INTERLOCUÇÃO ENTRE OS DISPOSITIVOS LEGAIS E A PRÁTICA DO PROFISSIONAL DE LIBRAS

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1 INTERLOCUÇÃO ENTRE OS DISPOSITIVOS LEGAIS E A PRÁTICA DO PROFISSIONAL DE LIBRAS Marineiva Moro Campos de Oliveira 1 - Escola B. Municipal Cecília Meireles Eixo Temático 1: Direitos Humanos, Novos Direitos e Cidadania Resumo Esse trabalho relata a experiência em um percurso formativo no curso de especialização em Interpretação, Tradução e Docência em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Tem como objetivo contribuir para a reflexão sobre a formação teórica e a preparação profissional para a atuação como Intérprete, Tradutor e Docente da Libras. Os dados para a elaboração desse relato foram baseados na pesquisa bibliográfica e nas análises das experiências pessoais vivenciadas no decorrer do curso. As principais conclusões evidenciam que as políticas educacionais que enfatizam a inclusão estão articuladas aos dispositivos leias que estruturam a formação do profissional que atua com Libras e reconhece essa como a segunda língua brasileira. Além disso, reconhecem a necessidade de um olhar universal sobre a importância desses profissionais e os desafios por esses enfrentados nos contextos educacionais. Palavras-chave: Dispositivos Legais. Formação do profissional de Libras. Libras. 1. INTRODUÇÃO Este trabalho apresenta fragmentos de um percurso formativo em um curso de especialização com ênfase em Interpretação, Tradução e Docência em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e suas relações com os dispositivos Legais para a atuação do profissional de Libras em contextos escolares. A inclusão da Libras se constitui como um processo que causa inquietações, especialmente quando em sala de aula nos deparamos com sujeitos surdos e não conhecemos Libras. Eis, que entra em cena o profissional de Libras, realizando ações que podem ser de tradução, interpretação ou docência. Nesse sentido, destacamos que um processo formativo, curso de especialização foco deste trabalho, devem possibilitar a compreensão de como os dispositivos legais orientam a prática do profissional de Libras destacando quais são as ações que podem ser realizadas e quais devem ser evitadas nos contextos educacionais. 1 Doutoranda em Educação. Professora da Escola Básica Municipal Cecília Meireles. marineivamoro.oliveira@gmail.com Revista Conversatio ISSN Vol. 3 Número 6. Jul/Dez página 28

2 Adentrar efetivamente no universo da Libras demanda compreender alguns fundamentos dessa língua e suas bases legais. As principais referências teóricas, metodológicas e de dispositivos legais dessa Língua são pontuadas por estudiosos como: Perlin (2001), Sá (2002) e Quadros (2004, 2010). Esses estudiosos nos disponibilizam de repertórios teóricos que nos permitem compreender o contexto de base Legal, Teórico e Metodológico que balizam o trabalho brasileiro com a Libras, além de nos possibilitar responder o objetivo: apresentar uma análise sobre as articulações dos dispositivos Legais e suas influencias na atuação do profissional de Libras em contextos educacionais materializados em um curso de especialização ao profissional de Libras. 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para este trabalho nos pautamos na análise do ementário da disciplina de Libras com ênfase na Tradução, Docência e Interpretação e suas bases Legais do curso de especialização em Libras. Analisamos o ementário da disciplina organizando-o em categorias. Destacamos que as categorias centrais da disciplina são: Princípios éticos do profissional de Libras; Políticas de Inclusão de surdos em contextos escolares e, Os desafios da atuação do profissional de Libras em contextos educacionais inclusivos. Após elencarmos essas categorias, nos fundamentamos na perspectiva Histórico-cultural para compreender as relações sociais, políticas, históricas e culturais que determinam as bases legais da atuação do profissional de Libras. Além disso, essa perspectiva nos possibilita um movimento dialético de percepção e análise dos processos determinantes dessa atuação. 3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente compreendemos que os dispositivos Legais sobre os princípios éticos do profissional de Libras perpassam por fatores como; instrumentos didáticos, motivacionais, fundamentos teóricos e metodológicos que balizam modelos e abordagens do projeto brasileiro de educação de surdos articulados à educação inclusiva e almejam provocar mudanças no ensino e na formação dos profissionais docentes e intérpretes. Porém, não são deste século, XXI, as mudanças pretendidas no processo de educação de surdos. Elas são heranças que estruturam o trabalho do profissional de Libras ao longo da história da educação. A opção por uma abordagem de ensino não é neutra, ela traduz uma forma de conceber os sujeitos e suas relações com o mundo, vivenciadas num Revista Conversatio ISSN Vol. 3 Número 6. Jul/Dez página 29

3 determinado momento histórico. No atual momento histórico é determinante para a atuação do profissional de Libras as relações de trabalho com o Código de Ética dos profissionais envolvidos com e na educação de surdos. De acordo com Quadros (2010), o Código de Ética (CE) foi elaborado segundo o dispositivo de Lei /2010 que regulamenta a profissão de tradutor e Interprete de LIBRAS. O CE é composto por quatro capítulos e treze parágrafos que determinam os princípios, responsabilidades e condutas que o profissional deve assumir frente ao aluno surdo. O código de ética faz parte do Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérprete da Federação Nacional de Integração e de Educação de Surdos (FENEIS). Disposto por Quadros (2010), o CE pode ser conceituado como um documento de orientação para a atuação profissional da área de Libras, ou seja, um documento de normatização de conduta profissional e abarca os princípios que norteiam o trabalho dos profissionais desta categoria que atuam diversos setores sociais em especial na educação. Além de orientar a prática do profissional, determina também as políticas de inclusão, as leis e suas relações com a educação de surdos. Nesse sentido, as políticas de inclusão, em especial na educação, estabelecem ações pedagógicas que possibilitam a efetivação da inclusão face ao trabalho dos profissionais da Libras. Ao nos reportarmos a inclusão do surdo, apontamos que, para a efetivação da inclusão do surdo, a Língua utilizada por essa comunidade foi reconhecida. A língua do surdo, nomeada como Língua Brasileira de Sinais (Libras), foi reconhecida como meio legal de comunicação e expressão dos surdos em 24 de abril de 2002 pela Lei n Posteriormente, em 22 de dezembro de 2005, pelo Decreto Lei N 5.626, a Libras foi regulamentada (BRASIL, 2002;2005). A partir desses dispositivos legais que compreendem a Libras como uma via de inclusão, indicamos que a Libras não se trata apenas de mímicas e nem gestos, mas uma língua constituída com uma composição gramatical própria, podendo expressar conceitos concretos e abstratos. Disposto por Sá (2002), podemos definir a língua de sinais como uma atividade em evolução, uma língua viva. Articulada a esses apontamentos, Quadros (2006, p. 35) indica que a língua de sinais "é uma língua espacial visual, pois utiliza a visão para captar as mensagens e os movimentos, principalmente das mãos, para transmiti-la". Distinguem-se das línguas orais pela utilização do canal comunicativo, enquanto as línguas orais utilizam canal oral-auditivo, as línguas de sinais utilizam canal gestualvisual. Dessa forma, podemos enfatizar que a partir da língua podemos efetivar o Revista Conversatio ISSN Vol. 3 Número 6. Jul/Dez página 30

4 processo de inclusão dos surdos, pois esses utilizam de uma língua que é rica, completa, coexiste com as línguas orais, mas é independente e possui estrutura gramatical própria e complexa, com regras fonológicas, morfológicas, semânticas, sintáticas e pragmáticas. No contexto dessas categorias: dispositivos Legais e a estruturação da Língua como determinantes para a atuação do profissional de Libras em contexto escolar é necessário analisarmos as relações teóricas e práticas estabelecidas na disciplina do curso de especialização em Libras para o profissional da Libras. De acordo com Menezes (2006), o intérprete, profissional da Libras, constitui um elemento de importância primordial na educação dos surdos, pois um profissional que atua Libras deve ser devidamente capacitado para dominar a Língua, proporcionando aos surdos receber informações escolares em língua de sinais, abrindo-lhes oportunidades para que possam construir competências e habilidades na leitura e na escrita. Dessa forma, podemos afirmar que a ementa da disciplina analisada possibilita ampliar o repertório de conhecimentos culturais, histórico, teóricos e metodológicos do ensino, da tradução e da interpretação da e na Libras por intermédio dos dispositivos Legais e da estruturação da língua, porém, destacamos também os desafios que estão por se materializar na atuação desse profissional., pois, face a complexidade do processo formativo do profissional Intérprete, Tradutor e Docente de Libras e dos dispositivos Legais, podemos apontar que há desafios para uma prática eficiente e eficaz de atuação com o a Libras, a saber, a confiabilidade; a fidelidade na tradução/interpretação das línguas vinculadas ao processo; a imparcialidade nos diversos contextos da profissão; a discrição e decoro durante o exercício da atividade e o compromisso com o desenvolvimento profissional. Além dos desafios postos quanto a formação, qualificação e atuação do profissional, outro desafio que se materializa é o contexto histórico e cultural no qual o outro sujeito, o surdo, percorre. Pois, decorrentes dos aspectos históricos em que nem sempre o surdo esteve presente nos debates políticos e Legais, enfrentamos a necessidade de compreende o surdo a partir do seu espaço, da sua formação e da sua identidade. Por isso, os desafios para atuação do profissional de Libras não se limitam em sua formação acadêmica, mas em suas contínuas formações e preocupações com o movimento da comunidade surda. Revista Conversatio ISSN Vol. 3 Número 6. Jul/Dez página 31

5 4. CONCLUSÃO Concluímos que é possível, a partir do ementário da disciplina, compreender que as políticas educacionais que enfatizam a inclusão estão articuladas aos dispositivos Legais que estruturam a formação do profissional que atua com Libras e reconhece essa como a segunda língua brasileira. Além disso, apontamos para a importância desses profissionais e os desafios por esses enfrentados. Nesse sentido, vale destacar o desejo de pensarmos em um processo de inclusão com um repertório de instrumentalização que possibilite a apropriação do objeto de conhecimento em suas múltiplas determinações, que possa ocorrer a ruptura com os preconceitos, para apropriação do conhecimento científico a partir da relação entre alunos, professores, intérpretes, tradutores e conteúdo, e que tenhamos como resultado a formação dos conceitos científicos e não depoimentos tautológicos de caráter imediato de resoluções de problemas pontuais que justificam a camuflagem de uma atuação do profissional de Libras em contexto educacionais efetivamente inclusivo. INTERLOCATION BETWEEN LEGAL DEVICES AND A PRACTICE OF THE LIBRARY PROFESSIONAL Abstract This work reports the experience in a training course in the specialization course in Interpretation, Translation and Teaching in Brazilian Sign Language (Pounds). Its objective is to contribute to the reflection on theoretical training and professional preparation for acting as Interpreter, Translator and Lecturer of Libras. The data for the elaboration of this report were based on the bibliographical research and the analyzes of the personal experiences experienced during the course. The main conclusions show that the educational policies that emphasize inclusion are articulated to the leftist devices that structure the professional formation that works with Libras and recognizes this as the second Brazilian language. In addition, they recognize the need for a universal look at the importance of these professionals and the challenges they face in educational contexts. Keywords: Legal Devices. Professional training of Libras. Libras. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº , de 24 de abril de Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 abr Disponível em: < Acesso em 04 de jun. de Presidência da República Casa Civil. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de Regulamenta a Lei no , de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, e o art. 18 da Lei no , de 19 de dezembro de MENEZES, Ebenezer Takuno de. SANTOS, Thais Helena dos. "LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais)" (Verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira. Revista Conversatio ISSN Vol. 3 Número 6. Jul/Dez página 32

6 Educa Brasil. São Paulo: Midiamix Editora, PERLIN, Gladis.; QUADROS, R. Ouvinte o outro do ser surdo. In: QUADROS, Ronice Muller de. (Org.). Estudos Surdos I.Petrópolis - RJ: Arara Azul, QUADROS, Ronice Müller de. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa/ Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos - Brasília: MEC; SEESP, O BI em bilinguismo na educação de surdos. In. FERNANDES, Eulalia (org.); SILVA, Angela Carrancho da. Surdez e bilinguismo. 3. ed. Porto Alegre: Mediação, SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, poder e educação de surdos. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, Revista Conversatio ISSN Vol. 3 Número 6. Jul/Dez página 33