45ª Semana de Serviço Social. OS MEGA EVENTOS E MOVIMENTOS SOCIAIS: discutindo o direito à cidade. 14 a 16 de maio de 2014
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- Rita Guterres Silveira
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1 45ª Semana de Serviço Social OS MEGA EVENTOS E MOVIMENTOS SOCIAIS: discutindo o direito à cidade 14 a 16 de maio de 2014 Na Copa, comemorar o quê?. É com este mote criativo e provocativo que o Conjunto CFESS-CRESS apresenta o material alusivo ao Dia do/a Assistente Social 2014, celebrado em 15 de maio. A campanha foi elaborada a partir da temática Serviço social na defesa do direito à cidade no contexto dos megaeventos, definida pelo 42º Encontro Nacional CFESS-CRESS, realizado em O assunto já vem sendo debatido pelo Conjunto CFESS-CRESS há alguns anos. As participações do Conselho Federal nas conferências nacionais das Cidades (2010 e 2013), a realização de um seminário sobre serviço social e questão urbana (2011) e a articulação do CFESS com o Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU) demonstram que o serviço social brasileiro vem acumulando conhecimento na área. E agora, com a proximidade dos megaeventos, principalmente da Copa, assistentes sociais do Brasil precisam marcar posicionamento crítico às questões postas e as que estão por vir. Afinal, debater as cidades nunca se resumiu somente à infraestrutura ou à moradia: significa trazer à tona temas que estão interligados, como saúde, educação, segurança, transportes, cultura, lazer... Inclusive as relações humanas que as cidades propiciam! OS MEGA EVENTOS E MOVIMENTOS SOCIAIS: discutindo o direito à cidade Em uma sociedade profundamente desigual como a brasileira, a conquista do direito à cidade tem sido impulsionada pelas lutas intensas dos movimentos sociais e de setores da sociedade civil compromissados com a perspectiva da
2 construção de uma nova ordem societária sob os princípios da igualdade e justiça social. A partir do reconhecimento que o direito à cidade é para todos, essas lutas têm enfrentado a precariedade das condições de vida de parcela significativa da população brasileira que vive em condições de pobreza segregada. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, de 2007, indica que a condição digna de moradia ainda é um sonho para milhões de brasileiros: são 54 milhões de pessoas que vivem em condições precárias, em assentamentos de baixa renda como loteamentos irregulares, aluguéis, cortiços, pensões, palafitas e outras formas de ocupações em áreas impróprias para a moradia, que oferecem risco à saúde ou à segurança da população. O direito à cidade significa a possibilidade às exigências da igualdade e de justiça na organização dos espaços construídos no contexto das cidades brasileiras e remete-nos para o marco legal da reforma urbana, desenhado a partir da Constituição Federal de 1988, cujo capítulo que trata da política urbana define a função social da cidade e da propriedade e reconhece a prevalência do interesse coletivo sobre o individual. Na trilha da universalização dos direitos, a Emenda Constitucional 26/2000 garante, entre os direitos sociais e humanos, o direito à moradia, e o Estatuto da Cidade, em 2001 (Lei Federal ), regulamenta o capítulo constitucional da política urbana e define os instrumentos para que a cidade e a propriedade cumpram sua função social. Todavia, as cidades brasileiras apresentam um modelo de desenvolvimento que privilegia processos de urbanização acelerada, de polarização e tensionamento das relações campo-cidade, de concentração do crescimento econômico constituído sob a lógica mercantilista do capital, o que, por um lado, tem contribuído para aumentar os problemas sociais relacionados á sobrevivência cotidiana de trabalhadores e trabalhadoras, e por outro, aponta para o desafio de construir formas de enfrentamentos à estrutura desigual das classes sociais na distribuição da renda e no uso e ocupação da terra.
3 Os dados divulgados recentemente de viver dignamente, a partir da transformação política com participação nos processos decisórios para assegurar direitos; a partir da defesa da universalização do acesso e da construção de territorialidades como lugares de reconhecimento sócio-cultural para a convivência dos diferentes, combatendo a discriminação de grupos sociais e étnico-raciais; a partir do enfrentamento dos conflitos sociais e políticos para alcançar a gestão democrática das cidades com controle social; a partir de tensionamentos dos espaços segregados, pela igual distribuição de recursos materiais (moradia, saúde, educação, trabalho e renda) e recursos simbólicos (participação social, comunicação, informação). São várias e complexas as motivações para a luta coletiva pelo direito à cidade que impulsionam os Sem Teto nestes 25 e 26 de novembro na Jornada Nacional de Luta pela Reforma Urbana e pelo Direito à Cidade, aos quais se soma o CFESS na responsabilidade e no compromisso que os/as assistentes sociais têm na defesa da implantação de políticas urbanas e de sistemas de proteção do direito à cidade de forma igualitária e democrática: - As políticas de desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção ambiental, de promoção da saúde, de trabalho e renda devem se articular organicamente com vistas à qualidade de vida da população e de acordo com interesses coletivos; - A afirmação do exercício de cidadania pelos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros, com ênfase no controle social e na participação efetiva dos diferentes segmentos da população nos processos decisórios, deve ser o pressuposto das intervenções urbanas, das definições de diretrizes, e do desenvolvimento de projetos urbanísticos e sociais; - O reconhecimento da moradia digna como expressão da cidadania e dos direitos, a universalização do acesso ao saneamento ambiental com qualidade dos serviços prestados, com prioridade de atendimento às famílias de baixa renda moradoras nas áreas periféricas das cidades, o transporte com qualidade e custo acessível defendido como serviço público essencial, visando à inclusão e à melhoria da qualidade de vida são elementos fundamentais para a transformação das cidades em espaços vitais de uma outra sociabilidade que se evidencia na lógica dos direitos.
4 Manifesto do CEFESS A defesa do direito à cidade está na luta pelo acesso universal aos serviços, na distribuição democrática dos bens produzidos, no incentivo ao diálogo intercultural. O direito à cidade é, eminentemente, a luta pela defesa da construção de um modo de viver com ética, pautado na igualdade e liberdade substantivas e na equidade social. O Conjunto CFESS-CRESS reafirmou, no 29º Encontro Nacional, realizado em Maceió (AL) no ano de 2000, a perspectiva do direito à cidade, apontando para uma concepção de seguridade social ampliada, incorporando a ela outras políticas sociais, e a afirmando, sobretudo, como um campo de luta e de formação de consciências críticas em relação à desigualdade social no Brasil, de organização dos trabalhadores e das trabalhadoras. Um terreno de embate que requer competência teórica, política e técnica. Que exige uma rigorosa análise crítica da correlação de forças entre classes e segmentos de classe, que interferem nas decisões em cada conjuntura. Que força a construção de proposições que se contraponham às reações das elites político-econômicas do país, difusoras de uma responsabilização dos pobres pela sua condição, ideologia que expressa uma verdadeira indisposição de abrir mão de suas taxas de lucro, de juros, de sua renda da terra. Nesse sentido, o Serviço Social brasileiro tem pautado questões que se somam à luta para romper com a desigualdade social e que compõem a agenda do Conjunto CFESS-CRESS, que incorpora também estratégias em defesa do direito à cidade, nas dimensões urbana e rural, que apontam para: Participação nos conselhos de políticas, conferências e fóruns de reforma urbana; articulação e apoio às lutas dos movimentos sociais pelo direito à terra, pela moradia digna, pelos direitos dos povos originários, quilombolas, população em situação de rua e catadores de materiais recicláveis;
5 promoção de debates no âmbito do Conjunto CFESS-CRESS sobre o direito à cidade em suas dimensões ética, política e social e sua transversalidade nas políticas públicas e na garantia dos direitos humanos; intensificação da discussão, no Conjunto CFESS-CRESS, sobre a questão indígena no Brasil, a população quilombola e comunidades tradicionais, o aparato legal (legislação) que as regem, o estudo sobre o acesso desses segmentos às políticas públicas, apoiando a luta pela demarcação das terras; acompanhamento e criação de estratégias para fiscalização do processo de implementação do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social e do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS/ FNHIS) e a criação dos sistemas no âmbito dos estados e dos municípios, considerando a possibilidade de alteração da lei federal que cria o Serviço Nacional de Assistência Técnica/Habitação de Interesse Social, com a inclusão do serviço de assistência técnica nas áreas social e jurídica; debate com a categoria sobre os impactos da realização de megaeventos, dos grandes projetos de intervenção urbanística, a exemplo da Copa 2014 e das hidroelétricas, no conteúdo urbano, reforçando o direitoà moradia e o controle democráticoda sociedade; garantia da participação popular nas discussões no âmbito do planejamento das intervenções urbanas, conforme determina o Estatuto da Cidade, através de audiências públicas, assembleias locais, reuniões distritais; integração à luta junto com os movimentos sociais em defesa da mobilidade urbana com o transporte público gratuito como direito social; apoio à luta do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), para acesso às políticas sociais e o direito de usufruto e permanência nas cidades; viabilização das atividades da campanha da gestão do Conjunto CFESS- CRESS ( ): Combater a violência no enfrentamento da desigualdade social: toda violação de direitos é uma forma de violência ; apoio às lutas no âmbito da sociedade civil contra o racismo institucional, ampliando a realização de debates com a categoria acerca do tema e participando em ações, como: realização de audiências públicas, articulação com movimentos negros e com outros sujeitos coletivos;
6 empenho para viabilizar o direito à acessibilidade para as pessoas com deficiência em todos os espaços e atividades realizadas pelo Conjunto CFESS- CRESS ou em parceria com outras entidades; defesa da reforma agrária, posicionando-se frente às violências ocorridas no campo; apoio à luta do MNPR pela federalização dos crimes de lesa-humanidade que atingem esse e outros grupos populacionais, tendo em vista a identificação e punição dos responsáveis. No contexto de uma reforma urbana que defende o direito à cidade, o CFESS Manifesta que essas estratégias de luta reafirmam a agenda política do Serviço Social brasileiro e reforçam uma concepção de seguridade social ampla. Neste sentido, reafirma a importância da luta em defesa da Seguridade Social pública no país, donde se insere o direito à cidade como direito: ao trabalho, à educação, à diversidade humana, à liberdade de orientação e de expressão sexual, à livre identidade de gênero e respeito à questão étnico-racial, à cultura, ao lazer, à segurança pública e à participação política.
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