ATIVIDADE FÍSICA E ESPORTIVAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
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- Victor Barreiro Nobre
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1 VOLUME X ATIVIDADE FÍSICA E ESPORTIVAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL Prof a. Dr a. Eline Tereza Rozante Porto 49
2 Volume B - Fundamentos da Inclusão Através da Educação Física A PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL: CORPO E MOVIMENTO Com a presença, cada vez mais marcante, da pessoa com deficiência em todos os setores e ambientes sociais, observamos que o seu papel social tem se modificado. Mediante esse fato, várias mudanças de pensamentos e atitudes em relação a elas vêm acontecendo e alguns fatores, como os novos paradigmas científicos e culturais relacionados ao ser humano e sua interação com o mundo, têm colaborado para isso. As condições de vida às quais o ser humano está exposto, atualmente, provocam-lhe muitas dúvidas e incertezas com relação às atitudes adotadas para com seus semelhantes, numa dialética desencadeada pelo desenvolvimento tecnológico e pelos modos de viver apresentados pela sociedade, o que se reflete diretamente nas relações humanas nos mais diversos ambientes. Esses apontamentos estão diretamente relacionados às pessoas com deficiências, indo de encontro à forma como a sociedade as vem tratando desde há muitos séculos, ou seja, com os conceitos e valores de menor valia ou incompetência gerando preconceito e falta de aceitação social. Isso é demonstrado fortemente pelo não respeito às diferenças humanas e pela significativa falta de acessibilidade a que essas pessoas estão expostas, no seu dia a dia, em todos os ambientes sociais - de ordem formal, informal, institucional, familiar, comunitária e também no ambiente de trabalho. Sendo o ser humano um corpo em movimento, acreditamos na possibilidade que ele tem de estabelecer um diálogo desafiador com o mundo que o cerca. Tanto uma criança, como qualquer outro ser humano com capacidade para se comunicar no mundo pela linguagem oral e / ou corporal, podem tornar-se autônomos e desafiadores. 50 Nesse sentido, afirmamos que as atividades físicas e o esporte contribuem significativamente com a possibilidade de as pessoas com
3 deficiências visuais estarem no mundo e se comunicarem entre si e com os outros, em todos os ambientes. Conhecer o próprio corpo, suas capacidades e limitações, é irrefutavelmente importante para que possamos nos integrar e interagir com o mundo. Esta relação não ocorre se o ser humano não conhecer e não tiver consciência do seu próprio corpo. Corpo este que se movimenta, sente, fala, reclama, questiona, chora, sorri e se completa na relação com o outro no mundo. Às pessoas com deficiências visuais são atribuídas incapacidades que inúmeras vezes as impedem de fazer e alcançar o mínimo necessário para poderem se relacionar com o mundo. No entanto, o não oferecimento de condições para desenvolverem suas habilidades de orientação e mobilidade e, assim, adquirirem aptidão para ir e vir de e para onde desejarem e necessitarem, é que lhes confere um estado de total dependência e falta de autonomia. Portanto, a chance de descoberta e conhecimento do corpo em movimento traz para essas pessoas inúmeras possibilidades de se descobrirem para além das limitações que, em muitos casos, a deficiência acarreta. Devemos criar condições a essas pessoas de ampliarem as próprias experiências, trazendo-lhes novas possibilidades de atividades para os espaços de convivência onde se encontram. Mesmo que essas ações causem enfrentamentos e desentendimentos, conduzirão à resolução e compreensão dos problemas surgidos. Haverá o desencadeamento de soluções para tudo aquilo que lhes for sendo apresentado, melhorando e ampliando as descobertas individuais e coletivas que surgirem durante os momentos vividos. Quando estabelecemos e criamos novas possibilidades para as ações do ser humano, desafiamo-lo a se deparar com conflitos e reflexões, a encontrar novas soluções e ações ante o novo que se apresenta. Solicitamos-lhe novas combinações de estruturas motoras, cognitivas, afetivas, sociais, culturais e tudo o mais que se lhe constitui, no intuito de, respondendo a essas solicitações, alcançar o almejado. Dessa forma, as atividades físicas e esportivas constituem uma forma motivadora e instigante para a melhora da inserção social das pessoas com deficiências visuais, promovendo-lhes uma considerável e 51
4 Volume B - Fundamentos da Inclusão Através da Educação Física visível melhora no desenvolvimento global, oportunizando-lhes o conhecimento sobre si mesmas e sobre os outros, bem como conquistando o reconhecimento social pelas capacidades e não pelas limitações, como é o caso de muitos atletas do esporte paraolímpico. Como diz o grande nadador, deficiente físico e medalhista da Paraolimpíada de 2004, Clodoaldo Silva: Através do meu exemplo, tento mostrar que tudo é possível. Basta querer, acreditar e buscar as oportunidades (FERRAZ, 2005, p.25). O ser humano, através da exploração do corpo em movimento, cria oportunidades para propiciar o seu desenvolvimento e experimentar novas vivências, enriquecendo o mundo individual e próprio, nos locais onde vive, ao mesmo tempo em que tenta compreender esse corpo e vivê-lo de modo intencional na busca da auto-superação. Desse modo, explorar atividades físicas e esportivas para as pessoas com deficiências visuais é possível, viável e necessário, pois estas, como quaisquer outras, carecem de ser compreendidas, aceitas e admiradas, para poderem se ver e se encontrar na dinâmica do seu mundo vivido. (PORTO, 2005) É uma ótima oportunidade mostrar e conscientizar essas pessoas sobre os corpos em movimento, ou seja, o corpo próprio, o corpo do outro e as relações estabelecidas entre todos. Movimentando-se, através das mais diferentes e possíveis formas, elas podem descobrir e perceber suas capacidades e limitações, bem como as das outras pessoas. Essa descoberta, de si e do outro, de forma alegre e prazerosa, que as atividades físicas e esportivas proporcionam, possibilita a que as próprias pessoas com deficiências visuais aceitem e respeitem as diferenças existentes entre elas. Porto (2001) salienta que o corpo recebe uma carga enorme de responsabilidades e cobranças, no sentido do melhor aproveitamento das suas habilidades e aptidões, porém os seus limites não são comentados em nenhum momento, com o intuito de se preservarem sentimentos negativos de incapacidade, inferioridade e menosprezo. Nesse sentido, esquece-se de passar às pessoas que todo e qualquer ser humano apresenta limitações e é diferente do outro, possuindo seu ritmo, seu desejo, suas vontades e seu modo próprio de ser e estar presente no mundo. 52
5 Assim, acreditamos que as pessoas, de um modo geral, adquirindo hábitos atitudinais de respeito e aceitação da diferença pessoal e coletiva, apropriam-se de conceitos e valores mais humanos nas suas relações com os outros, por todo o transcorrer da sua vida. Portanto, ao trabalhar as atividades físicas e esportivas com pessoas sem deficiências e com deficiências visuais, considerando que o corpo é e está em constante movimento, conseguiremos criar e inovar interfaces afetivas, sociais e culturais, que farão parte do cotidiano de todos, desencadeando atitudes de mais valia para com o outro, a partir das diferenças existentes entre todos. 53
6 Volume B - Fundamentos da Inclusão Através da Educação Física DEFICIÊNCIA VISUAL: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS Deficiência visual é um termo empregado para se referir à perda visual que não pode ser corrigida com lentes por prescrição regular. Compreende tanto a cegueira total, ou seja, a perda total da visão nos dois olhos, quanto a baixa visão, que é uma irreversível e acentuada diminuição da acuidade visual, que não se consegue corrigir pelos recursos ópticos comuns (MOURA, PEDRO, 2006; WINNICK,2006; MUNSTER, 2004). Assim, a deficiência visual acarreta grande perda de informações sobre o meio, prejudicando a interação social e possíveis oportunidades de uma participação plena nos diversos aspectos da vida cotidiana (ALVES e DUARTE, 2005). Existem diversas classificações para a deficiência visual, que variam conforme as limitações e os fins a que se destinam. Para Munster & Almeida, (2005) estas surgem para que as desvantagens decorrentes da visão funcional de cada indivíduo sejam minimizadas, pois, apesar de as pessoas com deficiência visual possuírem em comum o comprometimento do órgão da visão, as alterações estruturais e anatômicas promovem modificações que resultam em níveis diferenciados nas funções visuais, os quais interferem de forma diferenciada no desempenho de cada indivíduo. Existem classificações da deficiência visual para fins legais, para efeito de elegibilidade em programas de assistência e obtenção de recursos junto à previdência social; para fins clínicos, auxiliando no diagnóstico, tratamento e acompanhamento de médico especializado; para fins educacionais, relacionados aos recursos necessários para o processo ensino-aprendizagem; e para fins esportivos, como critério de divisão em diferentes categorias para as competições desportivas (MUNSTER & ALMEIDA, 2005). 54
7 A classificação da deficiência visual só tem sentido na medida em que é usada considerando-se a individualidade do sujeito que a possui, pois, dessa forma, o profissional de educação física, ao considerar as características da pessoa com deficiência visual, poderá intervir de forma mais adequada às necessidades de cada um, numa perspectiva individual e coletiva. Se as pessoas com deficiência visual apresentam algumas características coincidentes, isso não quer dizer que todas elas se expressem da mesma forma e com a mesma intensidade, mas que muitas ocorrem com frequência nesse grupo de pessoas. Algumas defasagens motoras que as pessoas com deficiência visual podem apresentar: - locomoção insegura: ao andar, arrastam os pés no chão, dando passadas muito curtas e, muitas vezes, não conseguem se locomover com tranquilidade e liberdade dos movimentos e a mobilidade para a marcha é deficitária; - controle e consciência corporal diminuída: apresentam pouco conhecimento e controle do corpo e das possibilidades para se movimentar, na relação com o tempo e espaço, desde os movimentos simples até os complexos; - equilíbrio, agilidade, velocidade e coordenação motora global (principalmente a grossa): essas capacidades físicas são as mais comprometidas nessas pessoas, porém a resistência física, a flexibilidade e o alongamento também podem se mostrar comprometidos; - postura: vários problemas de postura podem ser detectados, principalmente a cifose e a escoliose, muitas vezes decorrentes do mau posicionamento da cabeça; - percepção espacial: a maioria das pessoas com deficiência visual apresentam grandes defasagens no domínio dos conceitos relativos ao espaço; 55
8 Volume B - Fundamentos da Inclusão Através da Educação Física - expressão corporal e facial: as expressões corporais para se comunicar não são comum a essas pessoas, apresentando-se bem reduzidas. Tal característica propicia, em muitos casos, a inibição, a introspecção e o isolamento social; - maneirismos: são movimentos repetitivos revelados por essa clientela - coçar os olhos, balançar o corpo e outros; Algumas defasagens afetivas, sociais e cognitivas bastante comuns nesse grupo de pessoas: - auto-confiança e autoestima: essas características se revelam, na maioria das vezes, com potencial negativo; - medo: é muito comum essas pessoas mostrarem-se medrosas isso pode estar relacionado às situações e ambientes novos, às pessoas desconhecidas, entre outros fatores; - dependência: elas têm uma grande tendência a ser dependentes das pessoas que estão ao seu redor, sendo necessário um trabalho no sentido de que isso não ocorra; - dificuldade de estabelecer relações do seu EU com as pessoas e o ambiente: costumam ser pessoas mais reservadas ao falar, sobre o que falar e com quem falar, tendendo ao isolamento e desinteresse pela interação social, devido às barreiras inseridas nos relacionamentos; - não têm autoiniciativa para as ações motoras: precisam de muitos estímulos, motivação e interesse, para se movimentarem; - muitas vezes se revelam ansiosas e inseguras com as situações e as outras pessoas; - podem apresentar dificuldades na formação e utilização de conceitos, num âmbito geral, e também em relação ao corpo em movimento; - defasagem cognitiva: é conjuntural e não, estrutural, no desenvolvimento da pessoa com deficiência visual. 56
9 Acreditamos que a maioria dessas defasagens sejam mais comuns em pessoas com deficiência visual que não receberam e não recebem estímulos positivos para descobrirem o corpo que se movimenta e pode se movimentar, independentemente da limitação visual apresentada. A superproteção também é outro fator limitante do desenvolvimento motor, afetivo, social e cognitivo dessas pessoas. Portanto, elas necessitam ser apresentadas a muitas possibilidades e incentivos, para se movimentarem com segurança, confiança, liberdade, naturalidade e vontade, diminuindo assim, cada vez mais, as defasagens que podem aparecer. Concordamos com Winnick (2004), quando afirma que cabe ao profissional de educação física promover inúmeras experiências motoras, com muita motivação e estímulo, com o intuito de levar essas pessoas a se descobrirem e se conhecerem a partir das suas capacidades e potencialidades, até então desconhecidas. Não devemos nos inibir, ao pensar e elaborar propostas para essa clientela, o grau de dificuldade e complexidade de cada tarefa a ser oferecida deve atender às necessidades de cada aluno em particular, sem perder de vista, entretanto, o grupo no qual ele está inserido. 57
10 Volume B - Fundamentos da Inclusão Através da Educação Física AS ATIVIDADES FÍSICAS E ESPORTIVAS Pensando no professor de educação física ministrando aulas para as pessoas com deficiência visual, não podemos deixar de tecer algumas considerações significativas, as quais devem permear o trabalho a ser desenvolvido com essa clientela. 1) Avaliação: ao ministrarmos as diferentes atividades físicas, é fundamental que se realize uma avaliação detalhada dos alunos, dessa forma teremos em mãos dados fundamentais para elaboração e planejamento rigoroso do roteiro do nosso trabalho e, assim, para alcançarmos qualidade e sucesso durante o processo. Algumas informações básicas são necessárias a fim de obtermos dados que possam subsidiar todas as ações a serem adotadas no transcorrer das tarefas. Estes podem estar associados a: saber se é cegueira ou baixa visão; se a perda visual é congênita ou adquirida e, se adquirida, há quanto tempo; quais as condições físicas de saúde apresentadas; se a pessoa faz acompanhamento com outro profissional, de que tipo; quais os tipos de atividades de que gosta e não gosta; já participou de outro programa de atividades físicas e esportivas?; entre outras que o profissional julgar importantes. Essa anamnese propiciará informações significativas para o professor elaborar sua proposta de trabalho com maior eficácia e qualidade, oferecendo experiências as quais atendam às condições, capacidades, desejos e expectativas dos alunos, estimulando-os e motivando-os a querer cada dia mais se movimentar de maneiras diferentes e desconhecidas. 2) Adaptações: devemos enfatizar que todo ser humano, mesmo com muitas semelhanças, apresenta diferenças inúmeras e diversificadas. Assim, há que se considerar, sempre, que todo e qualquer grupo a receber intervenção é único e apresenta suas próprias características. 58
11 Rodrigues (2006, p.41) faz uma reflexão sobre o que é o processo de adaptação, dizendo: Adequar a exigência da tarefa ao nível de desempenho do executante. Cada vez que se altera a exigência e as condições de desempenho de uma atividade, de forma que um dado executante possa realizá-la ou envolver-se num processo de aprendizagem que está sendo adaptada. Tornar uma atividade mais exigente em termos perceptivos, tomada de decisão, desempenho motor ou elaboração cognitiva é também adaptar. Nesse processo, o mesmo autor salienta que o aluno, a tarefa e o envolvimento de todos para a realização da atividade podem apresentar variáveis diferentes, o que implica uma atuação minuciosa do profissional quanto à identificação e intervenção de todos os dados, para poder decidir sobre o grau de complexidade que melhor se ajusta ao nível de desempenho e desenvolvimento do participante, com relação aos objetivos pretendidos. Ao conseguirmos adequar essas considerações, os participantes certamente alcançarão sucesso nas inúmeras tarefas propostas e isso trará benefícios e melhoras significativas em muitas das defasagens apresentadas pelas pessoas com deficiência visual. 3) Procedimentos de ensino: estes exigem conhecimento do grupo e compreensão dos requisitos mínimos para a elaboração e aplicação das atividades físicas e esportivas, a partir das capacidades e limitações apresentadas. A metodologia a ser usada deve ser adequada às características do grupo, se possível deve-se utilizar um método de diálogo com os alunos, no sentido de se buscar a participação deles na escolha de algumas propostas a serem desenvolvidas, bem como, para avaliação dessas propostas. Dessa forma, o interesse, a motivação, a autonomia, o poder de decisão, a criatividade, o potencial crítico, a 59
12 Volume B - Fundamentos da Inclusão Através da Educação Física segurança, a confiança, as relações com as pessoas serão despertadas e solicitadas de todos os envolvidos, levando tanto os alunos quanto o professor aos desafios constantes e à autossuperação nos aspectos motores, afetivos, sociais e cognitivos. A observação minuciosa do professor, com relação a esse item, se faz imprescindível e constante. Ele deve estar aberto e flexível às mudanças, as quais podem acontecer em qualquer momento. Concluindo, o planejamento, a organização e a avaliação das tarefas deve contar com o envolvimento de todos os participantes, para que os objetivos traçados sejam sempre alcançados. Seabra Júnior (2008) nos apresenta inúmeras orientações relacionadas às adaptações nos procedimentos de ensino para a clientela em questão, dentre as quais destacamos: - chamar sempre o aluno pelo nome; - ao chegar e sair de perto dele, avisá-lo; - cuidar para não superprotegê-lo, aos poucos introduzir autonomia na realização das suas ações cotidianas, como ir ao banheiro, beber água, tirar e colocar os sapatos e outros; - sempre que alguém diferente chegar, comentar com ele; - ensinar regras, posições e estratégias das diferentes modalidades esportivas, para poderem assistir a um jogo de modo participativo; - não restringir o uso dos verbos ver, olhar e enxergar; - adequar o ambiente às condições dos alunos, evitar muito estímulo sonoro que possa atrapalhar a compreensão das informações dadas pelo professor ou pelos demais colegas; - escolher locais bem iluminados, para estimular a visão residual daqueles que são de baixa visão; 60
13 - cuidar dos limites dos espaços das quadras, salas e outros ambientes, primando sempre para a segurança de todos e evitando acidentes; - a comunicação oral é fundamental e deve ser muito detalhada, porém sem exageros, para não confundir a elaboração dos pensamentos dos alunos; entre outros. 4) Recursos materiais: são os equipamentos utilizados para a execução das atividades físicas e esportivas, podem ser utilizados, desde a aprendizagem dos movimentos mais simples, até os mais complexos, como o treinamento de uma modalidade esportiva específica. Muitos desses equipamentos são especiais e próprios para um melhor desempenho das pessoas com deficiência visual, como por exemplo, as bolas com guiso usadas nos esportes. Seabra Júnior (2008) mostra algumas práticas que devem ser utilizadas, sempre que possível: - usar sons e marcadores sonoros para indicar todos os tipos de orientações espaciais; - usar cores contrastantes, brilhantes e fortes para estimular os alunos com baixa visão; - envolver bolas com saco plástico ou papel celofane e fita crepe, para produzirem som ao rolar; - utilizar a mesma nomenclatura técnica nas aulas, para o aluno não se confundir ao executar uma tarefa; - substituir informações visuais por táteis e / ou auditivas; - proporcionar aos alunos experiências diversas com materiais bem diferenciados com relação a peso, tamanho, estrutura, textura, cor, entre outros. As atividades físicas que as pessoas com deficiência visual podem praticar são, basicamente, as mesmas que qualquer outra pessoa pratica. Com respeito aos conteúdos próprios da educação física - o jogo, a ginástica, a dança e as lutas - elas poderão vivenciar todos aqueles que puderem receber adaptações na sua aplicação e execução. Dependendo do local, do tipo de trabalho a ser desenvolvido e da clientela a ser 61
14 Volume B - Fundamentos da Inclusão Através da Educação Física atendida, as propostas voltadas ao lazer são necessárias, bem aceitas e bem aproveitadas pelos alunos. Os esportes reconhecidos pelas Confederações Internacionais e mais praticados pelas pessoas com deficiência visual são: golball, natação, atletismo, futebol de salão, iatismo, judô, ciclismo, hipismo. Isso não significa que elas não possam experimentar outras modalidades esportivas; por exemplo, os esportes na natureza têm sido muito trabalhados e estudados, como nos mostra Munster (2004). Portanto, o professor, a partir do momento que conhece sua clientela e pensa numa modalidade esportiva que ainda não foi trabalhada, desejando criar condições para que isso aconteça, pode fazê-lo, desde que busque e utilize o máximo de conhecimentos e informações, para alcançar suas metas com segurança e qualidade. A seguir, mostramos um exemplo de atividade desenvolvida com um grupo de 8 pessoas com deficiência visual adquirida, adultos, e com muitas defasagens motoras, sociais e afetivas: Objetivo da aula: locomover-se de diferentes formas, explorar o espaço seguindo os sinais sonoros emitidos pelos colegas. Usar a criatividade e a cooperação. Materiais: um arco grande e objetos que emitem som. Procedimentos: 1) os alunos são orientados a se deslocar pelo espaço demarcado (tatame), ao ouvirem um sinal sonoro definido previamente. Devem se locomover, de um modo diferente do andar, e se deslocar pelo espaço à vontade, procurando ser bem originais; 2) seguese a mesma proposta, mas cada aluno deve descrever seu movimento para os outros realizarem; 3) forma-se uma roda, com todos os participantes de mãos dadas, e um arco entre duas pessoas deve ser passado pelo corpo de todas as outras da roda, sem se soltarem as mãos. 62 Avaliação/observação: na atividade 1, alguns engatinharam, outro saltitava na ponta dos pés, outro levantava o joelho, mas alguns alunos resistiram em trocar de movimento, o que levou o professor a intervir, mostrando algumas possibilidades para a realização da tarefa. No momento da descrição dos movimentos da atividade 2, alguns alunos demonstraram muita facilidade e outros um pouco de dificuldade, mas todos foram capazes de descrever um movimento para os colegas
15 realizarem. Quando necessário, o professor auxiliava o aluno na descrição, para que todos alcançassem o sucesso. Na roda, atividade 3, muitas perguntas surgiram no início, como fazer, um deles duvidou que era possível a execução, mas com o início da atividade, foi sendo explicado que o arco deveria passar pelo corpo. Construíram uma forma própria de passar o arco e, com o passar do tempo, foram ficando cada vez mais rápidos e ágeis e todos conseguiram realizar com sucesso e prazer a tarefa proposta (PORTO et al, 2007). Podemos observar, por esse breve exemplo, que foi trabalhada uma atividade muito explorada para pessoas sem deficiência e a intervenção do professor foi acontecendo, à medida que os alunos foram demonstrando necessidade. Um dos pontos a ressaltar é o diálogo possível de ser construído entre todos os envolvidos, pois, à proporção que o professor vai propiciando ao aluno, nas aulas, a oportunidade de participar, criando, opinando e questionando, este percebe e sente que tem um papel muito importante nos encontros, para que a aula se torne um momento agradável, que lhe permita adquirir muitos e novos conhecimentos. A pessoa com deficiência visual deve sempre receber apoio e muitas oportunidades para participar das inúmeras possibilidades de movimento que existem, com isso poderá surpreender-se consigo própria e com os outros, numa relação natural com o ambiente no qual estiver inserida. Em muitos casos, causará espanto e surpresa aos outros, pelo fato de suas capacidades e potencialidades serem desconhecidas por muitos que acreditam que as pessoas que não enxergam apresentam apenas limitações e desvantagens. Como nos alerta Rodrigues (2006, p. 45) sobre o processo de adaptação a atividades por pessoas com deficiência, se estas forem adequadamente desenvolvidos, a população em questão terá chance de ser participativa em todos os ambientes sociais, porque a sua diferença poderá deixar de ser algo de inédito e a parte, para passar a ser um dos valores da sempre presente, sedutora e criativa diversidade humana. 63
16 Volume B - Fundamentos da Inclusão Através da Educação Física Referências ALVES, M.L.T.; DUARTE, E. A inclusão do deficiente visual nas aulas de educação física escolar: impedimentos e oportunidades. Human Social Science., v. 27, n. 2, p , Maringá/PR, FERRAZ, L. Paraolímpicos da Silva. Brasil Paraolímpico. Publicação trimestral do CPB: no. 18, setembro/outubro, MOURA, G.R.; PEDRO, E.N.R. Adolescentes portadores de deficiência visual: percepções sobre sexualidade - Revista Latino Americana de Enfermagem,, vol.14, no.2, p Abr ISSN MUNSTER, M. de A. V. Esportes na natureza e deficiência visual: uma abordagem pedagógica. Tese (doutorado) Faculdade de Educação Física UNICAMP, Campinas, MUNSTER, M. de A. V.; ALMEIDA, J. J. G. de. Atividade física e deficiência visual. In: GORGATTI, M. G.; COSTA, R. F. da (org.) Atividade física adaptada. Barueri/SP: Manole, PORTO, E. Educação de Qualidade para Pessoas Especiais: um caminho a conquistar. In MOREIRA, W.W. (org.) Qualidade de Vida: complexidade e Educação. Campinas, SP: Papirus, A corporeidade do cego: novos olhares. Piracicaba/São Paulo: UNIMEP/Memnon, 2005., et al. Atividades Motoras para pessoas com deficiência visual. Relatório final de Projeto de Extensão. Curso de Educação Física, Universidade Metodista de Piracicaba. FAE/UNIMEP,
17 RODRIGUES, D. As dimensões de adaptação de atividades motoras. In: Atividade motora adaptada: a alegria do corpo. São Paulo: Artes Médicas, SEABRA JÚNIOR, M. O. Estratégias de ensino e recursos pedagógicos para o ensino do aluno com deficiência visual na atividade física adaptada: manual para instrumentalização do professor de educação física. Volume 2. Tese (doutorado). Faculdade de Filosofia e Ciências UNESP/ Marília/SP, WINNICK, J. P. Educação Física e esportes adaptados. Barueri/SP: Manole,
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