb