Estilos de apego e habilidades sociais nos transtornos alimentares

Transcrição

1 POLICLÍNICA Piquet Carneiro Estilos de apego e habilidades sociais nos transtornos alimentares Juliana D Augustin Psicóloga do Núcleo de Assistência e Pesquisa em Transtornos Alimentares da Policlínica Piquet Carneiro UERJ Programa de Pós-graduação em Psicologia Social (PPGPS-UERJ)

2 Teoria do Apego Comportamento biologicamente programado Dupla função: - proteção - socialização Plutchik, 1997

3 Estilos de Apego Apego seguro Apego inseguro/ resistente ou ambivalente Apego inseguro/ evitativo Ainsworth (1978, citado por Bowlby, 1984)

4 Estilos de Apego e Transtornos Psicológicos Modelos internos de funcionamento Percepções do ambiente, de si mesmo e dos outros Apego inseguro Modelos internos de funcionamento disfuncionais Maior risco de transtornos psicológicos Feeney & cols., 2008; Fonagy e Target, 1997; Grossmann & cols., 2008

5 Estilos de Apego e Transtornos Alimentares Maior nível de apego inseguro (Ward & cols., 2000) Compulsão alimentar e restrição (Tasca & cols., 2006) Maior preocupação com peso (Sharpe & cols, 1998) Níveis baixos de auto-estima (Ward & cols., 2000)

6 Habilidades Sociais Importante para a saúde e qualidade de vida Dificuldades em situações sociais relacionadas a diversos transtornos psicológicos (Falcone, 1995; Safran, 2002)

7 Assertividade e Empatia como habilidades complementares Assertividade - capacidade de defender os próprios direitos e de expressar pensamentos, sentimentos e crenças de forma honesta, direta e apropriada, sem violar os direitos da outra pessoa (Lange & Jakubowski, 1976, p. 7). Empatia - a capacidade de compreender e de expressar compreensão acurada sobre a perspectiva e sentimentos de outra pessoa, além de experimentar sentimentos de compaixão e interesse pelo bem-estar desta (Falcone & cols., 2008).

8 Desenvolvimento das habilidades sociais Comportamento social em grande parte préprogramado (Eibl-Eibesfeldt, 1970) Influência do ambiente Normas culturais Influência das relações sociais ao longo da vida Família primeiro grupo social Hidalgo e Abarca, 2000.

9 Deficiências em habilidades sociais Estão relacionadas a diversos transtornos psicológicos (Argyle, 1981; Caballo, 2006; Del Prette & Del Prette, 2002) Nos TA - dificuldades em identificar e expressar pensamentos e sentimentos - deficiências na conversação - baixa assertividade (agressividade x passividade) - dificuldades de solução de problemas - isolamento social Duchesne, 2006; Garner & Bemis, 1985; Guidano & Liotti, 1983; Fairburn & Cooper, 1997; Willians, Chamove & Millar, 1990). Strigel-Moore e cols. (1993) Fischer (2002)

10 Relações entre estilos de apego inseguro e déficits em habilidades sociais Experiências negativas com a figura de apego Modelos internos de funcionamento interpessoais disfuncionais comportamento social prejudicado Fonagy & Target, 1997; Decety & Jackson, 2004; Bolwby, 2001

11 Relações entre estilos de apego inseguro e habilidades sociais nos transtornos alimentares Interação familiar conflituosa crenças disfuncionais em relação a si mesmo e aos outros Comportamentos sociais inadequados social isolamento Influência sociocultural alimentar inadequado comportamento

12 Anorexia nervosa Sem diferenças nas HS Dificuldades na vinculação Pouco conforto na proximidade Isolamento social Falta de confiança Restrição Alimentar Ansiedade Ênfase no peso, aparência e formato corporal Regular a previsibilidade da proximidade D Augustin, 2010

13 Bulimia Nervosa Menores níveis de assertividade Deficiências na tomada de perspectiva Maiores níveis de apego inseguros Relacionamentos interpessoais insatisfatórios Problemas interpessoais compulsão alimentar D Augustin, 2010; Strigel-Moore & cols. 1993

14 TCAP x Controles de peso normal Menores níveis de assertividade Deficiências na tomada de perspectiva Maiores níveis de apego inseguros Relacionamentos interpessoais insatisfatórios Problemas interpessoais compulsão alimentar D Augustin, 2010; Strigel-Moore & cols. 1993

15 Maior gravidade do TA apego seguro Menores níveis de HS e Incapacidade de solução de problemas (agressividade x passividade) Auto-foco (prejuízo na percepção da intenção do outro) Desconfiança e ansiedade nos relacionamentos interpessoais

16 Considerações finais Situações sociais conflituosas Assertividade Empatia Solução de problemas comportamentos alimentares inadequados Vínculos saudáveis Aumento de redes de apoio social

17 Bruna, 17 anos, busca tratamento para bulimia nervosa, após conversa com professora da escola. Desde os 14 anos, Bruna faz balé, e relata que a preocupação com o peso foi aumentando a medida em que seus treinamentos no balé se intensificavam. Começou a restringir a alimentação para uma apresentação de fim de ano da companhia de dança. A partir desse momento, começou a ter episódios de compulsão alimentar, que aumentavam sua preocupação com o peso. Para compensar o excesso de comida ingerida, induzia vômitos e usava laxantes. Depois de um tempo, começou a anotar tudo que comia e contar as calorias. Minha vida se resumia a contar o que comi. Se passasse da meta, tinha que colocar pra fora (sic). Bruna era a filha mais velha. Tem um irmão de 11 anos. Seu pai foi diagnosticado com depressão grave desde que ela era criança. Bruna dizia que ele passava a maior parte do tempo deitado no sofá. A mãe parecia não ligar muito para os filhos. Naquele momento não estava trabalhando. Pediu demissão pois o trabalho era muito estressante. Decidiu que era o momento de cuidar dela mesma, e isso significava não se estressar com os filhos também. Três meses após o início do tratamento, a mãe de Bruna saiu de casa, pois não aguentava mais tanto problema. Bruna ficou morando com o pai e com o irmão mais novo. Bruna não tem muitos amigos. Diz que ninguém é confiável, e que todos no fim a decepcionam e a abandonam. Sempre que se desentende com algum colega, acha que o motivo é sua aparência. Ela apresenta várias dificuldades sociais. Não respeita nenhum limite, e quando é contrariada, responde de forma bastante agressiva. Recentemente trancou a faculdade, e responsabiliza seus colegas, por não ajudarem quando ela precisava. A frequência dos episódios de compulsão alimentar seguidos de vômito aumentou para, em média, 2x por dia, todos os dias.

18 Como o estilo de apego inseguro influencia na formação e manutenção dos transtornos alimentares? As habilidades sociais têm sido consideradas importantes para a saúde mental e qualidade de vida. Entre elas, podemos destacar a empatia. O desenvolvimento da empatia poderia auxiliar de que maneira o tratamento dos transtornos alimentares?

19 Referências Behar, R.A.; Manzo, R.G. & Casanova, D. Z. (2006) Transtornos de la conducta alimentaria y assetividad. Revista Médica do Chile, 134, pp Bowlby, J. (2001) Formação e rompimento dos laços afetivos. São Paulo: Martins Fontes. Bowlby, J. (1989) Uma base segura: Aplicações clínicas da teoria do apego. Porto Alegre: Artes Médicas. Bowlby, J. (1984) Apego e perda: Apego - A natureza do vínculo. São Paulo: Martins Fontes, vol. 1. Britton, P. &. Fuendeling, J.M. (2005). The relations among varieties of adult attachment and the components of empathy. The journal of social psychology, 145 (5), pp Caballo, V. E. (1998) El entrenamiento de las habilidades sociales como estrategia de intervención en los transtornos psicológicos. Em: F. Gil & J. M. Leon (1998) Habilidades sociales: teoria, investigación y intervención. Madrid: Síntesis. Caballo, V.E. (2006) Manual de avaliação e treinamento das habilidades sociais. São Paulo: Ed. Santos. Caballo, V.E.; Irurtia, M.J. (2004) Treinamento em habilidades sociais Em: P. Knapp (Org) Terapia Cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. (pp ) Porto Alegre: Artmed. Collins, N. L. & Read, S. J. (1990). Adult Attachment Style, Working Models and Relationship Quality in Dating Couples. Journal of Personality and Social Psychology, 58, Plutchik,R. (1992) Bases evolucionistas de la empatía. Em: N. Eisenberg & J. Strayer (Orgs.) La empatia y su desarrollo. (pp.49-57) Bilbao: Desclée de Brouwer.

20 Referências Di Tomazzo, E.; Brannen-McNulty, C.; Ross, L. & Burgess, M. (2003) Attachment styles, social skills and loneliness in young adults. Personality and individual differences, 35, Falcone, E.O. (1998). A avaliação de um programa de treinamento da empatia com universitários. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo. Falcone, E. (2000) Habilidades sociais: Para além da assertividade. Em R.C.Wielenska (Org.) Sobre Comportamento e Cognição: Questionando e ampliando a teoria e as intervenções clínicas e em outros contextos. São Paulo: ESETEC. Fonagy, P. & Target, M. (1997) Attachment and reflective function: their role in self-organization. Development and psychopathology, 9,