Música para bebês: do cotidiano para sala de aula
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- Bento Benevides Camarinho
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1 Música para bebês: do cotidiano para sala de aula Vânia Gizele Malagutti Micheline Prais de Aguiar Marim Gois/UEM Resumo O artigo apresenta a experiência com aulas de música para bebês, entre um e três anos de idade, e a partir delas a criação de uma nova proposta de ensino de música para este público trazendo para a sala de aula a experiência cotidiana. As aulas são realizadas na Universidade Estadual de Maringá e estão inseridas no Projeto Universidade sem Fronteiras, idealizado e subsidiado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) do Paraná. O curso tem duração de um ano. Teve seu início em maio, com aulas semanais, terá seu término em dezembro do corrente ano e está dividido em duas fases. A primeira tem como metodologia abordagens interativas práticas e vivências em grupo decorrentes de pesquisas, análises e reflexões de metodologias apresentadas por autores como Ilari (2003), Beyer (2003), Feres (1989) e Parizzi (2006). A segunda fase, baseada em estudos de Souza (2000), Swanwick (2003), Ilari (2003), entre outros, objetiva trazer para as aulas de música o cotidiano dos bebês. Dessa forma, o curso conta com uma metodologia onde há um entrelaçamento entre duas propostas: o cotidiano e o cognitivo. Os resultados já obtidos demonstram que estes recursos levam os bebês à operatividade desejada, facilitando a aprendizagem musical. Palavras-chave: aula de música, bebês, cotidiano. Universidade e Comunidade: uma extensão de ensino e pesquisa. A Universidade em seu importante papel de ensino-aprendizado abre suas portas não somente para a formação acadêmica, mas também para a formação da comunidade externa. Dentro deste conceito temos o diálogo entre a Universidade e a comunidade por meio de propostas diferenciadas contempladas nos projetos de extensão. Tem a Universidade em seus objetivos aglutinar o ensino, a pesquisa e a extensão. Diferentes projetos de extensão são estruturados de forma que a comunidade externa e os acadêmicos compartilhem de uma significativa formação. Com os projetos a Universidade consegue atender a uma clientela imensa nos mais variados espaços: comunidades carentes, favelas, dentro de condomínios de luxo, igrejas, escolas, associações de bairro e também dentro da própria Universidade. O papel da extensão, além da formação dos acadêmicos, é de oportunizar conhecimentos produzidos na Universidade para a comunidade. Assim, a Universidade compartilha e retorna o saber construído com a sociedade a ela mesma. Dentro desta proposta de extensão, está o curso Música para bebês, oferecido pelo departamento de Música da UEM. O curso faz parte da proposta de ensino do Projeto Música na Escola que propõe atender a professores e alunos. O Projeto Música na Escola está vinculado ao programa de Extensão Universitária Universidade sem Fronteiras que é idealizado e subsidiado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) do Paraná. Este projeto e programa estão ligados a Pró-reitoria de Extensão e Cultura da Universidade, ao Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, ao qual o Departamento de Música é vinculado. As bases metodológicas do projeto estão fundamentadas dentro de uma linha da sociologia que é ouvir o cotidiano e estar atento a ele, percebendo o que os alunos vivenciam fora do projeto possibilitando assim a construção do conhecimento conjuntamente. Esse ouvir o que os alunos trazem em suas histórias de vida e suas histórias musicais, estabelece uma relação compartilhada entre professores e alunos, onde o professor não é um ditador. Além disso, os projetos agregam os diferentes níveis de aprendizado de cada aluno, o que demanda flexibilidade no planejamento e na estrutura do mesmo
2 Segundo Souza (2000) ao tentar se aproximar do mundo vivido, o interesse da aula de música não está nas atividades padronizadas, mas sim, nas experiências musicais que os alunos realizam diariamente fora da escola. (SOUZA, 2000, p. 40). Segundo Fialho (2008) o projeto busca (colocar como citação com recuo e sem aspas) fornecer subsídios musicais, de forma sistematizada, para professores da educação básica; oportunizar vivências musicais por meio da criação, execução e apreciação musical; e estimular o desenvolvimento de projetos musicais nas escolas. (FIALHO, 2008, p.1). A estrutura pedagógica do projeto é bastante volátil no sentido de estar sempre mudando, se adequando e se reestruturando de acordo com a clientela que entra. Assim, de um semestre pra outro, por exemplo, acabam acontecendo saídas ou entradas de novos integrantes e isso faz com que a proposta tenha que passar por reflexões e também alterações no sentido de redirecionamento dos procedimentos metodológicos. A proposta toda está sempre ouvindo quem vai chegar ao projeto. Ela tem diálogo com o aluno e nesse sentido esse aluno acaba sendo um protagonista ativo nesse processo pedagógico. Os projetos assumem então a função de oportunizar os conhecimentos produzidos na universidade a comunidade, que segundo Penna (2006), são nos projetos de extensão que os acadêmicos vivenciam onde a própria experiência prática possa apontar os conhecimentos [...] a serem desenvolvidos para uma maior compreensão da realidade e para uma eficaz atuação na solução dos problemas encontrados. (PENNA, 2006, p. 41). Em seus objetivos traçados e buscando atender uma clientela específica, no caso os bebês, a proposta do curso Música para bebês transparece em sua estrutura toda esta ação da extensão universitária na comunidade externa. Essa estratégia de ensino atende bebês da comunidade dentro de uma ação metodológica e didática específica para tal idade. Aula em grupo com abordagem interativa prática, reuniões semanais com a equipe organizadora para preparação de material didático e encaminhamento pedagógico, e grupo de estudos sobre a música e a criança. Propõe duração de oito (8) meses com aulas práticas semanais com 35 minutos de duração cada uma, orientações para planejamentos e encaminhamentos metodológicos, e grupos de estudo tendo cada um 2 horas de duração. Participam deste processo um docente coordenador e ministrante -, um discente, um técnico administrativo e alunos acadêmicos do curso de Música. Percebemos a partir desta proposta a ação da extensão universitária na comunidade externa. Oferecer esse conhecimento musical a comunidade que não tem acesso à música é um dever da Universidade. O PRIMEIRO PASSO: a música para bebês. O curso de educação musical para bebês está contemplado em uma proposta de ensino que faz parte de um Programa de Extensão aberto a comunidade em geral. Tal proposta de ensino tem seu funcionamento na Universidade Estadual de Maringá. Atendendo a um público diverso a divulgação se deu por meio de informações no site e na rádio da Universidade como também por contatos pessoais. O processo de inscrição respeitou a ordem de procura dos interessados não havendo lista de espera, visto que o número de inscrições respeitou o limite máximo de alunos por turma. O curso teve início dia 12 de maio de 2009 e terá término dia 3 de dezembro do corrente ano. São duas turmas, com oito crianças cada, divididas por idade: turma 1 crianças de 1 a 2 anos de idade; turma 2 crianças de 2 a 3 anos de idade. As aulas acontecem semanalmente e são realizadas em uma sala no bloco do departamento de música da UEM. O espaço foi preparado e decorado com cortinas, notas musicais coloridas, brinquedos, almofadas e tapete, proporcionando um ambiente mais agradável aos bebês. Não há carteiras ou cadeiras, permitindo um espaço em que as crianças possam se locomover livremente. A proposta de ensino conta com a utilização de instrumentos musicais e materiais didáticos alternativos como: brinquedos sonoros, sacolas plásticas, instrumentos musicais confeccionados com diferentes materiais, livros de estórias, entre outros, procurando oferecer as crianças diversas possibilidades de exploração e contato com o som. Com o intuito de que a aula seja prazerosa aos bebês, proporcionando - 2 -
3 assim o aprendizado de forma lúdica, utilizamos também recursos que fazem parte do cotidiano deles tais como bichinhos de pelúcia, fantoches e bolas. Participam do projeto duas ministrantes, sendo uma discente licenciada em Música e a coordenadora do curso que também atua como ministrante, esta docente da área de Educação Musical, que, na maioria das aulas também está presente. Percebemos que ao ministrarmos as aulas em dupla, estas muitas vezes são mais dinâmicas do que com apenas uma ministrante. Isso porque, enquanto temos uma professora acompanhando as canções no teclado, a outra está próxima das crianças cantando e auxiliando as mães nas atividades, criando diálogos ao contar histórias e falando sobre as músicas a serem trabalhadas e cantadas. A primeira turma conta com a presença das mães, e em um caso específico, a avó, que participam de todas as atividades junto com os bebês. Na segunda turma, os bebês participam sozinhos, embora, inicialmente, algumas crianças solicitam a presença das mães para sentirem-se mais seguras. Pesquisas como de Beyer (2003) e Ilari (2003) comprovam que o modo como o bebê se relaciona com seus pais influencia sua interação com a música. Observa-se na prática, como os pais muitas vezes se alegram por estarem dividindo momentos prazerosos com a música e seus bebês. Estudos descrevem que esta ligação do bebê com a música poderia estar relacionada à forma como a mãe (ou acompanhante) se vincula a aula de música e, sobretudo à música. Hanus Papouseck (1996, p.38), citado por Parizzi (2006) enfatiza que estudos realizados no contexto sociocultural das crianças têm elucidado a importante atuação dos pais e cuidadores como professores competentes da língua materna e como mediadores das influências culturais. A forma como pais e/ou acompanhantes alteram sua forma de falar quando se dirigem aos bebês é um exemplo típico desta predisposição inconsciente. A avaliação das atividades da primeira etapa do curso foi feita a cada aula, de maneira contínua, durante momentos de orientação e estudo, com discussões sobre cada aula aplicada, planejamentos e reflexões. Para Souza (2003, p 48), toda prática educativa tem como condição básica ser reflexiva, porque é saindo da prática, indo para a reflexão e voltando para a prática que o professor fortalece a sua ação, renova sua competência e ganha mais segurança. Além da avaliação contínua, ao final da primeira etapa foi elaborado e aplicado um questionário a seis acompanhantes dos bebês nas aulas. Algumas questões nortearam a pesquisa cujo objetivo é conhecer possíveis influências da música sobre a vida das crianças que estão passando por um processo de educação musical. Os dados coletados por meio das entrevistas foram analisados contribuindo para a continuidade do trabalho e criação de uma nova proposta metodológica para a segunda etapa do curso. Donna Wood (1982) diz ser extremamente importante preparar a criança para a música: pais e professores deveriam conhecer características gerais do desenvolvimento infantil. Os primeiros anos de vida são repletos de grandes transformações e por isso é extremamente útil ao educador musical conhecer um pouco mais sobre os possíveis efeitos da música sobre o desenvolvimento geral da criança, além das influências sobre a rotina de toda a sua família. Partindo dessas considerações elaboramos a metodologia de avaliação e do questionário baseados em um trabalho semelhante realizado na Universidade Federal de São Carlos, orientado por Joly no ano de Tal questionário objetivou analisar e documentar os relatos que ouvimos das mães dos bebês sobre as aulas. Essa idéia partiu da importância de registros sobre tais comentários. As respostas das mães indicam que o processo de educação musical realmente tem contribuído positivamente para o desenvolvimento das crianças, como exemplificamos abaixo com a resposta da seguinte pergunta: você percebeu alguma mudança de comportamento no seu filho (a) depois de algum tempo frequentando as aulas? Percebo que a Thaís melhorou muito na memorização das letras de músicas e consequentemente sua atenção e concentração. Está mais solta, mais expressiva (canta e dança), cria músicas, utiliza-se do piano que temos em casa, das tampas de panelas e - 3 -
4 assadeiras como instrumento de acompanhamento e ritmo para as músicas que quer cantar, declara a mãe da aluna Thaís. O Carlos é muito musical. Ele gosta de todo tipo de música, ele chega a parar e sentar para ouvir. Mas ao mesmo tempo, ele adora cantar e dançar as músicas. Ele dança no ritmo, inventa passos, canta o tempo todo. É incrível de ver, diz a mãe de Carlos. A metodologia e a didática aplicada na primeira etapa do projeto tiveram como proposta abordagens interativas práticas nas aulas oportunizando a vivência em grupo. Nessas atividades são trabalhados conteúdos musicais baseados em materiais sonoros (elementos do som e da música, aspectos rítmicos e melódicos), de expressividade (corpo, voz e expressões faciais), dentro da experiência musical (apreciar, explorar e manipular os objetos sonoros e instrumentos musicais). Neste processo as aulas têm uma estrutura pré-estabelecida, proporcionando uma rotina aos participantes. Segundo Beyer (2003, p.93) cognitivamente é muito importante que a criança experimente e reexperimente sucessivas vezes a mesma ação. Pouthas (1996) complementa esta afirmação dizendo que o mundo que cerca o bebê tem uma organização temporal repleta de ritmos biológicos, motores e ambientais. A rotina do bebê também é rítmica. Como não poderia deixar de ser, a atividade musical acaba obedecendo à rotina rítmica do bebê (ILARI, 2003, p.286). Essas colocações fundamentam nossa proposta prática intitulada nas aulas como canções de rotina. São canções que sinalizam alguns momentos importantes da aula, além de desenvolver a sociabilidade, a memória, a identidade, a disciplina, a noção de rotina, entre outros. Essa rotina foi dividida em partes que se realizavam na seguinte seqüência: canto de entrada; expressão corporal; movimento com locomoção; movimento sem locomoção; percussão corporal; socialização; execução instrumental; relaxamento e hora da despedida. Dentre essas partes, foram inseridas criações e apreciações musicais. Outros trabalhos também relatam essa mesma metodologia, como o de Soares (2008), que apresenta um trabalho musical realizado com bebês de 4 a 24 meses em uma creche de Goiânia, o de Feres (1998) que apresenta uma proposta de musicalização infantil atendendo bebês a partir dos oito meses de idade, cuja proposta encontramos publicada em forma de livro, o projeto Música para Bebês oferecido pela UFRGS, também propondo o ensino de música para bebês, entre outros. A proposta de ensino aqui apresentada e vivenciada nesta primeira etapa do curso é decorrente da análise de metodologias de autores como Ilari (2003), Beyer (2003), Feres (1989), Parizzi (2006), bem como nossas experiências anteriores com aulas para essa clientela. Complementando essas metodologias abordamos também a experiência de Swanwick (2003) que enfatiza a criação e a exploração como ponto de partida para um trabalho de desenvolvimento musical da criança. Buscando proporcionar à criança os instrumentos necessários para a sua auto-expressão e oportunizar o ensino artístico dando a ela os meios pra que se torne sensível ao ouvir e fazer musical, daremos agora o segundo passo. As experiências do cotidiano de cada bebê virão para dentro da sala de aula. Partindo de reflexões e experiências onde os primeiros anos de vida são repletos de grandes transformações surge a idéia de uma nova estratégia de ensino onde a música poderá ser vivenciada de forma diferente e significativa. A educação musical será inserida em diferentes momentos da vida cotidiana, acontecendo de forma não tradicional, estimulando o aprendizado musical de forma que este aconteça em diferentes situações da vida comum além da sala de aula e retorne para ser vivenciado na aula de música. O SEGUNDO PASSO: do cotidiano para a sala de aula. Ouvir o cotidiano e estar atento a ele, percebendo a vivência dos bebês fora das aulas e suas relações com a música, possibilita a construção do conhecimento de forma conjunta. Estar sensível ao que os alunos trazem em suas histórias de vida e suas diversas experiências musicais estabelece uma relação compartilhada entre professores e alunos, onde o professor não é um ditador e sim - 4 -
5 mediador. O professor participa do processo oportunizando os diferentes níveis de aprendizado de cada aluno, o que demanda flexibilidade no planejamento e na estrutura do mesmo. Partindo dessa relação e por meio de várias conversas, reflexões e estudos, surge uma nova proposta de ensino de música para os bebês que freqüentam o curso Música para bebês, realizado na Universidade Estadual de Maringá. Tal proposta busca trazer o cotidiano de cada aluno para dentro da sala de aula, contextualizando a aula nas mais diferentes situações por eles vividas. Com os atuais meios de comunicação as crianças estão em contato com a música em momentos alternativos. Como Souza (2000) alerta, embora normalmente essa vivência não seja acompanhada de reflexão é extraordinário o potencial de uma aprendizagem musical efetiva que aí reside (SOUZA, 2000, p. 176). Partindo dessa idéia sugerimos que as aulas fossem pensadas, planejadas e estruturadas a partir de materiais e músicas que estão no dia-a-dia das crianças, em seus diversos ambientes de vida em casa, na escola, nos passeios, e outros. A partir dessas considerações, no retorno às atividades do segundo semestre foi realizado um questionário de perguntas e respostas para sondagem quanto ao contato dos bebês com a música fora das aulas. O questionário teve por objetivo investigar as preferências musicais dos bebês e sua família e seu contato com a música na rotina diária. Direcionaram este diálogo as seguintes perguntas: 1) A criança escuta música em casa? De que maneira ouve? (Respostas sugeridas: CD, DVD ou programas de TV?) 2) E na família, costumam ouvir música? De que maneira ouvem? (Respostas sugeridas: CD, DVD, rádio ou programas de TV?) Com o retorno dos questionários, observamos que os pais, em geral, gostam de música e, como a consideram importante para eles próprios, acreditam que seus filhos devam participar de programas de aprendizagem musical. Demonstram acreditar na importância da música para um bom desenvolvimento da criança. Todas as respostas são importantes para nós professores. Cada detalhe nos fornece dados para que se conheça um pouco mais sobre a história musical de cada aluno e auxilia na adequação dos novos procedimentos a serem utilizados nas aulas. Surge então a idéia de uma nova proposta de ensino a partir do cotidiano das crianças participantes. A proposta anteriormente pesquisada e vivenciada, o primeiro passo, teve como metodologia desenvolver a musicalidade por meio de brincadeiras de roda, canções folclóricas, atividades de exploração sonora e locomoção, entretanto não trazem para a sala de aula a vivência musical que o bebê tem fora das aulas de música. Abrem-se por meio de uma nova proposta oportunidades onde a exploração sonora que a criança faz em casa, a apreciação musical que acontece em diferentes momentos da sua rotina, as músicas ouvidas no seu dia-a-dia, o contato com o universo sonoro, virão para dentro da aula de música. Souza (2000) considera que é através da história pessoal, através das suas vivências e experiências que o sujeito vai tomando consciência de si mesmo, do mundo e do outro. O cotidiano é visto como lugar social de processos, de achar sentido comunicativo e interativo (SOUZA, 2000, pg. 28). Por que não acompanhar as músicas da aula de música com as tampas da panela da mamãe? Também transformar objetos e brinquedos em instrumentos musicais? Propomos aqui que o cotidiano faça parte da proposta de educação musical. Desta forma a proposta objetiva realizar as aulas de música utilizando também materiais trazidos pelas crianças, os quais fazem parte do contato diário deles. Seriam objetos que as crianças manuseiam durante diferentes momentos do seu dia-a-dia como: colher, prato plástico, copinhos, potinhos de shampoo, brinquedos plásticos de banho, entre outros. Antunes (2002) em seus estudos diz que desde o nascimento, as áreas do cérebro que dominam a coordenação motora, são muito sensíveis e já permitem a execução musical. Propõe esta experiência por meio do canto, audição, movimento, dança, jogos musicais, identificação de sons, e outras atividades que desenvolvem o ouvido interno. Partindo dessa idéia e respeitando o desenvolvimento cognitivo da faixa etária em que estamos trabalhando, criamos estratégias específicas e condizentes com nosso público-alvo
6 As turmas permanecem com número máximo de oito alunos em cada, sendo divididas em dois grupos: turma 1 1 e 2 anos de idade e turma 2 2 e 3 anos de idade. Este limite foi estipulado com intuito de atender cada bebê dando atenção as suas características, respeitando o espaço físico bem como os materiais disponíveis para utilização em aulas. A turma 1 continua com a presença das mães. Buscamos com estas estratégias oportunizar a extensão da educação musical para fora da sala de aula. Isso porque, cada mamãe ou acompanhante terá tarefas a serem cumpridas durante a semana. Tais tarefas terão como ação, por exemplo, escolher a música que será utilizada como atividade de expressão corporal e pesquisa sonora onde objetos pesquisados serão trazidos para a execução da prática em conjunto formando assim um grupo de percussão. Essas atividades buscam proporcionar um momento de reflexão, pesquisa e diálogo entre a mamãe e o bebê. De acordo com a mãe de Thaís, ao compartilhar o que aconteceu na aula, ao querer cantar as músicas e mostrar o que aprendeu temos um momento só nosso, de troca de olhares, toque, elogios e incentivo, ampliando nosso vínculo de mãe e filha. Esta proposta, inserida no contexto de experiência didática para o ensino de música, desenvolve-se por meio de ações práticas e reflexivas acompanhadas de planejamento e estudos sobre Música, Cotidiano e Educação. Busca-se por meio dela oportunizar o ensino-aprendizado da música para os alunos participantes bem como contribuir para a formação docente. Assim, entendemos ser esta prática uma oportunidade pra que a educação musical aconteça de forma integral, dentro e fora da sala de aula. Souza (2000) fundamenta que para construção de uma teoria da educação musical e um entendimento para a metodologia do ensino e aprendizagem de música que se apóiam nessas teorias, vários aspectos tornam-se relevantes. Seu interesse está em desfiar a teia de relações cotidianas e suas diferentes dimensões de experiências fugindo dos dualismos e polaridade e questionando dicotomias. (Souza, 2000, p. 28). Buscamos nessa ação, um comprometimento com a análise individual histórica cheia de significações culturais. Assim, o desafio que se coloca ao lidar com tal proposta está em estruturar metodologias que dêem conta das várias modalidades que a vida social hoje apresenta. Referências Bibliográficas Antunes, Celso As inteligências múltiplas e seus estímulos. Campinas: Papirus Beyer, Esther. 2003A interação musical nos bebês: algumas concepções. Educação: Revista do centro de educação. Santa Maria: v. 28, n. 2, p ,. Beyer, Esther Os Múltiplos Caminhos da Cognição Musical: Algumas reflexões sobre o seu desenvolvimento na primeira infância. Revista da ABEM, Porto Alegre. Feres, Josette Iniciação musical: brincando e aprendendo. São Paulo: Ricordi Feres. Josette Bebês: Música e Movimento. São Paulo: Ricord Fialho, Vania Malagutti; ARALDI, Juciane; DEMORI, Polyana. Educação Musical, Escola e Comunidade: justificativas e fundamentação. SPEM 2007, p Fialho, Vania Malagutti; ARALDI; Juciane; HIROSE, Kiyome Políticas públicas de extensão universitária no Paraná: Projeto Música na escola. Encontro Anual da ABEM. São Paulo, no. 17, p
7 Ilari, Beatriz S Desenvolvimento cognitivo-musical no primeiro ano de vida. Ilari, Beatriz S. (org). Em busca da mente musical, Ensaios sobre os processos cognitivos em música da percepção à produção. Curitiba: Ed. UFPR. Beatriz Senoi Ilari (organizadora) Ilari, Beatriz A música e o cérebro: algumas implicações do neurodesenvolvimento para a educação musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 9, 7 16 Parizzi, Maria Betânia O canto espontâneo da criança de zero a seis anos: dos balbucios às canções transcendentes. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 15, Penna, Maura Desafios para a educação musical: ultrapassar oposições e promover o diálogo. Revista da ABEM, Porto Alegre, n. 14, p Porcher, Louis Educação Artística: Luxo ou Necessidade? São Paulo: Summus Soares, Cíntia V. da S Música na creche: possibilidades de musicalização de bebês. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 20, Souza, Jusamara (Org.) Música, Cotidiano e Educação. Porto Alegre: PPG Música / UFRGS Souza C.V.C Educação Musical a distância e formação de professores. In: Revista do centro de educação UFSM. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria. V.28, nº2 Swanwick K Ensinando Música Musicalmente. Tradução de Alda Oliveira e Cristina Tourinho. São Paulo: Moderna - 7 -
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