Dimensões da sustentabilidade em ilp: contexto e algumas oportunidades e desafios

Transcrição

1 XIII Reunião do Conselho Gestor da Rede Fomento ILPF Embrapa Sede, Brasília, 20 de maio de 2015 Dimensões da sustentabilidade em ilp: contexto e algumas oportunidades e desafios Geraldo B. Martha Jr. Coordenador-Geral, Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa (Agropensa)

2 A Agropecuária Brasileira é Baseada em Ciência

3 Evolução do Agronegócio Brasileiro Dados: USP/ESALQ/Cepea. (2014).

4 Balança do Agronegócio Agrostat Brasil / MAPA (2015).

5 Evolução do Agronegócio Brasileiro Dados: USP/ESALQ/Cepea. (2014).

6 Produtividade Total dos Fatores na Agricultura A agricultura brasileira é exceção, e já vem perseguindo essa estratégia de crescimento apoiado em ganhos sustentados de produtividade há décadas. É referência mundial nesse quesito! Fuglie et al. (2012), elaboração IFPRI (2014).

7 Evolução do Investimento em Pesquisa Agropecuária no Brasil O sucesso por trás desses ganhos de produtividade é explicado por uma série de fatores, destacando-se o empreendedorismo dos produtores brasileiros e da inciativa privada, a disponibilidade de recursos naturais no país e as políticas públicas, traduzidas desde os sustentados investimentos em pesquisa agropecuária até os investimentos em infraestrutura. ASTI/CGIAR (2012).

8 Investimentos em P&D Agropecuário USD , billion Share do Brasil (%) 3.0 $746 b % 9.2% 24.2 % $2,309 b High Income Asia&Pacific LAC EE&FSU MENA SSA 12.8 % 44.3 % 24.1 %

9 Dimensões da Sustentabilidade

10 Sustentabilidade - É bem aceito o fato que as dimensões da sustentabilidade técnica, econômica, ambiental e social devem ser perseguidas; - As dimensões da sustentabilidade têm forte interdependência. Desejavelmente, devem ser simultaneamente atendidas. Focar exclusivamente em uma dimensão não refletirá o caráter múltiplo da sustentabilidade. Os sistemas de produção agrícolas devem, assim, focar em estratégias ganha-ganha ou, quando isso não é possível, em estratégias pequenas perdas grandes ganhos. As estratégias de sustentabilidade devem pautar todos os atores e agentes envolvidos na cadeia produtiva.

11 Produtividade na agricultura brasileira Milho Soja Trigo Arroz Feijão Cana-deaçúcar Pecuária* Dados do IBGE,cálculos e elaboração Martha et al. (2012), Martha (2013). A produtividade explicou a maior parte do crescimento da agricultura brasileira. O efeito poupa-terra resultante desses ganhos de produtividade, nas lavouras e na pecuária, superaram 600 milhões de ha!

12 Mais de 60% do território brasileiro (e dos recursos naturais associados) está preservado! Dados: INPE (2015), elaboração G.B.Martha Jr. Dados: Lapola et al. (2013).

13 Mais de 60% do território brasileiro (e dos recursos naturais associados) está preservado! Banco Mundial (2012).. IBGE, MMA, IBAMA. Índice composto, normalizado (0 a 100 máximo potencial de biodiversidade), baseado na representação de espécies no país, as ameaças ao seu status, e à diversidade de tipos de habitats.

14 Intensificação da produção pecuária e emissão de gases de efeito estufa Estratégia de terminação Emissão (kg CO2-e/kg equiv.carc.) Redução nas emissões (% past. degradada) Pastagem degradada 29,65 - Pastagem extensiva 21,89-26% Integr. Lavoura-pecuária 18,76-37% Confinamento 17,64-41% Barioni, Martha Jr., Sainz (2010).

15 Intensificação da produção pecuária: emissão de gases de efeito estufa e captura de carbono - Analisar apenas as emissões de GEE, sem considerar o potencial de captura e armazenagem de carbono pelas pastagens, é critério insuficiente para uma tomada de decisão mais bem informada e robusta. G.B. Martha Jr. (em andamento), a partir de modelos de Barioni et al. (2009), dados em Corsi et al. (2001) e Urquiaga et al. (1995). Obs.: TL = 1,1 cab/ha; GPV = 0,2 a 0,6 kg/dia.

16 Intensificação da produção pecuária: emissão de gases de efeito estufa e captura de carbono - Os métodos GWP e GTP produzem estimativas de emissão de GEE bastante diferentes, em razão do multiplicador para conversão de metano em CO2-eq., de 23 e 5, respectivamente. G.B. Martha Jr. (em andamento), a partir de modelos de Barioni et al. (2009), dados em Corsi et al. (2001) e Urquiaga et al. (1995). Obs.: TL = 1,1 cab/ha; GPV = 0,2 ou 0,5 kg/dia.

17 Precificação dos impactos ambientais da pecuária (Desmatamento, GEE) Agric. (Reino Unido) Pecuária (Brasil) Preço de mercado do alimento Subsídios 18 2 Gases de efeito estufa Poluição do ar 1 0 Poluição da água Degradação do solo 10 0,5-1 Esgotamento de rec. hídricos 0 0 Perda de biodiversidade 0, Preço real estimado ($) The Prince Charities (2010).

18 Pegada hídrica A agricultura tem elevada demanda por fluxo de água. Na análise da pegada hídrica, parcela majoritária da água associada à atividade agrícola é a chamada água verde a água transpirada pela planta, que está armazenada no solo. A água transpirada não é perdida, ela retorna ao sistema via ciclo hidrológico. 1 kg trigo 1 m 3 água 1 kg arroz 3 m 3 água 1 kg leite 1 m 3 água 1 kg queijo 5 m 3 água 1 kg suíno 5 m 3 água 1 kg carne bovina 15 m 3 água Hoekstra & Chapagain (2008). Dados Mekonnen & Hoekstra (2012), elaboração Embrapa.

19 Balanço hídrico É preciso comparar o balanço hídrico de um dado ecossistema/região vis-à-vis o agroecossistema estabelecido naquele local! X

20 Evolução dos preços reais da cesta básica, São Paulo, Brasil (Jan/75=100, preços reais, Jan/15) Jan/15=56 - A expressiva queda nos preços dos alimentos ao consumidor ampliou sobremaneira a segurança alimentar dos mais pobres, atenuou pressões inflacionárias e contribuiu para dinamizar outros setores da economia (efeito-renda da demanda). Jan-75 Apr-76 Jul-77 Oct-78 Jan-80 Apr-81 Jul-82 Oct-83 Jan-85 Apr-86 Jul-87 Oct-88 Jan-90 Apr-91 Jul-92 Oct-93 Jan-95 Apr-96 Jul-97 Oct-98 Jan-00 Apr-01 Jul-02 Oct-03 Jan-05 Apr-06 Jul-07 Oct-08 Jan-10 Apr-11 Jul-12 Oct-13 Jan-15 Índice de preços reais (1975=100) Dados do DIEESE, deflacionados pelo IGP-DI (FGV), cálculos e elaboração R. Marra & G.B. Martha Jr. (2015).

21 PSE na agricultura de países selecionados Coréia do Sul 64,9 59,0 50,0 Japão 58,7 55,4 51,0 União Européia 34,5 31,8 21,1 Estados Unidos 17,9 16,4 8,7 Rússia 10,4 13,5 17,7 China 1,2 7,7 11,6 Austrália 4,9 3,8 3,5 Brasil -6,7 5,3 4,8 Dados da OECD, elaboração G.B. Martha Jr..

22 A Adoção de Tecnologias

23 Alguns Critérios para a Avaliação de Tecnologias Qual tecnologia será substituída? Prioritariamente, pastagens de baixa produtividade; Em menor escala, parte dos sistemas especializados de lavouras e pecuária de maior produtividade;

24 Alguns Critérios para a Avaliação de Tecnologias Qual tecnologia será substituída? Quais as mudanças necessárias no sistema atual? Investimentos (animais para engorda, máquinas, equipamentos, infraestrutura, etc.); Acompanhamento periódico de assistência técnica (pecuária, lavouras, floresta); Acompanhamento periódico das tendências de preços de produtos e insumos; Maior adoção de mecanismo de gestão de risco;

25 Alguns Critérios para a Avaliação de Tecnologias Qual tecnologia será substituída? Quais as mudanças necessárias no sistema atual? Quais os custos incrementais (e os riscos) associados com a adoção da nova tecnologia? (inclui efeitos sinérgicos)

26 Alguns Efeitos Sinérgicos na ilp Benefício Efeito agronômico Impacto econômico (R$/ha) Benefícios da fase de pecuária/pasto para a fase de lavoura subseqüente Eficiência no uso de evita a perda de 800 kg/ha de grãos 600,00 fertilizantes (1) de soja Eficiência no uso de ganho de 87 a kg/ha de grãos 65,00 785,00 fertilizantes (2) de soja Mofo branco (3) evita a perda de 394 kg/ha de grãos 460,00 de feijão Mofo branco (4) possibilita a redução de uma a duas aplicações de fungicidas 190,00 a 380,00 Benefícios da fase de lavoura para a fase de pecuária/pasto subseqüente Efeito residual de adubações (5) equivale a adubação de 360 kg/ha de N para o pasto 680,00 (1) Sousa et al. (1997), (2) Martha Jr. et al. (2010a), (3) Ricardo et al. (2009), (4) Costa et al. (2003), (5) Martha Jr. et al. (2007). R$ 45,00 por saca de soja R$ 70,00 por saca de feijão Aplicação de fungicida R$ 190,00/ha R$ 850,00/t de uréia. Elaboração Martha Jr. et al. (2011).

27 Adaptado de Martha Jr. (2009). Riscos na produção agropecuária

28 Alguns Critérios para a Avaliação de Tecnologias Qual tecnologia será substituída? Quais as mudanças necessárias no sistema atual? Quais os custos incrementais (e os riscos) associados com a adoção da nova tecnologia? (inclui efeitos sinérgicos) Quais as restrições à adoção da nova tecnologia?

29 Custo de Produção e Taxa de Lotação (ilp) Taxa de lotação (cab/ha) 2,07 3,25 4,54 CT (R$/ha) 2.465, , ,85 %custeio 79,33% 82,15% 84,04% %deprec. 6,89% 5,54% 4,63% %al.capital 8,43% 6,77% 5,66% %al.k-cust. 5,35% 5,55% 5,67% RB (R$/ha) 2.415, , ,28 RB-c (R$/ha) 459,12 583,29 707,47 RB-(c+d) (R$/ha) 289,22 413,4 537,58 RL(R$/ha) -50,59 35,42 121,43 Adaptado de Martha Jr. et al. (2009).

30 Custos de Oportunidade: ilp (2006) Efeito do Preço da Soja e da Produtividade Pecuária na ilp Martha Jr. et al. (2011).

31 Modelos Bioeconômicos Bio / econômico - Coeficientes técnicos - Descrição física (alocação das áreas); - Inventário (infraestrutura, máquinas,...); - Categorias animais e seus respectivos desempenhos; Análises adicionais Impacto de variações no desempenho; Solver (atingir metas); Análise de risco (SAS); - Coeficientes econômicos - Centros de custos (insumos dependentes da área, insumos dependentes dos animais, mão-de-obra, máquinas e equipamentos); - Preços ao nível de mercado (coef. Técnicos);

32 Modelagem Econômica Avançada Estratégia para acessar o impacto de choques tecnológicos (e de políticas) desde o nível de propriedades prototípicas até níveis locais/regionais e da economia de modo mais amplo Elaboração Agropensa (2014).

33 Alguns Critérios para a Avaliação de Tecnologias Qual tecnologia será substituída? Quais as mudanças necessárias no sistema atual? Quais os custos incrementais (e os riscos) associados com a adoção da nova tecnologia? (inclui efeitos sinérgicos) Quais as restrições à adoção da nova tecnologia? Quais os benefícios públicos e privados associados à adoção da nova tecnologia?

34 Sistemas de Produção: recuperação de pastagens / ilp Quebra no ciclo de pragas e doenças Ex.: Mitigação de carbono em pastagens produtivas; Redução da perda/maior armazenamento de água; Sousa et al., 1997

35 Análise de Investimento: o Retorno de Tecnologias na Pecuária Análise de Sensibilidade para o Impacto de Incentivos aplicados ao Fluxo de Caixa Adicional ao Sistema Pasto Degradado Martha, Jr. et al. (2010).

36 Considerações finais

37 Considerações Finais A expansão da produção agropecuária brasileira se deu, prioritariamente, em razão do aumento da produtividade. Os ganhos de produtividade na agropecuária promoveram gigantesco efeito poupa-terra. A intensificação da produção pecuária é essencial para a expansão da produção agropecuária com menor pressão sobre ecossistemas nativos.

38 Considerações Finais A intensificação é influenciada pelos termos de troca. No curto prazo, variações substanciais nos preços relativos dos fatores podem inviabilizar a adoção de tecnologias mais intensivas em capital. O Brasil precisa ampliar seus esforços para desenvolver métricas-referência para o ambiente (sub)tropical. A agropecuária brasileira avançou de modo significativo na dimensão ambiental da sustentabilidade nas últimas décadas, mas existem claras oportunidades para melhoria.

39 Considerações Finais - Comunicação É necessária e urgente a divulgação de conhecimentos científicos robustos, críveis e verificáveis gerados pela ciência brasileira para os nossos diferentes biomas. A comunicação de forma ágil, simples e precisa, é chave para apoiar as discussões sobre alternativas possíveis aos problemas apresentados, a formulação de propostas e a implementação de soluções efetivas para o desenvolvimento mais inclusivo e de melhor qualidade, via de regra demandante de visão e comprometimento de longo prazo.

40 Sistema Embrapa de Inteligência Estratégica " Explorando e analisando possíveis futuros, seus desafios e oportunidades para o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira "