APRENDIZAGEM PROFISSIONAL DA DOCÊNCIA: QUE CONHECIMENTOS O PROFESSOR PRECISA TER PARA ATUAR EM CRECHES?

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1 1 APRENDIZAGEM PROFISSIONAL DA DOCÊNCIA: QUE CONHECIMENTOS O PROFESSOR PRECISA TER PARA ATUAR EM CRECHES? Monique Aparecida Voltarelli Profa. Dra. Maria Iolanda Monteiro Mestrado Formação de professores e outros agentes educacionais, novas tecnologias e ambientes de aprendizagem. Resumo A ideia da pesquisa surgiu a partir de inquietações sobre a prática docente em creches, enquanto professora de educação infantil. Este projeto justifica-se ao tomarmos como ponto de partida as questões que envolvem a aprendizagem da docência e investigação da base do conhecimento profissional para o ensino em creches. O objetivo geral desta pesquisa é investigar qual a base de conhecimentos que o professor precisa ter para trabalhar em creches e como transformar estes conhecimentos em conteúdos de ensino. A metodologia adotada será uma pesquisa descritiva analítica, de natureza qualitativa. O conhecimento a respeito do tema será estudado por meio de levantamento bibliográfico, observação, entrevistas semiestruturadas com professoras que atuam em creches da Rede Municipal de São Carlos do Estado de São Paulo, análise documental e, posteriormente, pela análise dos resultados para a produção da dissertação final. Palavras Chaves Aprendizagem da docência; formação de professores; educação infantil.

2 2 A ideia deste projeto surgiu, inicialmente, a partir de inquietações sobre a prática docente em creches, enquanto professora de educação infantil. Venho observando uma atuação pautada no assistencialismo com os menores de três anos. Questiono, portanto, o fato das professoras passarem a maior parte do tempo realizando atividades relacionadas ao cuidado físico dos pequenos, ou por estarem presas a uma rotina já imposta pela rede, ou por terem pouco espaço para uma ação pedagógica, ou por se acomodarem com a sua atuação, ou por estarem desmotivadas e por não serem valorizadas em seu trabalho, ou por não ter conhecimentos de conteúdos a serem desenvolvidos com as crianças de zero a três anos, ou demais possibilidades que possam explicar a falta de uma elaboração e/ou aplicação de um planejamento pedagógico direcionado para o trabalho nas creches. Este projeto justifica-se ao tomarmos como ponto de partida as questões que envolvem a aprendizagem da docência e investigação da base do conhecimento profissional (SHULMAN, 1986) para o ensino em creches, o que o coloca em consonância com a linha de pesquisa a que está submetido. Segundo Mizukami (2002a; 2002b; 2010), no que se refere às contribuições de Shulman para a aprendizagem da docência, pode-se perceber a relevância de se investigar o conhecimento construído pelo professor e o conhecimento adquirido por este em cursos de formação, seja esta inicial ou continuada, como essenciais para entendimento de como os professores aprendem a ensinar e quais conhecimentos necessitam ter para desenvolverem seu trabalho. Neste sentido evidencia-se a importância de se compreender de que formas o educador adquire conhecimentos sobre sua área de atuação e como transforma estes conhecimentos em conteúdos de ensino para trabalhar com crianças de 0 a 3 anos em creches. A relevância deste projeto encontra-se ainda ao questionar a forma como se tem realizado nos cursos de formação de professores o preparo para o trabalho em creches, tendo em vista que o cenário apresentado permite inferir que haja possíveis lacunas na aprendizagem destes docentes, deixando-os sem respaldo e com dificuldades em sua prática. Além disso, destaca-se a representação que os docentes têm tido sobre a escolha de trabalho em creches, como bem pontua Oliveira (1995), no sentido de crer que não há a preocupação com a formação para atuar com crianças menores de três anos, devido as suas experiências domésticas com crianças nesta faixa etária, limitando o trabalho ao cuidado da criança e reforçando a concepção historicamente construída de que as mulheres foram educadas para a maternidade. Afirma-se, portanto, a ideia de que o trabalho em creches seria mais fácil por já terem vivenciado esse cuidado com alguma criança da família, não sendo necessária assim

3 3 a preocupação com o ensino e conteúdos pedagógicos a serem desenvolvidos com as crianças. Ressaltando ainda sobre a formação dos professores, Ortiz (2007) vem destacar sua inquietação acerca da falta da valorização do trabalho do profissional da creche, bem como ausência de uma proposta pedagógica para as crianças menores de três anos, reduzindo a prática do professor apenas ao cuidado físico da criança. Desta forma, analisando o trabalho destas professoras desenvolvido nas creches, principalmente no que se refere às instituições da rede pública de ensino, percebe-se a presença e a reprodução da concepção assistencialista em suas práticas, a qual vem se perpetuando desde a criação desta instituição no país. Assim, buscando compreender a atuação destes profissionais, destacam-se, inicialmente, algumas reflexões: Qual o modelo de aprendizagem dominante no pensamento do professor e como este influencia nas atividades desenvolvidas em sala de aula? Como os valores e crenças destes profissionais influenciam o seu trabalho? Como estes professores aprendem para poder ensinar e como este conhecimento se transforma em conteúdos de ensino? Quais são as fontes de aprendizagens destes profissionais? Qual a base de conhecimentos que o professor precisa ter para trabalhar em creches e como transformar estes conhecimentos em conteúdos de ensino? Partindo da ideia desenvolvida sobre os percursos e processos de formação de professores apresentados por Mizukami e Monteiro (2002), o presente projeto de Mestrado pesquisa como os professores de creche vêm elaborando a forma de pensar o processo de ensino e aprendizagem, no sentido de investigar as aprendizagens fundamentais para quem ensina e como ocorre essa formação de conhecimentos sobre como ensinar, uma vez que para o trabalho em creches vem se percebendo uma ausência de atuação que leve em conta conteúdos abrangendo a questão do desenvolvimento cognitivo das crianças de zero a três anos. Com a inclusão das creches no sistema educacional brasileiro, uma série de questionamentos surgiu sobre a função do professor para o trabalho nesta instituição, até mesmo porque os docentes têm que ser preparados, conforme a regulamentação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96 (BRASIL, 1996), em cursos específicos de magistério, em nível médio e em instituições de nível superior para responder adequadamente a demanda das creches e das inúmeras problematizações que ela potencializa. Portanto, este trabalho irá investigar, a partir de inquietações e preocupações da pesquisadora proponente, as lacunas na formação destes professores, como esse profissional

4 4 constrói a base de seu conhecimento e como pode aplicar esse conhecimento em forma de conteúdo de ensino. Além disso, demonstrará a carência de uma configuração de conteúdos para atuar nestas instituições, o que implica em uma tentativa de investigar os fins e as metas pedagógicas para que se possa trazer uma contribuição ao campo da formação de professores de educação infantil. O objetivo geral desta pesquisa é investigar qual a base de conhecimentos que o professor precisa ter para trabalhar em creches e como transformar estes conhecimentos em conteúdos de ensino. A pesquisa definiu os seguintes objetivos específicos: identificar e analisar as concepções manifestas dos professores de creches sobre: como concebem as funções de educar e cuidar, as funções da creche, como percebem a criança de zero a três anos, a contribuição e a importância da proposta pedagógica, os conhecimentos essenciais para o ensino dos pequenos; mapear a base de conhecimento destes professores; mapear as fontes de aprendizagens destes profissionais e os ambientes que a favorecem; identificar e analisar como essa base de conhecimento é transformado em conteúdos de ensino para a prática com crianças de zero a três anos (BRASIL, 1998). A metodologia adotada para o desenvolvimento deste estudo será uma pesquisa descritivo analítica, de natureza qualitativa. A escolha deste tipo de pesquisa se deu pela possibilidade de análise dos significados que os indivíduos dão às suas ações, tentando compreender o sentido dos atos e das decisões dos indivíduos no meio em que vivem e, desta maneira, trabalhar com descrições, comparações e interpretações. De acordo com Lüdke e André (1986), a pesquisa qualitativa fornece elementos para obtenção de dados descritivos, que podem ser obtidos a partir do contato direto do pesquisador com a situação estudada, de forma que o enfoque se dê mais no processo do que no produto, retratando e analisando a perspectiva dos participantes. Assim, a diversidade e flexibilidade possibilitadas por este tipo de pesquisa contribuirão para o desenvolvimento do projeto de forma que todos os objetivos sejam alcançados, para posteriormente serem analisados e concluídos, verificando e explicando o problema citado. O conhecimento a respeito do tema desta pesquisa será estudado por meio de levantamento bibliográfico, observação, entrevistas semi-estruturadas com professoras que atuam em creches da Rede Municipal de São Carlos do Estado de São Paulo, análise documental e, posteriormente, pela análise dos resultados para a produção da dissertação final.

5 5 O uso da observação participante em pesquisas qualitativas permite que o pesquisador fique próximo da realidade a ser investigada. Lüdke e André (1986) vêm apontar que a observação fornece vantagens para pesquisa e que este método é um dos mais usados para se realizar uma pesquisa na área educacional. Neste sentido as autoras apontam que, para o observador, este método fornece uma aproximação maior do ponto de vista do sujeito investigado, e que através das experiências diárias observadas pode compreender o sentido que os participantes atribuem à realidade ao seu redor e os seus próprios atos. A entrevista é um dos instrumentos básicos para a coleta de dados e acontece numa relação de interação entre quem pergunta e quem responde. Esse tipo de técnica recolhe os dados desejados, permite, também, o aprofundamento de temas levantados por outras técnicas de coleta de dados que obtiveram as informações mais superficiais; além de conseguir correções, esclarecimentos e adaptações eficazes na obtenção de dados. As professoras envolvidas da pesquisa serão selecionadas a partir dos seguintes critérios: ser professora iniciante com no máximo cinco anos de profissão, pois, ao entrar na Prefeitura de São Carlos, o professor ainda não tem uma sede fixa, se dispondo das necessidades da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, a qual atribui aulas a estes professores para substituir as salas de direção, licenças maternidade, dentre outros. Assim, o professor vivencia no início da carreira a experiência em escolas diferentes e em fases diferentes, para depois deste período ir para atribuição de sede escolar, na qual permanecerá ao menos que peça por remoção. Esta escolha se deve ainda ao fato de uma professora iniciante se deparar com situações diversas no início da carreira, vivenciando o trabalho com profissionais que também estão ingressando agora e com profissionais que já estão na prefeitura há muito tempo, contato este que influencia a prática do professor em sala de aula, por estas professoras já possuírem uma prática enraizada e crenças que influenciam diretamente no trabalho diário, passando para o professor condutas repetitivas ou rotineiras e automáticas que interferem na aprendizagem da docência para um professor no início de carreira. Serão entrevistados três professores, uma de cada fase de três Escolas Municipais de Educação Infantil da Rede Municipal de São Carlos, ou seja, um professor da fase I (trabalho em berçário, com crianças de quatro meses a um ano); outro da fase II (com crianças de um para dois anos); e o outro da fase III (com crianças de dois para três anos). Perpassando a atuação profissional de zero a três anos, período este que a pesquisa se propõe a investigar.

6 6 Neste trabalho também será utilizada a análise documental, a qual segundo Lüdke e André (1986), é muito importante para a abordagem de dados qualitativos, porque complementa as informações obtidas por outras técnicas e descobre novos aspectos de um tema. Em relação aos resultados esperados, pensamos que este estudo nos possibilitará verificar como as professoras iniciantes constroem a base de seu conhecimento para trabalhar com crianças de zero a três anos. Acreditamos que este estudo possa proporcionar a análise e reflexão das profissionais que atuam em creches em relação a sua atuação com os pequenos, assim como percebam a importância da formação inicial e continuada para a construção da base de seu conhecimento para sua carreira docente, uma vez que os pequenos vêm sendo atendidos em instituições de educação infantil que carregam em sua bagagem histórica uma concepção assistencialista para o atendimento dos menores de três anos, havendo uma necessidade de se trabalhar os conteúdos necessários para essa faixa etária por meio de um planejamento pedagógico direcionado e preocupado em casar a função de educar com a de cuidar. Os autores Goulart (2005), Machado (2011), Rocha (2011), Rosemberg (1993), Oliveira (1995; 2007; 2008) e Kuhlmann Jr. (1998), dentre outros, irão subsidiar a análise dos dados referentes à educação infantil brasileira, visando uma compreensão da complexidade do trabalho docente. Esperamos também que os resultados possam provocar uma reflexão fundamentada dos profissionais que formam estes professores em cursos iniciais e em cursos de formação continuada para que se atentem as necessidades deste professor iniciante que irá atuar com crianças de zero a três anos. Referências BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.9.394/96. Brasília, DF: MEC, BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília, DF: MEC, GOULART, A. L. de F.; MELLO, S. A. Linguagens Infantis: Outras Formas de Leitura. São Paulo:Autores Associados, KUHLMANN JUNIOR, M. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. Porto Alegre: Mediação,1998.

7 7 LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. SP: EPU, MACHADO, M.L. de A. M. Encontros e Desencontros em Educação Infantil. São Paulo: Cortez, MIZUKAMI, M. da G. N. Aprendizagem da docência: algumas contribuições de L. S. Shulman. Revista do centro da educação. Edição vol.29, nº02. Disponível em: < 2004/02/r3.htm >. Acessado em 01 de outubro de MIZUKAMI, M. da G. N.; REALI, Aline Maria de Medeiros Rodrigues. Aprendizagem profissional da docência: saberes, contextos e práticas. São Carlos: EdUFSCar,2002a. MIZUKAMI, M. da G. N., et al. Escola e aprendizagem da docência: processos de investigação e formação. São Carlos: EdUFSCar,2002b. MIZUKAMI, M. da G. N.; MONTEIRO, F. M. de A. Professoras das séries iniciais do ensino fundamental: percursos e processos de formação. In: MIZUKAMI, M. da G. N.; REALI, A. M. de M. R. Formação de professores, práticas pedagógicas e escola. São Carlos: EdUFSCar,2002c. OLIVEIRA, R. M. M. A. Nos dias atuais, quem quer ser professor? São Carlos, Programa de Pós-Graduação em Educação, UFSCar,1995, dissertação de mestrado. OLIVEIRA, Z. de M. R. Como definir uma pedagogia que oriente o trabalho em creches. Pátio Educação Infantil: Educando crianças de 0 a 3 anos, Porto Alegre, n.13, p.14-16, OLIVEIRA, Z. R. de. Educação infantil: fundamentos e métodos. 4ed. SP: Cortez, ORTIZ, C. O papel do professor de crianças pequenas. Pátio Educação Infantil: Educando crianças de 0 a 3 anos, Porto Alegre, n.13, p.10-13, ROCHA, E. A. C.; KRAMER, S. Educação Infantil: enfoques em diálogo. São Paulo: Papirus, ROSEMBERG, F.; CAMPOS, M. M.; PINTO, R. P. Creches e pré-escolas. São Paulo: Conselho Estadual da Condição Feminina, SHULMAN, L. Those who understand: knowledge growth in teaching. Educational Researcher, 15 (2), 1986.p.4-14.