MARTINS LS; CARVALHO CD; FEITOSA JM; CARVALHO JC; MELO DM; GUSMÃO SAL; BRAZ LT Horticultura Brasileira 31: S0231 S0237.

Transcrição

1 Mercado do tomate e perfil do consumidor em Parauapebas-PA Leticia S. Martins 1 ; Carlos D Carvalho 1 ; Janyelle M Feitosa 1 ; Jailson C Carvalho 1 ; Danilo M Melo 1 ; Sérgio A L Gusmão 2 ; Leila T Braz 3. 1 UFRA-Campus Parauapebas, PA 275, km 15, Parauapebas-PA, danilo.melo@ufra.edu.br, leticyatim@hotmail.com 2 UFRA-Campus Belém, PA, Av. Tancredo Neves, º 2501, , Belém-PA. 3 UNESP-FCAV, Depto. Produção Vegetal, Rodovia Prof. Paulo Donato Castellane s/n, Jaboticabal- SP. RESUMO O município de Parauapebas, no sudeste paraense, apresenta características peculiares que o distingue no cenário nacional por apresentar acelerado crescimento demográfico, com imigrantes vindo de várias regiões brasileiras em função de grandes projetos ligados à indústria mineradora e um crescimento econômico elevado. Neste contexto a pesquisa realizada objetivou analisar características de mercado do tomate e o comportamento de consumidores frente oscilações de preço, relacionando suas características sócio-econômicas. A pesquisa foi realizada durante o mês de março de 2014 por meio da aplicação de questionários sócio-economicos em mercados e feiras livres, além de observações nestes estabelecimentos comerciais. O questionário contou com nove perguntas como: a renda mensal do consumidor, naturalidade, consumo aproximado de tomate semanalmente, variedade mais consumida, preferência de consumo (nível de maturação), forma de utilização e comportamento em relação às oscilações de preço tanto nos supermercados quanto nas feiras livres. Os principais resultados constataram que os consumidores, em sua maior parte, reduzem a quantidade de tomate consumida quando o preço está acima do convencional e que a disponibilidade no mercado de diferentes variedades ainda é pequena, prevalecendo o Italiano e Salada. A maioria dos consumidores entrevistados apresentou um consumo semanal de tomate superior a 1 kg e tem maior preferência em adquirir frutos maduros. O comportamento do consumidor de tomate é semelhante em feiras livres e supermercados. PALAVRAS-CHAVE: Solanum lycopersicum, comercialização, economia. ABSTRACT Tomato market and consumer profile in Parauapebas-PA The city of Parauapebas in southeast Pará has peculiar characteristics that distinguish the national scene by presenting rapid population growth, with immigrants coming from several regions due to large projects related to the mining industry and a high economic growth. In this context, this work aimed to analyze characteristics of the tomato market and consumer behavior across price swings, relating their socio- economic characteristics. The research was conducted during the month of March 2014 through the implementation of socio -economic surveys in markets and fairs, as well as observations in these places. The questionnaire S0231

2 included nine questions such as the monthly income of the consumer, naturally, approximate consumption of tomatoes every week, most consumed variety, preference of consumption (level of maturity), use of fruits and behavior in relation to price fluctuations in markets. The main results found that consumers, for the most part, reduce the amount of tomatoes consumed when the price is above the conventional. The availability of different varieties in the market is still small, prevailing the Italian and salad types. Most consumers surveyed hosted a weekly tomato consumption exceeding 1 kg and has higher preference in acquiring mature fruits. Consumer behavior tomato is similar in free fair and supermarkets. KEYWORDS: Solanum lycopersicum, marketing, economy. O consumidor brasileiro pagou bem mais em 2012 para garantir a salada de tomate e outros pratos que levam o ingrediente. O consumo desta hortaliça fruto vem se diversificando em função das inúmeras variedades atualmente disponíveis no mercado, o aumento da renda das famílias, as mudanças na comercialização, o crescimento populacional, entre outros fatores. Estas mudanças estão relacionadas também à maior participação dos supermercados na distribuição e venda de hortaliças no Brasil e no mundo, e, para serem competitivos e atender a demanda, é necessário compreender o consumidor, traçar seu perfil e conhecer seus hábitos (Saabor, 2001). Para Fontes & Silva (2002) o tomateiro é a segunda hortaliça em importância econômica e social no Brasil, onde a cultura está em plena expansão, sendo produzido em praticamente todas as regiões geográficas do Brasil sob diferentes sistemas de cultivo e diferentes níveis de manejo cultural. Dados da Food and Agriculture Organization (FAO, 2014), mostram que a produção brasileira no ano de 2011 foi de aproximadamente 4,4 milhões de toneladas, com área colhida de ha, fazendo do Brasil o nono maior produtor mundial, contudo, a produtividade brasileira ainda é relativamente baixa, comparada a de países com alta tecnologia de produção. No ano de 2011, a China produziu 41,8 milhões de toneladas de frutos, seguido dos EUA com 12,9 milhões de toneladas e Índia (11,9 milhões t). O Paraguai é o país que mais importa frutos oriundos do Brasil, e Argentina, a que mais exporta para nós. A região sudeste é a maior produtora com 1,6 milhões de toneladas. A região norte é a que produz menos frutos com 6,9 mil t no ano de 2011, sendo o estado de Roraima o maior produtor, com 5,2 mil t seguido do Amazonas, com 1,6 t. Sendo considerado um município jovem com apenas 25 anos de existência, e com uma grande concentração de imigrantes proveniente de todas as regiões brasileiras, Parauapebas conta com uma zona rural em desenvolvimento e ampliação da produção rural com incentivos do governo, visando abastecer o mercado local que tem uma população consumidora e carente de S0232

3 produtos da horticultura, em destaque o tomate. Conhecer a preferência do mercado consumidor e as condições em que o fruto é comercializado, irá contribuir no estabelecimento de um sistema de produção e comercialização eficiente na região. Diante disso, objetivou-se realizar um estudo diagnóstico do mercado e avaliar o comportamento do consumidor em relação à oscilação de preço e suas preferências para consumo do tomate. METODOLOGIA A pesquisa foi desenvolvida durante o mês de março de 2014, em cinco grandes redes de supermercados e nas duas feiras livres existentes na cidade de Parauapebas-PA, situada no sudeste do Estado. Foram utilizados questionários para coleta de dados primários junto aos consumidores encontrados nos locais de pesquisa. Considerou-se público alvo os consumidores de tomate, ou seja, as pessoas que efetivamente compravam tomates no momento da entrevista, totalizando 446 pessoas. O questionário contava com nove perguntas, cada uma com três a cinco opções de resposta. Entre elas a renda mensal do consumidor, naturalidade, consumo aproximado de tomate semanalmente, variedade mais consumida, preferência de consumo (maduro ou esverdeado), forma de utilização e principalmente qual o comportamento do consumidor em relação as oscilações de preço tanto nos supermercados quanto nas feiras livres. Após as entrevistas, os dados foram organizados e contabilizados, sendo os resultados expressos em gráficos e tabelas. A classificação das cultivares de tomate foi realizada de acordo com o formato, a qual foi estabelecida pelo Programa Brasileiro para Modernização da Horticultura (PBMH, 2003). RESULTADOS E DISCUSSÃO Do total de pessoas entrevistadas 56% (251) possuem renda entre 1 a 2 salários mínimos. Desse total 28% (126) reduz a quantidade quando o preço está acima do convencional, e 20% (88) continua a comprar normalmente. A maioria, 21% (93) consome semanalmente mais de 1kg de tomate, sendo que a aqueles que consomem até 1 kg são 15% (69). Entre os que recebem entre 3 a 4 salários mínimos, somam-se 31% dos consumidores (137 pessoas), nessa classe a diferença entre o porcentual de pessoas que reduz a quantidade na compra (14%) e as que continuam a comprar normalmente (13%) é mínima, apenas 1%. Podendo-se inferir que o maior poder aquisitivo faz com que estes consumidores possuam menor atenção para o aumento de preço desse produto. Grande parte desses consumidores consome mais de 1 kg por semana (19%). S0233

4 Entre os que possuem renda acima de cinco salários mínimos tem-se 13% dos entrevistados (58 pessoas), a maioria, 6%, consome mais de 1kg, e os que consomem até 1kg somam 4%, perfazendo juntos 10 dos 13%. Nessa classe a maior parte dos consumidores, 7% (29), continua a comprar normalmente o tomate independente da oscilação de preço, levando a conclusão de que quanto maior a renda do consumidor, menos ele é afetado pelas oscilações de preço dessa hortaliça. A maior parte dos consumidores, 58%, demonstrou preferência pela aquisição do tomate maduro (257 pessoas), e 35% um pouco esverdeado (154), sendo que 8% dos consumidores alegaram comprar tomates verdes e maduros. A partir dessa informação pode-se inferir que muitos consumidores compram o tomate para uso imediato, ou armazenagem por tempo curto, por conta da perecibilidade desse produto. Em relação ás variedades consumidas com maior frequência o Italiano e o Salada foram as principais variedades, havendo diferença insignificativa entre o consumo das duas variedades, sendo que observou-se nos locais de pesquisas uma prevalência na disponibilidade dessas duas variedades. A disponibilidade do tomate Cereja se restringiu aos supermercados, que os comercializam em bandejas, sendo todas as outras variedades comercializadas a granel. Observou-se nas feiras uma prevalência na comercialização do tomate Italiano enquanto nos supermercados foram verificadas todas as outras variedades. Dentre os consumidores entrevistados, 41% são nortistas, e 39% nordestinos, perfazendo juntos 80% dos entrevistados (357 pessoas), sendo que a maioria dos consumidores, independente da região brasileira, apresentaram um bom consumo de tomate por semana (acima de 1 kg). Porém na classe de menor consumo (até 200g semanais) também prevalecem consumidores dessas duas regiões (norte e nordeste). Pode-se observar que tanto nos supermercados quanto nas feiras houve uma uniformidade no comportamento dos consumidores, sendo que em ambos locais, aproximadamente 47% dos consumidores optaram por reduzir a quantidade de tomate na compra quando o preço do mesmo está elevado ou acima do convencional. Porém uma grande porcentagem, aproximadamente 39% das pessoas entrevistadas, tanto nas feiras quanto nos supermercados continua a comprar tomate normalmente independente da variação de preço. Fato esse que demonstra que independente do preço, muitas pessoas continuam a consumir tomate diariamente por considerar produto alimentar essencial em suas refeições. O comportamento do consumidor frente às oscilações de preço é principalmente a redução da quantidade consumida, e que a renda desse consumidor influi diretamente em seu comportamento. S0234

5 Pode-se verificar que independente da região de origem do consumidor, estes apresentaram um consumo satisfatório desta hortaliça (mais de 1 kg) e que a quantidade consumida semanalmente apresentou-se razoável na maioria dos casos. Por fim verificou-se um comportamento bem homogêneo em relação á oscilação de preço tanto nos supermercados quanto em feiras, onde os consumidores em sua maioria não deixam de consumir a hortaliça por conta do seu alto preço, levando a conclusão de que estes a consideram item essencial em sua alimentação. REFERÊNCIAS FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. 2014, 17 de Março. DATABASE. Disponível em: FONTES PCR; SILVA DJH Produção de tomate de mesa. Viçosa: Aprenda Fácil Editora. 195 p. PBMH Normas de classificação do tomate. Centro de Qualidade em Horticultura. CQH/CEAGESP. São Paulo (CQH. Documentos, 26). SAABOR A Comercialização de hortaliças sob o enfoque do mercado varejista. Horticultura Brasileira, Horticultura Brasileira 19: 18. Tabela 1. Relação entre consumo semanal, renda e comportamento do consumidor de acordo com oscilação de preço do tomate (Relationship between weekly consumption, income and consumer behavior according to fluctuation price of tomatoes). UFRA, Parauapebas-PA, Renda e comportamento Consumo semanal + de 1kg 1kg 200g 400g 600g Total 1 a 2 salários Compra normalmente Não compra Reduz a quantidade Substitui por outro produto a 4 salários Compra normalmente Não compra Reduz a quantidade Substitui por outro produto Acima de 5 salários Compra normalmente Não compra Reduz a quantidade Substitui por outro produto Total S0235

6 Figura 1. Relação entre variedades consumidas frequentemente e característica qualitativa de preferência do tomate pelo consumidor [Relationship between varieties consumed frequently and qualitative characteristics of tomato by consumer preference]. UFRA, Parauapebas-PA, Figura 2. Relação entre a naturalidade do consumidor e seu consumo semanal de tomate [Relationship between the naturalness of the consumer and their weekly tomatoes consumption]. UFRA, Parauapebas-PA, S0236

7 Figura 3. Comportamento de consumidores em feiras (a) e mercados (b) em relação a oscilação de preço do tomate [Consumer behavior at live fair (a) and markets (b) in relation to fluctuating price of tomatoes]. UFRA, Parauapebas-PA, S0237