GÊNERO SEMINÁRIO: AS ESTRATÉGIAS DE POLIDEZ NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM
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- Sofia Lancastre Carreira
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1 GÊNERO SEMINÁRIO: AS ESTRATÉGIAS DE POLIDEZ NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM Ana Cecylia de Assis e Sá Universidade Federal de Campina Grande anacecyliasa@gmail.com Cyelle Carmem Vasconcelos Pereira Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia cy_carmem@hotmail.com Resumo: No campo educacional há diversas pesquisas que abordam o uso e funcionamento do gênero oral seminário, bem como podemos verificar a existência de estudos relacionados às normas e condutas da sociedade, mais especificamente a partir de estudos da teoria da polidez, aplicada aos variados gêneros da esfera social. Por um lado, quando se trata do seminário, estes estudos não passam de uma abordagem no âmbito escolar (ensino fundamental e médio), restringindo-se ao ensino de uma prática que há muito tempo vem sendo questionada por uma provável ineficácia, pois, na maioria das vezes, o gênero é utilizado de forma artificial e não como uma técnica de ensino socializado (VIEIRA, 2007). Por outro lado, apesar de ser recorrente o uso da teoria da polidez para a análise de gêneros diversos, sejam eles orais ou escritos, sentimos a necessidade de articular esta teoria ao contexto de seminário, não só analisando a existência ou não de estratégias de polidez neste contexto, mas observando como os sujeitos agem discursivamente, e como o gênero o gênero favorece o processo de aprendizagem. Metodologicamente, como técnica para a geração dos dados dessa pesquisa qualitativa, foi utilizado o método da pesquisa participante, de base descritivo-interpretativa, calcada em procedimentos e métodos interpretativos dos significados e das ações de todos os sujeitos engajados na investigação (MOREIRA; CALEFFE, 2006), ou seja, os participantes dos seminários realizados na disciplina Prática de leitura e Produção Textual II, na Universidade Federal de Campina Grande. O objetivo geral deste trabalho é analisar quais estratégias de polidez interferem na construção do discurso e no processo de ensino/aprendizagem dos participantes do evento comunicativo seminário. Teoricamente foi adotada a noção pragmática de polidez, com a teoria da polidez linguística, aperfeiçoada por Brown e Levinson (1987); a noção de desiquilíbrio de faces, de Goffman (1970); e, por fim, algumas perspectivas teóricas distintas sobre o gênero seminário, à luz do processo de ensino/aprendizagem. Após a observação dos dados coletados, elegemos como categorias de análise quatro situações de ameaça ou preservação das faces envolvidas na interação que observamos terem sido mais recorrentes durante todo evento, a saber: estratégias de polidez positiva ; estratégias de polidez negativa ; estratégias de polidez
2 indireta ; e silêncio, uma estratégia de polidez positiva, negativa e indireta. Em síntese, as estratégias de polidez positiva são utilizadas quando se pretende evitar o descompasso na interação. Por outro lado, interpretamos que o uso das estratégias de polidez negativa e indireta está ligado, essencialmente, à impolidez, que é adotada quando a polêmica e o confronto devem ser instalados ou quando há a necessidade de se defender a própria imagem. O silêncio, por sua vez, é identificado como uma nova premissa dos três tipos de estratégias, visto que é um acontecimento recorrente. Logo, o gênero seminário, quando estudado à luz de tais teorias, nos vislumbra um novo modo de conceber e garantir a aprendizagem neste evento comunicativo. Palavras-chave: Gênero Seminário, Estratégias de Polidez, Ensino/aprendizagem. Introdução No campo educacional há diversas pesquisas que abordam o uso e funcionamento do gênero oral seminário, bem como podemos verificar a existência de estudos relacionados à teoria da polidez aplicada aos variados gêneros da esfera social. Por um lado, quando se trata do seminário, estes estudos não passam de uma abordagem no âmbito escolar (ensino fundamental e médio), restringindo-se ao ensino de uma prática que há muito tempo vem sendo questionada por uma provável ineficácia, pois, na maioria das vezes, o gênero é utilizado de forma artificial e não como uma técnica de ensino socializado (VIEIRA, 2007). Por outro lado, apesar de ser recorrente o uso da teoria da polidez para a análise de gêneros diversos, sejam eles orais ou escritos, sentimos a necessidade de articular esta teoria ao contexto de seminário, não só analisando a existência ou não de estratégias de polidez neste contexto, mas observando como os sujeitos agem discursivamente. Assim, a tentativa é a de fazer um estudo acerca de fatores que estão subjacentes ao seminário: a interação face a face e a linguagem. Diante deste contexto, o objetivo geral deste trabalho é analisar quais estratégias de polidez interferem na construção do discurso e no processo de ensino/aprendizagem dos participantes do evento comunicativo seminário. Teoricamente foi adotada a noção pragmática de polidez, com a teoria da polidez linguística, aperfeiçoada por Brown e Levinson (1987); a noção de desiquilíbrio de faces, de Goffman (1970); e, por fim, algumas perspectivas teóricas distintas sobre o gênero seminário, à luz do processo de ensino/aprendizagem. este artigo tem como objetivo analisar de que maneira o silêncio funciona como estratégia de polidez na construção do discurso dos participantes do evento comunicativo seminário. Os objetivos específicos desta análise são, em primeiro lugar, demonstrar a forma com que as estratégias de interação utilizadas pelos participantes do contexto de seminário contribuíram para a construção do ensino/aprendizagem em situação de conflito. Em
3 segundo lugar, verificar uma das vertentes deste processo de seminário a da relação de poder/submissão que se estabelece neste meio visando compreender de que forma esta relação pode favorecer ou prejudicar o contexto de seminário. Nesse contexto, segue a questão norteadora da pesquisa: Que estratégias de polidez os participantes do contexto de seminário utilizam para a construção de um discurso e da aprendizagem em situações de conflito com o outro? 1. Gêneros discursivos Todas as práticas de linguagem se dão por meio de enunciados, ou seja, por meio de algum gênero discursivo. Desta forma, vale, primeiramente, explicitar o conceito de enunciação. Bakhtin (1997, p. 112) define este termo como um produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados, mesmo que o interlocutor real seja um representante médio do grupo social ao qual pertence o locutor. Como complemento a esta definição, Bakhtin esclarece que a comunicação verbal não poderá jamais ser compreendida e explicada fora de um vínculo com a situação concreta (1997, p. 124). Utilizando outras palavras, o sentido de uma forma linguística é determinado no contexto de enunciações precisas, uma vez que a situação social mais imediata e o meio social mais amplo determinam completamente a estrutura da enunciação. (p. 113). Assim, entende-se que, quando um sujeito interage verbalmente com outro, o discurso é organizado a partir das finalidades e intenções do locutor, dos conhecimentos que acredita que o interlocutor possua sobre o assunto, do que supõe serem suas opiniões e suas convicções, simpatias e antipatias, da relação de afinidade e do grau de familiaridade que têm, da posição social e hierárquica que ocupam. Dando sequência a esse raciocínio, ressalta-se que, no campo de estudos da apreensão do sentido real dos enunciados, não se pode perder de vista a conscientização da existência, em cada texto, de diversos níveis de significação. Isto é, (...) além da significação explícita, existe toda uma gama de significações implícitas, muito mais sutis, diretamente ligadas à intencionalidade do emissor (KOCH, 1996, p. 160). Isso implica dizer que as interações verbais não ocorrem fora de um contexto sócio-histórico-ideológico e, sendo assim, a interpretação de enunciados exige do interlocutor não apenas uma interpretação semântica, mas uma análise do contexto, ou seja, exige dele um procedimento pragmático (MAINGUENEAU, 2004, p.29). Todas as práticas de linguagem se dão por meio de enunciados, ou seja, por meio de algum gênero discursivo. Para Bakhtin (2003, p ):
4 A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (...). A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo. (...) cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso. Em outras palavras, ao contemplar os gêneros e suas intenções como objeto de ensino, faz-se necessário considerar os aspectos do processo de interação verbal, assim como propõe esta pesquisa, sugerindo a observação de estratégias que preservem as faces dos interlocutores de um discurso. Sendo assim, as características da situação de produção serão (re) construídas: quem é o enunciador, em que papel social se encontra; a quem se dirige; em que papel social se encontra o interlocutor; em que local é produzido, em qual instituição social se produz e circula; em que momento; em qual suporte é publicado; com qual objetivo, finalidade; em que tipo de linguagem; em qual gênero o discurso se organizará. À luz do sociointeracionismo, segundo Bronckart (2008), a linguagem é, primeiramente, sobretudo, uma atividade (social) específica, ou uma atividade do discurso. (p.70) Desta forma, Bronckart (2008) afirma que os sujeitos agem discursivamente através da linguagem. Nas suas palavras: A linguagem se manifesta concretamente como uma atividade humana particular e facilmente identificável (fala ou discurso). Além disso, essa atividade é sempre a de falar a um outro e, portanto, a essência da linguagem se mostra no diálogo [...], isto é, a linguagem está estreitamente relacionada ao que os interlocutores têm em comum. (p. 72) Em consonância com o que afirma Bronckart (1999), a concepção bakthiniana aponta que a linguagem passa a ser fundamentalmente um acontecimento dialógico, a partir do momento que inclui a interação entre sujeitos como elemento fundamental. Concomitante a esta perspectiva encontra-se a de que nos sujeitos envolvidos nas interações, por serem sócio-historicamente constituídos, ecoam diversas vozes na sua produção discursiva. Vistas algumas concepções em relação aos gêneros enunciativos e à noção de discurso, trataremos, nos próximos tópicos, de conceitos fundamentais à análise dos dados da pesquisa. 2. A noção de face
5 A interação social, à luz dos estudos de por Goffman (1985), acontece face a face e pode ser definida como uma influência em que há reciprocidade entre os indivíduos, quando em contato físico e, na maioria das vezes, instantâneo. Assim, parafraseando Goffman (op. cit.), uma interação pode ser compreendida como toda ação que ocorre em qualquer ocasião, quando num aglomerado de indivíduos uns se deparam com a presença imediata de outros através de representações teatrais. Deste modo, a partir desta noção de interação percebemos que todos são interpretes que manipulam a emissão de gestos, as faces e as ações com intenções próprias e por influência do meio social, ou seja, da representação do outro e do eu na sociedade. Assim, cabe-nos apresentar, de forma mais precisa, a noção atribuída às faces no contexto da interação entre sujeitos. O conceito de face foi caracterizado por Goffman (op.cit.), de acordo com as necessidades e desejos de cada participante de uma conversação. Ele estudou procedimentos de preservação da face, pois, segundo este autor, quando se entra em contato com o outro, tem-se a preocupação de preservar a auto-imagem pública. A essa auto-imagem, Goffman dá o nome de face. Portanto, segundo Goffman (1985): Pode definir-se o termo face como o valor social positivo que uma pessoa reclama efetivamente para si por meio da linha que os outros supõem que ela seguiu durante determinado contato. A face é a imagem da pessoa delineada em termos de atributos sociais aprovados, ainda que se trate de uma imagem que outros podem compartilhar, como quando uma pessoa enaltece sua profissão ou sua religião graças a seus próprios méritos. (p. 13) Referindo-nos à noção de face, vale salientar que todo ser humano, materializado como sujeito, vive em um mundo social, no qual se encontra em contato com outros sujeitos. Por meio desses contatos, é levado a exteriorizar, por representações e linguagem, uma imagem de si. Desta forma, através da linguagem pode-se analisar a imagem social que determinado sujeito em observação tem de si mesmo nos momentos de interação e a imagem que os outros, centrados no exterior, têm dele (FERNANDES, 1999). 3. A noção de Polidez A polidez é uma forma de comportamento humano. Embora exista uma série de diferenças interculturais concernentes à manifestação formal, as normas de polidez regulam o comportamento
6 humano (HAVERKATE, 1994, apud ANDRADE,2007). Devido a essas diferenças e aos constantes riscos de conflitos presentes nas interações sociais, as sociedades mantêm formas de polidez que visam sustentar a harmonia e evitar dissentimentos, ainda que o uso dessas estratégias se diferencie em cada cultura. Assim, a polidez é um instrumento a serviço dos interlocutores, com fins estratégicos na comunicação, de modo que se pode observar certa intencionalidade na sua manifestação ou sua ausência. Através das contribuições de Brown e Levinson (1987), nota-se que, na manifestação de estratégias de polidez de um ato de fala, a distância social é um fator determinante, ou seja, a polidez aumenta, proporcionalmente, se é maior a distancia entre o falante e o ouvinte. As realizações das estratégias da polidez linguística desenvolvida por Brown e Levinson (op. cit.) partem da premissa descritiva de superestratégias, que são: polidez positiva, on Record 1, polidez negativa e off Record 2 como recursos de análise das expressões verbais dos atos de ameaça à imagem, de acordo com uma determinação racional do risco da imagem e as escolhas dos enunciados comunicativos entre os participantes. Tais estratégias são baseadas na aproximação do falante ao ouvinte (positiva) e no fato de evitar os conflitos em uma espécie de fuga (negativa). Ao usar a polidez positiva, o falante procura o acordo com seu ouvinte. Isso pode ser feito, demonstrando-se o interesse pelas coisas do interlocutor, a simpatia por ele, manifestando-se os interesses e conhecimentos comuns por pertencer ao mesmo grupo. As estratégias da polidez negativa procuram evitar conflitos e se dirigem à face negativa do interlocutor. Entretanto, essas estratégias costumam ser mais indiretas (embora mais raramente também possam ser diretas) e incluir modalidade verbal, tautologias, elipses, metáforas, ironias, ambiguidades, enfim, vários tipos de expressões evitadoras de conflito específicas a outros meios para minimizar a imposição. Sabemos que o conceito de comportamento cortês é relativo, pois pertence a diferentes tradições culturais. Assim, a cortesia, ou polidez, nunca se concretiza de maneira unívoca. As estratégias de cortesia focalizam um ou outro aspecto da imagem social do outro. Além disso, essas estratégias são convencionalmente reguladas. A incidência de uma ou outra estratégia e o peso relativo delas pode variar, dependendo do tipo do contexto e também da cultura. Decorre disso que os procedimentos específicos que constroem e conceitualizam a imagem social não são constantes. Assim, as imagens sociais se constroem de forma diferente em íntima conexão com as diferenças de uso das categorias pragmáticas e as regras de cortesia, mas as razões que subjazem a essas 1 Quanto menor o risco, mais direto será o ato comunicativo (denominado on record). 2 Quanto maior o risco, mais indireto será o ato comunicativo (denominado off record).
7 diferenças transcendem o âmbito do linguístico e tem a sua base em determinadas características significativas da estrutura social (BROWN E LEVINSON, 1987). O contexto, as intenções e a competência comunicativa, nas perspectivas dos estudos linguísticos, são ingredientes teóricos imprescindíveis na geração dos significados discursivos para que os interlocutores realizem o processo de compreensão e interpretação dos enunciados, os quais constituem a base da linguagem em uso no contexto situado do processo comunicativo (KERBRAT- ORECCHIONI, 2006). Diante disso, partimos da premissa de que é necessário definirmos o que se conceitua e quais os elementos integrantes do contexto, para que possamos explorá-lo nas análises em situações de ameaça nas interações comunicativas organizacionais. 4. Metodologia Sabendo que existem vários modos de fazer pesquisa, cada modalidade supre as necessidades do pesquisador em situações distintas. No âmbito educacional, por exemplo, cada tipo de pesquisa torna-se suporte para que o professor pesquisador entenda suas práticas, reconhecendo melhor o seu aluno, os documentos que utiliza e a sala de aula de um modo geral. Desta forma, o estudo aqui proposto é de base descritivo-interpretativista, uma vez que a geração dos dados dará margens a inúmeras interpretações. Podemos dizer, ainda, que esta pesquisa melhor se enquadra na modalidade de pesquisa participante, baseada em estudos pragmáticos, cujo objeto de estudo serão os atos linguageiros 3 em realizações de seminário, executados tanto pela equipe responsável por expor os conteúdos previstos, quanto pelo professor e demais participantes da turma. (LAKATOS; MARCONI, 1991) Os seminários ocorreram na disciplina Prática de leitura e produção textual - II (PLPT II), no curso de licenciatura em Letras, da UFCG (Universidade Federal de Campina Grande) e foram gravados em áudio, com duração máxima de 30 (trinta) minutos para a apresentação da equipe responsável, podendo haver oscilação em poucos minutos para mais ou para menos. Após a apresentação, houve a fase de auto e de heteroavaliação. Nessa fase, cada participante do evento podia tecer algum comentário avaliativo e até mesmo fazer perguntas que viessem a esclarecer melhor os conteúdos transmitidos. Passados quinze ou vinte minutos de troca de ideias sobre a apresentação e apontamentos preparatórios para a escritura do relato reflexivo, cada sujeito fez reflexões, críticas e apresentou conclusões, levando em consideração o conteúdo exposto e o desempenho da equipe apresentadora. 3 O termo atos linguageiros será utilizado para referir-se ao fato de utilizar a língua falada e escrita para comunicar-se e como forma de não haver ambiguidade com a Teoria dos atos fala, proposta por Austin (1962).
8 A polidez será (pré) analisada, pois, de acordo com os estudos desenvolvidos por Robin Lakoff (1998) sobre as Máximas de Competência Pragmática. Tendo em vista o papel da polidez na interação, a análise comportamental e interacional dos sujeitos no contexto de seminário será feita através das três sub-máximas de Lakoff (1998). Após uma observação dos dados coletados, elegemos como categorias de análise uma situação de ameaça ou preservação das faces envolvidas na interação que observamos terem sido mais recorrentes durante todo evento, a saber: a) Estratégias de polidez positiva: corresponde à vontade do interlocutor de ser aceito e admirado; b) Estratégias de polidez negativa: corresponde a um tratamento respeitoso e ao desejo de não sofrer a imposição e não ter o território pessoal invadido; c) Estratégias de polidez indireta: são utilizadas pelo locutor para que ele não se comprometa diante do que fala; d) Silêncio, uma estratégia positiva, negativa e indireta: Corresponde a uma nova premissa a ser inserida enquanto estratégia de polidez positiva, negativa e indireta. 5 Resultados e Discussão 5.1 Estratégias de Polidez Positiva Segundo a teoria de Brown e Levinson (1987), as estratégias de polidez positiva são destinadas à face positiva do ouvinte, que corresponde à vontade do interlocutor de ser aceito e admirado. Ainda podemos acrescentar que a polidez positiva é composta por estratégias de envolvimento que o falante adota para diminuir a distancia social com seu ouvinte. seminários: Tendo sido apresentado o quadro de estratégias, vejamos como ocorre a polidez positiva nos Em alguns momentos da nossa transcrição observamos que quando os alunos corroboram as ameaças feitas pelo professor às suas faces, orientando-se para uma relação conflituosa, eles (alunos, ou seja, apresentadores dos seminários) passam a não mais reconhecer haver uma relação de poder entre professor e alunos ou as regras sociais inerentes a esta relação. Dessa forma, a equipe poderia ter confrontado o professor, afirmando que a própria foi ineficiente na transmissão do vídeo, mas optou por fazer dar justificativa, mesmo que injustificáveis no momento, através do comentário que segue abaixo. Apresentador1 (A1): (tentando se justificar) Não, mas é porque assim, o áudio tá em branco. (e logo muda de assunto). Já fiquei nervosa. No trecho em destaque acima, encontramos uma ameaça de A1 à sua própria face positiva, quando assume que está nervosa. A fim de contornar essa ameaça, uma pessoa da plateia lança mão de um comentário positivo, ou seja, usa de polidez positiva para não ameaçar sua face positiva nem
9 a face das pessoas da equipe. Nesse sentido, observamos a utilização da estratégia H (estratégia positiva 13), em que se inclui o grupo na atividade através de explicações e simulações, como o fez A Estratégias de polidez negativa Assim como a polidez positiva é destinada à face positiva do ouvinte, a polidez negativa, na teoria de Brown e Levinson (1987) é destinada á face negativa do ouvinte. Corresponde a um tratamento respeitoso e ao desejo de não sofrer a imposição e não ter o território pessoal invadido. No exemplo abaixo, em que o Apresentador 2 (A2), ao iniciar uma crítica, utiliza-se de um termo modalizador para amortecer os efeitos negativos da sua fala, ou seja, as ameaças às faces positivas dos interlocutores, conforme observamos no trecho: A2: Eu acho que quando a gente para e diz assim, (vamos) vamos produzir um texto valendo a nota (do) do primeiro, sei lá, (da) a primeira nota, do primeiro (bi), do primeiro bimestre, o aluno, já fica com aquela tensão e o aluno acaba que sem criar nada, ele não consegue transpassar nenhuma de suas ideias para o papel. (grifos nossos) O uso do termo eu acho parece ser sempre o escolhido por A2 para mitigar os efeitos das ameaças que seu discurso pode lançar, isto porque há uma tentativa de fuga e de descompromisso com uma fala taxativa ou carregada de agressividade crítica. Não obstante isso, A2 ainda generaliza a situação, incluindo todos os seus interlocutores na culpa pelo fato de o aluno ficar apreensivo e não conseguir colocar sua ideias no papel, como bem observamos no exemplo acima, através do uso de a gente. 5.3 Estratégias de polidez indireta A polidez indireta (off record) representa um ato comunicativo indireto, pois permite ao locutor emitir atos ameaçadores da face, evitando responsabilidades ou deixando a interpretação por conta do interlocutor. No exemplo abaixo, a fala de A2 ameaça as faces positivas dos seus ouvintes, ao utilizar o questionamento não sei porque, né?, no momento em que menciona o número de estudantes por sala, nas escolas particulares. Consideramos que este questionamento esteve acobertado por um léxico de carga bastante pejorativa e irônica, que põe em jogo a moral e a intenção das escolas
10 privadas, ao selecionarem uma quantidade menor de alunos para cada sala de aula. Com essa mesma fala, A2 deixa vulnerável sua própria face positiva, por demonstrar uma despreocupação com a face de outras pessoas, e por utilizar a estratégia de polidez indireta 8, seja irônico. A2: E aí, ela vai colocar assim, (nessa) nessa primeira parte, que onde é necessário falar a verdade, ela vai na sala de aula, perguntar aos alunos e ela (ela) fala que na escola particular, foi bem mais fácil fazer essa experiência, por que o número de estudantes por sala é reduzido, não sei por que, né? (grifo nosso) 5.4 Silêncio, uma estratégia positiva, negativa e indireta Podemos prestar atenção ao fato de que, quando alguém fala, alguém cala e alguma coisa é silenciada. Onde há linguagem, há também silêncio. São esses pressupostos que tentaremos, a seguir, demonstrar, à luz da polidez e através de alguns significativos exemplos: A1: (interrompendo a exposição) O que é que foi, ein? (...) (passa um tempo em silêncio e retoma a fala). Para reverter uma situação de conflito gerada anteriormente, A1 ameaça a face positiva do seu ouvinte (no caso, duas pessoas, dentre as demais da plateia), fazendo uma pergunta que soou como um insulto e como uma forma de (im)polidez. A tentativa de resolver o problema da interrupção foi vã, visto que, ao utilizar a pergunta, A1 pode ter sido compreendida como uma pessoa arrogante, colocando, assim, a sua própria face em risco, devido ao tom de irritação utilizado. Dizemos, então, que A1 afastou-se da polidez, nesse momento. Entendemos que o silêncio, em alguns momentos da interlocução, funciona como um ato reflexivo, por isso ser seguido de uma pausa, como no exemplo demonstrado acima. Desta forma, nos apoiamos em Orlandi (2007), por entendermos que o silêncio funciona enquanto estratégia de polidez e preservação de faces: o silêncio não está disponível à visibilidade, não é diretamente observável. Ele passa pelas palavras. Não dura. Só é possível vislumbrá-lo de modo fugaz. Ele escorre entre a trama das falas (p.32). CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com a análise dos dados da pesquisa, podemos afirmar que são adotadas pelos participantes da interação, principalmente, as estratégias de polidez positiva, pois a harmonia
11 interacional é desejada por eles na maioria das vezes. Porém, isso não quer dizer que as estratégias de polidez negativa e indireta não surgiram. Todas elas são responsáveis pela eficiência da utilização do gênero seminário como mecanismo para o processo de ensino-aprendizagem. Inferimos, também. que nos seminários analisados, prevaleceu uma prática de cordialidade e da boa educação, advindas dos modelos tradicionais de ensino baseados neste gênero, que até os dias de hoje vigoram. O fato de ser educado e cortês garante uma boa avaliação do processo perante a plateia, fazendo com que sua imagem seja constantemente preservada e sua relação com o público seja amigável, por isso sempre haver saudações e troca de elogios. O objetivos da pesquisa, analisar quais e como as estratégias de polidez interferem na construção do discurso e no processo de ensino/aprendizagem dos participantes do evento comunicativo seminário e no seu bom ou mau funcionamento, foi alcançado por meio do desvendamento das estratégias de polidez e de suas premissas e ações diante das situações de seminário, acrescido da interpretação da pesquisadora com base nos fundamentos teóricos que deram suporte a este estudo. O objetivo de verificar uma das vertentes do processo interacional de seminário a da relação de poder/submissão que se estabelece neste meio, também foi alcançado. Acabamos por perceber que não há um equilíbrio nas ameaças entre professor e alunos (participantes do seminário), ora o professor é que ameaça as faces alheias, ora tem suas faces (positivas e negativas) ameaçadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, A. M. Comunicação de má notícia e polidez linguística: a relação médico-paciente no filme Diário de Motocicleta. In: II Simpósio de análise crítica do discurso e VIII Encontro Nacional de interação em linguagem verbal e não-verbal. São Paulo, BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, BRONCKART, Jean-Paul. O agir nos discursos: das concepções teóricas às concepções dos trabalhadores. Campinas: Mercado de Letras, p Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: Educ, 1999.
12 BROWN, Penélope; LEVINSON, Stephen. Politeness: some universals in language usage. Cambridge: Cambridge University Press, 1987 KOCH, Ingedore Villaça. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, FERNANDES, C. A. Contribuições de Erving Goffman para os estudos linguísticos. São Paulo, GOFFMAN, Erving. A representação do Eu na vida cotidiana. São Paulo: Vozes, KEBRAT-ORECCHIONI, Catherine. Análise da conversação: princípios e métodos. São Paulo: Parábola Editorial, LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. São Paulo: Editora Atlas LAKOFF, R. La lógica de la cortesía, o acuérdate de dar las gracias. In: JÚLIO, M. T. e MUÑOZ, R. (Comp.). Textos clásicos de pragmática. Madri: Arco/ Libros, ORLANDI, Eni P. As formas do silêncio. Campinas. Editora da Unicamp, 2007 VIEIRA, Ana Regina Ferraz. Seminários Escolares: Gêneros, Interações e Letramentos. Recife : Editora Universitária da UFPE, 2007.
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