Art Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra.
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- Leandro Nunes Rijo
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1 Lição 14. Doação Art Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. Na doação deve haver, como em qualquer outro contrato, o concurso de vontade das partes. É o contrato no qual uma das partes transfere de seu patrimônio determinado bem para outra pessoa, que o aceita. Ou seja, deve haver liberalidade de quem doa (deve ser espontâneo e sem retribuição). É contrato consensual (estará perfeito e acabado com o acordo de vontades), unilateral (há obrigação para somente uma das partes) e gratuito (há onerosidade somente para uma das partes). A doação, por ser contrato gratuito, deve sempre ser interpretada restritivamente. Pode ocorrer que o doador fixe um prazo para que o donatário manifeste sua vontade (e, se este souber deste prazo e não se manifestar, entende-se que aceitou, se a doação não envolve encargo): Art O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo. A aceitação, pelo donatário, pode ser tácita (como nos casos de coisas de pequeno valor). A doação com encargo, na prática, não é totalmente gratuita, pois traz um ônus para quem recebe a coisa. Doação remuneratória: também não é totalmente gratuita. Ex.: advogado que aceita fazer determinado serviço (a princípio gratuitamente), e a pessoa resolve, depois, recompensá-lo por isso, doando-lhe algo.
2 Isso tem relevância: quando se tratar de doação pura e simples, pode haver revogação por ingratidão; se for doação com encargo ou remuneratória não pode haver revogação por ingratidão (a remuneratória poderia ser revogada no excedente. Ex.: os honorários do advogado ficariam em R$ 5 mil, mas recebe como gratidão um carro no valor de R$ 30 mil; se houver ingratidão, o donatário pode pleitear de volta os R$ 25 mil de diferença). Incapaz donatário: o incapaz pode receber doação, desde que ela seja pura e simples (seu representante recebe a doação em seu nome). Caso da doação feita pelo pai: o pai pode doar para um dos filhos e não doar para os demais, desde que respeite a legítima. Se o filho donatário for incapaz, pode ser representado pelo próprio pai doador. Em princípio, a doação que os pais fazem aos filhos é considerada adiantamento da legítima. O filho que recebeu a doação tem que informar isso por ocasião do inventário (trazer os bens à colação). Se o pai quer mesmo beneficiar um dos filhos (mais que os demais filhos), tem que deixar expresso na escritura de doação que o bem doado estará dispensado da colação. A pessoa não pode doar tudo o que tem. Deve reservar o necessário para se manter, pois do contrário poderia ficar na indigência e onerar, com isso, o Estado. Pode ocorrer de alguém doar todo seu patrimônio para os filhos, por exemplo, mas reservando para si o usufruto dos bens (ou de parte deles). A pessoa casada não pode doar bens de seu patrimônio para seu concubino (a união estável somente se aplica para os desimpedidos de se casar). Vícios redibitórios e evicção: se a doação for pura e simples, não cabe ação em virtude de vícios redibitórios ou de evicção: Art O doador não é obrigado a pagar juros moratórios, nem é sujeito às conseqüências da evicção ou do vício redibitório. Nas doações para casamento com certa e determinada pessoa, o doador ficará sujeito à evicção, salvo convenção em contrário.
3 Cláusula de reversão: permite-se que o doador estabeleça cláusula no sentido de que se ele sobreviver ao donatário os bens doados retornam para seu (do doador) patrimônio. Art O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário. Revogação por ingratidão: o doador pode revogar a doação em caso de ato de ingratidão do donatário. Pode ser que o donatário se recuse a devolver a coisa, e então será necessária uma ação judicial para que o doador a tenha de volta. Art A doação pode ser revogada por ingratidão do donatário, ou por inexecução do encargo. Art Não se pode renunciar antecipadamente o direito de revogar a liberalidade por ingratidão do donatário. Art Podem ser revogadas por ingratidão as doações: I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele; II - se cometeu contra ele ofensa física; III - se o injuriou gravemente ou o caluniou; IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava. Art Pode ocorrer também a revogação quando o ofendido, nos casos do artigo anterior, for o cônjuge, ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou irmão do doador.
4 Art A revogação por qualquer desses motivos deverá ser pleiteada dentro de um ano, a contar de quando chegue ao conhecimento do doador o fato que a autorizar, e de ter sido o donatário o seu autor. Art O direito de revogar a doação não se transmite aos herdeiros do doador, nem prejudica os do donatário. Mas aqueles podem prosseguir na ação iniciada pelo doador, continuando-a contra os herdeiros do donatário, se este falecer depois de ajuizada a lide. Art No caso de homicídio doloso do doador, a ação caberá aos seus herdeiros, exceto se aquele houver perdoado. Art A doação onerosa pode ser revogada por inexecução do encargo, se o donatário incorrer em mora. Não havendo prazo para o cumprimento, o doador poderá notificar judicialmente o donatário, assinando-lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação assumida. Art A revogação por ingratidão não prejudica os direitos adquiridos por terceiros, nem obriga o donatário a restituir os frutos percebidos antes da citação válida; mas sujeita-o a pagar os posteriores, e, quando não possa restituir em espécie as coisas doadas, a indenizá-la pelo meio termo do seu valor. Art Não se revogam por ingratidão: I - as doações puramente remuneratórias; II - as oneradas com encargo já cumprido; III - as que se fizerem em cumprimento de obrigação natural; IV - as feitas para determinado casamento. Notar que o art. 557, II, trata de ofensa física; não é necessário que haja lesão corporal. O inciso III deste artigo trata dos casos de injúria ou calúnia do
5 donatário contra o doador, nada dispondo a respeito da difamação; a redação do CC/02 é originada, neste ponto, do CC/16, que era anterior ao atual Código Penal; antes, a injúria e a difamação eram tratadas em conjunto (consolidação Piragibe); a doutrina e a jurisprudência admitem que a revogação é possível também nos casos de difamação. Revogação por descumprimento de encargo: é semelhante à retrocessão. Se o doador morre e o donatário não cumpre o encargo (ou se a coisa é recebida por legado, mas com encargo), os herdeiros ou o Ministério Público podem mover a ação para a revogação. Há um prazo para a propositura da ação de revogação da doação, que é prazo decadencial de 1 ano. A procuração para que o advogado mova a ação deve ter poderes específicos para aquela ação (ou seja, procuração com cláusula geral de poderes não pode ser utilizada), pois a ação é personalíssima.
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