Implantação de prontuário eletrônico em rede de hospitais públicos do Estado de São Paulo

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1 Implantação de prontuário eletrônico em rede de hospitais públicos do Estado de São Paulo Flávio Ricardo Xavier Albuquerque 1, Mary Caroline Skelton Macedo² 1. Bacharel em Ciência da Computação, Pós-Graduando em Especialização em Informática em Saúde. Universidade Aberta do Brasil, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil. 2. Professora Doutora de Endodontia na FOUSP; Pós-doutora em Teleodontologia pela FMUSP; Coordenadora do Núcleo de Teleodontologia da FOUSP, SP. Resumo Objetivo: Verificar a viabilidade de implantação do prontuário eletrônico do paciente em uma rede de hospitais públicos, centrados em São Paulo, verificando vantagens e desvantagens em sua implantação. Método: Foi utilizada a revisão bibliográfica, de estudos secundários, de artigos das seguintes bases de dados: MedLine, PubMed, LILACS, Google Scholar, além de sites especializados como Saúde Business. Resultados: Foram selecionados doze artigos científicos e reportagens, demonstrando o projeto de implantação de sistema de gestão hospitalar e prontuário eletrônico S4SP (sigla para Saúde para São Paulo), conceituando o prontuário eletrônico, demonstrando vantagens e desvantagens de sua utilização, relatos de implantação e uso, além de demonstrar casos onde sua implantação em rede foi efetiva, exemplo da secretaria de saúde de Belo Horizonte. Conclusão: A viabilidade da implantação do PEP em rede publica é comprovada, mas para isso são necessárias medidas como formalização de políticas institucionais, padronização de processos e sistemas, treinamento e participação dos principais usuários. Descritores: PEP, Prontuário Eletrônico, Implantação, Viabilidade, Prescrição Eletrônica, Hospitais Públicos, Rede Publica, S4SP.

2 Introdução A preocupação em registrar informações medicas de pacientes é um fato que vem destes tempos remotos, aproximadamente desde o sec. V a.c. com Hipocrates e vem em evolução constante, até chegarmos ao consenso do Prontuário do Paciente (3). O Prontuário do Paciente é a forma mais comum em hospitais e serviços médicos de guardar as informações de tratamentos, consultas, exames dos pacientes, sendo primordial para o acompanhamento de saúde do paciente, além de ser estratégica para realização de estudos e gerenciamento amplo em nível administrativo, financeiro, de pesquisas, entre outros (4). Geralmente estes prontuários são feitos em papel, o que acaba gerando vários problemas como falta de disponibilidade e integração de informações, ininteligibilidade, armazenamento inadequado, custos com armazenamento crescentes devido ao aumento do número de pacientes atendidos, principalmente em instituições publicas, além de ser um documento estanque (6). Por estes fatores e pela disseminação do uso de tecnologias de informação na área de saúde, foi desenvolvido o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP). O PEP se constitui de sistemas que tem a proposta de unir, de forma informatizada, todos os tipos de dados referentes ao paciente, produzidos em formatos e épocas diferentes pelos profissionais da equipe de saúde dos diversos locais (6), além de propiciar outras vantagens, como gerenciamento de informações de saúde e seus custos(4), dados legíveis e exatos que podem diminuir erros médicos, acesso simultâneo em locais diferentes(5)(6), permitindo uma visão multi-institucional, multiprofissional e de continuidade da assistência do paciente(7). Com isso, o Governo do Estado de São Paulo, através de sua Secretaria da Saúde, iniciou um projeto visando informatizar e integrar a gestão de suas 55 unidades hospitalares (1)(11). Para isso será utilizado um sistema - S4SP (Saúde para São Paulo) - que consiste em um conjunto de programas que visam o atendimento do paciente desde sua entrada no hospital, processos de compras, estoques, relatórios gerenciais, chegando até ao Prontuário Eletrônico (2), padronizando informações, integrando e unificando sistemas e os aproximadamente 20 milhões de prontuários dos pacientes atendidos pelos SUS no estado (12).

3 Analisando mais aprofundadamente, o PEP e sua implantação também possuem pontos negativos, como o alto custo de investimentos (5), resistência de profissionais ao seu uso (3), falhas de sistema e padronização (6), entre outros. Aliado a isso, temos as já conhecidas dificuldades estruturais e financeiras de hospitais públicos (6) com processos muitas vezes burocráticos, devidos às leis e regras do governo (2), além de que hoje cada unidade hospitalar tem seus processos e sistemas de informatização diferentes entre si, sendo que há casos que a admissão do paciente é totalmente em papel (12). Por todas as razões expostas, o objetivo deste artigo foi verificar a viabilidade de implantação do prontuário eletrônico do paciente em uma rede de hospitais públicos, com foco em São Paulo, verificando vantagens e desvantagens em sua implantação. Método Para este artigo, foi definido como tipo de estudo a revisão bibliográfica de literatura, de estudos secundários. Foi realizada pesquisa bibliográfica de artigos científicos e sites da internet referentes ao PEP, sua implantação em hospitais públicos e sobre o projeto S4SP. Para a realização da busca dos artigos utilizados no desenvolvimento da Revisão Bibliográfica foram consultadas as seguintes bases de dados: MedLine, PubMed, LILACS, Google Scholar, além de sites especializados em saúde como Saúde Business. A pesquisa foi realizada entre setembro e outubro do ano de 2016, e foi delimitado que os artigos escolhidos deveriam ser do período 2003 a 2016, como um dos critérios de exclusão. Foram selecionados como descritores da pesquisa PEP, Prontuário Eletrônico, Implantação, Viabilidade, Prescrição Eletrônica, Hospitais Públicos, Rede Publica, S4SP.

4 Resultados Patrício CM, em 2011, conceituou prontuário eletrônico, com sendo um registro eletrônico dos pacientes através de sistemas projetados para apoiar usuários através de informações completas dos pacientes e programas de apoio a decisão, entre outras definições (3), citando o histórico de seu baixo uso no Brasil, também divulgando suas desvantagens e dificuldades em sua implantação como alto investimento em hardware, software e treinamentos, resistência de seus usuários e dificuldade na coleta de dados. Mas valoriza suas vantagens como melhora na qualidade do atendimento e na gestão pública, legibilidade e velocidade de aquisição das informações dos pacientes, entre outros (3). Jenal, S, em 2012, demonstrou a implantação do Prontuário Eletrônico em um complexo hospitalar e ambulatório. As dificuldades desde a preparação, aquisição e implantação são registradas. Após dificuldades, a implantação foi bem sucedida (4). Mourão, A. D, em 2007, demonstrou uma pesquisa qualitativa com profissionais de saúde sobre o uso do Prontuário eletrônico em uma rede de hospitais da secretaria municipal de saúde de Belo Horizonte, o primeiro município do país a utilizar o prontuário eletrônico em uma rede de atendimento em saúde pública no Brasil (7). Foi demonstrada a visão de profissionais de saúde tanto as desvantagens como as vantagens de sua utilização. Quanto às desvantagens foram citadas o aumento do tempo de atendimento aos pacientes e a interferência na relação médico-paciente. E quanto às maiores vantagens destacam-se a organização e sistematização do atendimento e a melhoria do acesso ás informações dos pacientes. Lopes Dias, J, em 2008, demonstrou a adoção do PEP em grandes Hospitais de Belo Horizonte da rede publica, mostrando sua aceitação e que apesar de seu uso, ainda não substituiu completamente os prontuários de papel. Também demonstrou alguns hospitais que não o utilizam e o motivo, que foram a falta de políticas institucionais, dificuldades operacionais, excesso de burocracia, falta de RH, entre outros. Também registra o projeto saúde em redes, PEP da secretaria de saúde de Belo Horizonte (9), exemplo de rede publica que utiliza o prontuário eletrônico.

5 Dias, M. P., em 2013, demonstrou como uso de tecnologias como o PEP podem melhorar o fluxo de atendimento entre a atenção primária e secundária em saúde. É utilizada como base a experiência da secretaria municipal da saúde de Belo Horizonte na utilização do PEP em sua rede de atendimento (8), demonstrando vantagens de seu uso como a coordenação e continuidade das informações e dos cuidados em saúde nos seus diversos níveis de atendimento, reduzindo a duplicidade de dados, e desvantagem na opinião de médicos entrevistados como dificuldades em seu uso em relação ao prontuário de papel. Namorato, L. et al, em 2013, demonstrou a opinião de profissionais médicos referente ao uso de Prontuário Eletrônico em um hospital público, neste caso o hospital municipal Dr. Munir Rafful, localizado em Volta Redonda, Rio de Janeiro (6). Foram registradas as dificuldades e resistências de uso do PEP, assim como vantagens vistas em seu uso como facilidade de leitura e captura dos dados. Quanto às dificuldades listadas destacam-se falhas no sistema de PEP e a quantidade insuficiente de computadores. Já as resistências avaliadas foram quanto aos profissionais de saúde em relação à confidencialidade dos dados e a falta de conhecimento do sistema. Funke M, em 2013, comentou a situação da utilização da e-saúde no contexto da saúde pública do Estado de São Paulo e do Brasil, através de um debate ocorrido em um evento promovido pela ITMEDIA, no qual poderia resumir que A tecnologia já existe, mas a infraestrutura é insuficiente e é preciso a estruturação de políticas perenes de Estado para suprir as demandas relacionadas à maior adoção de processos eletrônicos no setor de saúde e à integração das informações dos pacientes, bem como a formação de profissionais aderentes à sua utilização (1). Em seu artigo há comentários do ex-diretor de informática da secretaria da saúde do estado de São Paulo, Andre Luiz de Almeida, sobre a dificuldade do trânsito de informações dos pacientes e como a utilização de prontuário eletrônico pode solucionar este problema. André Luiz ainda comentou sobre o projeto da Secretaria da Saúde do Governo do Estado de São Paulo, de nome Saúde para São Paulo (S4SP), sistema desenvolvido pela Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp) em conjunto com o Incor para unificar os sistemas de gestão dos aproximadamente 48 hospitais próprios e demais serviços assistenciais, para compartilhar as informações de seus pacientes (1).

6 Canêo, P. K, em 2014, realizou uma pesquisa exploratória bibliográfica, entre artigos selecionados com o tema de implantações de Prontuário Eletrônico entre diversos hospitais, a maioria públicos como o Instituto do Coração (Incor), Secretaria Municipal de Belo Horizonte, entre outros (5). O objetivo foi demonstrar as vantagens e desvantagens observadas nestas instituições, tabelando estes dados. Os resultados mostraram uma serie de vantagens para adoção do PEP, como acesso as informações dos pacientes, facilidade de consulta, redução no tempo de atendimento e melhora da qualidade no atendimento, sendo a maior desvantagem a resistência dos profissionais de saúde ao uso de novas tecnologias, sendo primordial para o sucesso de implantação o treinamento e participação destes profissionais. Salu E, em 2015, registrou dificuldades no processo de implantação do sistema S4SP, como a falta de diretrizes únicas da gestão hospitalar, falta de apoio da alta direção e infraestrutura defasada, e a oportunidade da informatização e padronização dos processos e infraestrutura dentro dos Hospitais do Estado de São Paulo utilizando este sistema, entre eles a implantação do Prontuário Eletrônico, sendo este projeto considerado um divisor de águas na gestão de saúde publica (2). Segundo a Prodesp, em 2016, vinte e nove hospitais estaduais já contam com o sistema S4SP, sendo a meta chegar a 49 hospitais em 2018, criando condições para uma futura implantação do PEP no Estado de São Paulo (10). Segundo a Secretaria da Saúde de São Paulo, foram investidos cerca de 56 milhões de reais no projeto (12). Discussão Os artigos selecionados citam a importância da utilização de sistemas como o PEP devido a fatores como acesso mais rápido aos dados do paciente, uso simultâneo, legibilidade (3)(5), compartilhamento de informações (1), eliminação de duplicidade(5), possibilidade de integração com outros sistemas, assistência a pesquisa(6), entre outros fatores, assim melhorando a qualidade no atendimento em geral(5). Também é citado que apesar da relevância e importância de sua utilização

7 poucas instituições brasileiras utilizam sistemas de prescrições eletrônicas, embora muitos tenham informatizado rotinas administrativas (3) Outro ponto em comum entre os artigos é a importância vital e critica da implantação do sistema (2) (3) a fim de minimizar as desvantagens do uso do PEP. A maior delas entre todas as citadas é a resistência dos profissionais de saúde para sua utilização, principalmente médicos (3)(4)(5)(7)(9), devido a inúmeros fatores, como falta de conhecimento em informática, não conhecer o potencial do Prontuário Eletrônico nem acreditar na eficiência e confiabilidade do processo de informatização (3)(5), além do medo de expor suas condutas clinicas(5). Entre as medidas citadas para diminuir isso é citado a realização de treinamentos desde informática básica ate o sistema em si para estes profissionais (5)(9), participação efetiva destes profissionais de saúde e de profissionais chaves que conheçam o fluxo de trabalho(2)(5), além de políticas institucionais e de Estado para efetivo uso (1)(7)(8). Outro grande problema citado é a necessidade de altos investimentos em equipamentos e programas, aliado a estruturas defasadas dos hospitais públicos (1) (2)(5), além de falta de padrão para diversos sistemas de PEP que existem (1)(3). Para tentar minimizar este problema o Estado de São Paulo criou o Projeto S4SP, desenvolvido e administrado pela Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo) em conjunto com a Fundação Zerbini (Incor) (2) (10), que visa unificar informações e programas utilizados nos hospitais públicos do Estado, incluindo o Prontuário Eletrônico (1)(2). Este sistema funciona em nuvem, via internet (12), sendo um projeto estruturado da Secretaria da Saúde, o que acaba forçando a atualização tecnologia, organizacional e estrutural dos hospitais participantes (2), mas diminuindo custos por ser um sistema web, onde não é necessário servidor da aplicação nos hospitais, pois o sistema é hospedado em Servidores na nuvem (2), com investimentos na casa de 56 milhões de reais. Outro ponto muito interessante levantado é que foram identificados tanto um hospital público em que foi implantado o PEP (6), no caso o Hospital Municipal Dr. Munir Rafful, como, principalmente, já existe a utilização do Prontuário Eletrônico em uma rede pública de atendimento hospitalar com serviços de atendimento assistenciais de diversos níveis, similar a São Paulo (1)(8), localizado no município

8 de Belo Horizonte conhecida como projeto Saúde em Rede (7)(8)(9), que informatizou e implantou o prontuário eletrônico em unidades básicas, prontos atendimentos e especialidades medicas(7)(8)(9), com resultados efetivos para continuidade do tratamento de saúde e melhor efetividade entre a coordenação entre as atenções primarias e secundarias dentro do município(8), embora a implantação em seus Hospitais Gerais não tenham avançado(9). Mas estes exemplos provam sim que é possível existir um Prontuário Eletrônico em um a Rede Publica de atendimento hospitalar no Estado de São Paulo. Conclusões São Paulo atende a uma grande rede assistencial em saúde, com cerca de 50 hospitais próprios outros 250 serviços assistências desde atendimento primário até o terciário (1), mas as informações de saúde acabam tendo problemas de serem repassadas por falta de processos e sistemas informatizados (1). O projeto S4SP foi desenvolvido como forma de informatizar os hospitais públicos do Estado, ajudando a compartilhar a informação dos pacientes (1)(2). Implantar sistemas de Prontuário Eletrônico representa um grande desafio pelas dificuldades e resistências citadas (2) (3)(5)(6), mas em todos os artigos é citado que as vantagens superam as desvantagens, sendo de estrema importância para melhorar a qualidade de atendimento e gestão publica (3) (5) (6). E os exemplos citados de experiências que deram certo (6) (7) reforçam a ideia que é viável a implantação de sistema de prontuário eletrônico em rede publica no Estado de São Paulo, mas para isso é necessário medidas como formalização de políticas institucionais, investimentos, padronização de processos e sistemas, além de foco no treinamento e participação dos principais usuários (1) (2) (3). Referências 1. FUNKE, M. O desafio do e-saúde. Saúde Business junho. Disponível em Acesso em 26 de outubro de 2016

9 2. SALU, E. Aos poucos o projeto S4SP informatiza hospitais públicos. Saúde Business Outubro. Disponível em Acesso em 26 de outubro de PATRICIO, C.M. et al. O prontuário eletrônico do paciente no sistema de saúde brasileiro: uma realidade para os médicos? Sci Med, 21(3): , JENAL, S; ÉVORA, Y. D. M. Desafio da implantação do prontuário eletrônico do paciente. J. Health Inform Dezembro; 4(Número Especial - SIIENF 2012): CANÊO, P. K; RONDINA, J. M. Prontuário Eletrônico do Paciente: conhecendo as experiências de sua implantação. J. Health Inform Abril-Junho; 6(2): NAMORATO, L. et al. A utilização do prontuário eletrônico do paciente por médicos do Hospital Municipal Dr. Munir Rafful: um estudo de caso. J. Health Inform Abril-Junho; 5(2): MOURÃO, A. D; NEVES, J. T. R. Impactos da Implantação do Prontuário Eletrônico do Paciente sobre o Trabalho dos Profissionais de Saúde da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte SEGeT Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia 8. DIAS, M. P; GIOVANELLA, L. Prontuário eletrônico - uma estratégia de coordenação entre a atenção primária e secundária à saúde no município de Belo Horizonte. RECIIS R. Eletr. de Com. Inf. Inov. Saúde. Rio de Janeiro, v.7, n.2 Suplemento, Ago., LOPES DIAS, J., 2008, A utilização do prontuário eletrônico do paciente pelos hospitais de belo horizonte, Revista TEXTOS de la CiberSociedad, 16. Monográfico: Internet, sistemas interativos e saúde. Disponível em PRODESP. Avança a implantação do S4SP. Disponível em Acesso em 26/10/ PRODESP. Emílio Ribas passa a integrar o S4SP. Disponível em Acesso em 26/10/ ESTADÃO SÃO PAULO. Estado de SP cria prontuário digital com dados de 20 milhões de pacientes. Disponível em Acesso em 26/10/2016