Revisão de Informativos Dr. Márcio André Lopes Cavalcante Juiz Federal
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- Otávio Juan Raminhos Carrilho
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1 Revisão de Informativos Dr. Márcio André Lopes Cavalcante Juiz Federal Procurador do Banco Central FURTOS E ROUBOS E RESPONSABILIDADE CIVIL 1) Furto ou roubo no cofre do banco onde estavam guardados bens de cliente. 1) Furto ou roubo no cofre do banco onde estavam guardados bens de cliente. Trata-se risco assumido pelo banco, sendo algo próprio da atividade empresarial. Configura hipótese de fortuito interno, que não exclui o dever de indenizar STJ. REsp /SP, DJe 14/02/ ) Cliente roubado no interior da agência bancária. 2) Cliente roubado no interior da agência bancária. Há responsabilidade objetiva do banco em razão do risco inerente à atividade bancária (art. 927, p. ún., CC e art. 14, CDC) STJ. REsp PE, DJe 23/03/ ) Cliente roubado na rua, após sacar dinheiro na agência. 3) Cliente roubado na rua, após sacar dinheiro na agência. NÃO.
2 Se o roubo ocorre em via pública, é do Estado (e não do banco), o dever de garantir a segurança dos cidadãos e de evitar a atuação dos criminosos STJ. REsp MG, DJe 04/02/ ) Cliente roubado no estacionamento do banco. 4) Cliente roubado no estacionamento do banco. O estacionamento pode ser considerado como uma extensão da própria agência. STJ. REsp ES, DJe 04/08/ ) Roubo ocorrido no estacionamento privado que é oferecido pelo banco aos seus clientes e administrado por uma empresa privada. 5) Roubo ocorrido no estacionamento privado que é oferecido pelo banco aos seus clientes e administrado por uma empresa privada. Tanto o banco como a empresa de estacionamento têm responsabilidade civil, considerando que, ao oferecerem tal serviço especificamente aos clientes do banco, assumiram o dever de segurança (teoria do risco). STJ AgRg nos EDcl no REsp /RS, DJe 29/06/2012 6) Cliente, após sacar dinheiro na agência, é roubado à mão armada em estacionamento privado que fica ao lado, mas que não tem qualquer relação com o banco. 6) Cliente, após sacar dinheiro na agência, é roubado à mão armada em estacionamento privado que fica ao lado, mas que não tem qualquer relação com o banco. NÃO. Não haverá responsabilidade civil nem do banco nem da empresa privada de estacionamento. Em regra, a empresa de estacionamento não é responsável por roubos. Ela se responsabiliza apenas pela guarda do veículo (REsp SP, DJe 10/04/2013). Exceção: shoppings, supermercados etc. 7) Passageiro roubado no interior do transporte coletivo (exs: ônibus, trem etc.). 7) Passageiro roubado no interior do transporte coletivo (exs: ônibus, trem etc.).
3 NÃO. Um assalto a mão armada é fato inteiramente estranho ao transporte em si (fortuito externo). Constitui causa excludente da responsabilidade. STJ. AgRg no Ag /SP, DJe 29/06/2012. A empresa responde por fatos relacionados com o transporte (ex: uma colisão). 8) Cliente roubado no posto de gasolina enquanto abastecia seu veículo. 8) Cliente roubado no posto de gasolina enquanto abastecia seu veículo. NÃO. Isso não está no rol de responsabilidades do empresário para com os clientes. Trata-se de fortuito externo, ensejando-se, por conseguinte, a exclusão da responsabilidade (REsp /SE, DJe 10/05/2012). 9) ROUBO ocorrido em veículo sob a guarda de vallet parking que fica localizado em via pública. 9) ROUBO ocorrido em veículo sob a guarda de vallet parking que fica localizado em via pública. NÃO. No serviço de manobrista em via pública não existe um estacionamento cercado com grades. Logo, as exigências de garantia da segurança física e patrimonial do consumidor são menos rigorosas do que aquelas atinentes aos estacionamentos de shopping centers e hipermercados (REsp SP, DJe 10/09/2013). 10) FURTO ocorrido em veículo sob a guarda de vallet parking que fica localizado em via pública. 10) FURTO ocorrido em veículo sob a guarda de vallet parking que fica localizado em via pública. Nas hipóteses de furto, em que não há violência, permanece a responsabilidade mesmo sendo em via pública. O serviço prestado mostra-se defeituoso, por não apresentar a segurança que o consumidor espera de forma legítima. 11) FURTO ou ROUBO ocorrido em veículo sob a guarda de vallet parking localizado dentro do shopping center.
4 11) FURTO ou ROUBO ocorrido em veículo sob a guarda de vallet parking localizado dentro do shopping center. As pessoas que vão ao shopping têm uma sensação maior de segurança. Existe uma garantia implícita de que o estabelecimento irá oferecer segurança física e patrimonial do consumidor, tanto em caso de furtos como roubos. 12) Tentativa de ROUBO ocorrida na cancela do estacionamento do shopping center. 12) Tentativa de ROUBO ocorrida na cancela do estacionamento do shopping center. As pessoas que vão ao shopping têm uma sensação maior de segurança. Existe uma garantia de segurança física e patrimonial do consumidor, inerente ao serviço prestado pelo estabelecimento comercial (REsp /PB, DJe 05/03/2014) (Info 534). (Juiz TJAM 2013 FGV adaptada) Chegando ao shopping center, João deixa seu veículo no estacionamento que o estabelecimento disponibiliza para comodidade dos seus clientes, com vigilância terceirizada. Sem nada adquirir, João decide ir embora. Chegando ao estacionamento, descobre que seu veículo foi furtado. Inconformado com o ocorrido, João ingressa com ação judicial imputando responsabilidade civil ao shopping center. Segundo a posição do STJ sobre o tema, assinale a afirmativa correta. A) João não se enquadra no conceito de consumidor pois não houve aquisição de qualquer produto ou serviço como destinatário final, durante o período em que esteve no shopping. ERRADA Mesmo sem ter comprado nada, João é consumidor por equiparação já que foi vítima do serviço defeituoso prestado pelo shopping. B) O shopping não pode ser responsabilizado se houver prévia e expressa comunicação ao proprietário do veículo, no comprovante de estacionamento entregue no momento do ingresso, de cláusula de exoneração de responsabilidade por quaisquer danos ao veículo. ERRADA É nula de pleno direito a cláusula que exclua a responsabilidade do fornecedor por fato do serviço. C) A hipótese aborda responsabilidade subjetiva, que depende da verificação da culpa do estabelecimento, porquanto o shopping center, in casu, não pode ser enquadrado no conceito de fornecedor de que trata o Art. 3º do CDC, 1º e 2º. ERRADA
5 O shopping center é fornecedor de serviços. A hipótese é de responsabilidade objetiva, nos termos do art. 14 do CDC. D) Embora haja relação de consumo, a responsabilidade civil não pode ser atribuída ao shopping, mas sim à empresa de vigilância terceirizada. ERRADA. Quem se apresenta como fornecedor do serviço perante o consumidor é o shopping. Logo, o consumidor não pode ser prejudicado se o shopping terceiriza esse serviço. A relação do shopping com a empresa de vigilância é de cunho empresarial e não pode servir para criar embaraços à sua responsabilidade. E) A questão da aquisição de bens ou serviços por João, para efeito da responsabilidade civil, é irrelevante, isso porque o shopping, ao oferecer local presumivelmente seguro para estacionamento, assume obrigação de guarda e vigilância, o que o torna civilmente responsável por furto de veículo ali ocorrido. ALTERNATIVA CORRETA RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO VÍCIOS EXISTENTES EM VESTIDO DE NOIVA Imagine a seguinte situação: Rebeca encomendou seu vestido de noiva de uma loja de confecções. Ao receber o produto, ela percebeu que o vestido apresentava várias imperfeições em sua costura, além de ter sido feito com um material inferior ao combinado. Em direito do consumidor, como podemos classificar essa situação? Como podemos classificar essa situação? Estamos diante do chamado vício do produto. Vício é a INADEQUAÇÃO do produto ou do serviço para os fins a que se destina. O vício pode ser de duas subespécies: vício de qualidade ou de quantidade. No caso concreto, trata-se de um vício de qualidade do produto, previsto no art. 18 do CDC. Qual é o prazo que o consumidor dispõe para reclamar sobre a existência de vícios do produto? Se o produto for NÃO DURÁVEL : 30 dias. Se o produto for DURÁVEL : 90 dias. Produto durável. Exs: um terno, um eletrodoméstico, um automóvel, um livro. Produto não-durável. Exs: alimentos, remédios etc. A partir de quando são contados esses prazos? Se o vício for APARENTE (de fácil constatação): conta-se da data da entrega do produto.
6 Se o vício for OCULTO: conta-se do momento em que ficar evidenciado o vício. PRAZOS PARA RECLAMAR VÍCIOS DO PRODUTO Produto NÃO DURÁVEL: 30 dias. Produto DURÁVEL: 90 dias. INÍCIO DA CONTAGEM Vício aparente: data da entrega do produto ou serviço. Vício oculto: momento em que evidenciado o vício. Voltando ao caso concreto, o vestido de noiva é considerado bem durável? O vestido de noiva deve ser classificado como um bem durável, pois não se extingue pelo mero uso, sendo notório que, por seu valor sentimental, há quem o guarde para a posteridade. O vício no vestido era aparente ou oculto? Aparente. Logo, a noiva tinha o prazo de 90 dias, contados da data da entrega do vestido, para reclamar sobre os vícios detectados. DISTRATO DE COMPRA E VENDA E RETENÇÃO Imagine a seguinte situação hipotética: João celebra contrato de promessa de compra e venda de um apartamento com a construtora. Uma das cláusulas do contrato, intitulada Distrato possuía a seguinte redação: 7.1. Nas hipóteses de rescisão, resolução ou distrato por iniciativa do promitente comprador, este perderá o valor pago, que ficará com o promitente vendedor a título de indenização. Como se chama essa cláusula é válida? Ela é válida? Cláusula de decaimento: estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato. Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado. Devolução de uma parte ínfima das prestações pagas Tentativa das construtoras burlarem a vedação legal.
7 Essa prática também foi rechaçada pela jurisprudência. É vedada por colocar o consumidor em uma situação de desvantagem exagerada (art. 51, IV, CDC). Resumindo: É abusiva a cláusula que possibilite a construtora : reter integralmente as parcelas pagas; ou devolver apenas um valor ínfimo ao consumidor distratante. STJ. 4ª Turma. REsp PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530). Mas a construtora poderá reter, em caso de distrato, uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente? O STJ entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas. A jurisprudência normalmente considera razoável a retenção de um percentual que varia de 10% a 20% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. O contrato poderá prever que a devolução do valor pago será feita apenas após o efetivo término da obra? NÃO. Essa cláusula também é abusiva. A restituição deverá ser imediata. STJ. 2ª Seção. REsp /SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/11/2013 (recurso repetitivo) (Info 533). DESISTÊNCIA DE PACOTE TURÍSTICO Imagine a seguinte situação: João foi até a agência de viagens e adquiriu um pacote turístico para a Europa, a fim de passar sua lua-de-mel, pagando o valor de 18 mil reais à vista. No contrato celebrado, havia uma cláusula dizendo que, em caso de desistência, o comprador não seria reembolsado pelo valor pago. João acabou desistindo do casamento e, por isso, pediu seu dinheiro de volta, tendo a agência recusado a devolução, sob o argumento da previsão contratual. Agiu corretamente a agência? Essa cláusula contratual é válida? NÃO. É abusiva a cláusula penal de contrato de pacote turístico que estabeleça, para a hipótese de desistência do consumidor, a perda integral dos valores pagos antecipadamente. Essa previsão contratual é abusiva por colocar o consumidor em extrema desvantagem.
8 Cancelamento de pacote turístico: constitui risco da atividade desenvolvida pela agência de turismo. Logo, ela não pode querer isentar-se desse risco e transferi-lo integralmente aos consumidores. Pode haver retenção de parte como cláusula penal: no caso concreto, o STJ decidiu reduzir a cláusula penal (multa) para 20% do valor pago, ou seja, a agência de turismo ficou autorizada a reter 20% do preço do pacote, restituindo ao consumidor os 80% restantes (REsp MG. Info 533).
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